Discurso durante a 50ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do Dia de Tiradentes e o Aniversário de 50 anos de Brasília.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF).:
  • Comemoração do Dia de Tiradentes e o Aniversário de 50 anos de Brasília.
Publicação
Publicação no DSF de 14/04/2010 - Página 13802
Assunto
Outros > HOMENAGEM. GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF).
Indexação
  • HOMENAGEM, CINQUENTENARIO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), REGISTRO, HISTORIA, CIDADE, ESPECIFICAÇÃO, CONSTRUÇÃO, NOVA CAPITAL, PERIODO, DITADURA, REDEMOCRATIZAÇÃO, ATUALIDADE, CRISE, NATUREZA POLITICA, GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF), PAGAMENTO, MESADA, DEPUTADO DISTRITAL, EXPECTATIVA, ORADOR, RECUPERAÇÃO, REPUTAÇÃO.
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, VULTO HISTORICO, LIDER, LUTA, EXTINÇÃO, SITUAÇÃO, COLONIALISMO, BRASIL, DEFESA, INDEPENDENCIA, NATUREZA POLITICA.
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, TANCREDO NEVES, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELOGIO, VIDA PUBLICA, ATUAÇÃO, PROCESSO, REDEMOCRATIZAÇÃO, BRASIL.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Mão Santa, Srªs e Srs. Parlamentares, meus irmãos, esta sessão solene antecipa as homenagens desta Casa a três fatos importantes: o cinquentenário de Brasília, as homenagens a Tiradentes e as homenagens a Tancredo Neves.

            Tiradentes e Tancredo Neves morreram no mesmo dia, 21 de abril. Nasceram na mesma cidade, em Minas Gerais.

            Morreram numa grande causa. Tiradentes, esquartejado seu corpo e os seus pedaços espalhados pelas ruas; Tancredo, em sete cirurgias, esquartejado por dentro e seu corpo levado à tumba.

            Brasília completa meio século. Brasília foi a realização de uma grande esperança neste País. É interessante salientar que Brasília nasceu em tempos plenos de otimismo, de confiança, de fé no presente, cinquenta anos atrás, de um país que sempre, na expressão do grande escritor austríaco Stefan Zweig, mostrava-se à época ao mundo como “o país do futuro”, e hoje começa a parecer com o país do presente.

            Brasília nasceu impregnada por esses tempos de otimismo. O Presidente era seu melhor retrato: Juscelino Kubitscheck e seu sorriso iluminado justificavam todas as crenças e todas as esperanças.

            O Brasil exibia ao mundo a sua arte.

            Nos campos enlameados da distante Suécia, pelos pés, manhas e artimanhas de Pelé e Garrincha, conquistava sua primeira Copa do Mundo e a devoção dos torcedores de todas as bandeiras pela mágica de seu futebol encantado.

            Nas casas de show e nas boates enfumaçadas do Rio de Janeiro, pelo toque suave, pelo balanço de um novo tipo de música, a Bossa Nova traduzia, com precisão, aqueles tempos de novidade, de invenções, de ousadia.

            E nada era mais ousado, mais inventivo, mais novo do que a ideia de fazer uma nova capital no coração do Brasil, no interior ainda inóspito do Cerrado goiano.

            Só JK, só seu entusiasmo contagiante poderiam comandar, com as artimanhas de um craque da seleção, com a inventividade de um artista de música, o espetáculo da criação de uma cidade. Criar uma cidade a partir do nada, fincada no sonho, encravada na esperança.

            E assim se fez Brasília, pelo traço genial de Niemeyer, pelo cálculo preciso de Lúcio Costa, os dois solistas principais da orquestra de candangos, regida por JK.

            A tristeza.

            Envolvida pelo pó vermelho do Cerrado, banhada pela esperança de um País jovem emocionado com sua nova Capital, Brasília veio ao mundo em 21 de abril de 1960.

