Discurso durante a 50ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do Dia de Tiradentes e o Aniversário de 50 anos de Brasília.

Autor
Flexa Ribeiro (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Fernando de Souza Flexa Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do Dia de Tiradentes e o Aniversário de 50 anos de Brasília.
Publicação
Publicação no DSF de 14/04/2010 - Página 13813
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, VULTO HISTORICO, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), LIDER, MANIFESTAÇÃO, EMANCIPAÇÃO POLITICA, BRASIL, COMENTARIO, HISTORIA, RESISTENCIA, POPULAÇÃO, IMPOSIÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, PORTUGAL, ESPECIFICAÇÃO, EXCESSO, TRIBUTOS, MINERAÇÃO.
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), COMENTARIO, HISTORIA, PROJETO, TRANSFERENCIA, CAPITAL FEDERAL, SAUDAÇÃO, JUSCELINO KUBITSCHEK, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, LUCIO COSTA, OSCAR NIEMEYER, ARQUITETO, POPULAÇÃO, MIGRANTE, ESFORÇO, EFETIVAÇÃO, CONSTRUÇÃO, NOVA CAPITAL, VIABILIDADE, AMPLIAÇÃO, DESENVOLVIMENTO, INTERIOR, PAIS.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. FLEXA RIBEIRO (PSDB - AL. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, é com grande satisfação que me associo a essa dupla homenagem que prestamos no Expediente desta sessão, comemorativa do cinquentenário de fundação da Capital da República e dos 218 anos do martírio de Tiradentes. É também com prazer que registro a feliz iniciativa do ilustre Colega Senador Cristovam Buarque, digno representante do Distrito Federal nesta Casa, sempre correto e atento, de celebrar os dois fatos históricos na mesma sessão legislativa.

            A verdade é que, se a data de inauguração de Brasília foi previamente escolhida - com muito acerto, aliás -, o mártir da Inconfidência Mineira e a Capital da República se ligam por algo além da data comemorativa, eis que Tiradentes, há mais de dois séculos, já sonhava com a mudança da Capital para o interior do País.

            Brasília, portanto, representa a concretização de uma aspiração coletiva que retrocede aos tempos da Inconfidência e tem raízes profundamente fincadas na nossa história. O Rio de Janeiro tornara-se capital da colônia em 1763, em substituição a Salvador, no reinado de José I, por decisão do primeiro-ministro, Marquês de Pombal. A mudança da capital para o interior, entretanto, seria reclamada por alguns setores da sociedade brasileira, a qual por circunstâncias históricas, floresce em Minas, onde o descontentamento com a Corte se exacerbava à medida que a mineração do ouro começava a declinar e a Fazenda portuguesa insistia em cobrar taxas e tributos absolutamente impraticáveis.

            Aqui, Sr. Presidente, é necessário fazer um reparo àqueles que minimizam a importância do alferes José Joaquim da Silva Xavier, o Tiradentes. Alegam alguns que a Inconfidência Mineira não teve uma participação popular efetiva e que o sentimento pátrio não existia na consciência da coletividade.

            Entretanto, até mesmo esses críticos reconhecem a legitimidade do movimento inconfidente diante da opressão exercida pela Corte portuguesa. A espoliação de que os brasileiros eram vítimas tornava-se patente quando se cotejava o volume de riquezas enviadas para Portugal e as condições de miséria em que vivia a maioria do povo.

            Surgia ali, portanto, o germe de um sentimento cívico que em breve se alastraria, uma incipiente brasilidade que encontraria na Inconfidência Mineira o marco inicial do processo de nossa emancipação política. Tiradentes, ao assumir toda a culpa pela conjuração, foi o único dos inconfidentes a ser condenado à morte. Enforcado no dia 21 de abril de 1792, teria o corpo esquartejado e exposto em praça pública - e se tornaria o personagem símbolo da resistência contra a opressão portuguesa.

