Pronunciamento de Marco Maciel em 15/04/2010
Discurso durante a 52ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Apelo para que as decisões recentemente adotadas pelo Governo Federal com relação à autonomia administrativa da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) e de suas subsidiárias sejam revistas.
- Autor
- Marco Maciel (DEM - Democratas/PE)
- Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
POLITICA ENERGETICA.:
- Apelo para que as decisões recentemente adotadas pelo Governo Federal com relação à autonomia administrativa da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) e de suas subsidiárias sejam revistas.
- Publicação
- Publicação no DSF de 16/04/2010 - Página 14820
- Assunto
- Outros > POLITICA ENERGETICA.
- Indexação
-
- REGISTRO, HISTORIA, CRIAÇÃO, COMPANHIA HIDROELETRICA DO SÃO FRANCISCO (CHESF), IMPORTANCIA, DESENVOLVIMENTO, REGIÃO NORDESTE, PIONEIRO, EMPRESA DE ENERGIA ELETRICA, BRASIL, APRESENTAÇÃO, DADOS, ATUALIDADE, PRODUÇÃO, DISTRIBUIÇÃO, PATRIMONIO, NUMERO, EMPREGO, LUCRO, AUSENCIA, INCLUSÃO, PROCESSO, PRIVATIZAÇÃO, ANTERIORIDADE, GESTÃO, ORADOR, CONGRESSISTA, GOVERNADOR, TRANSFERENCIA, SEDE, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE).
- PROTESTO, DECISÃO, GOVERNO FEDERAL, RETIRADA, AUTONOMIA ADMINISTRATIVA, COMPANHIA HIDROELETRICA DO SÃO FRANCISCO (CHESF), QUESTIONAMENTO, ORADOR, REFORÇO, CENTRAIS ELETRICAS BRASILEIRAS S/A (ELETROBRAS), CRITICA, UNIÃO, EMPRESA SUBSIDIARIA, ESPECIFICAÇÃO, DEFICIT, CENTRAIS ELETRICAS DO NORTE DO BRASIL S/A (ELETRONORTE), FURNAS CENTRAIS ELETRICAS S/A (FURNAS), REPUDIO, CENTRALIZAÇÃO, COMANDO, COMENTARIO, EXPERIENCIA, PAIS ESTRANGEIRO, DESCENTRALIZAÇÃO, AMBITO REGIONAL.
- APREENSÃO, PREJUIZO, COMPANHIA HIDROELETRICA DO SÃO FRANCISCO (CHESF), TRANSFERENCIA, POSTO, TRABALHO, RETIRADA, MÃO DE OBRA ESPECIALIZADA, SUPRESSÃO, EMPREGO, AREA, CONHECIMENTO, PREVISÃO, PERDA, DESENVOLVIMENTO CIENTIFICO, REGIÃO NORDESTE, SOLICITAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, MINISTERIO DE MINAS E ENERGIA (MME), REVISÃO, DECISÃO, VALORIZAÇÃO, POLITICA, DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
SENADO FEDERAL SF -
SECRETARIA-GERAL DA MESA SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA |
O SR. MARCO MACIEL (DEM - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente Senador Mão Santa, Srªs Senadoras, Srs. Senadores Heráclito Fortes e Valdir Raupp, Líder do PMDB nesta Casa, em 3 de outubro de 1945, por inspiração e iniciativa de Apolônio Sales, político pernambucano e então Ministro da Agricultura no Governo Getúlio Vargas que encarnava o espírito empreendedor do sertanejo, era criada a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco, a Chesf, empresa estatal federal que viria a ter expressiva importância para o Nordeste e para o Brasil.
O início efetivo de suas atividades ocorreu em 15 de março de 1948, quando se realizou a sua primeira Assembléia de Acionistas, ano que também ficou marcado na história da empresa pelo princípio da construção da Usina Paulo Afonso I, de 180 megawatts de potência, que viria a entrar em operação em 1954.
