Discurso durante a 50ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do Dia de Tiradentes e o Aniversário de 50 anos de Brasília.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF). EDUCAÇÃO.:
  • Comemoração do Dia de Tiradentes e o Aniversário de 50 anos de Brasília.
Publicação
Publicação no DSF de 14/04/2010 - Página 13795
Assunto
Outros > HOMENAGEM. GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF). EDUCAÇÃO.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, VULTO HISTORICO, LIDER, LUTA, INDEPENDENCIA, POLITICA, BRASIL, POSSIBILIDADE, ESCOLHA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REGISTRO, FRUSTRAÇÃO, TENTATIVA, PARTICIPAÇÃO, POPULAÇÃO, EXTINÇÃO, COLONIALISMO.
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), CONSOLIDAÇÃO, HISTORIA, PROPOSTA, EXPLORAÇÃO, POVOAMENTO, INTERIOR, BRASIL, REGISTRO, ESFORÇO, JUSCELINO KUBITSCHEK, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, TRANSFORMAÇÃO, PROCESSO, CRESCIMENTO DEMOGRAFICO, DESCENTRALIZAÇÃO, POPULAÇÃO, ECONOMIA, INCORPORAÇÃO, DIVERSIDADE, REGIÃO, SISTEMA NACIONAL, PRODUÇÃO, CONTRIBUIÇÃO, AMPLIAÇÃO, SISTEMA, RODOVIA, PROGRESSO, AGRICULTURA, COMENTARIO, CARACTERISTICA, PATRIMONIO HISTORICO, CIDADE, EXPECTATIVA, ORADOR, AUMENTO, ETICA, POLITICA, GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF), CRIAÇÃO, MODELO, POLITICA SOCIAL, EXTENSÃO, TOTAL, ESPECIFICAÇÃO, UTILIZAÇÃO, FAIXA, PEDESTRE, IMPLEMENTAÇÃO, PROGRAMA, RENDA MINIMA, AUXILIO, ESTUDANTE, ASSISTENCIA MEDICA.
  • DEFESA, NECESSIDADE, EXTINÇÃO, ANALFABETISMO, DIFERENÇA, ESCOLA PUBLICA, ESCOLA PARTICULAR, AMPLIAÇÃO, ACESSO, CRIANÇA, SISTEMA DE ENSINO, EXPECTATIVA, ORADOR, CRESCIMENTO, PRODUÇÃO, CIENCIA E TECNOLOGIA, ECONOMIA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Mão Santa; Srs. Senadores, Srªs Senadoras; demais autoridades presentes, que aqui se encontram para lembrarmos essas duas datas que coincidem em uma só, tão importantes para o Brasil. Importantes, porque um país se faz, como dizia Monteiro Lobato, de livros e homens, incluindo-se as mulheres, obviamente; mas um país só se faz pela memória constante da sua história.

            E a história de um povo, a história de um país é a história de seus heróis e das epopeias que eles levaram o povo a realizar. E hoje nós comemoramos, no mesmo dia, o grande herói brasileiro, Tiradentes, e comemoramos hoje a grande, a maior de todas as epopeias do Brasil, que é a mudança da capital e, ao mesmo tempo, a cidade de Brasília.

            O herói Tiradentes é uma figura e uma estrela que fulgura no céu da história brasileira de maneira quase solitária pela sua grandeza. Não quer dizer que tenhamos tido um único herói. Tivemos outros. Mas nenhum, pela maneira como deu a vida, pela razão pela qual lutou, tem a grandeza do grande Tiradentes, o Joaquim José da Silva Xavier, que nasceu em 1746 e que dedicou a sua vida, além de procurar conhecer o Brasil com diversas profissões e viagens, à luta que todos consideravam impossível, de fazer do Brasil um país independente da metrópole portuguesa.

            É interessante como as coisas, ao se realizarem, parecem simples, quase que automáticas, inevitáveis que tenham acontecido. Mas pensar, no século XVIII, que seria possível o Brasil ser um país independente, e uma independência a partir da luta do próprio povo, pensar isso era um gesto de loucura positiva, que a gente vê de vez em quando nos grandes heróis.

