Pronunciamento de José Nery em 31/03/2010
Discurso durante a 42ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Apoio à luta dos trabalhadores em educação do Estado do Pará.
- Autor
- José Nery (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/PA)
- Nome completo: José Nery Azevedo
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
MOVIMENTO TRABALHISTA.
LEGISLAÇÃO TRABALHISTA.:
- Apoio à luta dos trabalhadores em educação do Estado do Pará.
- Publicação
- Publicação no DSF de 01/04/2010 - Página 11475
- Assunto
- Outros > MOVIMENTO TRABALHISTA. LEGISLAÇÃO TRABALHISTA.
- Indexação
-
- REGISTRO, PARALISAÇÃO, TRABALHADOR, EDUCAÇÃO, SETOR PUBLICO, ESTADO DO PARA (PA), SUGESTÃO, REUNIÃO, GOVERNO ESTADUAL, SINDICATO, CATEGORIA, BUSCA, ACORDO, DEFINIÇÃO, PLANO DE CARREIRA, IMPORTANCIA, GARANTIA, DIGNIDADE, VALORIZAÇÃO, PROFESSOR.
- ELOGIO, SENTENÇA JUDICIAL, JUSTIÇA DO TRABALHO, ESTADO DO PARA (PA), CONDENAÇÃO, COMPANHIA VALE DO RIO DOCE (CVRD), EMPRESA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO, PAGAMENTO, INDENIZAÇÃO, TRABALHADOR, INCLUSÃO, JORNADA DE TRABALHO, TEMPO, DESLOCAMENTO, LOCAL, MINAS, BRAVURA, JUIZ, COMBATE, DESRESPEITO, LEGISLAÇÃO TRABALHISTA.
O SR. JOSÉ NERY (PSOL - PA. Pronuncia o seguinte
discurso.) - Sr. Presidente, Senador Mão Santa,
Srªs e Srs. Senadores, quero registrar o meu apoio à
luta dos trabalhadores e trabalhadoras da educação
no Estado do Pará. Essa luta foi marcada no dia de
hoje, Sr. Presidente, por uma grande paralisação dos
professores liderada pelo combativo Sintepp, Sindicato
dos Trabalhadores em Educação Pública, no Estado
do Pará, sindicato que representa a categoria em nível
estadual.
O Governo do Estado tem-se mantido apenas
no discurso, quando se trata da valorização dos trabalhadores
do serviço público estadual. Por isso, os
trabalhadores e trabalhadoras em educação realizaram
duas massivas greves em 2008 e 2009, que mobilizaram
cerca de 90% da categoria para pressionar
o Governo Ana Júlia e, com isso, trazer o mínimo de
avanço à educação e à categoria.
Contudo, até o momento, não houve avanço nas
negociações com o Executivo Estadual. No último
congresso da categoria, foi aprovado, como eixo principal
da campanha salarial e educacional de 2010,
a aprovação imediata do Plano de Carreira, Cargos
e Remuneração, PCCR, que contemplasse todos os
trabalhadores em educação no Estado do Pará.
Contudo, até o momento, o Governo do Estado
tem sinalizado que pretende apresentar uma proposta
diferente à que está sendo construída no âmbito
da categoria.
Por isso, a mobilização dos trabalhadores e trabalhadoras
cumpriu mais uma etapa no dia de hoje
com uma paralisação das redes estadual e municipal
para deixar claro que a categoria está em alerta, reafirmando
que a educação pública de qualidade passa
pela valorização dos trabalhadores e trabalhadoras
em educação.
No último dia 26 de fevereiro aconteceu, na sede
da Secretaria de Estado e Planejamento, Orçamento
e Finanças, reunião da Comissão Permanente de
Negociação entre o Sintepp e o Governo do Estado,
para definir as diretrizes do Plano de Cargos, Carreira
e Remuneração unificado em fase de definição na forma
de projeto de lei estadual. O Sindicato avalia que
o Governo não avançou no conteúdo das propostas
econômicas do PCCR, o que pode levar a categoria
a uma nova greve.
O Sintepp solicitou ao Secretário de Planejamento,
Dr. José Júlio, à Professora Drª Socorro Coelho, Secretária
de Estado de Educação, e ao Sr. Mauro Leônidas,
membros da Comissão de Negociação representando
o Governo, uma resposta concreta ás propostas
apresentadas pelo Sindicato há três meses.