A Chesf é, portanto, a mais antiga das grandes empresas de geração e transmissão de energia elétrica no Brasil.
Hoje, Sr. Presidente Senador Mão Santa, a empresa sonhada há cerca de 65 anos pelo conterrâneo Apolônio Sales, é responsável por cerca de 10% da capacidade de geração da energia elétrica do Brasil, produzidos pelos seus 10.608 megawatts de potência instalada, o que faz da empresa a maior instituição de geração do nosso País. Graças a isso, a Chesf abastece o Nordeste brasileiro, para onde dirige mais de 40% da energia que produz. Outros 39% da energia da Chesf são endereçados ao Sudeste e ao Centro-Oeste, e o restante abastece as regiões Norte e Sul do País.
Para distribuir essa energia, unificada ao Sistema Interligado Nacional, a Chesf mantém mais de dezoito mil quilômetros de linhas de transmissão. A empresa tem também, de acordo com os últimos dados disponíveis, um patrimônio líquido de R$12,5 bilhões de reais, uma receita operacional bruta de R$5,6 bilhões e emprega - empregos diretos - cerca de 5,5 mil pessoas.
Concluído o processo de saneamento da Chesf pelo governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, do qual tive a honra de participar como Vice-Presidente da República, a empresa iniciou um ciclo virtuoso em que sua lucratividade foi contínua, chegando ao recorde de mais de um bilhão e quatrocentos milhões de reais em 2008.
Como se vê, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a Chesf é uma pedra fundamental do setor elétrico brasileiro. Mais do que isso, a Chesf é o próprio rosto do Nordeste. Criada antes mesmo da própria Sudene, a Chesf é decisiva para o desenvolvimento do Nordeste brasileiro. Não foi por outra razão que o Presidente Fernando Henrique Cardoso concordou em mantê-la íntegra, não permitindo que fosse privatizada, como se cogitava à época.
Faço questão de mencionar isso porque estive envolvido diretamente com Governadores de Pernambuco, parlamentares, etc., nessa luta, que, ao final, se revelou totalmente vitoriosa.
E tanto a Chesf é importante para o Nordeste, que, em 1976, a sua sede foi transferida do Rio de Janeiro para o Recife - cogitava-se para outro Estado, mas conseguimos que fosse para o Recife -, num reconhecimento de que a regionalização de sua administração lhe seria benéfica e de que Chesf é uma empresa genuinamente brasileira, uma empresa genuinamente nordestina.
Essa mudança, aliás, ocorreu graças a uma campanha empreendida no Congresso Nacional, com a participação de Governadores da Região e políticos, quer no plano estadual, quer no plano federal.
Mas tudo isso parece não ter tido muito significado para o atual Governo, que retirou da Chesf e de suas demais subsidiárias a autonomia administrativa, com o objetivo de transformar a Eletrobrás - empresa holding do Governo Federal no setor elétrico - numa mega-empresa pública, não se sabe exatamente com que finalidades.
Até hoje, infelizmente, as medidas adotadas pelo Governo Federal ainda não foram adequadamente explicadas.
Para alcançar o objetivo de transformar a Eletrobrás numa mega-empresa pública, o caminho mais fácil e mais rápido, na minha opinião, foi absorver suas subsidiárias regionais, em particular a Chesf, dadas as suas condições econômico-financeiras altamente positivas. Este, aliás, é um ponto que merece análise: a diferenciada situação econômica da Chesf, graças a sua competente administração durante o Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso.
Sr. Presidente, ao lucro contínuo da Chesf, desde 2002, opõe-se o passivo de mais de R$8 bilhões da Eletronorte, que precisou, recentemente, frise-se, de uma capitalização de R$4 bilhões, segundo informações que obtive. Graças a isso, a Eletronorte alcançou lucro em seu balanço anual pela primeira vez em seus 20 anos de existência.