            Os Autos da Devassa, Senhoras Senadoras e Senhores Senadores, revelam que os inconfidentes, além de se revoltarem contra a derrama, reivindicavam à Corte a fixação da Capital no interior do Brasil. Apontavam, como justificativas, a questão estratégica - a Capital ficaria menos exposta a eventuais ataques estrangeiros; e a demográfica, com vistas ao povoamento mais rápido das províncias centrais.

            Desde então, a mudança da Capital para o interior do País foi um sonho longamente acalentado, até que encontrasse em Juscelino Kubitschek de Oliveira o estadista com descortino e coragem suficientes para enfrentar - e vencer - o desafio.

            A família imperial, quando de sua vinda para o Brasil, em 1808, já tinha noção do quanto a Capital de então era vulnerável a ataques de tropas estrangeiras. Na mesma época, Hipólito José da Costa, exilado em Londres, onde fundou o jornal Correio Brasiliense, defendia igualmente a interiorização da Capital. O mesmo fizeram os pernambucanos na Revolução de 1817; o mesmo fez José Bonifácio, o Patriarca da Independência; o mesmo fizeram, ainda, em 1822, oito mil signatários do Manifesto do Povo, entregue a Dom Pedro I meses antes da Proclamação da Independência.

            A proposta de interiorização da Capital, ao longo da nossa história, esteve presente em quase todas as Constituições e outros documentos oficiais. Foi encampada por estadistas como José Bonifácio e historiadores como Francisco Varnhagen, por políticos, jornalistas e intelectuais de prestígio, como Olavo Bilac, Medeiros e Albuquerque e Euclides da Cunha.

            Não me alongarei, meus caros Colegas, sobre a demarcação do Distrito Federal e sua construção. Gostaria, no entanto, de enfatizar a determinação e o descortino do saudoso Juscelino Kubitschek. Para ele, o Brasil de então dava as costas para o seu imenso território, preocupando-se unicamente com o desenvolvimento da faixa litorânea.

            Ao construir Brasília, Juscelino atendia a um reclamo de ordem estratégica, de aproximar o poder das fronteiras com os países vizinhos; e a uma necessidade de expandir o desenvolvimento para o nosso hinterland. Nesse aspecto, a construção de Brasília dá continuidade à Cruzada Rumo ao Oeste, deflagrada por Getúlio Vargas.

            Embora não abordasse a localização da futura capital naquela ocasião, Vargas assinalava ser imperioso instalar no centro geográfico do País forças capazes de irradiar a expansão futura.

            Não poderia, meus caros colegas, encerrar este breve pronunciamento sem fazer uma sincera homenagem a todos aqueles que participaram dessa notável saga que foi a construção de Brasília. Por mais ousado e resoluto que fosse, Juscelino não conseguiria levar a termo empreendimento de tamanha magnitude se não contasse com a colaboração, a experiência e a qualificação de homens como o urbanista Lúcio Costa; o arquiteto Oscar Niemeyer e seu calculista Joaquim Cardozo; e a tríade da Novacap - Israel Pinheiro, seu primeiro presidente, Bernardo Sayão, diretor executivo, desbravador e exímio construtor de estradas, e Ernesto Silva, diretor administrativo, recentemente falecido. Não poderia, também, deixar de mencionar o trabalho anônimo e heróico de toda uma geração de brasilienses de primeira hora, os candangos, os quais, respondendo ao desafio de construir Brasília, vincularam seus nomes a uma das mais belas páginas da nossa história.

            Encerro, Sr. Presidente, Senhoras Senadoras e Senhores Senadores, lembrando que o sonho de Tiradentes, de ver um Brasil livre e soberano, é hoje uma realidade; e que Brasília é também a resposta a um anseio dos inconfidentes e de tanta gente que descortinava, na interiorização da Capital, uma oportunidade ímpar de equalizar as oportunidades de desenvolvimento e de integrar as diversas comunidades deste nosso país-continente.

            Muito obrigado!


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/04/2010 - Página 13813