O Governo não revelou sua proposta, informando
que sua versão de PCCR seria encaminhada diretamente
à Assembleia Legislativa até o dia 15 de março,
mesmo que não houvesse acordo com a categoria. É
bom registrar que até a presente data, 31 de março
de 2010, o referido Plano de Carreira não foi encaminhado
à Assembleia Legislativa.
Neste sentido, Sr. Presidente, proponho diretamente
ao Governo do Estado do Pará e à Governadora
Ana Júlia que se realize, imediatamente, uma reunião
com a direção estadual do Sintepp, visando à construção
de um acordo em que a proposição de um Plano
de Cargos, Carreiras e Salários seja minimamente realizado,
discutido e acordado entre as partes, garantindo,
efetivamente, aos trabalhadores em educação
no Pará condições dignas de remuneração, de trabalho,
bem como sejam atendidas outras necessidades
da categoria, dos alunos e da comunidade escolar no
Estado do Pará.
Trata-se da necessidade de um plano de reestruturação
de toda a rede física das escolas estaduais,
tendo em vista que, em grande parte delas, o que encontramos
são escolas sem condições de acolhimento
aos alunos para a realização da tarefa de promover
ali, naqueles espaços, a educação. São escolas que
necessitam de reformas e ampliação. Alguns lugares
precisam mesmo é da construção de novas escolas
estaduais.
É com satisfação que concedo um aparte ao Senador
Cristovam Buarque.
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador
Nery, fico satisfeito de vê-lo trazendo esse problema
da greve dos professores no Estado do Pará, mas lembro
que não é só ao Estado do Pará que deveríamos
dedicar mais tempo aqui.
Hoje, estão em greve os professores de São
Paulo, estão em greve os professores da UnB, estão
em greve os professores do Pará e, provavelmente, de
outros Estados. A greve de professor é uma tragédia.
São semanas que crianças ficam sem aula. Nós temos
que descobrir um meio para que os professores reivindiquem
sem necessidade de greve ou, melhor ainda,
que a gente chegue ao dia em que não seja preciso
de greve de professor. Fui visitar a Finlândia para saber
porque ali a educação deu certo. Os professores
fizeram uma grande festa quando comemoraram trinta
anos sem greve. Fizeram uma festa. Lá, Senador Mão
Santa, o sindicato não se diz dos professores, mas sindicato
da educação. Eles são combativos. Eles brigam,
sobretudo na rua, e conseguem passar anos e anos
sem uma greve e terem os melhores salários do país,
de todas as categorias. A gente precisa chegar a esse
ponto. Enquanto não chegamos, fico satisfeito de ver o
senhor trazendo propostas. Quero aqui, de público, dizer
que ontem recebi um grupo de professores da UnB,
aqui, a essa hora da noite. Eles me pediram para eu
ligar para o Ministro da Educação, Fernando Haddad,
para ver se ele podia recebê-los. O Ministro disse: “Venha
aqui agora”. E daí a vinte minutos, por causa do
trânsito que estava muito ruim, estávamos todos, os
professores e eu, com o Ministro Fernando Haddad.
Na manhã de ontem, tivemos uma reunião muito tensa
e difícil com o Ministro do Planejamento, que, de certa
maneira, diz que está amarrado e impossibilitado de
atender o que os professores querem. É preciso dizer
que, no caso da UnB, o que os professores querem é
não haver redução do salário.
O SR. JOSÉ NERY (PSOL - PA) - Não é nem
reajuste.
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Não é
reajuste, não é aumento. Eles querem, na verdade,
duas coisas: saber quanto vão ganhar no próximo
mês, porque cada mês está vindo um salário diferente,
e não perder. Os professores de nível superior, mais
alto, mais velhos... Eu dou aula lá sem receber nada,
obviamente, mas, se estivesse lá, perderia pouco. Mas
os professores em início de carreira estão perdendo
uma parte substancial dos salários. O Ministro do
Planejamento resistiu muito; o Ministro da Educação
foi absolutamente simpático, embora tenha dito que
reconhece que o Ministro do Planejamento não poderá
cumprir o que os professores querem sem que a
Advocacia-Geral da União aceite. É preciso dizer que
o Supremo Tribunal Federal, por um parecer da Ministra,
já deu ganho aos professores. O problema está na
interpretação. O Ministério do Planejamento interpreta
que o que a Ministra deu leva ao cálculo do salário de
uma maneira; os professores dizem que a maneira de
calcular é outra. O problema é que a maneira dos professores
mantém o salário e a do Ministério diminui o
salário. Não é possível uma coisa dessas. A gente vê
no Pará, vê em São Paulo, vê se espalhando por aí. Temos
que descobrir uma forma de, neste País, professor
não precisar fazer greve. Precisamos de duas coisas.