            Vejam que mesmo quando, anos depois, décadas depois, a gente consegue a independência, não foi a independência pela qual Tiradentes desejava lutar. A independência de Tiradentes era a independência conquistada pelo povo, era a independência da escolha de um dirigente pelo povo, de um presidente da República. Nós levamos décadas e no fim tivemos de ter uma independência pura e simplesmente concedida pela metrópole, que chegou ao ponto de, ao invés de nos permitir eleger o nosso presidente, colocar como monarca o filho do monarca da metrópole. Em uma relação tão estreita entre metrópole e ex-colônia foi que o nosso primeiro Imperador terminou virando também rei de Portugal.

            Não era essa a luta que Tiradentes imaginava. A luta que ele imaginava tinha a loucura do tempo em que isso parecia impossível e tinha o sonho daquilo que nós levamos muito tempo para realizar, quando quase cem anos depois nós proclamamos a República.

            Por isso hoje, 21 de abril - quando estivermos no 21 de abril, hoje nós comemoramos essa data - é para lembrar o grande, o maior de todos os heróis brasileiros. Mas não só pelo sonho, não só pelo vislumbre de utopia e de independência, mas também pela maneira como dedicou sua vida e foi capaz de enfrentar a morte com toda a grandeza de um herói. E nisso, tirando alguns raros que nós temos na história do País, Tiradentes fica quase que isolado. Nós não temos muitos outros que tenham enfrentado uma luta correta e que tenham dado a vida por ela.

            Tiradentes por isso é tão importante para esses jovens que eu vejo aqui nos assistindo, porque ele simboliza a luta correta de um país independente por um homem capaz de dar a sua vida por essa luta.

            Mas um país não se faz apenas de heróis, se esses heróis não ajudam a construirmos a história com epopeias, com a grandeza dos gestos nacionais. Não apenas o gesto de um indivíduo como Tiradentes, mas o gesto de uma nação inteira. E é aqui que entra a epopeia de Brasília, que nós comemoramos no mesmo dia, que nós comemoramos no dia em que Tiradentes foi enforcado, completando o seu heroísmo.

            Certamente, não é por acaso que 21 de abril é a data da inauguração de Brasília. Certamente, Juscelino Kubitscheck, ao escolher essa data, quis prestar uma homenagem ao próprio Tiradentes, para que nós nos lembrássemos do heroísmo de um homem e da epopeia de uma nação.

            É preciso lembrar, entretanto, que nas bandeiras de luta do Tiradentes e do movimento da Inconfidência Mineira já estava ali a ideia de transferir-se a capital para o Planalto Central. Já se falavam nos documentos de Tiradentes e dos outros que era preciso interiorizar o Brasil, mudando a capital; que era preciso não apenas independência, mas segurança, que naquele tempo significava estar livre do bloqueio dos portos pelos barcos estrangeiros.

            Portanto, a ideia de trazer a capital para cá tem a idade dos sonhos de independência do Brasil.

            Em 1821, um ano antes da independência, José Bonifácio já insistia na necessidade de transferir a capital, e não para longe daqui de onde estamos.

            Em 1822, chegou-se a afirmar com clareza a ideia da transferência e a dar até um nome para a nova capital, que seria Pedrália, em homenagem a D. Pedro I.

            Em 1955, entretanto, muitos anos depois, foi possível, em Jataí, o Juscelino, por uma provocação que o Dr. Valter deve se lembrar muito bem - nem sei se ele estava presente - uma provocação do Toniquinho, que está vivo até hoje, que está presente até hoje e que, muito jovem, teve a ousadia de levantar o dedo durante uma reunião com Juscelino e perguntar “Se o senhor defende tanto a Constituição, vai transferir a capital para o Planalto Central?”. Ousadia de um jovem. E Juscelino teve a ousadia de responder dizendo que sim, sem ter pensado antes nisso, sem ter feito as considerações necessárias, mas com um sentimento de estadista de que em alguns momentos as decisões têm que ser tomadas sem que se analisem demasiado as consequências.

            Foi a partir dali, e tudo coincide no mês de abril, naquele 4 de abril de 1955, no diálogo de Toniquinho e Juscelino em Jataí. Em abril do ano seguinte, ele já Presidente da República, assina a mensagem que foi enviada ao Congresso propondo a construção e a transferência da capital, em Anápolis, perto daqui.

            Depois de setembro, a proposta foi aprovada. Foi aprovada pelo Congresso, apesar das resistências de muitos grupos, mas foi aprovada a ideia de que a capital da República deveria ser transferida para cá.

