Discurso durante a 43ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre o projeto de lei que exige "ficha limpa" para os candidatos que disputarem as eleições, que pode ser votado na quarta-feira, pela Câmara dos Deputados.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
JUDICIARIO. LEGISLAÇÃO ELEITORAL. POLITICA ENERGETICA. :
  • Considerações sobre o projeto de lei que exige "ficha limpa" para os candidatos que disputarem as eleições, que pode ser votado na quarta-feira, pela Câmara dos Deputados.
Aparteantes
Alvaro Dias, Cristovam Buarque, Marisa Serrano.
Publicação
Publicação no DSF de 06/04/2010 - Página 11792
Assunto
Outros > JUDICIARIO. LEGISLAÇÃO ELEITORAL. POLITICA ENERGETICA.
Indexação
  • CONGRATULAÇÕES, PRESIDENTE, CAMARA DOS DEPUTADOS, EMPENHO, AGILIZAÇÃO, VOTAÇÃO, PROJETO, INICIATIVA, POPULAÇÃO, IMPEDIMENTO, CANDIDATURA, POLITICO, CONDENAÇÃO, PRIMEIRA INSTANCIA, PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO, RELEVANCIA, PROPOSIÇÃO, PROMOÇÃO, ETICA, EXERCICIO, POLITICA.
  • DEFESA, AGILIZAÇÃO, JULGAMENTO, POLITICO, ANTERIORIDADE, ELEIÇÕES, RELEVANCIA, JUDICIARIO, PRIORIDADE, PROCESSO, ELOGIO, SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (STJ), DECISÃO, PRISÃO, GOVERNADOR, DISTRITO FEDERAL (DF), REPUDIO, IMPUNIDADE, INJUSTIÇA.
  • RECONHECIMENTO, TENTATIVA, GOVERNO FEDERAL, IMPLEMENTAÇÃO, INICIO, REFORMA TRIBUTARIA, REFERENCIA, DIVISÃO, ROYALTIES, EXPLORAÇÃO, PETROLEO, RESERVATORIO, SAL, DEFESA, UNIÃO FEDERAL, COMPENSAÇÃO, ESTADOS, PRODUTOR, ELOGIO, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PROGRAMA, TELEVISÃO, EXISTENCIA, SOLUÇÃO, PROBLEMA, PREVIDENCIA SOCIAL.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente e Srs. Senadores, é com muito respeito que falo nesta Casa com os olhos e o coração voltados para a Câmara dos Deputados. As manchetes de jornais noticiam que há uma possibilidade muito grande de a Câmara dos Deputados, na próxima quarta-feira, votar o projeto de iniciativa popular, com um milhão e quinhentas mil assinaturas, que trata da questão da ficha limpa.

            Olhe, Sr. Presidente, quero felicitar o Presidente Michel Temer, porque ele recebeu as caravanas, as delegações das entidades representativas da sociedade brasileira e fez uma promessa, que parecia quase impossível, de que o projeto seria votado o mais rápido possível. E a informação que as manchetes de jornais dão hoje - inclusive o jornal da Câmara dos Deputados - é a de que, na quarta-feira, o projeto será votado.

            Não é o projeto original das um milhão e quinhentas mil assinaturas de iniciativa popular, mas é um projeto importante. As lideranças se reuniram e chegaram a um entendimento, mas é um avanço importante. Não é como eu gostaria que fosse - o projeto original, estabelece, dentro do processo de Ficha Limpa, que uma primeira condenação já determinaria que o cidadão não poderia ser candidato.

            É claro que repito - e tenho projeto igual a esse ou outro semelhante - que, com condenação, não pode ser candidato; mas, para o cidadão condenado, ainda que em primeira instância, e que seja candidato á próxima eleição, a Justiça tem de fazer o julgamento até a eleição. Aí seria o ideal, porque, em vez de o Parlamentar ou de o político impedir, trancar o processo, ele vai, em sentido contrário, querer que ele ande adiante.

            Mas a decisão que a Câmara vai tomar, que a unanimidade dos Líderes acordaram e que vai à votação na quarta-feira, é um bom início, principalmente porque é a primeira vez que uma medida importante como essa tem uma decisão lá na Câmara dos Deputados. Nós, aqui no Senado, já temos votado muita matéria no que tange a buscar mais seriedade, respeitabilidade na vida pública, mas essas matérias têm ficado na gaveta da Câmara dos Deputados.

            É verdade que os Deputados dizem que nós votamos aqui porque sabemos que vai ficar na gaveta da Câmara dos Deputados e que, por isso, a gente vota. Eu até me pergunto: será que é verdade?

