Discurso durante a 55ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Despedida do Senado Federal, como primeiro suplente, e relato da carreira política de S.Exa.

Autor
Geovani Borges (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: Geovani Pinheiro Borges
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Despedida do Senado Federal, como primeiro suplente, e relato da carreira política de S.Exa.
Publicação
Publicação no DSF de 21/04/2010 - Página 15317
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • DESPEDIDA, ORADOR, SENADO, BALANÇO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, COMENTARIO, HISTORIA, VIDA PUBLICA, EMPENHO, DEFESA, INTERESSE, POPULAÇÃO, ESTADO DO AMAPA (AP), AGRADECIMENTO, APOIO, FAMILIA, SERVIDOR, COLABORAÇÃO, EXERCICIO, MANDATO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. GEOVANI BORGES (PMDB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, muito obrigado.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, telespectadores e ouvintes das TV e Rádio Senado, hoje, diferentemente do que fiz ao longo desses quatro meses, não subo a esta tribuna para brigar por uma ideia, defender uma causa ou para expor um problema.

            Nesse período, por algumas vezes fui Presidente da Mesa e tive o prazer de conduzir os trabalhos das sessões plenárias. Relatei 52 matérias e apresentei nove na qualidade de autor.

            Em relação a pronunciamentos, demonstrei fôlego de nadador olímpico: com este que ora pronuncio, completo 102 discursos proferidos desta tribuna - 36 nesses primeiros meses de 2010, 59 em 2008, além de 7 em 2006, totalizando, com este aqui, 102 discursos. 

            Neste momento, confesso que começo a procurar o jeito de encerrar à altura a minha passagem por esta Casa, de onde hoje me despeço. Nesta hora, a memória de meu pai é muito mais que um retrato na estante; é uma saudade grande que anda comigo. Miguel Pinheiro Borges, meu pai, passava a noite treinando e desenhando o meu nome numa papeleta para votar em mim, pois era semianalfabeto, apesar de sua biografia apresentá-lo como estadista, de tão viva e participativa era sua atuação empresarial e política no meu querido Estado do Amapá.

            E hoje, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, acaba de ser aprovado na Assembléia Legislativa do meu querido Estado do Amapá o seu nome, Miguel Pinheiro Borges, para uma ponte de grande dimensão sobre o rio Vila Nova, ligando o Município de Santana, segunda maior cidade do Estado, à cidade Mazagão, terra onde nasci.

            Aproveito a oportunidade desta tribuna para agradecer à autora do projeto, Deputada Francisca Favacho, e a todos os Srs. Deputados presentes que, repito, por unanimidade, defenderam e votaram favoravelmente. Muito obrigado pela homenagem feita ao meu pai, hoje, na Assembléia Legislativa, que deu o nome de Miguel Pinheiros Borges à ponte sobre o rio Vila Nova.

            A bênção à minha mãe, a Dona Cícera Pinheiro Borges, é um ritual que eu repito diariamente, nem que seja ao telefone, porque os conselhos dela ainda hoje confortam o menino que fui um dia.

            Éramos dezessete irmãos. Fomos treze. Somos dez. Unidos e amigos.

            Geová, o fiel escudeiro; Geodeth, a primeira das irmãs; Gilvam, o nosso querido líder político da família, ex-Deputado Federal, atual Senador da República e candidato à reeleição; Ronaldo, primeiro Vice-Governador do Estado do Amapá; Reginaldo, grande jornalista e analista político; Geonith, empresária; Nilson, economista e artista; Dilson, nosso odontólogo; e Dalton, o caçula da família.

            Nilda, Nete, Naldo e papai já partiram, mas não sem nos deixar a energia, a paz, a segurança e a experiência necessárias ao caminhar.

            Pois bem. Com meu pai aprendi, logo cedo, eu, filho mais velho que sou, que não vim ao mundo a passeio. Vim a trabalho.

            Ainda menino de calças curtas, havia em mim um componente de inquietação, uma resistência silenciosa aos paradoxos que se seguiam no meu Amapá: terra de um lado, água do outro. Rico de um lado, tão pobre de outro.

            A resistência desaguou na vida pública, como um rio que corre para o mar e, assim, em 1976, eu me elegia vereador por Macapá, capital do meu Amapá, na época Território Federal, vindo a ser Presidente da Câmara Municipal. 

            Em 1982, desembarquei em Brasília, onde cumpri o meu primeiro mandato de Deputado federal.

