Discurso durante a 55ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Relato da importância da Usina Hidrelétrica de Belo Monte para o país.

Autor
Delcídio do Amaral (PT - Partido dos Trabalhadores/MS)
Nome completo: Delcídio do Amaral Gomez
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ENERGETICA. HOMENAGEM. POLITICA SALARIAL.:
  • Relato da importância da Usina Hidrelétrica de Belo Monte para o país.
Aparteantes
Flexa Ribeiro.
Publicação
Publicação no DSF de 21/04/2010 - Página 15345
Assunto
Outros > POLITICA ENERGETICA. HOMENAGEM. POLITICA SALARIAL.
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, DISCURSO, FLEXA RIBEIRO, SENADOR, REFERENCIA, IMPORTANCIA, RESULTADO, LEILÃO, LICITAÇÃO, CONSTRUÇÃO, USINA HIDROELETRICA, ESTADO DO PARA (PA), RECONHECIMENTO, DEMORA, CONCLUSÃO, PROJETO, REGISTRO, NECESSIDADE, ATENÇÃO, REDUÇÃO, IMPACTO AMBIENTAL, GARANTIA, INEXISTENCIA, PERIGO, COMUNIDADE INDIGENA, RELEVANCIA, OBRA DE ENGENHARIA, PROMOÇÃO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, MELHORIA, ABASTECIMENTO, ENERGIA ELETRICA, BRASIL.
  • REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, REUNIÃO, COMISSÃO DE SERVIÇOS DE INFRAESTRUTURA, DISCUSSÃO, LIMINAR, IMPEDIMENTO, REALIZAÇÃO, LEILÃO, USINA HIDROELETRICA, ESTADO DO PARA (PA), ELOGIO, INICIATIVA, POPULAÇÃO, QUESTIONAMENTO, MINISTERIO PUBLICO, REFORÇO, DEMOCRACIA.
  • FRUSTRAÇÃO, RETIRADA, CENTRAIS ELETRICAS DO NORTE DO BRASIL S/A (ELETRONORTE), LEILÃO, LICITAÇÃO, USINA HIDROELETRICA, RIO XINGU, ESTADO DO PARA (PA), COMENTARIO, COMPETENCIA, ATUAÇÃO, IMPORTANCIA, EMPRESA ESTATAL.
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), IMPORTANCIA, TRANSFERENCIA, CAPITAL FEDERAL, DESENVOLVIMENTO, REGIÃO CENTRO OESTE, ELOGIO, EMPENHO, JUSCELINO KUBITSCHEK, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, EFETIVAÇÃO, PROJETO.
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, POLICIA MILITAR, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, GARANTIA, SEGURANÇA, POPULAÇÃO, REGISTRO, APOIO, ORADOR, PROPOSTA, EMENDA CONSTITUCIONAL, CRIAÇÃO, PISO SALARIAL, CATEGORIA PROFISSIONAL.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. DELCÍDIO AMARAL (Bloco/PT - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente, Senador Acir Gurgacz, legítimo representante do Estado de Rondônia aqui, no Senado Federal, Senador Flexa Ribeiro, demais Senadoras e Senadores, como disse muito bem o Senador Flexa, na minha carreira de engenheiro, talvez os melhores momentos que passei na minha vida, e aprendi muito....

            O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - E deixou saudades.

            O SR. DELCÍDIO AMARAL (Bloco/PT - MS) - O Senador Flexa Ribeiro diz aqui que deixei saudades. Mas a experiência mais importante na minha vida, como engenheiro, sem dúvida nenhuma, foi o Pará. Eu sou cidadão paraense e com muita honra digo isso, porque o Pará teve um papel muito importante na minha formação e na minha vida profissional e pessoal. E eu não poderia deixar de destacar hoje, Sr. Presidente, Senador Acir Gurgacz, o momento que o Pará vive, como disse muito bem o Senador Flexa Ribeiro, com o resultado do leilão de Belo Monte.

            O Senador Flexa acompanha muito de perto, é um Senador muito atento e defensor dos interesses do seu Estado, que ele representa com honra e dignidade aqui, no Senado Federal, e ele abordou esse tema de uma maneira muito objetiva e bastante procedente.