            No final de 1956 já chegam as primeiras máquinas que começam o trabalho e, num período de pouco mais de quatro anos, o Brasil realiza o que parecia absolutamente impossível: ter nova capital no planalto central, distante de tudo, longe de tudo, mas dentro do coração do Brasil.

            Esse gesto de construir em quatro anos uma capital em si foi uma epopeia. Mas não é aí que está toda a epopeia do Brasil. A epopeia está no fato de que nos anos seguintes aos quatro iniciais de construção, nos anos posteriores a 1960, nós conseguimos não apenas ter aquele sonho transformado em uma metrópole como somos hoje, com 2,5 milhões de habitantes, mas muito mais do que isso, termos praticamente completado aquilo que estava por trás da ideia de transferir a capital, que era muito mais do que mudar o lugar onde funciona o poder. O que estava por trás era a ideia de mudar a distribuição da demografia brasileira. O que estava por trás era mudar o local onde o Brasil produzia suas riquezas.

            E neste ano, Senador Mão Santa, que completamos 50 anos, a gente pode dizer que Brasília é o símbolo da epopeia da Nação brasileira de transferir a população concentrada no litoral para uma população distribuída pelo território; transferir a produção concentrada basicamente em São Paulo para uma produção que hoje ocupa toda essa região, vai até o noroeste, e incorporou todas as terras brasileiras no sistema nacional de produção, sobretudo agrícola.

            Essa é uma epopeia, uma epopeia que ninguém acreditava que se realizaria na plenitude em que foi conseguida; que foi conseguida pela pergunta do Toniquinho; que foi conseguida pela decisão imediata de Juscelino; que foi conseguida pela persistência dele, mas que foi conseguida também, quase que sobretudo, pelo trabalho de milhares de anônimos, chamados os nossos verdadeiros construtores: os pioneiros que deixaram as suas famílias, as suas terras, os seus confortos e vieram para cá fazer uma cidade nova, em um deserto onde nada havia. Esse é um gesto de heroísmo do tamanho daquele de Tiradentes. Esse é um gesto de heroísmo de pessoas anônimas e um gesto de heroísmo de uma Nação inteira, que decidiu concentrar recursos, concentrar esforços para realizar um sonho comum, o sonho de ter a capital neste local e ter a descentralização nacional da sua população, da sua economia.

            As pessoas perguntam se valeu a pena, e a melhor maneira de responder é perguntar ou imaginar como seria o Brasil se não tivesse havido a transferência da Capital. O que seria do Brasil se a população que hoje vive em toda região central, saindo do Rio Grande do Sul, Senador Simon, para o Norte, parando os que vinham do Nordeste aqui, se essa população tivesse ido para o Rio de Janeiro e para São Paulo? O que seria hoje do Rio de Janeiro se sua população fosse de 30, 35 milhões de habitantes? A tragédia que nós vimos há pouco seria nada diante do que aconteceria se a população do Rio de Janeiro fosse do tamanho da população de um Brasil onde não tivesse havido a transferência da Capital.

            Como seria hoje São Paulo, Recife, Salvador se não tivesse havido essa mudança de população para uma região aonde as pessoas não iam e não teriam ido se não fosse o surgimento de uma capital nova no Planalto Central?

            Por isso, quando perguntam se valia a pena, basta dizer: imaginem se não tivesse sido feito.

            E não se precisa de muita imaginação para perceber a tragédia que seria o Brasil se a Capital tivesse continuado na cidade maravilhosa do Rio de Janeiro, onde todos nós sonhamos morar. Imagine se juntassem a este sonho da beleza do Rio o fato de que ali estava toda a riqueza, de que ali estavam todos os serviços públicos, de que para ali confluíam todas as estradas do Brasil, em vez de tais estradas terem vindo para cá.

            Alguns dizem que a agricultura viria para cá em busca da terra. A agricultura não se faz só com terra, a agricultura não se faz só com terra e gente. A agricultura se faz com terra, gente e estradas. E as estradas vieram, graças à Capital. Não foi o contrário. Foi a ideia da Capital, foi o gesto inicial de transferir a cidade que fez surgirem as estradas. Foram as estradas que fizeram surgir os centros dinâmicos da nossa produção agrícola, e foram as estradas que fizeram surgir a nossa população vivendo no Centro-Oeste, vivendo no Noroeste, vivendo fora do tradicional litoral, vivendo onde o Brasil precisava que vivessem.