            Passados quatro anos, e a esperança tornou-se tristeza, a fé esvaiu-se pela descrença, a confiança converteu-se em incerteza, o belo ficou feio. No quarto abril após sua fundação, a Brasília da democracia afundou-se no lodo da ditadura.

            Com menos de quatro anos de vida, a Capital da esperança virou o centro de uma ditadura militar que contrariava o espírito daqueles tempos, os sonhos de nossa gente. As avenidas monumentais, as praças amplas, o horizonte largo, desenhados e sonhados para abrigar as multidões alegres da democracia, esvaziaram-se pelo frio do regime autoritário, pelo gelo da ordem militar, pelo controle de uma ordem que tudo controlava, que tudo ordenava.

            E assim, a Capital da esperança padeceu longos 21 anos da desesperança, da desconfiança na vontade popular.

            Foram 21 tristes anos, mas depois desse tempo, raiou, enfim, o sol da liberdade, em 1985, com o povo nas ruas, com os jovens pintados na testa com o verde e amarelo. Com o sol da liberdade, em 1985, e a vitória popular, com Tancredo Neves eleito Presidente pelo Colégio, Brasília reconquistava, pela força de seu povo e de seus jovens, a reanimada fé na esperança.

            A Brasília da ditadura cedia passo, agora, para a Brasília da Nova República e suas novas esperanças. Era o primeiro Governo civil após cinco sucessivos Governos militares, o primeiro Presidente civil depois de cinco generais nomeados Presidentes.

            Em 1989, 34 anos após o seu primeiro Presidente eleito pelo voto, JK, Brasília abrigava outra vez um Presidente escolhido livremente pelo povo, em eleição. Cinco Presidentes eleitos pelo povo se sucederam, resgatando o destino histórico de Brasília como Capital da cidadania, da democracia, da liberdade. Até que, meses atrás, sofremos novo e grave abalo: sua cúpula dirigente é flagrada num vídeo com fatos graves com relação à falta de ética, que levaram ao afastamento das suas principais autoridades, inclusive à prisão.

            Numa capital marcada por cicatrizes de violência, era mais um golpe na crença de uma cidade condenada ao otimismo, ao novo, ao moderno. Não havia nada mais antigo, mais desestimulante, mais desanimador do que a má política, que transcendeu de Brasília para o Brasil.

            Mas agora Brasília é forte, continua otimista e será, se Deus quiser, alegre outra vez. A crise política atual levou a capital ao fundo do poço. E essa pode ser uma boa notícia, pois não há como afundar-se mais, não se pode descer mais na falta de esperança. Daqui, Brasília subirá. Tenho a convicção de que vivemos a aurora de novos e magníficos dias para Brasília.

            Haverá de elevar-se, recuperar-se, como capital do otimismo. De todos os cantos os brasileiros que aqui se encontram e que aqui convivem desejam participar da grandeza e do sonho de Brasília. Não resta outro caminho a Brasília senão retomar seu caminho original, seu destino honroso, sua jornada de fé, como sonhavam JK e Niemeyer. Uma Brasília nova, renovada, aberta, ousada, criativa e representativa para o Brasil que queremos e com que sonhamos.

            Tiradentes. Tiradentes é o nosso herói. Um alferes, um homem simples, humilde, é o grande herói deste País, é o nosso próprio mártir. Um Brasil que foi descoberto por acaso, um Brasil cuja independência foi conquistada na base de o rei de Portugal colocando a coroa na cabeça de seu filho antes que um aventureiro o fizesse, um Brasil cuja República, a rigor, foi um golpe de estado. A beleza da nossa história traz a figura de Tiradentes, o homem que soube viver, soube lutar e soube morrer. Tiradentes representa o que é de mais puro e de mais digno.

            Lá nas Minas Gerais lançou-se o movimento. Participou. Na hora dramática e na hora difícil, quando muitos se assustaram, afastaram-se e silenciaram-se, ele esteve presente, até o fim, pagando com a sua vida o sonho da liberdade. E olha, não é a primeira vez que eu digo o que vou dizer, mas é muita coincidência que em São João del Rei nasceu Tiradentes e nasceu Tancredo Neves. Os dois lutaram, um pela independência do Brasil, o outro pela liberdade do nosso povo e da nossa gente.