Uma delas é entender que professor é solução, não é
problema. Em geral, o governante vê professor como
problema, não como solução. A segunda coisa é, de
fato, os sindicatos serem menos corporativos também,
porque há momentos em que os professores terminam
sendo levados à greve por influências às vezes até políticas.
Vamos reconhecer isso. Não podemos esconder
nada. São levados até por influência política, mais do
que por, de fato, interesse da categoria. A gente precisa
quebrar o corporativismo e mudar a mentalidade
dos governantes. Só assim a gente vai ter um país em
que professor não faça greve, não precise fazer greve,
e aí a criança vai poder ter aula o dia inteiro.
Um dia sem aula não é recuperado. A gente diz
que ele é reposto. Ele não é exatamente reposto. Você
repõe a sua ida lá, mas não é a mesma coisa. Não é a
mesma coisa essa tal de reposição. Na universidade
até que dá mais ou menos, mas na educação de base
a reposição é com uma perda muito grande. Temos
que descobrir uma maneira de o professor ter seus direitos
não apenas garantidos, como a UnB quer, mas
até melhorados sem que seja preciso fazer greve. E
aí eu concluo dizendo: menos corporativismo e politização
por parte dos sindicatos e mais compreensão
e sensibilidade por parte dos governantes. É isto que
eu desejo que a gente tenha no Brasil.
O SR. JOSÉ NERY (PSOL - PA) - Obrigado,
Senador Cristovam Buarque.
Espero que, no meu Estado do Pará, nós consigamos
fazer com que o Governo do Estado e o sindicato
que representa a educação pública estadual no
Pará consigam um acordo que evite a greve, porque,
na verdade, no dia de hoje ocorreu uma paralisação.
Fiz aqui menção às greves de 2008 e 2009, mas espero,
tal qual ocorreu no exemplo que V. Exª referiu, da
discussão em relação aos direitos dos trabalhadores,
sobretudo em relação à questão de garantia salarial dos
professores da UnB, que teve uma resposta imediata
do Ministro de Estado de Educação, Ministro Fernando
Haddad. Mas eu espero que a proposta que estou
aqui apresentando de público ao Governo do Estado
do Pará, para que, numa reunião de trabalho conjunta
com o sindicato, apresente a sua proposta ou tente,
numa reunião conjunta, construir de forma consensual
ou naquilo que for possível, uma proposta de plano de
carreira, cargos e salários a ser remetida à consideração
dos Deputados Estaduais, que serão os responsáveis
pela aprovação desse plano de carreira.
Portanto, o que V. Exª diz é muito relevante. O ideal
e o sonho é que não tenhamos greve de educadores,
greve de professores em nenhum dos entes da Federação:
nem no Município, nem nos Estados e também
na União, porque, para isso ocorrer, é preciso que cada
ente estatal, cada esfera de governo compreenda, de
uma vez por todas, que valorizar a educação, garantir
condições dignas de trabalho, garantir a construção de
um processo democrático de gestão educacional, com
a participação da comunidade escolar, dos estudantes,
dos pais e responsáveis, bem como do corpo técnico,
dos funcionários, da direção, da coordenação pedagógica
das escolas, é fundamental para avançarmos
nesse princípio de educação cidadã e inclusiva.
Portanto, eu espero que o processo de negociação
real, objetivo, direto entre o sindicato e o Governo
do Estado, para apresentar um plano de carreira,
cargos e remuneração o mais consensual possível, eu
diria que é uma medida fundamental que pode evitar
uma nova greve em 2010. Por isso, a categoria insiste
em alguns pontos fundamentais para garantir essa
valorização da carreira. Eles dizem que consideram
fundamentais, por exemplo, a garantia de um piso salarial
adequado; jornada de trabalho com garantia da
hora/atividade para planejamento escolar; progressão
vertical automática da carreira para o novo título; garantia
da progressão horizontal por tempo de serviço;
gratificação do aprimoramento profissional; especia
lização, mestrado e doutorado; dentre outros pontos,
além de garantir a inclusão dos funcionários da educação,
entre outros.