            Eu não sei, mas nós temos votado, e está lá na gaveta da Câmara dos Deputados.

            Este é um projeto que vai começar na Câmara dos Deputados e virá para cá. Eu não tenho nenhuma dúvida de que vai ser aprovado, tranquilamente, na Casa. E, se depender de mim, que gostaria que ele fosse aprovado com uma redação diferente e mais audaz, eu não faria emenda alguma, para que ele não precise voltar. Acho que devemos votar com urgência, para que esse que vem da Câmara entre em execução imediatamente. Será um grande passo. Será um início muito positivo com relação à ética na política.

            Nós estamos vivendo um momento muito estranho. É a primeira vez que um Governador, no exercício do cargo, em pleno governo, é preso. E, se alguém pensava que ele ficaria preso algumas horas ou alguns dias, continua preso. E renunciou ao seu mandato. E, agora, na semana, a Câmara Legislativa escolherá o futuro Governador.

            O Vice-Governador também renunciou.

            Eu vim a esta tribuna para dizer que tinha sido histórica a votação feita pelo Relator no Superior Tribunal de Justiça e que tinha sido histórica a decisão do Tribunal, imediatamente após a decisão do Relator, de se reunir para confirmar. De tal maneira que, quando subiu para o Supremo, o recurso já não era um recurso do Relator, mas do Pleno do Tribunal. O Relator do Supremo confirmou, e o Plenário do Supremo manteve.

            É a primeira vez, mas é o início. É o início. E se, em meio a isso, a Câmara dos Deputados der esse passo na quarta-feira, é um segundo passo; é a continuação.

            Senador Alvaro.

            O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Pedro Simon, V. Exª tem sido persistente nessa matéria, e o faz muito bem. Creio que é uma questão crucial para a recuperação de um mínimo de credibilidade das instituições públicas brasileiras, especialmente dos políticos brasileiros. Há providências que são necessárias, urgentes. Quanto a esse projeto a que faz referência V. Exª, talvez não cheguemos ao modelo que desejamos, tanto V. Exª quanto eu, mas qualquer avanço tem de ser comemorado, como muito bem faz V. Exª. E eu creio que seria também um momento oportuno para uma convocação às autoridades judiciárias. Nós sabemos que existem processos em andamento, ações judiciais em andamento, envolvendo políticos que disputam as eleições. Eu não sei se nós temos condições de fazer este apelo, mas devemos fazê-lo: pedir celeridade, prioridade; que essas ações sejam julgadas preferencialmente, para que, antes das eleições, a população possa ter a informação sobre o julgamento. Há fatos em andamento, como agora no Paraná, na Assembleia Legislativa, o Ministério Público presente. Se esses episódios pudessem ser concluídos antes das eleições, certamente nós estaríamos prestando um grande serviço à população brasileira, ao eleitor que é o grande julgador, mas que depende das informações para julgar corretamente. Eu citei apenas um exemplo do Paraná, pontual, da Assembleia Legislativa, mas nós sabemos que, no Brasil todo, existem inúmeras ações que tramitam no Judiciário envolvendo políticos que disputarão as eleições deste ano. O mensalão, por exemplo, o mensalão, o inquérito do mensalão, o processo... Há poucos dias, divulgou-se que teremos julgamento apenas por volta de 2012. Não há como agilizar isso? Não há como dar celeridade a esses procedimentos? Não há como tratar dessas questões preferencialmente para que a população possa, em tempo, ter todos os instrumentos para um julgamento implacável nas urnas? É o que nós desejamos e eu creio que cabe bem agora nesse pronunciamento que faz V. Exª, com a autoridade moral que possui.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Senador Alvaro, V. Exª, não sei se deliberadamente ou por coincidência, defende o meu projeto. V. Exª diz com correção: a Justiça tinha que dar prioridade. Parece-me o racional. Eu sou um juiz, eu sou um promotor, eu sou membro de um tribunal, qual é a prioridade hoje? O que é que tem de muito mais importante no Supremo do que a decisão do mensalão? O que é que tem de mais importante na véspera de uma eleição? V. Exª tem razão: deveria haver o bom senso por parte dos tribunais e dos membros do Judiciário. Mas o meu projeto determina como obrigatoriedade que o delegado, o promotor, o juiz, o procurador e o tribunal têm que dar prioridade absoluta a quem é candidato no julgamento. E têm que decidir até a eleição. E se, por uma infelicidade, não deu para decidir até a eleição, sobre os que ganharem, eles têm que decidir até a posse. Tem 10 mil candidatos; não deu para fazer o julgamento dos 10 mil ou 5 mil que têm algum processo, mas 50 ganharam e têm processo. Esses cinquenta, entre a eleição e a posse, têm de ser julgados. Esse é o meu projeto.

