Discurso durante a 50ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do Dia de Tiradentes e o Aniversário de 50 anos de Brasília.

Autor
Heráclito Fortes (DEM - Democratas/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do Dia de Tiradentes e o Aniversário de 50 anos de Brasília.
Publicação
Publicação no DSF de 14/04/2010 - Página 13810
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CINQUENTENARIO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), COMENTARIO, MIGRAÇÃO, EFEITO, CONSTRUÇÃO, NOVA CAPITAL, ESPECIFICAÇÃO, POPULAÇÃO, ESTADO DO PIAUI (PI), REGISTRO, ANTERIORIDADE, CRITICA, OPOSIÇÃO, JUSCELINO KUBITSCHEK, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, PREVISÃO, TRANSFERENCIA, CAPITAL FEDERAL, DEFESA, ORADOR, CONTRIBUIÇÃO, POSSIBILIDADE, CENTRALIZAÇÃO, ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA, GARANTIA, DESENVOLVIMENTO, INTERIOR, PAIS, SUCESSÃO, GOVERNO, CONTINUAÇÃO, PROJETO, LEITURA, TRECHO, COMPOSIÇÃO, POETA, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), SAUDAÇÃO, CIDADE.
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, TANCREDO NEVES, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, REDEMOCRATIZAÇÃO, BRASIL.
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, VULTO HISTORICO, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), LIDER, LUTA, EMANCIPAÇÃO POLITICA, BRASIL.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, seria uma omissão inaceitável de minha parte, estando neste plenário, não participar deste momento, quando esta Casa presta homenagem aos 50 anos de Brasília.

            Eu sou da geração de Brasília, Senador Mão Santa, sou da geração que, nos primeiros passos de entendimento com a vida, via e se empolgava com a movimentação que se dava principalmente no meu Estado, particularmente na minha capital de Teresina, de pessoas que deixavam a rotina da cidade pequena para aventurar a vida no eldorado que se prenunciava de futuro para o Brasil.

            Perdi o convívio com inúmeros colegas de escola primária porque seus pais optaram pela grande aventura de ajudar Juscelino na saga da construção de Brasília; comerciantes, médicos, pessoas de várias atividades saíram do Estado do Piauí, especialmente de Teresina, para vir para a capital federal.

            A partir daí, como era natural, comecei a conviver com Brasília, com este futuro que alguns achavam não passar de uma quimera e de uma loucura de Juscelino.

            A insegurança que a oposição, ferrenha em sua atividade contra Juscelino, associava à realização desse sonho e desses planos nos deixava com dúvidas e incertezas quanto à possibilidade de, no ano de 1960, Brasília mudar definitivamente a história do País.

            A inauguração se deu conforme o previsto, e eu, aos dez anos de idade, tive a oportunidade de ver aquela festa memorável que trouxe a centralização tão necessária naquele momento para o Brasil. Não sei o que teria sido do nosso País se estivéssemos, ainda hoje, com a capital no Rio de Janeiro. Não porque o Rio não a merecesse, muito pelo contrário, mas é porque o Brasil vivia naquele momento a condição de um país exclusivamente litorâneo e corríamos o risco de colocar por terra todo o trabalho de desbravadores, como o grande conquistador do Norte do Brasil, incorporado pelo Barão do Rio Branco, e uma saga de nordestinos que foram desmembrar o Acre, a Amazônia e o Centro Oeste.

            Brasília era, por sua situação geográfica, a garantia de que o Brasil jamais viveria momentos de incerteza quanto à internalização de áreas como, por exemplo, a Amazônia.

            Sr. Presidente, participando hoje desta homenagem aos 50 anos de Brasília, eu quero dizer que vivi mais da metade da minha vida nesta querida capital. Em agosto, faço 60 anos e hoje tenho o coração dividido entre o meu querido Piauí, que me viu nascer, que me deu pernas para chegar a esta Casa do Congresso; Pernambuco, onde atuei como estudante, participei de militância e me casei; e Brasília, que me acolheu no início da década de 70. Aqui vivo com minha mulher desde o primeiro dia de casamento - e já se vão 30 anos! Minhas três filhas são brasilienses, e eu tenho por esta Capital, Senador Mão Santa, um apreço e um respeito muito grandes.

            Brasília, que hoje é caixa de ressonância do Brasil, teve dificuldades tremendas para dar os primeiros passos. Primeiro, houve a tentativa de que os órgãos vitais da administração permanecessem no Rio de Janeiro. A determinação de Juscelino, porém, fez com que o laço, o cordão umbilical do Brasil com a Cidade Maravilhosa, na condição de capital, fosse rompido, e que a estrutura administrativa se consolidasse nesta cidade, tendo, para isso - é bom que se diga -, a colaboração de todos os governos que o sucederam.

