Discurso durante a 51ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Descreve como alarmante o índice de analfabetismo funcional no Brasil e aponta como alicerces de toda grande nação a educação e a formação humanística.

Autor
Geovani Borges (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: Geovani Pinheiro Borges
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO.:
  • Descreve como alarmante o índice de analfabetismo funcional no Brasil e aponta como alicerces de toda grande nação a educação e a formação humanística.
Publicação
Publicação no DSF de 15/04/2010 - Página 14609
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO.
Indexação
  • LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, NIVEL, EDUCAÇÃO, BRASIL, COMENTARIO, LEVANTAMENTO, INSTITUIÇÃO DE PESQUISA, SUPERIORIDADE, NUMERO, BRASILEIROS, VITIMA, INEFICACIA, ALFABETIZAÇÃO, APREENSÃO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, NECESSIDADE, REFORMULAÇÃO, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, ATRAÇÃO, JUVENTUDE, IMPORTANCIA, GARANTIA, INVESTIMENTO, SETOR, PROMOÇÃO, DESENVOLVIMENTO, PAIS.

                          SENADO FEDERAL SF -

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            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. GEOVANI BORGES (PMDB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, telespectadores e ouvintes da TV e da Rádio Senado, hoje, especialmente, telefonaram-me lá do Amapá duas mulheres muito importantes na minha vida, que estão na expectativa, como telespectadoras, do meu pronunciamento de hoje: a minha querida esposa Jucileide, mãe dos meus dois filhos, Geovani Júnior e Rafael; e a minha genitora, minha mãe, D. Cícera. Ambas estão ligadas na TV Senado. Elas disseram: “Vamos aqui assistir”. E, além delas, milhares de telespectadores por todo este Brasil, porque é impressionante, Senador Mão Santa, a audiência da TV Senado. Tanto é que V. Exª, quando viaja por este Brasil afora, anda dando autógrafos. Não é verdade isso? Batendo fotos! Tudo isso graças à repercussão da TV Senado.

            Sr. Presidente, um abraço especial para estas duas mulheres maravilhosas da minha vida, minha esposa e minha mãe.

            Quero dizer neste momento que não sou expert no assunto, mas é tão evidente, cristalino e preocupante que não requer especialização na matéria. Há tempos, educadores no Brasil, e fora dele, chamam a atenção para uma categoria emergente no País: a dos analfabetos funcionais.

            Analfabeto funcional é a denominação dada à pessoa que, mesmo com a capacidade de decodificar minimamente as letras, geralmente frases, sentenças e textos curtos, não consegue entender o que lê.

            O analfabetismo funcional constitui um problema silencioso e perverso que afeta e contamina a sociedade. Não se trata de pessoas que nunca foram à escola. Elas sabem ler, escrever e contar; chegam a ocupar cargos administrativos, mas não conseguem compreender a palavra escrita, ou seja, não entendem o que lêem.

            O termo analfabeto funcional revela distorções existentes na educação que, antes, não eram conhecidas, pois os estudos se limitavam a distinguir quem sabia de quem não sabia ler.

            Em 2005, o Instituto Paulo Montenegro, ligado ao Ibope, fez um levantamento chamado Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), que apontou que apenas 26%, Sr. Presidente, da população brasileira consegue ler e escrever plenamente. Ou seja, três em cada quatro brasileiros têm algum nível de analfabetismo ou analfabetismo funcional.

            Repito: três em cada quatro brasileiros não entendem o que lêem e não sabem escrever o que pensam. Isso é muito grave, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, telespectadores e ouvintes da TV e Rádio Senado.

            A queda da produtividade provocada pela deficiência das habilidades básicas resulta em perdas e danos da ordem de US$6 bilhões por ano no mundo inteiro. Por quê? Porque são pessoas que não entendem sinais de aviso de perigo, instruções de higiene e segurança de trabalho, orientações sobre o processo produtivo e procedimento de normas técnicas da qualidade de serviços e negligenciam os valores da organização empresarial.

            A revista Veja desta semana traz um artigo de Gustavo Ioschpe, intitulado: “Brasil: a primeira potência de semiletrados?”, que peço seja anexado na íntegra ao meu pronunciamento e conste dos Anais desta Casa.

            O texto é uma análise perturbadora da sociedade que estamos construindo. Diz o autor:

Quando voltei ao Brasil, depois de anos no exterior, queria montar meu escritório rapidamente. Contratei, então, um desses serviços de secretariado virtual para me ajudar, enquanto iniciava o processo de busca por uma equipe permanente. Notei que a secretária virtual não era um gênio, mas achei que quebraria o galho. Certo dia, mandei um e-mail a ela pedindo que me conseguisse a informação de contato do cônsul brasileiro em Houston (nos Estados Unidos). Informação encontrável na Internet em poucos minutos. Passaram-se cinco minutos, cinco horas, e nada.

            Continua o autor do artigo de Veja desta semana:

Três dias depois, recebi um e-mail da fulana: “Sr. Gustavo, procurei na Cônsul e até na Brastemp, mas ninguém conhece esse tal de Houston”. Pensei que fosse piada. Reli. Não era. Para quem havia ficado alguns anos construindo teses acadêmicas sobre a importância da educação para o desenvolvimento das nações, através do seu impacto na produtividade de uma população, estava ali um exemplo de como é difícil produzir algo quando a ignorância campeia à volta. É assim para uma pessoa, uma empresa e um país.

            Aqui, Sr. Presidente, mas nem o artigo nem o assunto se extinguem neste parágrafo. Muito ao contrário: exigem atenção, reflexão e ação.

             Há perguntas que precisam ser respondidas: por que os jovens brasileiros não gostam da escola e não querem estudar? O que há de errado com as nossas escolas? Por que algumas escolas públicas viraram modelo, enquanto outras se transformaram em antros de violência e degradação moral?

            É preciso, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que nós tenhamos em mente que o crescimento econômico, quando dissociado da evolução do lado humano, dura pouco. Alguém conhece país com população de semi-analfabetos que se tenha tornado potência mundial? Eu não conheço.

            E para que o analfabetismo funcional se erradique só existe uma saída: educar e treinar para a qualidade. E qualidade não tem custo. Qualidade é investimento. A falta de qualidade é a despesa do trabalho errado, malfeito, incompleto, sem profissionalismo. É o custo do analfabetismo funcional!

            Eu queria, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, deixar o registro da minha profunda preocupação com os caminhos do meu País, do meu querido Brasil. Entendo que é responsabilidade de todos nós, sobretudo daqueles que pensam e criam políticas sociais, atentar, segundo o Mão Santa, para o grande desafio de toda e qualquer sociedade contemporânea: a educação e a formação humanística como alicerce de uma grande nação.

            O Brasil não poderá fugir a essa regra.

            Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

            Muito obrigado, em respeito ao Regimento Interno e a nossa querida sirene dizendo que meu tempo acabou, encerro meu pronunciamento agradecendo a generosidade de V. Exª.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Convido V. Exª a presidir o resto da sessão.

            O SR. GEOVANI BORGES (PMDB - AP) - Muito obrigado, Sr. Presidente, pelo grande deferência.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/04/2010 - Página 14609