Discurso durante a 50ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Contestação a artigo publicado no jornal O Popular, de Goiânia, no dia 7 de abril último, contendo ofensas contra o Estado do Amapá.

Autor
Papaléo Paes (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AP)
Nome completo: João Bosco Papaléo Paes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. IMPRENSA.:
  • Contestação a artigo publicado no jornal O Popular, de Goiânia, no dia 7 de abril último, contendo ofensas contra o Estado do Amapá.
Aparteantes
Augusto Botelho, Mozarildo Cavalcanti, Romeu Tuma.
Publicação
Publicação no DSF de 14/04/2010 - Página 13915
Assunto
Outros > SENADO. IMPRENSA.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, HELIO COSTA, ALFREDO NASCIMENTO, SENADOR, EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DAS COMUNICAÇÕES (MC), MINISTERIO DOS TRANSPORTES (MTR), RETORNO, ATUAÇÃO, SENADO.
  • REPUDIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O POPULAR, ESTADO DE GOIAS (GO), OFENSA, DISCRIMINAÇÃO, POPULAÇÃO, ESTADO DO AMAPA (AP), REGISTRO, RESPOSTA, ORADOR, INFORMAÇÃO, HISTORIA, CARACTERISTICA, GEOGRAFIA, CULTURA, AMBITO ESTADUAL, CONVITE, JORNALISTA, VISITA, REGIÃO, CONHECIMENTO, REGIÃO AMAZONICA.
  • SUGESTÃO, GOVERNADOR, ESTADO DO AMAPA (AP), ABERTURA, PROCESSO JUDICIAL, ACUSAÇÃO, JORNALISTA, DANOS MORAIS, DEFESA, POPULAÇÃO, CONTINUAÇÃO, PROGRESSO, ECONOMIA, TURISMO, REGIÃO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado.

            Quero fazer uma saudação ao Ministro Senador Hélio Costa, que retorna ao nosso convívio, e dizer que V. Exª, Senador Hélio Costa, foi muito bem representado aqui, na Casa, pelo nosso querido Wellington Salgado. Também quero reconhecer, em nome do Estado do Amapá, ao Ministro das Comunicações Hélio Costa o atendimento que deu ao meu Estado. Sempre atendeu todos os representantes do meu Estado com muita atenção, sem qualquer discriminação partidária, mostrando que V. Exª é realmente um democrata e que Minas Gerais precisa vê-lo como um homem democrata, que sempre foi útil àquele Estado.

            Ao ex-Ministro dos Transportes, nosso Ministro Alfredo Nascimento, que volta também ao nosso convívio, que teve como substituto o Senador João Pedro, uma figura extraordinária, que honrou o seu Partido, o PT, e que fez debates altamente qualificados aqui nesta Casa, honrando o nome do Amazonas e de V. Exª, porque ele é o seu primeiro suplente.

            Seja bem-vindo ao nosso convívio. A presença de V. Exªs só engrandece o nosso plenário, o nosso Senado.

            Mas, Sr. Presidente, eu ia fazer um discurso hoje sobre a questão importante que é a saúde. Ontem, inclusive, Senador Mozarildo, mostrei que a expectativa de 58% dos brasileiros não é, de forma alguma, a segurança pública, e sim a saúde.

            Hoje, eu vinha falar de novo sobre a saúde, mas teremos tempo para isso, porque tomei conhecimento de uma matéria feita por um senhor chamado Rogério Borges, lá de Goiânia, que, realmente, me trouxe aqui a obrigação de defender o Estado do Amapá. Não podemos, de forma alguma, deixar o Amapá indefeso diante de um artigo... Realmente, um artigo... Eu não sei, Senador Mão Santa, se esse cidadão teve algum desencanto seriíssimo, que o desequilibrou completamente e fez com que ele fizesse um artigo agressivo ao Estado do Amapá, um artigo agressivo ao povo brasileiro, porque desconhecer parte das terras do Brasil é uma agressividade, e eu me coloquei aqui. Se fosse contra a minha pessoa, sinceramente, eu não viria responder, porque, logicamente, seria uma questão pessoal. Mas foi contra o meu Estado e eu vou aqui responder ao Sr. Rogério Borges, do jornal O Popular, de Goiânia, que na coluna Crônicas e outras Histórias, datada do dia 7 de abril último, apresentou o texto com o título: “Amapá, uma abstração”.