Furnas, outra empresa do sistema elétrico brasileiro, fechou 2009 com prejuízo de R$129 milhões. A Eletrosul, outra subsidiária do sistema Eletrobrás no Sul do País, só opera linhas de transmissão. Não gera energia e, portanto, não tem o mesmo atrativo que as demais companhias da holding. A própria Eletrobrás, por sua vez, teve lucro reduzido no ano passado, alcançando o valor de apenas R$170 milhões, contra os quase R$800 milhões da Chesf. Como se vê, a empresa nordestina tem condição ímpar entre as empresas federais de energia elétrica.
Essa digressão nos ajuda a compreender a ação do Governo Federal. Essa medida foi adotada, mediante realização, em julho passado, de assembleias gerais simultâneas em todas as subsidiárias e na própria Eletrobrás, com a finalidade de alterar os estatutos sociais das empresas do grupo, permitindo a centralização de seus comandos na Eletrobrás.
É quanto a isso, Sr. Presidente, que venho à tribuna mais uma vez. É lamentável essa centralização de comando - que objetiva a concentração de todo o poder decisório sobre as empresas no Rio de Janeiro -, porque ocorre na contramão da tendência observada no Brasil e mesmo em outros países de características semelhantes às nossas.
Vejamos alguns e bons exemplos.
A Gerasul, estatal de geração que opera no Sul do País, adquirida pela Tractebel, empresa belga, continua com seus quadros técnicos e administrativos em Florianópolis. Graças a sua autonomia administrativa, venceu o leilão para a construção da Usina Jirau, no rio Madeira, como, aliás, conhece bem o Senador Valdir Raupp. A Companhia Paulista de Força e Luz, mesmo privatizada, manteve a sua autonomia e a sua sede continua em Campinas, no interior paulista, e não em nenhuma das capitais importantes do País.
Estados Unidos e Canadá, países reconhecidamente desenvolvidos, de dimensões continentais e dotados de importantes potenciais hidráulicos, têm empresas federais de energia elétrica que operam por meio de administrações regionais descentralizadas.
Como exemplo, pode ser citada a Tennessee Valley Authority (TVA), que atua na região leste dos Estados Unidos. Aliás, a TVA foi criada como agência de desenvolvimento com fulcro na geração de energia elétrica durante a Grande Depressão, em 1933, mesmo papel que imaginou Apolônio Sales para a Chesf. Na parte Oeste do país, a Bonneville Power Administration (BPA), criada em 1937, responsabiliza-se pela comercialização de energia gerada por todas as hidrelétricas federais da região em que opera, inclusive a sua própria.
Sr. Presidente, no Canadá, não é diferente: para cada região do país, uma empresa é encarregada da operação. Assim, na região de Quebec, opera a Hydro Quebec, a maior geradora hidrelétrica do mundo. A Ontario Hydro, também no Canadá, opera na região do Ontário, e a BC Hydro é responsável pela região da Colúmbia Britânica.
O pior é que além de não estar alinhada com as melhores práticas de gestão desse tipo de empresa, adotadas inclusive no mundo desenvolvido, a centralização da gestão na Eletrobrás começa a causar prejuízos concretos à Chesf.
Um deles refere-se à transferência de conhecimento das subsidiárias para a holding, ao que deverá seguir-se a transferência, ao que se presume, de postos de trabalho, que são muito importantes no Nordeste, por ser uma região de menor nível de desenvolvimento relativo. Explico: a Eletrobrás não tem quadros próprios de Planejamento, Engenharia, Operação e Construção de Usinas, área esta em que a Chesf tem reconhecida expertise.
Assim, Sr. Presidente, empregados das subsidiárias da Eletrobras estão sendo requisitados para suprir essa carência. No futuro, esses postos de trabalho serão transferidos da subsidiária à holding, sendo suprimidos empregos (é o que se supõe - frise-se), e as atividades nas subsidiárias.
