Discurso durante a 44ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem à memória do líder sindical Virgílio Serrão Sacramento, assassinado há 23 anos.

Autor
José Nery (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/PA)
Nome completo: José Nery Azevedo
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do líder sindical Virgílio Serrão Sacramento, assassinado há 23 anos.
Publicação
Publicação no DSF de 07/04/2010 - Página 12199
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, LIDER, SINDICATO, TRABALHADOR RURAL, MUNICIPIO, MOJU (PA), ESTADO DO PARA (PA), DIRIGENTE, CENTRAL UNICA DOS TRABALHADORES (CUT), REGIÃO, ELOGIO, VIDA PUBLICA, LUTA, REFORMA AGRARIA, SAUDAÇÃO, FAMILIA, CONTINUAÇÃO, TRABALHO, IMPEDIMENTO, EMPRESA, POSSE, TERRAS, PEQUENO AGRICULTOR.

                          SENADO FEDERAL SF -

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            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. JOSÉ NERY (PSOL - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Jefferson Praia, Srªs e Srs. Senadores, quero fazer um breve registro relativo à memória e à luta de um líder sindical da região do Baixo Tocantins, no Estado do Pará, o líder sindical Virgílio Serrão Sacramento, assassinado há 23 anos.

            No último domingo, dia 4 de abril, movimentos sociais da região do Baixo Tocantins, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) do Pará, do Regional do Pará, a CPT da região guajarina e amigos, familiares, companheiros e companheiras da luta em defesa da reforma agrária se encontraram no Município de Moju para um momento de homenagens à memória e à história de Virgilio Serrão Sacramento.

            Tive a oportunidade e a felicidade de conhecê-lo quando cheguei ao Pará, em 1985, para trabalhar na equipe da Fase de Abaetetuba, com atuação na região do Baixo Tocantins paraense, especialmente no trabalho de organização e de educação popular junto aos camponeses, aos ribeirinhos, aos pescadores, aos metalúrgicos e aos trabalhadores da construção civil no complexo industrial de Barcarena e junto aos assalariados rurais, aos empregados rurais dos grandes complexos agroindustriais de Moju, de Acará, de Tailândia e de Breu Branco - são complexos agroindustriais voltados basicamente para a produção de coco e de dendê.

            Ao conhecer Virgílio Serrão Sacramento, em 1985, na condição de Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais daquele Município - à época, dirigente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) naquela região -, tive a oportunidade de realizar, ao lado de Virgílio e da direção do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Moju, várias ações voltadas para a defesa dos interesses dos trabalhadores rurais, a favor da luta pela reforma agrária, contra a violência e a impunidade no campo.

            Também trabalhamos na organização do Movimento dos Empregados Rurais, dos projetos agroindustriais da Sococo, da Reasa, da Denpasa, na época Agropalma, e ali pudemos constatar as precárias condições de vida dos trabalhadores desses projetos agroindustriais, que, em muitas circunstâncias, viviam em condições, Senador Jefferson Praia, análogas a de escravo ou de semi-escravo, porque dezenas, centenas de trabalhadores eram vítimas de um processo de aliciamento de mão de obra em outros Estados, um processo de contratação por meio de empreiteiros que, na verdade, eram responsáveis por levar trabalhadores para serem tratados de forma desumana, sem carteira assinada muitas vezes, sem direitos trabalhistas assegurados, morando, muitas vezes, em alojamentos sem condição de habitação.

            Foi nesse contexto que conheci, há 26 anos, Virgílio Serrão Sacramento.

            Virgílio foi vítima de um pretenso acidente, até hoje não esclarecido, na PA-150, em lugar próximo a sua casa, em 5 de abril de 1987. Ontem, portanto, completaram-se 23 anos do martírio de Virgílio.

            Neste domingo, numa importante homenagem - caminhada, celebração de missa na Igreja da comunidade Sucuriju e, depois, uma reunião ampla com a participação de trabalhadores rurais, de pescadores, de comunidades quilombolas, das pastorais da CNBB, sobretudo a Pastoral da Terra, com a presença da professora Edilsa Fontes, historiadora e professora da Universidade Federal do Pará -, pudemos testemunhar a luta e a semente que Virgílio Serrão Sacramento plantou há muitos anos na organização dos trabalhadores rurais e na defesa de suas lutas.

            A homenagem reuniu, além dos amigos, a família de Virgílio, um verdadeiro baluarte da luta em defesa do direito dos trabalhadores. Estava lá a companheira de Virgílio, sua esposa, Maria Diniz Sacramento, os seus filhos - Elias Sacramento, Sandra, Dorival, Edna, João - e tantos outros que se associaram naquele momento para lembrar não só o pai, mas o sindicalista e o lutador social que foi Virgílio Serrão Sacramento.

            Senador Jefferson Praia, Virgílio era agricultor nascido em Limoeiro do Ajuru, município também do Baixo Tocantins, era semi-analfabeto, mas dizia ter uma missão: além de lutar para organizar e obter conquistas para os trabalhadores rurais do Baixo Tocantins, dizia que era seu compromisso fazer um esforço extraordinário para educar e formar todos os seus filhos. Pois o seu sonho se transformou em realidade: todos os onze filhos concluíram o curso superior na universidade, são professores universitários, professores do ensino médio ou ainda estão concluindo o curso superior. Portanto, a semente que Virgílio Serrão Sacramento plantou com a sua luta e com o seu esforço hoje é reconhecida por milhares de trabalhadores naquele município de Moju e na região do Baixo Tocantins.

            Sua família continua a sua luta e o seu sonho e hoje se dedica, além da educação, como professores ou como estudantes, a apoiar a luta dos trabalhadores rurais da região, que empreendem um grande embate para não permitir que as grandes empresas do agronegócio do Baixo Tocantins, que vêm comprando por migalhas terras de agricultores que produzem alimentos naquela região, transformem essas pequenas propriedades em grandes plantios de dendê, integrando, dessa forma, a pequena produção familiar à lógica da grande produção capitalista dos projetos agroindustriais de Moju e da região.

            Portanto, é com satisfação, Sr. Presidente, que registro o encontro do último domingo em Moju com essa representação de movimentos sociais para lembrar a memória, a história. Também foi definido aquele dia como um dia de luta em defesa do planeta, porque aspectos da luta em defesa do desenvolvimento sustentado foram tratados por vários oradores e por vários daqueles que participaram daquele evento de homenagem à memória de um lutador do movimento sindical rural, um lutador da causa do povo paraense.

            Era esse o registro que eu gostaria de fazer nesta noite, enaltecendo essa história de luta e, sobretudo, a participação de todas as pessoas, de todas as entidades que se reuniram no município de Moju para encontro de importante homenagem a um líder popular.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/04/2010 - Página 12199