            Esse artigo exige um esclarecimento maior e uma resposta a ser dada em nome do povo amapaense, que merece ser lida e compreendida por todo cidadão brasileiro. Esse Sr. Rogério Borges - que eu não conheço, por isso não vou julgar a pessoa dele -, saturado de preconceitos e dotado de uma ignorância inconcebível sobre a realidade do nosso País, começa o seu texto solicitando de alguém, quem quer que seja, a comprovação de que o Amapá existe.

            Segundo ele, até hoje, nunca teve essa comprovação. Para ele, o Amapá é uma abstração, uma figura de ficção, uma espécie de miragem coletiva, um Estado de fantasia, um mito, uma lenda urbana.

            Diz este tal de Sr. Rogério Borges não conhecer ninguém que tenha nascido no Amapá, como também ninguém que tenha sequer estado no Amapá. E, por aí vai, na soberba de sua mediocridade.

            Como é que pode um cidadão brasileiro, um jornalista, um homem de comunicação e cultura, um formador de opinião ser tão ignorante e tão desprovido de conhecimento sobre a realidade brasileira?

            Será que esse cidadão nunca foi a uma escola, nunca saiu de sua casa, do ambiente da sua família, não convive com ninguém na cidade onde mora para chegar a esse ponto completo de alienação?

            E como conseguiria ter um espaço permanente em um jornal do Estado de Goiás, da lindíssima capital brasileira, que é Goiânia, e pertencer a um povo tão valoroso, tão inteligente, tão criativo, que é o povo goiano, motivo de orgulho para todos nós, brasileiros?

            Sr. Presidente, devo começar minha resposta a esse cidadão, dizendo que o Amapá existe, sim. Trata-se de um Estado da Região do Norte do nosso País, onde está localizada a fantástica Floresta Amazônica.

            Macapá, a nossa capital, é banhada pelo rio Amazonas, imenso, lindo, e indo à direção do oceano Atlântico. O Estado do Amapá se destaca neste cenário deslumbrante como o Estado mais preservado em sua biodiversidade de toda a Região Norte do País.

            O Amapá tem uma história belíssima, digna de ser cantada em prosa e verso por quem gosta, admira e respeita o Brasil como País.

            Temos heróis como Cabralzinho, homem que liderou a defesa do nosso território contra a cobiça dos franceses e o Barão do Rio Branco, que também se tornou vitorioso nos tribunais internacionais, não permitindo que a vasta extensão territorial entre o rio Araguari e o rio Oiapoque, no extremo Norte deixasse de ser brasileira. E esse Sr. Rogério tem de saber que, se o Brasil é do tamanho que é hoje, tem toda essa extensão territorial, damos graças ao Amapá.

            Na história contemporânea do Amapá se destacam as figuras de Getúlio Vargas e de Janary Gentil Nunes.

            Getúlio, então Presidente do Brasil, decretou a criação do Território Federal do Amapá, desmembrando-o do Estado do Pará.

            Janary, o primeiro Governador do Território, com diretrizes de Governo de povoar, sanear e educar, e contando com uma equipe valorosa de pioneiros muito bem selecionados realizou a mais bem sucedida experiência de valorização de áreas de que se tem notícia na História da Amazônia.

            O Amapá tem uma cultura ímpar. Ele possui sítios arqueológicos de grande valor, grandes músicos, poetas, escritores, enfim, é uma realidade incontestável, dotada de um futuro inestimável, capaz de proporcionar ao Brasil imensas alegrias e muito progresso.

            No auge de sua ignorância, o Sr. Rogério Borges, ao tentar comprovar que o Amapá não existe, argumenta com o fato inverídico de que a Rede Globo, em sua programação de minisséries, nunca fez nada sobre o Amapá. Novamente, faltam informação e conhecimento ao Sr. Rogério Borges. Por diversas vezes, senhoras e senhores, a Rede Globo de Televisão registrou matérias sobre a biodiversidade do Amapá, a beleza e a força da pororoca, o equinócio, fenômeno que só ocorre na linha do Equador e que apresenta o dia e a noite com a mesma duração.

            Para finalizar, eu gostaria de convidar o Sr. Rogério Borges a visitar o Amapá.

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Papaléo.

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP) - Que ele venha conhecer a hospitalidade do povo amapaense, saborear a deliciosa culinária da região e apreciar nossas belezas naturais e nossa cultura. Que ele venha com o coração desarmado e sem preconceitos. Tenho certeza de que sua opinião será diferente a partir de então.

            Com muita honra, concedo um aparte ao Senador Mozarildo Cavalcanti.