Para que essas propostas sejam viabilizadas
no processo de negociação com o Governo e com os
Deputados Estaduais, que têm a tarefa de aprovar o
PCCR, o Sintep tem cumprido um calendário de lutas
que teve início no dia 16 de março de 2010, quando
foi realizado um debate sobre políticas educacionais,
prosseguindo com a realização de assembléias gerais
de trabalhadores nos Municípios e, hoje, com a paralisação
estadual, momento decisivo na luta dos trabalhadores
e das trabalhadoras em educação no Pará
para a garantia e a efetivação do Plano de Carreira,
Cargos e Remuneração.
O sindicato está atento e trabalha inclusive com
a possibilidade de uma greve estadual no início do
ano letivo, caso o PCCR não atenda aos interesses
da categoria.
E é na condição de professor da rede estadual,
de Parlamentar que representa o povo do Estado do
Pará que me coloco, com toda certeza, Sr. Presidente,
ao lado da luta dos trabalhadores e trabalhadoras
em educação, na defesa do seu Plano de Carreira,
do salário digno, da valorização profissional e,
consequentemente, da valorização da educação pública
gratuita e de qualidade.
Portanto, espero uma resposta adequada aos
pleitos da categoria, uma negociação firme, madura
e conseqüente, que resulte em um acordo entre as
partes, para que o plano a ser apresentado à Assembleia
Legislativa do Pará seja resultado de um amplo
diálogo e do entendimento entre as partes.
Mas, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero,
na parte final do meu pronunciamento, abordar uma
questão que considero digna de nota e de registro no
plenário do Senado Federal. Trata-se de uma sentença
judicial histórica, que honra a Justiça do Trabalho
no Pará, porque faz justiça a numerosos trabalhadores
de prestadoras de serviços à Companhia Vale do
Rio Doce, na mina de ferro de Carajás, e requalifica
as suas relações de trabalho.
Reporto-me à memorável decisão do Juiz da Vara
do Trabalho de Parauapebas, no sudeste do Pará, Dr.
Jônatas Andrade, proferida em 10 de março passado,
que condena a Companhia Vale do Rio Doce e aquelas
empresas que lhe prestam serviço a incluírem as horas
itinerantes nas jornadas de trabalho dos funcionários
terceirizados - as horas gastas com longos e penosos
deslocamentos da ida e retorno de seus locais de
trabalho - e a indenizá-los com valores que somam
R$300 milhões pelos anos de omissão e descumprimento
dessa obrigação. São R$200 milhões a serem
revertidos ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT)
e R$100 milhões por danos morais coletivos.
O Juiz Jônatas Andrade acatou a ação do Procurador
Dr. José Adilson Pereira da Costa, do Ministério
Público do Trabalho, contra a empresa, por considerar
que a poderosa companhia de mineração estava
lucrando indevidamente com o artifício de ignorar as
horas itinerantes. Mas, até porque instado a responder
a numerosos recursos impetrados pelas empresas, com
o mal disfarçado interesse de procrastinar o julgamento
da ação, qualificou-a ainda mais, construindo uma
peça jurídica primorosa, que há de prevalecer sobre
quaisquer novos e velhos argumentos que a Vale e
contratadas possam levar às instâncias superiores da
Justiça do Trabalho, no intuito evidente de inviabilizar
a sentença proferida e prolatada pelo eminente Juiz
Jônatas Andrade.
Está perfeitamente demonstrado pelo juiz que
os funcionários terceirizados da Vale do Rio Doce
são lesados com a subtração de sua jornada de trabalho
e, por conseguinte, de seus salários, de muitas
horas consumidas com o percurso entre o centro da
cidade de Parauapebas e as minas de ferro da Serra
de Carajás.
O aspecto central da referida sentença diz respeito
à consideração do tempo de deslocamento até
a chegada às minas no cômputo da jornada de trabalho.
A Consolidação das Leis do Trabalho dispõe que
o tempo gasto pelo empregado até o local de trabalho
e para seu retorno, independentemente do meio de
transporte usado, não será computado na jornada de
trabalho, salvo quando por tratar-se de local de difícil
acesso ou não servido por transporte público, o empregador
fornece a condução. A Vale optou pela conveniência
de ignorar a real dificuldade de acesso às
suas minas de ferro e simular a existência de transporte
público regular até as mesmas, para desobrigar-se
de respeitar e garantir o cumprimento desse direito de
seus funcionários terceirizados, como forma adicional
de obtenção de lucro da exploração do trabalho.
