Discurso durante a 55ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro de audiência pública na Câmara dos Vereadores de Ji-Paraná-RO, para debater a construção da ponte sobre o rio Machado, na BR-364. Lamenta críticas a empresários e agroindustriais da Amazônia.

Autor
Acir Gurgacz (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RO)
Nome completo: Acir Marcos Gurgacz
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE TRANSPORTES. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Registro de audiência pública na Câmara dos Vereadores de Ji-Paraná-RO, para debater a construção da ponte sobre o rio Machado, na BR-364. Lamenta críticas a empresários e agroindustriais da Amazônia.
Publicação
Publicação no DSF de 21/04/2010 - Página 15331
Assunto
Outros > POLITICA DE TRANSPORTES. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • REGISTRO, AUDIENCIA PUBLICA, CAMARA MUNICIPAL, MUNICIPIO, JI-PARANA (RO), ESTADO DE RONDONIA (RO), PRESENÇA, DEPUTADO FEDERAL, SENADOR, DISCUSSÃO, CONSTRUÇÃO, PONTE, MELHORIA, TRANSITO, LIGAÇÃO, ESTADOS, ESTADO DO AMAZONAS (AM), ESTADO DE RORAIMA (RR), ESTADO DO ACRE (AC), COMENTARIO, REALIZAÇÃO, ACORDO, PREFEITURA, DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRA-ESTRUTURA DOS TRANSPORTES (DNIT).
  • RECONHECIMENTO, NECESSIDADE, PROTEÇÃO, FLORESTA AMAZONICA, QUESTIONAMENTO, POSIÇÃO, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), DIRETOR, CINEMA, ECOLOGISTA, EXCESSO, APREENSÃO, INTERFERENCIA, REGIÃO AMAZONICA, DEFESA, ORADOR, INCENTIVO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, CRIAÇÃO, EMPREGO, MELHORIA, RENDA, QUALIDADE DE VIDA, POPULAÇÃO, PRESERVAÇÃO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL.
  • ELOGIO, MATERIA, TELEJORNAL, EMISSORA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), HISTORIA, COLONIZAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ACIR GURGACZ (PDT - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, inicialmente quero registrar aqui o que aconteceu ontem em Ji-Paraná, cidade que o senhor visitou há alguns dias. Foi realizada uma audiência pública na Câmara dos Vereadores, a pedido do Presidente da Câmara Municipal dos Vereadores de Ji-Paraná, onde foi debatida e discutida a construção da ponte sobre o rio Machado, na BR-364, dentro do Município de Ji-Paraná.

            Foi uma audiência muito importante, estiveram presentes vários representantes da Bancada Federal, como o Senador Valdir Raupp, a Senadora Fátima Cleide, a Deputada Marinha Raupp, o Deputado Eduardo Valverde. Foi uma audiência muito importante, repito, e esclarecedora sobre o problema da obra da ponte, que já está sendo resolvido. O intuito é melhorar o trânsito na cidade de Ji-Paraná e também para aquelas pessoas que vêm do interior do Estado e vão a Porto Velho, ou para quem quer cruzar o Estado de Rondônia e ir para Amazonas, Roraima, Acre. Enfim, aquelas pessoas que passam por Rondônia hoje têm um sério problema que, em breve, será resolvido, em função até de um acordo feito com a Bancada Federal, o Prefeito José de Abreu Bianco e os diretores do Dnit. De modo que foi um sucesso a nossa audiência pública ontem.

            O que me traz aqui, Sr. Presidente, é novamente a questão do meio ambiente. 

            É muito fácil o Brasil e o mundo apontarem um dedo acusador contra as iniciativas de desenvolvimento na Amazônia, mas sem apresentar soluções para os problemas nos quais estamos afundados.

            É fácil, para os que vêm de fora do País, acostumados a viver em ambientes de alta tecnologia e desenvolvimento, parecer-lhes confortável, durante um ou dois dias, nosso atraso científico e urbano.

            As críticas às iniciativas de desenvolvimento e de produção na Amazônia atingem níveis inadmissíveis, principalmente porque vêm de gente que não paga as nossas contas, que influencia a opinião pública internacional e que voltará as costas para nós ao menor sinal de nossas necessidades.

            Enquanto a mídia propaga incessantemente essas críticas, Rondônia vive o caos urbano na segurança, na educação, na saúde e com o desemprego. Pergunto: quantas empresas de grande porte entrarão em Rondônia este ano para gerar empregos para os nossos cidadãos?

            Faço a mesma pergunta às ONGs internacionais que criticam os nossos produtores agroindustriais, que geram riquezas para o nosso Estado: quem vai pagar as contas? Quem vai asfaltar as nossas rodovias e ruas? Quem vai instalar equipamentos de diagnóstico de alta complexidade em nossos hospitais defasados?

            Faço outra pergunta ao cineasta canadense James Cameron: nosso povo precisa de menos condições de vida do que o povo de Montreal? Os trabalhadores de Porto Velho, de Cacoal, de Espigão d’Oeste e de Ji-Paraná têm menos direito à saúde e à educação do que os funcionários da produtora que fizeram seus filmes?

            Por que as ONGs, cineastas, músicos e ambientalistas podem julgar que os 25 milhões de pessoas que vivem na Amazônia merecem menos do que as pessoas de suas cidades?

