Discurso durante a 31ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Esclarece a decisão do PSDB com relação à política externa brasileira.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EXPLICAÇÃO PESSOAL. POLITICA EXTERNA.:
  • Esclarece a decisão do PSDB com relação à política externa brasileira.
Publicação
Publicação no DSF de 17/03/2010 - Página 7577
Assunto
Outros > EXPLICAÇÃO PESSOAL. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • ESCLARECIMENTOS, EXIGENCIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), PARTICIPAÇÃO, ELABORAÇÃO, POLITICA EXTERNA, RESPOSTA, QUESTIONAMENTO, EDUARDO SUPLICY, SENADOR, DEFESA, ORADOR, UNIFORMIDADE, DEMOCRACIA, DIREITOS HUMANOS, OPOSIÇÃO, TERRORISMO, DITADURA, EXPECTATIVA, DIALOGO, ITAMARATI (MRE), BANCADA, NEGOCIAÇÃO.
  • CRITICA, DESNECESSIDADE, CRIAÇÃO, EMBAIXADA, PAIS ESTRANGEIRO, DOMINICA, ANUNCIO, EXAME, DIVERSIDADE, INDICAÇÃO, OPOSIÇÃO, APROXIMAÇÃO, GOVERNO BRASILEIRO, DITADURA, MUNDO.

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Para uma explicação pessoal. Sem revisão do orador.) - Não vou nem me lembrar de um passado tão recente, e V. Exª, inclusive, foi vítima disso. Imagine se o PT escolhia entre V. Exª estar no Brasil ou não estar, para tecer quaisquer críticas no nível em que as fazia.

            Nós aqui simplesmente estabelecemos um ponto de ruptura com a política externa brasileira, do jeito que ela está sendo posta. Exigimos participar da formulação dela.

            Eu faço um apelo ao Senador Suplicy para ele retorne às suas origens: alguém que se notabilizou neste País por visitar presídios, apoiando grevistas de fome, apoiando presos políticos, uma figura libertária e que a todos nos encanta, precisamente pelo caráter libertário da sua personalidade.

            Não dá para continuar S. Exª imaginando que é justo lutar pela liberdade de um terrorista como Battisti e agredindo os termos da democracia italiana. O Brasil agride a democracia italiana e cria uma situação de enorme desprestígio internacional, no âmbito da União Européia, para o próprio Brasil, ao mesmo tempo em que se colocam panos quentes em relação ao quadro grave daqueles que estão morrendo em Cuba de inanição, por fazerem greve de fome.

            É preciso uniformidade, inclusive na forma de ser solidário do Senador Suplicy, no momento atual, no momento em que vivemos. Não há como S. Exª ter solidariedade com Battisti - ele não merece essa solidariedade, a meu ver -, com Cuba e com o regime cubano, porque o regime cubano agride os direitos fundamentais da pessoa humana.

            No mais, nós aceitamos o diálogo com o Ministro Celso Amorim. Não queremos convescote, não; queremos uma conversa séria, porque nossa posição foi tomada.

            E foi tomada sob a liderança de uma figura que está intransigente, até porque esta é uma marca do seu caráter - a firmeza -, está intransigente nessa posição, que é o Presidente da Comissão de Relações Exteriores, Senador Eduardo Azeredo. Ou seja, a tática do Senador Suplicy, que é um político habilidoso... Primeiro, ele chegou perto do Eduardo Azeredo para então ver se, a partir daí, causava efeitos no pronunciamento aqui da Liderança do Partido. Mas não vai causar, apesar da simpatia que merece de nós. Eu é que o convoco ao retorno às suas origens. Defesa dos direitos da pessoa humana tem que ser universal. Tem-se que ser contra a violação dos direitos da pessoa humana em qualquer circunstância.

            Portanto, desejo o melhor êxito ao Presidente Lula no exterior, mas que ele não cometa os equívocos que está cometendo e que cometeu em Israel. Por que não podemos participar da formulação da política externa? Será que não temos nenhuma ideia para dar? Será que a genialidade toda se esgota na sabedoria do prof. Marco Aurélio Garcia? Se esgota na capacidade de formulação do Ministro Celso Amorim? Nós não temos como participar? Nós não temos o que dizer?

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - O Brasil é um país grande, Sr. Presidente - já concluo -, grande o suficiente no econômico, no político, na maturidade da sua democracia para não ter mais um Congresso suburbano, um Congresso que olhe para dentro de si próprio, que olhe apenas para o próprio umbigo. Ele tem que dar relevo à Comissão de Relações Exteriores das duas Casas e ele tem que opinar de maneira enérgica às vezes, como está opinando pela voz do PSDB de maneira enérgica neste momento em relação à sucessão de erros que vão sendo cometidos. Esse é um quadro que tem que ter um basta. O Brasil, a cada momento, é visto pelo exterior como um país que se irmana a ditaduras. Isso não pode continuar.

            Portanto, eu digo ao Senador Suplicy que aceito, em parte, a sua proposta. O que eu aceito? Conversar, sim, a qualquer momento, a qualquer hora, com a minha Bancada inteira, com o Ministro das Relações Exteriores, mas uma conversa a que S. Exª tem que vir bastante desarmado e bastante disposto a ceder. Nós vamos para uma negociação visando a chegar a uma síntese, à verdade chinesa, que não é a verdade dele nem a minha verdade, mas uma verdade sintética, que seja a média das duas verdades. Queremos participar ou teremos uma posição efetivamente de ruptura.

            Ninguém me convence da importância de haver um Embaixador em Dominique. Não consigo entender isso. Não consigo entender como se joga dinheiro público fora assim. Isso é quase semelhante à corrupção. E não há corrupção no Itamaraty - pelo menos tanto quanto sei. Mas é correspondente a isto: jogar dinheiro fora numa inutilidade. Não há brasileiros, não há relevância, não há comércio. Não entendo o que se faz ali.

            Portanto, queremos dialogar, sim, com o Ministro, mas com base nos termos que estabelecermos. No momento, a posição é de ruptura. É de darmos um basta a um quadro de benevolência e de leniência com que temos tratamos tantos erros e equívocos. Daqui para frente, arguiremos com dureza os Embaixadores que forem escalados para as sabatinas desde que seus países sejam polêmicos e de regimes considerados celerados pela comunidade internacional. País democrático não vejo por quê. É sempre procurarmos saber que vantagens aquele exercício da Embaixada poderá servir de utilidade para o Brasil. Mas, quando se tratar de país cujo regime seja tido pela comunidade internacional como marginal e celerado, temos de ter bastante clareza quanto ao fato de que o Brasil vai manter relações cordiais, sim, mas não vai manter relações de proteção e de cumplicidade.

            Percebemos uma certa relação de cumplicidade entre o Governo brasileiro e certas ditaduras do mundo - aliás, praticamente todas as ditaduras do mundo.

            Obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/03/2010 - Página 7577