            Tancredo é o grande mártir da nossa história. Em sua biografia, talvez seja difícil encontrar algo de paralelo. Jovem, 30 e poucos anos, Ministro da Justiça do Dr. Getúlio Vargas, na madrugada de 24 de agosto de 1954, quando os militares deram um golpe brutal, ali na hora uma reunião do Ministério, quando o traidor Ministro da Guerra diz que não havia licença para o Dr. Getúlio, mas só renúncia definitiva, Tancredo diz: “Dr. Getúlio, o senhor me nomeia Ministro da Guerra e eu lhe garanto que prendo esses traidores e restabeleço a ordem”.

            Dr. Getúlio, acabrunhado, a carta-testamento já escrita, a decisão do suicídio para evitar o conflito da guerra civil já tomada, deu a caneta para Tancredo e não aceitou.

            Mais adiante, em 1961, na hora em que Jânio Quadros renunciou, que não quiseram dar posse ao Presidente João Goulart, foi Tancredo. Em torno dele se encontrou o grande entendimento com a implantação do Parlamentarismo, e ele, Primeiro-Ministro, evitou o golpe e garantiu a democracia.

            Mais adiante, quando derrotada a Emenda das Diretas Já, de Dante de Oliveira, pelo Congresso Nacional, parecia que a oposição ficava sem esperança, que a ditadura militar se perpetuaria, Tancredo Neves consegue alinhavar os sonhos da sociedade brasileira e é eleito Presidente da República no Colégio Eleitoral; Colégio Eleitoral que era símbolo da ditadura e da imoralidade. E ele dizia ao povo: “Vou ao Colégio Eleitoral para desmanchar o Colégio, para derrotar o Colégio, para derrotar a ditadura dentro do Colégio.” E é o que ele fez. Ganhou no Colégio e foi instalada a democracia.

            No dia em que foi tomar posse, adoeceu.

            Se Tancredo tivesse seguido a orientação, a determinação dos seus médicos, teria feito a cirurgia um mês antes. Mas na angústia de assumir, na garantia da transição necessária, ele ficou até o fim. E a sua morte foi praticamente um suicídio feito a favor do Brasil.

            Vinte e um de abril! Que coincidência: cria-se Brasília, lembra-se o mártir Tiradentes e se presta homenagem ao mártir Tancredo Neves.

            É o que nós fazemos nesta sessão. Ela é singela, é simples, não tem a multidão que deveria ter, talvez não fosse a sessão solene com a Orquestra Sinfônica, com música e autoridades do Brasil inteiro. Somos poucos sob a sua Presidência, Senador Mão Santa. Mas ninguém tira a representatividade desta sessão; ninguém tira a sensibilidade desta sessão; ninguém tira a representatividade do Brasil na sua história, no seu presente e no seu futuro nesta sessão.

            Nós estamos aqui representando o povo brasileiro. Nós estamos aqui, independentemente de segmento social, de Estado, de partido, de ideia política, seja ela qual for, estamos aqui como brasileiros, nos reverenciando diante da nossa Pátria, diante do Pavilhão Nacional, prestando as nossas homenagens a ti, Brasília, que haverás de superar as questões, as questiúnculas e haverá de ocupar o teu papel de grande capital de ideias, de princípios, de doutrina, de dignidade e de liberdade neste País.

            Lembrando a ti, Tiradentes, humilde alferes que tem lugar no nosso País mais alto que os maiores marechais, porque tiveste o gesto mais espetacular e a morte mais patriótica. E a ti, Tancredo, que conviveste aqui nesta Casa. Lembro-me, ainda, naquela tribuna, do discurso de despedida de Senador para assumir a Presidência da República. A ti, Tancredo, nossa homenagem, de um Brasil que hoje começa a ser o Brasil do presente.

            Muito obrigado, Sr. Presidente. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/04/2010 - Página 13802