            Vimos a Rede Globo apresentar, na semana passada, uma série de matérias em seu telejornal de maior audiência, cujo tema foi a sustentabilidade ambiental. De forma muito feliz, a equipe de jornalismo da emissora mostrou fatos de grande importância. Mostrou uma verdade histórica, que foi a forma como se deu a colonização de Estados como o nosso, de Rondônia.

            Nos anos 70 e 80, os colonos eram obrigados a desmatar 50% da cobertura vegetal de florestas para obter a posse definitiva da terra. Era o Estado que exigia essa atitude, que exigia que as motosserras fossem ligadas e que fizessem seu trabalho em prol do desenvolvimento. E foi exatamente isso que aconteceu, da mesma forma como aconteceu, de forma muito mais natural e intensa, na Região Sudeste e na Região Sul do País. Hoje, o Rio de Janeiro, por exemplo, chora os deslizamentos das encostas, sofre com quase 100 lixões irregulares em áreas mais do que degradadas e recorda, com saudade, de uma Mata Atlântica que já deixou de existir faz tempo.

            No entanto, aos olhos do mundo, ela se trata da Cidade Maravilhosa, principal destino turístico do País, atraindo gente de todo o mundo.

            E onde fica Porto Velho, capital do meu Estado, ou Manaus, capital do meu Estado vizinho, o Amazonas, no ranking do turismo no Brasil? Onde estão todas as pessoas que adoram tanto a Amazônia que não vão lá para conhecê-la? Onde se encontra, como perguntei antes, Porto Velho no ranking de preferência para a instalação de grandes franquias comerciais e industriais do planeta?

            James Cameron disse que não filmaria uma sequência de filmes na Floresta Amazônica para não degradá-la. Ele afirmou que já existem condições de fazer filmes totalmente dentro de estúdio. Pois, então, por que ele não constrói em Porto Velho esse estúdio, podendo empregar centenas de pessoas em meu Estado, gerar tecnologia, gerar riquezas para Rondônia, para a Amazônia que ele tanto quer defender?

            Eu sugiro, de verdade, Sr. Presidente, que o canadense e outros cineastas de Hollywood construam em nossas cidades seus estúdios de alta tecnologia e contribuam com uma indústria não poluente na Amazônia.

            Bill Gates é contra a produção agroindustrial em nossas terras? Que abra uma sede da Microsoft em Rondônia. O cantor Sting está na luta pela Amazônia? Que construa um estúdio fonográfico em Vilhena. Por que o Greenpeace, com todo o seu poder global, não convence as empresas do Vale do Silício a se instalarem em nossos Estados da Amazônia? Por que não produzir em nossas terras toda a tecnologia que será a ponta de lança da informática do ano que vem?

            Sr. Presidente, isso não acontece porque existe uma diferença muito grande entre o discurso e a prática. Isso porque essas pessoas sabem muito bem qual é o custo para a instalação de todo um sistema econômico, urbano e social no meio da Amazônia. Eles sabem que seu pessoal altamente qualificado, por mais que ache a Amazônia linda em cartões postais, negar-se-ia a lá viver no dia a dia.

            Acontece que nós já fizemos isso. Nós aceitamos o desafio, como Marechal Rondon aceitou também no início do século passado. Nós aceitamos o desafio de construir algo onde nenhum homem não índio havia posto os pés antes.

            As nossas cidades, hoje habitadas por gente de todo o País, são provas vivas da coragem do nosso povo. Você olha para um prédio, para uma praça, para uma escola cheia de crianças, para uma fábrica cheia de empregados e pensa que, há vinte anos, naquele mesmo local, não existia nada. Onde estariam essas pessoas hoje se não tivessem saído de seus Estados de origem? Estariam morando em que lugar no Paraná, em que lugar em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, em que lugar em São Paulo, em que lugar no Espírito Santo? Estariam disputando espaço para viver.

            A verdade, Srªs e Srs. Senadores e o povo que me assiste agora pela TV Senado, é que é muito confortável criticar a nossa agroindústria quando se está em Los Angeles, Montreal, no Leblon ou na Avenida Paulista. É muito fácil falar em preservação incondicional da Amazônia quando isso não afetará em nada o seu dia a dia.

            Mas seria fácil, então, trazer de volta aos seus Estados de origem os 1,5 milhão de habitantes de Rondônia e dar a eles as mesmas condições de vida e de produtividade que têm em suas terras, em suas cidades na Amazônia?

            O Rio de Janeiro, São Paulo, por exemplo, não têm mais espaço onde colocar sua população. Por isso, constroem suas casas sobre lixões clandestinos.

            Eu poderia dizer que a muitos desses críticos falta uma visão histórica de Rondônia, por exemplo, e uma visão global e sistêmica da realidade amazônica. Mas eu prefiro ater-me a convidar as grandes ONGs, os milionários estrangeiros, cineastas, e outras personalidades que advogam pela preservação da Amazônia: tragam para nós uma solução não degradante que gere emprego, energia, renda e progresso. Façam isso ou deixem que nós continuemos a nossa luta pela produção, pela nossa qualidade de vida e pelo desenvolvimento, dentro de uma visão ambiental na qual o homem também faz parte da natureza e precisa de sua própria sustentabilidade para que haja equilíbrio.

            É nesse sentido que a gente vem aqui hoje falar sobre meio ambiente. Estamos sofrendo com a falta da construção da BR-319. Estamos sofrendo com a paralisação da construção da Usina de Belo Monte. Precisamos dessas obras para o desenvolvimento do meu Estado de Rondônia e de toda a Amazônia.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/04/2010 - Página 15331