            Em 1986, repeti a dose e tive o orgulho histórico de ser Deputado Constituinte. Já disse aqui que, agora, passadas duas décadas, pode até ser fácil, e não de todo injusto, apontarem erros e equívocos na Carta Magna. Mas devo dizer a V. Exªs que a nossa Constituição representou para o Brasil um importante passo na caminhada que deixava para trás anos de ditadura militar e rumava na direção de um Estado democrático.

            Ao longo daqueles anos de Câmara Federal, mesmo com o trabalho diuturno da Constituinte, apresentei 153 proposições de minha autoria, e destaco, com especial carinho, o Projeto de Lei nº 907, que criou a Universidade Federal do Amapá.

            Sabedor da importância do ensino, como um todo, e da graduação, em particular, eu não me conformava com o fato de que o meu então Território não tivesse uma universidade federal. O Senador José Sarney era, então, o Presidente da República e, vejam os senhores as voltas que o destino dá: foi justamente ele quem sancionou e regulamentou a Lei nº 7.530, de 29 de agosto de 1986, que criou a Universidade Federal do Amapá, que hoje funciona a pleno vapor.

            Depois de oito anos em Brasília, como todo telúrico que não se dissocia de sua terra natal, voltei para o Amapá. O Município de Santana, esta é a verdade, sempre foi a menina dos meus olhos.

            Com a generosidade dos santanenses, elegi-me prefeito em 1992. Ali, arregacei as mangas e trabalhei como nunca. Lembro-me bem de que só de asfalto foram mais de setenta quilômetros dentro da cidade, onde antes o barro e a lama, típicos do clima tropical chuvoso, impediam a livre passagem.

            Assumi este mandato na qualidade de 1º Suplente do Senador Gilvam Borges, que retoma, nesta quinta-feira, dia 22, o seu lugar nesta Casa.

            Para mim, portanto, é chegada a hora de voltar. José Américo de Almeida tem uma máxima que me parece sob medida para o momento. Diz assim: “Volto. Voltar é uma forma de renascer. E ninguém se perde no caminho da volta”.

            É hora de voltar, senhoras e senhores. E estou diante de três momentos delicados: o da despedida, o do agradecimento e, logo ali na frente, o do julgamento.

            Despedir-se é fazer tiro ao alvo com o futuro e com a imprecisão do amanhã. Agradecer é correr o risco de apequenar o sem-preço. E o julgamento da História é implacável.

            Assumi o mandato de Senador em 2006, em 2008 e, novamente agora, em 2010. E tenho a humildade de dizer que, das três vezes, levo a forte impressão de que mais aprendi do que ensinei.

            Esta Casa é uma ilha de competência. Não há indolência, não há depois, não há amanhã, não há hora do almoço. Não há nem um fim de semana que justifique um dia de folga se a necessidade ditar o contrário.

            O corpo funcional é extremamente competente, na grande maioria das vezes muito dedicado, e invariavelmente muito cortês.

            Todos. Dos seguranças, passando pelos recepcionistas, subindo ou descendo com os ascensoristas, e os assessores: de comissão, jurídicos, parlamentares, de imprensa...

            Quero agradecer especialmente a todos os funcionários do gabinete, pelo profissionalismo, pela dedicação, pela lealdade, pela amizade e pela competência. A todos eles, o meu muito obrigado.

            Quero, ainda, agradecer aos meus pares pelo alto nível das discussões aqui travadas e pelo espírito lhano e democrático que os caracteriza. São lições que, com certeza, não esquecerei tão cedo.

            Por fim, abro parênteses especiais para Jucileide, Raphael e Geovani Júnior: minha mulher e meus dois filhos, família que constitui alicerce que me sustenta, amores que me acompanham, apoio que nunca me faltou.

            Esta Casa, por fim, me proporcionou um aprendizado fantástico, pelo qual sou eternamente grato.

            Saibam todos que, dentro das minhas sabidas limitações, procurei fazer o meu melhor e honrar o mandato, o cargo e a oportunidade de que fui investido.

            Espero, sinceramente, não tê-los decepcionado!

            Senador Gilvam Borges, V. Exª é bem-vindo. Retome aqui o seu mandato e dê continuidade ao brilhante trabalho que faz pelo nosso querido Estado do Amapá e pelo Brasil.

            Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente, Senador Mão Santa, que sempre foi muito cortês, atencioso e tolerante para com este seu colega.

            Agradeço a atenção.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/04/2010 - Página 15317