            Eu estranho, Senador, porque não vejo, por parte das autoridades do Poder Judiciário, nenhuma palavra no sentido de que isso é importante. Pelo contrário, a realidade brasileira é uma só: o Supremo, até hoje, não condenou ninguém, nem o Governador de Brasília - ele renunciou.

            É interessante salientar que o Governador de Brasília está sendo processado e está na cadeia não pelo processo de corrupção, mas por ter impedido a ação da Justiça, por ter tentado comprar uma testemunha e impedir o curso do processo. É por isso que ele está sendo julgado, porque a ação da condenação, o processo em si, ainda está em pleno andamento. Ninguém sabe aonde irá e como terminará.

            Por isso é importante a decisão da Câmara na quarta-feira, que inverterá esse estado de coisas. A partir da semana que vem, tenho certeza, aqui no Senado e após a sanção presidencial, o processo se inverterá.

            Por exemplo: o Pedro Simon está sendo processado, foi condenado, está em recurso. O Pedro Simon vai correr para ser julgado. Vou pegar um advogado que vai se esforçar para que eu seja julgado, porque eu quero ser absolvido. Posso ser condenado, mas quero ser absolvido.

            Hoje, nenhum cidadão pega um advogado que tenha experiência jurídica em absolver. Pega um advogado que tenha a malícia e a capacidade de empurrar o processo para adiante, até prescrever.

            Está lá ex-Governador de São Paulo, está lá gente importante que já teve um, dois, três, quatro, cinco, dez, trinta, quarenta processos, cinquenta condenações, mas nenhuma em definitivo. Nenhuma em definitivo!

            Quarta-feira, se a Câmara tomar essa decisão, e se nós a confirmarmos, como tenho certeza, confirmaremos, muda o processo. Eu não vou pegar um advogado para empurrar com a barriga para prescrever. Eu vou pegar um advogado para me absolver. Eu não vou esperar que o tempo ande porque, andando, é melhor. Eu vou correr e cobrar para que eu seja julgado, para eu poder ser candidato.

            Isso é tão lógico, isso é tão lúcido, isso é tão racional, que me perdoem, Ministros do Supremo: eu não entendo como V. Exªs não cobram isso de nós e da sociedade.

            A sociedade está se movimentando. Um milhão e quinhentas mil pessoas assinaram. Quero felicitar o Presidente Michel Temer. A imprensa diz que será um gesto que somará muito para S. Exª. Concordo! Assim como várias vezes tenho criticado S. Exª, o elogio neste momento. É uma atitude exata em um momento exato. Sei que muitos estão criticando, S. Exª. Muitos são os que não querem. Muitos, mas uma minoria. Por que a imensa maioria o está aplaudindo.

            Pois não.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Pedro Simon, considero o projeto da Ficha Limpa uma das mais importantes iniciativas para tentarmos não apenas moralizar, mas, sobretudo, resgatar a credibilidade da classe política na sociedade brasileira. Não há dúvida nenhuma disso. Estou louco para que chegue aqui, porque vou votar a favor e irei para a tribuna defender o projeto. Entretanto, quero colocar algumas preocupações, especialmente uma: quem vai dar a ficha limpa a quem dá a ficha limpa ou a ficha suja? A gente sabe que, na decisão judicial, com tantas varas que há neste País, há o risco de se politizar o julgamento. A gente sabe que existe esse risco. Mesmo assim, sou favorável, não há dúvida. Ao mesmo tempo, como é que se diferencia crime de corrupção de erros que se cometam durante o exercício do cargo executivo? Por exemplo, creio que existam poucas pessoas que fazem política com mais seriedade neste País do que a Deputada Erundina. No entanto, a Deputada Erundina foi condenada, teve de pagar um valor expressivo por um erro, não por corrupção, porque a sua assessoria jurídica, quando ela estava na Prefeitura de São Paulo, autorizou que se publicasse determinada posição no jornal, ou nos jornais, diante de uma greve. E ela foi condenada até na última instância, teve de pagar. Muitos fizemos quotas, inclusive, para ajudá-la a pagar porque ela não teria dinheiro para pagar aquilo.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS) - Perdoe-me. Mas eu fui um dos que atenderam ao apelo...