Isso, Sr. Presidente, acarretará perda substancial de conhecimentos do setor elétrico no Nordeste e, em especial, em Pernambuco, onde fica a sede da empresa, isto é, a Chesf, com reflexos negativos para as universidades e centros tecnológicos da região, notadamente do Recife, Campina Grande e Salvador, provocando, como conseqüência, a perda, no Nordeste, de seus quadros, enfim, da sua inteligência e capacidade criativa.
Sr. Presidente, além de pedra fundamental do setor elétrico brasileiro, a Chesf representou, e representa, ainda, nos dias de hoje, uma alavanca poderosa no desenvolvimento do Nordeste. Não podemos prescindir dessa ferramenta para continuar perseguindo a melhoria de vida da gente nordestina. Não podemos, portanto, concordar com a mudança das premissas que nortearam a criação da Chesf. Não podemos aceitar que, sob o pretexto de fortalecimento da Eletrobras, a Chesf seja enfraquecida, que sejam rompidos os seus vínculos históricos com o desenvolvimento do Nordeste e, especificamente, com o Estado que aqui tenho a honra de representar, o Estado de Pernambuco.
Sr. Presidente, a força do Brasil e o seu desenvolvimento estão no engrandecimento e no progresso de cada uma das diferentes regiões, notadamente daquelas mais carentes, que mais precisam de apoio para avançar e superar as suas dificuldades. Não será retirando-se delas o que têm de mais positivo que se construirá a riqueza do País.
Sr. Presidente, faço um apelo, com relação às decisões recentemente adotadas pelo Governo Federal a respeito do Sistema Chesf e, de modo especial, às decisões de interesse do Nordeste, para que sejam revistas. Elas foram adotadas através de decretos e estes podem ser revistos. Assim, haveria condições para o Nordeste continuar a possuir energia de boa qualidade e crescendo de forma compatível com a sua vocação econômica.
É bom lembrar que a energia é um bem essencial para o desenvolvimento de uma região, inclusive para o florescimento de novos pólos de crescimento econômico e de empresas com capacidade de geração não apenas de empregos mas de novas tecnologias, que vão ajudar o Nordeste a crescer a taxas mais altas.
É preciso, portanto, que todos os nordestinos se unam em defesa da Chesf e de sua autonomia. Não podemos e nem queremos prescindir da Chesf. Não podemos aceitar nem permitir que as decisões da empresa não consultem os interesses do Nordeste.
Sr. Presidente, ao defender a Chesf nordestina e pernambucana cito Gilberto Freire: “aos ideais nacionais que aprendi na colina dos Guararapes, onde Pernambuco escreveu com sangue o endereço do Brasil”, apelando para que volte a ser uma empresa prioritariamente voltada a atender às necessidades do Nordeste, sem deixar de dar, como sempre aconteceu, a sua fundamental contribuição ao crescimento do Brasil.
Portanto, Sr. Presidente, concluo as minhas palavras reiterando o apelo para que essas decisões recentemente tomadas pelo Governo Federal, especificamente pelo Ministério de Minais e Energia, suas empresas filiadas, sejam, enfim, revistas, para que o Nordeste não seja penalizado com mudanças ocorridas e não venhamos ter dificuldade no processo de desenvolvimento.
Sabemos que o Brasil é um país caracterizado com grandes assimetrias e certamente o Nordeste, de todas as grandes regiões é a de menor nível de desenvolvimento relativo. Daí por que a importância da energia é fundamental, sobretudo que se continue a prestigiar a Chesf, que tem uma grande expertise em função do conhecimento da região e também por ser uma empresa que tem quadros de excelente qualidade. Ao longo do processo do desenvolvimento do Nordeste, muito a Chesf tem influído para que a nossa região cresça a taxas mais altas, gerando emprego, atraindo novas empresas e promovendo, assim, a construção de um País menos desigual, menos assimétrico, portanto, mais justo.
Muito obrigado a V. Exª, Sr. Presidente.
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