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Papaléo, fico surpreso de ver a atitude desse jornalista - deve ser um jornalista, embora não necessariamente todo mundo que escreva em jornal seja jornalista, mas supõe-se que sim -, na coluna Crônicas e outras Histórias. Imagino que ele diz “Crônicas e outras Histórias” com “h”. Primeiro, ele devia conhecer um pouco de História do Brasil, um pouco de Geografia do Brasil, porque, entre os absurdos que diz, ele fala: “Para mim, o Amapá é uma abstração, uma figura de ficção, uma alucinação que virou território e depois virou Estado”. Além de dizer que não conhece ninguém que nasceu lá, ainda diz: “Não conheço ninguém que sequer tenha estado no Amapá”. Realmente, ele não deve conhecer ninguém mesmo, porque eu já estive no Amapá por mais de uma vez. Segundo, desconhecer, por exemplo, a geografia do Brasil é terrível. Ele não conhece o Oiapoque e confessa que não conhece também o Chuí, não sabe o que é o Chuí. Primeiro, ele não está atualizado nem na geografia antiga nem na geografia atual, porque o Oiapoque não é mais o extremo norte do Brasil. Foi comprovado cientificamente - já que ele quer falar cientificamente - que o extremo norte do Brasil está no Monte Caburaí, a sessenta quilômetros acima do Oiapoque, no meu Estado de Roraima. Ele deve ter o mesmo pensamento a respeito de Roraima, porque o território de Roraima foi criado também junto com o Amapá e foi transformado em Estado junto com o Amapá, Estado membro da Federação na Constituinte. Lamento muito que um brasileiro, de maneira gratuita e de forma tão forte, ofenda um povo como o do Amapá. Digo mesmo a V. Exª que, se eu fosse Governador do Amapá, entraria com um processo contra esse jornalista por danos morais, porque não é só o fato de ele não gostar do Amapá. Ele tem o direito de não gostar do Amapá ou de não gostar de qualquer Estado. Agora, ofender o Estado dessa maneira? E espero que seja gratuito.

            Tomara que não tenha por trás disso outras intenções, porque há uma permanente inconformidade com o fato de que um Estado como o de V. Exª, e como o meu, que têm poucos habitantes, comparados com os Estados grandes do Sul e do Sudeste, que nós sejamos Estados que têm três Senadores, que têm oito Deputados Federais. É um inconformismo. Eu lamento muito que um brasileiro fale isso de um Estado membro da Federação, como é o Amapá. Eu quero, portanto, me solidarizar com V. Exª e com o povo do Amapá, e também mandar um recado para o Governador do Amapá: leia esse artigo e defenda o povo do Amapá judicialmente.

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP) - Obrigado, Senador Mozarildo. Agradeço sinceramente, eu estou emocionado com o seu depoimento, Senador Mozarildo. Por isso, eu vou aceitar a sua sugestão e entregá-la ao Governador, porque denegrir a imagem do nosso Estado significa fazer com que muitos brasileiros fiquem com receio de ir até um Estado tão bonito, que tem uma biodiversidade invejável para todo mundo e que tem, realmente, no turismo ecológico a sua grande atração.

            Então, eu lamento que um jornal como O Popular, do Estado de Goiás, conceda espaço, se for freelancer esse Sr. Rogério Borges, até acredito que seja, porque é difícil um jornal aceitar jornalistas que usem a sua inteligência e o seu desconhecimento para denegrir o próprio País... Eu quero dizer que esse jornal não merece pelo menos essa matéria que saiu. Não estou desfazendo do jornalista, mas pelo menos a matéria que saiu o jornal não merece, porque o Amapá nunca se sentiu tão agredido como se sente agora, através de um cidadão que nós nem conhecemos, não sabemos quem é, mas que nos ofende profundamente.

            Senador Romeu Tuma.