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Muito bem!

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS) - ...e, modestamente, dei a minha contribuição.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Isso. Ela tem ficha limpa ou não tem ficha limpa? Vou colocar uma outra situação que ainda está em julgamento: eu fui governador, fui reitor, fui ministro, passei por todos esses cargos e tive um processo. Em um certo momento, no começo do governo, fez-se uma prestação de contas - haviam passado trezentos dias, ou seja, menos de um ano. Nessa prestação de contas, colocaram foto minha. O famoso ex-Deputado e ex-Senador Luiz Estevão insuflou alguém - todos sabemos - e abriu uma ação popular contra, dizendo que isso era uso de recurso público para promoção pessoal. O processo foi arquivado pela Justiça. Conseguiu outra pessoa que outra vez abriu outra ação popular, que foi arquivada pela Justiça. Até que conseguiu outra pessoa que abriu e um juiz condenou. O processo está em fase de apelação. Eu não sei se...

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS) - E não anda.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Hein?

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS) - E não anda.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - E não anda. É preciso que ande isso, que se decida o mais rapidamente possível.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS) - Se for aprovado o projeto e V.Exª for candidato, ele deve ser decidido até a eleição.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Muito bem! Isso aí é o que deve ser feito.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Esta é a tese. A minha proposta é exatamente esta. V. Exª tem o processo, é candidato, o Tribunal tem que decidir até a eleição. E, se eventualmente não decidir até a eleição e V. Exª ganhar, tem que decidir até a posse.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Até o quê?

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Até a posse.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Muito bem. É fundamental. Mas vejam os transtornos na sociedade se não decidir até a eleição. Se decidir até a eleição, põe-se outro no lugar. Mas se não decide, elege-se uma pessoa e depois vai assumir o segundo? Se vai decidir pelo segundo, não tenha dúvida: em alguns casos, haverá influência do segundo para que saia o resultado que ele deseja para que seja cassado o primeiro. Nós sabemos que, por mais puros e puras que sejam os que fazem a Justiça, existem exceções também lá. Essa é uma preocupação que tenho, mas, mesmo com essa preocupação, eu quero dizer: a Ficha Limpa é um avanço na moralização da vida pública e, sobretudo, mais ainda que isso, no resgate da credibilidade da classe política brasileira. Por isso, vai ter todo o meu apoio, independentemente de meu caso ser ou não julgado, não interessa, independentemente inclusive das muitas injustiças que a gente vai ter neste País durante os julgamentos - a gente sabe que isso ocorre. Quantos foram cassados e quantos deixaram de ser cassados pela mesma causa na Justiça? E a gente sabe que, por trás, às vezes, muitos dos juízes, ou quase todos, são puros, mas não dá para dizer que o são todos e, mesmo os que não são às vezes cometem erros. Esse problema vai acontecer. Vai haver muitos erros. Muitos não, vai haver alguns erros. Vamos ter alguns erros, algumas injustiças, mas isso não anula os aspectos positivos desse projeto, isso não inviabiliza o reconhecimento de que esse é um projeto que traz mais moralização e, sobretudo, resgata a credibilidade da classe política no Brasil.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu escutei com muito respeito o aparte de V. Exª e isso muitas pessoas me falam: têm casos em que o promotor é mais político do que promotor. Hoje então estão acontecendo alguns casos. Nós sabemos que no Brasil manchete em televisão, manchete de jornal é coisa ruim Eu fui a um jornal importante do Rio Grande do Sul e, conversando, cobrei: “Mas vocês só publicam as coisas erradas, por que vocês não publicam as coisas certas?” “Nós não publicamos as coisas erradas. Nós publicamos o que é notícia”. “Mas tem tanta coisa boa que a gente faz na Assembleia e vocês não publicam”. “Vocês são pagos, vocês são eleitos, vocês são eleitos e são pagos para fazerem coisas boas. É o normal. Quer ser manchete? Tem que ser uma coisa muito boa, tem que ser algo fora do normal. Agora, a rotina de fazer leis é o normal. Um grande projeto, uma grande iniciativa é uma grande manchete. Negativo também. Você quer ver uma coisa? Sai daqui da redação, desce ali, se um cachorro te morder não vai sair em lugar nenhum. Um cachorro mordeu um deputado, qual o problema? Quer ser capa de jornal? Morde o cachorro. Na verdade, as coisas negativas é que chamam a atenção.