            Hoje Brasília é plena! Hoje Brasília é a capital da República de fato e de direito. Hoje, se Brasília assiste a escândalos, é porque é Brasil, os escândalos são oriundos, infelizmente, da nossa natureza. Mas Brasília, Senador José Sarney, resiste impassível, bonita, jovem, é uma cinquentona enxuta, é uma cinquentona admirável e tem feito com que o mundo inteiro lhe renda homenagens pelo arrojo de sua arquitetura e pelo arrojo de seu traçado.

            Homenagear Brasília é homenagear Juscelino, Senador Hélio Costa; homenagear Brasília é homenagear Niemeyer; é homenagear Lúcio Costa; é homenagear Burle Marx; é homenagear uma infinidade de brasileiros que podem ser esquecidos neste improviso, mas que têm consagrada na história a sua passagem na construção desta cidade.

            Para mim, Senador Hélio Costa, se o Brasil um dia fizer justiça aos grandes homens da nossa historia, não poderá faltar lugar de destaque a uma extraordinária figura mineira chamada Israel Pinheiro. Para mim, Senador Romeu Tuma, ele é, de todos os brasileiros, quem mais construiu; ele é, de todos os brasileiros, quem mais realizou; ele é, de todos os brasileiros, o que mais ousou. Primeiro, em Minas Gerais, na construção do Circuito das Águas, preparando o que talvez tenha sido o primeiro projeto turístico deste País - isso, na década de 30. Depois, na era Juscelino, eletrificando, fazendo estradas e participando daquele colosso que é a obra arquitetônica da Pampulha.

            Brasília, sem Israel Pinheiro, não seria a Brasília que é hoje. Havia uma empatia e uma afinidade enormes entre ele e Juscelino, dois mineiros que conviveram e que viveram durante toda uma geração. Portanto, Senador Hélio Costa, eu não poderia deixar de, neste momento, fazer uma homenagem a Israel Pinheiro, que considero um dos maiores homens públicos de que a minha geração teve notícia. Morreu pobre. Como poderia ter morrido em outras condições! Quanto passou pela sua mão de dinheiro e de poder! Mas, não, era um abnegado e um predestinado a participar, a ajudar a construir esta Brasília.

            Portanto, Sr. Presidente, não quero me alongar, mas eu não poderia, de maneira nenhuma, ser omisso nessa prestação de contas de mais da metade na minha vida, que é devida a esta capital.

            E Brasília tem na sua história - e vai carregar para sempre isto - que, exatamente no dia da sua fundação, perdemos dois grandes brasileiros. Um foi Tancredo Neves, que fez a caminhada mais difícil que um homem público podia realizar: o reencontro do Brasil com a democracia, o reencontro do Brasil com as suas liberdades. Hoje, quando se discutem livremente direitos humanos, quando se discute democracia, quando se discute liberdade, à nossa mente vem exatamente a figura extraordinária de Tancredo Neves. Perdemos também, no dia 21, outra figura que despontava para o futuro do Brasil com muita força, que era meu colega de Câmara dos Deputados, seu ex-Presidente, Luís Eduardo Magalhães. Portanto, Brasília tem, inclusive, escolhido os mortos para prantear no dia da sua fundação.

            Senador José Sarney, V. Exª, acadêmico e homem lido, deve se lembrar de um poeta pernambucano que morreu aos 27 anos de idade e que tinha um poema que exaltava Olinda, mas que se encaixa perfeitamente com Brasília. Carlos Pena Filho dizia:

Olinda é só para os olhos,

não se apalpa, é só desejos.

Ninguém diz: é lá que eu moro.

Diz somente: é lá que eu vejo.

            Essa é a Brasília que nós temos, que nós queremos e que nós amamos, com uma diferença: aos poucos, aos 50 anos, estamos conseguindo aqui morar. Acabou aquela sofreguidão das quintas-feiras, Senador Hélio Costa, Senador Mário Couto, em que todos corriam para o aeroporto para sair de Brasília, por falta de opção. Hoje, Brasília é uma cidade acolhedora, aconchegante e, acima de tudo, bonita, que encanta a todos, como eu, que estive mais da metade da minha vida sob o seu teto.

            Portanto, o desejo continua - é natural do homem -, mas há também uma dose muito grande de amor, principalmente daqueles que têm o privilégio, Senador Mão Santa, de morar nesta querida cidade.

            Parabéns, Brasília, pelos seus 50 anos.

            Muito obrigado. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/04/2010 - Página 13810