            Por isso, nós temos uma epopeia na transferência da Capital. Alguns podem se perguntar: “Mas não precisava ser dessa forma a cidade”. De fato, poderíamos ter tido diversas outras formas urbanísticas e arquitetônicas, mas há uma outra epopeia que poucos percebem, a epopeia da monumentalidade como Brasília foi desenhada e construída. Fosse Brasília uma cidade tradicional, uma cidade comum, uma cidade pequena, nós até teríamos conseguido os impactos na economia e na demografia, mas não seriamos um patrimônio histórico da humanidade. Não teríamos a monumentalidade que vem junto com esse sentimento de termos feito uma epopeia, a epopeia que o herói imaginou; a epopeia que foi uma das razões da luta do nosso herói; a epopeia que casa com o heroísmo de Tiradentes.

            Vale a pena lembrar também o que seria o Brasil sem essa epopeia. Nós, por algumas circunstancias históricas, temos tido poucos heróis e raras epopeias.

            Nós não temos a epopeia de uma nação como os Estados Unidos, da mesma idade nossa, que nesse período de tempo se transformou em um império tão forte ou mais do que Roma no seu tempo; que foi capaz de fazer com que o avanço científico e técnico, uma forma de epopeia, desse o salto que foi dado graças aos Estados Unidos.

            Nós não tivemos a epopeia de ocupar o cosmo. Nós não tivemos a epopeia de uma China, com uma população imensa em um território pequeno e que foi capaz de sobreviver, de se alimentar e de ocupá-lo por meio de revoluções que, sim, foram epopeias.

            Nós não tivemos as epopeias de outros países latino-americanos, cujas independências foram conquistadas na luta dos soldados, dos povos nas ruas, nas serras, contra a metrópole. A nossa independência nada teve de epopéia; foi quase que um acontecimento que, como disse D. João VI antes de sair daqui: “Assuma isso antes que um aventureiro assuma”. A própria Abolição da Escravatura, que nos Estados Unidos foi uma epopeia de luta civil, com a morte de centenas de milhares de norte-americanos, aqui não houve. Pode-se até perguntar se aqui houve abolição ou se a escravidão se extinguiu automaticamente, apenas apressada em alguns anos pela luta de Joaquim Nabuco e pelo bom senso da Princesa Isabel. Aqui não houve abolição. Aqui houve extinção da escravidão.

            Nós não temos na nossa História grandes gestos de epopeia. Claro que temos a industrialização em pouco tempo, também graças a Juscelino Kubitschek. Claro que temos a luta de um Getúlio Vargas, que foi capaz de construir a Petrobras, que foi capaz de, em 30, iniciar o desenvolvimento industrial e que foi capaz - uma das características do herói - de dar sua vida pelos seus sonhos, ao suicidar-se.

            São algumas epopeias apenas, Senadora Marisa. O que realmente significam, a meu ver, as duas grandes epopeias, os dois grandes heroísmos - casados e, por coincidência, comemorados no mesmo dia 21 de abril - são a vida e a morte de Tiradentes e a transferência e a construção de uma nova Capital.

            Por isso é que temos de comemorar! Por isso é que a gente tem de fazer, sim, a festa, que pode não ser a festa no sentido lúdico, mas a festa no sentido cívico de dizermos: “Nós estamos aqui”. Alguns que vieram desde o primeiro momento e que ainda assistem, hoje, à cidade ficando cinquentenária; alguns que vieram pouco depois e viram a cidade crescer; e alguns que acabam de chegar e fazem parte desses dois milhões e meio, dos quais a metade - e um pouco mais dela - já nasceu nesta cidade. E já faz parte hoje, mais da metade, de algo que é mais do que a Capital, mas uma cidade de indústria, de comércio, de agricultura, de cultura.

            Nós temos muito o que comemorar, porque aqui estamos. Mas, mais ainda do que nós - ou talvez tanto como nós, melhor - têm, sim, que comemorar Brasília todos os outros brasileiros, porque esta não é uma cidade dos brasilienses; esta é uma cidade dos brasileiros. Nós somos a Capital de todos os brasileiros e nós somos a capital construída por todos os brasileiros.