O Juiz do Trabalho, Dr. Jônatas Andrade, faz
história ao condenar a Vale pela prática de redução
artificial, inescrupulosa e ilegal de custos com seus
funcionários terceirizados, para pagar as horas que
gastavam com deslocamentos aos seus locais de trabalho,
a uma distância de 50 km entre o centro da cidade
de Parauapebas e a área de exploração mineral
de Carajás, e assim conseguir vantagens competitivas
adicionais àquelas que o Estado já lhe concede. Está
de parabéns pela coragem e brilhantismo com que defendeu
seus argumentos e proferiu sua sentença.
Portanto, Sr. Presidente, ainda para tratar de
questões ligadas à Companhia Vale do Rio Doce, na
próxima semana, aqui apresentarei considerações
sobre a realização do primeiro encontro mundial de
trabalhadores atingidos pela Vale do Rio Doce. São
trabalhadores que perderam o emprego, que foram
dispensados mesmo em tratamento de saúde. Também
apresentarei, de forma mais direta e mais concreta, a
nossa solidariedade aos trabalhadores da Vale Inco, no
Canadá, que estão em greve há oito meses, exigindo
respeito a direitos trabalhistas
Concedo um breve aparte ao Senador Cristovam
Buarque, com a condescendência, evidentemente, do
nosso Presidente Mão Santa.
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Não é
nem mesmo um aparte. É uma informação, pegando
carona, porque não é diretamente relativa ao assunto
da justiça do trabalho, mas tem tudo a ver com algo
com que o senhor se preocupa muito, relacionado à
Justiça. É para comunicar que, aqui no Distrito Federal,
o PDT decidiu que vai aplicar a ficha limpa antes
de ela virar lei. Está todo mundo falando que é preciso
uma lei. Qualquer partido que quiser pode dizer: “Neste
Partido só vai ser candidato quem tiver ficha limpa”.
Não precisava nem de lei. Então, aqui a Executiva do
PDT decidiu, por unanimidade, que vai praticar a ficha
limpa, antes de que a ideia da ficha limpa vire lei. Esta
seria uma ideia que a gente deveria espalhar por todo
o Brasil: “Não vote em partido que não exija ficha limpa
para seus candidatos.”
O SR. JOSÉ NERY (PSOL - PA) - Senador
Cristovam Buarque, V. Exª sempre traz boas notícias,
quando fala da tribuna deste Senado, quando fala com
os estudantes da universidade ou quando fala com o
povo nas ruas de Brasília ou em qualquer lugar deste
País. Sem dúvida, é uma notícia alvissareira e concreta
essa com que V. Exª brinda o Senado e o Brasil, na
noite de hoje, quase no final desta sessão ordinária do
Senado Federal, ao comunicar a decisão do Partido
Democrático Trabalhista em Brasília de adotar critérios
e procedimentos próprios para escolha de seus candidatos
às eleições para o Legislativo e para o Executivo
em 2010. O Partido decidiu adotar o que o Movimento
pela Ética na Política vem orientando desde 2008,
quando das eleições municipais, publicando, inclusive,
nos sites de várias organizações pertencentes a esse
movimento pela ética e contra a corrupção eleitoral a
relação dos candidatos e os processos judiciais que
eles estão respondendo na Justiça - sobretudo processos
criminais e de improbidade administrativa.
Quero saudar, com entusiasmo, Sr. Presidente, a
decisão do PDT do Distrito Federal e torcer para que
todos os partidos... Inclusive, participarei brevemente
de uma reunião do diretório nacional do PSOL e pretendo,
com o estímulo dessa sua notícia, solicitar ao
meu Partido que oriente uma providência dessa natureza
a todos os diretórios estaduais do PSOL, retirando
o direito à candidatura daqueles que, eventualmente
- creio que já há uma certa preocupação prática com
esses procedimentos na nossa curta história do PSOL,
que é um Partido com apenas seis anos de existência;
há uma preocupação muito grande com que pessoas
que respondem por crimes, seja na área penal seja
por improbidade administrativa, não venham a ser
candidatos. Portanto, saliento aqui a relevância dessa
decisão, esperando que haja adesão voluntária. Creio
que é uma campanha que precisamos fazer a partir do
Parlamento, a partir do Congresso Nacional: convocar
todos os Partidos, para que tomem essa decisão
independentemente de exigência legal.
Quero agradecer ao Sr. Presidente a paciência e
a condescendência em relação ao tempo que utilizei
e desejar a todos os brasileiros e brasileiras uma feliz
Páscoa e renovação, já que estamos encerrando os
nossos trabalhos, para viver os dias da Semana Santa,
e que cada um possa aproveitar esse tempo, para
refletir, renovar-se e ajudar a construir um Brasil que
nós sonhamos.
Muito obrigado.