            E hoje nós estamos vivendo um momento... Lá no Rio Grande do Sul está tendo uma coisa fantástica. Foi assassinado o Secretário de Saúde da Prefeitura de Porto Alegre, um grande companheiro, competente, do Partido Trabalhista Brasileiro, uma pessoa sensacional. Foi assassinado ao sair da igreja.

            A Polícia Civil deu o veredicto: foi tentativa de roubo do automóvel. Foi um assalto. Vieram agora os promotores e deram uma entrevista dizendo que não. Foi um crime por encomenda. Esse ilustre Vice-Prefeito, Secretário da Saúde, terminou com um contrato de uma empresa de segurança que tinha feito coisas erradas e, por vingança, mandaram matá-lo.

            Na hora de mandar fazer a execução de prender, os promotores não usaram a Polícia Civil. Usaram a Brigada Militar. O que está acontecendo muito é isto: a questão de aparecer. Lá pelas tantas, o promotor é manchete porque denunciou deputado. E quando é prefeito, é pior ainda.

            A Constituição diz que cabe ao prefeito manter a limpeza das ruas. O juiz chega e dá dois meses ao prefeito para terminar um lixão que tem 30 anos na cidade. Um prefeito cara me perguntou: como é que eu vou fazer isso neste prazo? Deram voz de prisão para ele.

            Realmente, essas coisas acontecem. Mas é por que nós não estamos acostumados a ver justiça. No momento em que o promotor ou o juiz dá uma decisão e, se acontecer, ele não vai dar a segunda. Hoje a gente não se preocupa tanto com o que V. Exª levantou porque é tão raro o cidadão ser preso. Ele nunca é condenado. No momento em que decidirmos aqui entrar em juízo não tenho dúvida de que vamos ter que debater os casos que V. Exª referiu. Temos que ver que muitas vezes é uma injustiça tremenda e não podemos impedir que a justiça seja feita.

            Estamos vivendo uma época que como ninguém é condenado, todos são absolvidos, nós ainda temos a sensação de viver o que V. Exª está salientando e que concordo que é importante e que bom que daqui a dois anos estaremos discutindo a tese de V. Exª. Temos que fazer alguma coisa porque essas injustiças não podem continuar, mas ainda não chegamos lá.

            A Srª Marisa Serrano (PSDB - MS) - Obrigada, Senador Pedro Simon. É natural que as pessoas...

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Antes gostaria de dizer que não concordo com o que está no jornal, que vai falar o Serra e os Presidentes de Partido e não vai falar nenhuma mulher! Eu indico V. Exª. Não pode! Não tem lógica. A do PT a principal foi uma mulher que falou e na do PSDB não vai falar nenhuma mulher?

            A Srª Marisa Serrano (PSDB - MS) - Vou levar essa sua solicitação. Senador Pedro Simon, essa é uma questão que toca no íntimo da gente. Falamos muito em reforma. Desde que entrei aqui e antes mesmo, quando eu ainda era Deputada Federal, já brigávamos por uma reforma política e discutíamos que não era possível continuar do jeito que estávamos. E não podemos continuar do jeito que estamos, pois, principalmente, queremos dar outro aspecto à política brasileira, mostrar outro modelo em que as pessoas e a juventude possam espelhar-se. E, quando falamos que as pessoas não têm confiança, que não há credibilidade nos políticos brasileiros, isso está ficando tão arraigado na sociedade brasileira, que não será, provavelmente, uma ação específica, como essa, que vai mudar o conceito que a sociedade tem dos políticos. Mas sempre, como disse V. Exª - concordo com isto e quis dar aqui meu apoio e meu voto a essa ideia -, temos de começar, mesmo que, como disse o Senador Cristovam, abarquem-se pessoas que não têm essa pecha de ficha suja. Mas, neste momento, acho que esse é o começo, o início de uma mudança que se queira. Talvez, possamos fazer mudanças fundamentais na política brasileira. Sou parlamentarista.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu também.

            A Srª Marisa Serrano (PSDB - MS) - Essa é uma forma que, talvez, eu tenha de ver uma mudança efetiva no País. Também acredito muito que temos de debater questões muito maiores. Às vezes, quando falo em reforma política, falo em coisas pontuais: vai se fazer assim ou não, pode-se falar isso na televisão ou não, vai se pagar isso ou não. Mas não é só isso. A reforma política tem de ser muito mais profunda. Se quisermos realmente fazer com que a sociedade brasileira acredite nos políticos, temos de começar a fazer uma reforma política conceitual efetiva no País. Concordo com V. Exª que esse já é, pelo menos, um começo.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço muito a V. Exª e digo o seguinte: o que houve com o governador de Brasília? Ele saiu, o vice também saiu. Cadeia ainda não existe para o setor financeiro, grandes banqueiros, mas vai chegar lá! Um político já está preso. A Câmara dos Deputados vai votar esse projeto e nós vamos aprovar aqui. Aqui, a Câmara dos Deputados votou o projeto dos royalties, e nós vamos votá-lo aqui. Não vamos fazer essa guerra que estão querendo imaginar: retirar do Rio e do Espírito Santo para distribuir para os outros. Mas vamos distribuir entre todos, e a União dará a sua parte. A União dará a sua parte!