            O Sr. Romeu Tuma (PTB - SP) - Senador, eu nem ia aparteá-lo, porque V. Exª está com muita elegância, educação, tranquilidade, respondendo a alguém que tente desmerecer o Estado do Amapá, que V. Exª, o Gilvam Borges e o Presidente Sarney tão bem representam nesta Casa. Só pelos três representantes, nós saberíamos o respeito que devemos ter pelo Amapá. Agora, dizer que não sabe quem foi do Amapá!? Agora está mostrando. Senador Mozarildo, eu fui várias vezes ao Amapá, conheço o Amapá, atravessei o rio para a ir à Guiana; estive lá com um Sargento, de Macapá, Prefeito, trabalhador, e a população que lá vivia. Quantos nasceram no Amapá pelo que historicamente o Amapá tem contemporaneamente, uma força vital para o estudo da História do Brasil? Nós tivemos o filme Amazonas, passado pela Globo, e vimos o que representava a luta do Amapá pela independência. Como é que vai desconhecer tudo isso, Senador? Pelo amor de Deus! É um jovem, provavelmente! Não saiu da casca do ovo. Por isso, Senador, manda uma cartinha para ele, contando a história, ou talvez vamos comprar o filme da Globo para ele poder ver o que representou o Amapá na História do Brasil. Eu instalei a delegacia lá, com muita honra, com muito prazer. Vi o Presidente Sarney se dedicando em dar meios ao Amapá para que realmente ele pudesse crescer e se transformar num Estado. Está aí o Amapá. V. Exª diariamente está nesta tribuna defendendo-o. O Presidente Sarney, Presidente da Casa, é um representante do Amapá; o Senador Gilvam Borges, como bom samaritano, está de sandálias aqui sempre defendendo o seu Estado. Não sei se a gente deve se amargurar ou não com uma postura dessa. Acho que a alegria está no nosso coração em saber o que o Amapá representa para o Brasil.

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP) - Senador Romeu Tuma, cujas palavras aqui realmente vão fazer despertar nesse cidadão a vontade de, pelo menos, reconhecer o que é, o que realmente representa o Amapá.

            V. Exª, com sua experiência, com sua respeitabilidade, se coloca a favor de um Estado que é jovem, que está crescendo, que precisa ser conhecido por muitos brasileiros, mas já foi conhecido pela maioria dos brasileiros e que todos deixam ali a esperança de que o Amapá será, a cada dia, um Estado que vem honrar como os outros ex-Territórios o nosso País.

            Senador Mozarildo.

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Papaléo, enquanto eu acabava o meu aparte e V. Exª concedia o aparte ao Senador Romeu Tuma, recebi uma mensagem de um amigo meu do Amapá, que diz assim: “Senador, na verdade, esse jornalista quer aparecer”. Ele, realmente, jamais seria comentado aqui no Senado não fosse por uma ofensa desse nível. Realmente, o meu amigo do Amapá tem razão. O que ele queria era aparecer, já apareceu. Agora, quem aparece de maneira irresponsável merece pagar pelo que faz e, por isso, quero recomendar ao Governador do Amapá que o processe por danos morais ao povo do Amapá.

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP) - Danos morais, prejuízos a nossa economia, ouviu, Senador Mozarildo, e realmente a sua sugestão vou levar ao Sr. Governador para ele tomar as providências.

            O Governador assumiu recentemente a direção do Governo e vou levar.

            Senador Augusto Botelho.

            O Sr. Augusto Botelho (Bloco/PT - RR) - Senador Papaléo, estou pedindo este aparte para me solidarizar com V. Exª e com todo o povo do Amapá. É uma irresponsabilidade publicar uma coisa dessa forma. Nós dos Estados novos somos tanto Estado como qualquer outro que tenha 400 anos, ou até 500 anos. Porque somos uma federação. Por isso é que existe esta Casa, para representar os Estados. E o Estado do Amapá é um Estado lindo, como o de V. Exª, principalmente a foz do rio Amazonas, o rio mais caudaloso do mundo. Foi isso mesmo que escreveu o Senador Mozarildo na mensagem para ele, dizendo que ele queria era aparecer. E conseguiu, mas apareceu de uma forma ruim. Porque disse uma inverdade, ofendendo uma população, ofendendo um povo que é brasileiro, que defende a nossa Pátria, que está lá e vive com dignidade, conservando a floresta, explorando os recursos naturais com parcimônia e que sabe viver na Amazônia. Parabenizo V. Exª pelo Estado que representa e digo que V. Exª não deve ficar ofendido, zangado, não. O cidadão que fez esse impropério vai receber o que merece dos leitores e do povo do Amapá.

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP) - Muito obrigado, Senador Augusto Botelho. Agradeço a participação e a solidariedade que tem ao nosso Estado do Amapá, que é um Estado promissor, como o de V. Exª e do Senador Mozarildo. Realmente as pessoas que nasceram ou adotaram nossos Estados como Estados da sua preferência vão engrandecer cada vez mais esses dois Estados jovens e que são bons exemplos para o País.

            Muito obrigado, Senador Mão Santa.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/04/2010 - Página 13915