            Nós somos a epopeia do Brasil e não só a epopeia de Brasília. Nós somos a epopeia de uma nação que está em marcha para se construir ainda, com tanto que falta e tantas epopeias que ainda são necessárias, algumas tão simples e que a gente se nega a fazer, como a epopeia de abolir o analfabetismo; como a epopeia de garantir que toda a criança terminará o segundo grau; como a epopeia de dizer que não haverá nenhuma diferença de qualidade entre a escola para os filhos dos ricos e escola para os filhos dos pobres; como a epopeia de nos tornarmos, graças a isso, uma nação com alta produção de ciência e tecnologia e dinâmica na economia do consumo. Há muitas epopeias para fazer ainda daqui para frente, mas há duas que se casam para comemorarmos hoje juntas: a epopeia chamada Tiradentes e a epopeia chamada Brasília; o heroísmo chamado Tiradentes e o heroísmo chamado Brasília.

            Eu sou orgulhoso de a minha história pessoal ter me trazido para esta cidade 31 anos atrás e ter me permitido assistir a parte de sua construção, de ser parte integrante de sua luta por autonomia e de ter a responsabilidade de hoje comemorar os últimos cinqüenta anos, lembrando os próximos vinte, os próximos trinta, os próximos cinquenta.

            E aí eu concluo, Senador Mão Santa, dizendo que, diante de nós, está mais do que a comemoração do passado: está o sonho do futuro. Que Brasília, que já se completou como cidade do ponto de vista urbano, do ponto de vista econômico, do ponto de vista arquitetônico e, eu diria, até cultural, comporte-se e complete-se do ponto de vista ético, comporte-se do ponto de vista político e, sobretudo, comporte-se e complete-se dando em troca ao resto do Brasil aquilo que dele recebemos.

            Que Brasília, daqui para a frente, transforme-se num exemplo para o Brasil inteiro, num exemplo de que é possível haver ética no comportamento dos dirigentes e na escolha das prioridades para as políticas. Que Brasília seja capaz de mostrar ao Brasil que podemos aqui inventar uma forma nova de governar e de inventar também formas novas de políticas sociais capazes de unir a população, como fizemos com a faixa de pedestres, que é um exemplo para o Brasil; como fizemos com o Bolsa-Escola, que foi um exemplo para o Brasil; como fizemos com o programa de assistência à saúde, que foi um exemplo para o Brasil; como fizemos com tantos outros pequenos projetos, alguns nem conhecidos lá fora, mas que nos permitem dizer que nós já inauguramos a Brasília capital, que nós já conseguimos, inclusive, fazer a Brasília econômica maior do que a capital, que nós já fizemos a Brasília demograficamente maior do que previam os sonhos daqueles que nos desenharam e nos construíram, mas nós precisamos fazer agora a Brasília que seja exemplo de como se deve fazer para construir não mais uma cidade, mas construir um país inteiro.

            Os brasileiros inauguraram Brasília; nós, brasilienses, temos a responsabilidade de trabalhar para inaugurar um Brasil novo, temos a responsabilidade de ir além dos sonhos de Tiradentes e fazer com que o Brasil não seja apenas independente, mas completo, completo nas relações entre as pessoas e as classes; completo na sintonia com os novos tempos do mundo inteiro, que exigem conhecimento como a base de qualquer processo produtivo e como meio para alcançar a justiça social.

            Vamos comemorar os cinquenta anos da nossa inauguração, vamos comemorar a epopeia e o heroísmo do passado olhando a responsabilidade que temos para o futuro. Vamos comemorar agradecendo aos brasileiros que nos fizeram e nos comprometendo com eles a apresentar soluções que servirão ao Brasil inteiro. Vamos comemorar a inauguração de Brasília imaginando um dia inaugurar um outro Brasil, um Brasil diferente, um Brasil que não nos assuste pelas notícias do dia a dia, um Brasil que não nos deixe ter medo de andar nas ruas, um Brasil que não nos dê vergonha da desigualdade, um Brasil que nos orgulhe não apenas pela capital que tem, que é hoje um patrimônio da humanidade, mas que nos orgulhe por aquilo que nós somos.

            Viva Brasília e viva o Brasil! (Palmas)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/04/2010 - Página 13795