            Homem de sorte o Lula, o Lula entrará na história por várias razões. Essa é uma delas. A reforma tributária que ninguém teve coragem de fazer, vamos começar com esse projeto do deputado Ibsen Pinheiro, que é uma verdadeira reforma tributária.

            E o Lula vai sancionar! Que bacana para o Lula sancionar. Ele entra para a história e quem paga a conta será ou a Dilma ou o Serra. Se deixarem para a Dilma ou o Serra, para o Pedro Simon ou para o Mão Santa, na Presidência, eles não iriam querer perder esse dinheiro. Mas quis o destino que o Presidente, no fim do seu mandato, possa ter a visão, ao olhar para o Brasil, não a miudeza de só olhar para os cofres da Presidência. 

            Esse início de reforma tributária, essa votação do projeto das mãos limpas e o que está acontecendo em Brasília... Eu posso dizer que estamos vivendo um novo começo.

            Olhe, Presidente...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Senador Pedro Simon, inclua aí o pacote dos aposentados. A Câmara Federal é uma verdadeira câmara de gás, pois está matando os aposentados, igual fez Hitler. Aquilo ali que se está fazendo, inclua aí no pacote, porque essa é a verdadeira reforma judiciária, a reforma da Justiça.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - O Lula teve um debate ontem muito interessante - não sei se os senhores assistiram - na TV Bandeirantes. Eu fiquei impressionado com a competência de Sua Excelência. Ele fala com uma desenvoltura! Perguntaram para ele sobre essa questão da Previdência, e ele respondeu que ela tem saída. Eu até gostaria de falar com o Paim. Se o Senador Paim não tiver assistido, que assista, pois o Senador Paim deve responder, desta tribunal, ao Presidente Lula, ao que ele falou da Previdência.

            Mas V. Exª tem razão: a Câmara poderia tomar uma decisão. Ou vota ou rejeita ou altera, mas deixar na gaveta, não pode. O Governo votou aqui, e nós aprovamos por unanimidade.

            E o Governo resolveu... “Deixa, a Câmara resolve”. E a Câmara não resolveu, porque rejeitar como querem a Câmara não quer rejeitar; e soluções intermediárias, já foram feitas muitas, mas o Governo não aceita. V. Exª tem razão, por que não a Previdência? Mas eu digo, eu acho que nós estamos vivendo um bom momento: o Governo de Brasília com o seu Governador na cadeia; processo das mãos limpas, que nunca se imaginava, em vésperas de ser votado na Câmara, e tenho certeza de que será aprovado neste Senado; e a questão dos royalties, que ninguém imaginava que a Câmara aprovaria, e a Câmara aprovou. Diz o Líder do Governo, Senador Jucá, que vai deixar para depois da eleição. Eu não acredito. Vamos votar antes a eleição, porque eu quero ver algum Estado votar contra o seu Estado, o Parlamentar nesta Casa.

            Por isso, Sr. Presidente, coisas positivas neste ano de debates. Este ano em que a mim, minha consciência me diz que nós vamos ter uma eleição espetacular. Acho que vai ser, talvez, a eleição mais bonita da história do Brasil.

            Que pena se o MDB não estiver presente, porque o Requião pode ser o grande candidato do PMDB, como o Serra é um candidato excepcional no PSDB e a Ministra Dilma é uma candidata fora de série no Governo. E a nossa querida Senadora lá do Acre, símbolo da pureza, disse que a sua eleição é como Davi contra Golias ou que ela era uma espécie de Dom Quixote, mas o que seria do mundo se não tivesse sonhos? E ela sonha. E, talvez mais do que ela imagina, milhões de brasileiros hão de sonhar com ela.

         Muito obrigado, meu querido Mão Santa, a quem renovo a admiração e o carinho. Espero me encontrar contigo lá na campanha no Maranhão, quando terei a alegria de trabalhar pela sua candidatura ao Senado Federal.


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