            A Usina de Belo Monte... O Senador Flexa sabe disso porque a acompanha de perto e foi muito feliz quando disse que é um projeto de trinta anos. E o pior é que é verdade mesmo. É verdade. Quando começamos a pensar em Belo Monte, ela nem se chamava assim, chamava-se Cararaô, que era um grito caiapó. E a montante de Cararaô existiria mais uma usina chamada Babaquara. Os dois representavam um complexo de aproximadamente 20 mil megawatts no rio Xingu. Mas dentro daquele conceito - e o Senador Flexa foi muito feliz também quando afirmou isso -, dentro daquela filosofia que imperava à época, que era de se fazer grandes barragens, com reservatórios de acumulação, com áreas inundadas extensas, com impactos ambientais muito fortes, com interferência em áreas indígenas - e aí o Senador Flexa toca o assunto de uma maneira muito importante e feliz -, trazendo poucos benefícios para a população diretamente impactada pelo projeto.

            Em Tucuruí, por exemplo, foi construída uma vila residencial separada da cidade. Tinha uma Tucuruí onde todos os serviços estavam à disposição das pessoas que lá viviam e outra Tucuruí com as dificuldades da maioria das cidades brasileiras. Ao mesmo tempo - e o Senador Flexa também foi muito feliz quando afirmou isso -, nós tínhamos uma usina do tamanho de Tucuruí e vários municípios do Pará não recebiam a energia de Tucuruí.

            Vou dar um exemplo, Senador Flexa, pior ainda. Quando colocamos em operação Tucuruí, Cametá não tinha energia, Baião não tinha energia. É possível enxergar Cametá praticamente da Barragem de Tucuruí, no rio Tocantins. Não havia energia nesses Municípios. Vários outros municípios do entorno, até então, não recebiam a energia dessa grande usina brasileira, que é hoje um orgulho do Estado do Pará. Quer dizer, essas diferenças, essa concepção, graças a Deus, está absolutamente ultrapassada. Essas concepções estão ultrapassadas.

            E, aí, quero entrar no assunto de Belo Monte. Foi dito aqui pelo Senador Flexa e eu vejo muitas pessoas falarem de Belo Monte. Primeiro, é importante conhecer a Amazônia, conhecer a realidade, conhecer Altamira, conhecer aqueles municípios da região, conhecer a realidade do povo do Pará, conhecer efetivamente o dia a dia nas aldeias, o dia a dia das etnias indígenas, o dia a dia dos ribeirinhos. É muito importante isso e é fundamental registrar, porque acompanhei isso, Sr. Presidente, de perto. Eu andei nas ombreiras da futura usina de Belo Monte nos idos de 1983, 1984, quando ela ainda se chamava Cararaô. Reservatórios grandes, grandes áreas inundadas, fruto da própria experiência de Tucuruí, Senador Flexa, da experiência de Balbina, da experiência de Samuel, no Estado que V. Exª representa. A sociedade brasileira como um todo e a sociedade amazônida começaram, mais do que nunca, a exigir os seus direitos. Exigir do setor elétrico brasileiro providências para que efetivamente esses projetos não fossem importantes só para o País, como disse muito bem o Senador Flexa - o Pará é um exportador de energia -, mas que esse projetos trouxessem benefícios para as pessoas que lá viviam.

            Foi à luz desses reclamos da sociedade... E, aí, eu quero também falar dessa batalha. Estive com o Senador Flexa, na semana passada, na Comissão de Infraestrutura, presidida pelo Senador Collor, e lá nós falávamos dessas liminares. Liminar era o que mais existia ou o que mais existiu nesses projetos todos. Em Tucuruí então - eu citei lá no dia -, chegou uma liminar para segurar um enchimento do Reservatório. Nós tínhamos fechado o Reservatório de Tucuruí de madrugada e a liminar chegou no dia seguinte. E, aí, é inevitável: não se pode mais destampar aqueles stoplogs, que são peças metálicas que bloqueiam a passagem do rio.

            Mas isso é importante também, quer dizer, a população questionando, o Ministério Público questionando. Isso é democrático. E a democracia brasileira foi construída para que se utilizasse do contraditório, para melhorar os projetos, para melhorar o País, para desenvolver a região amazônica e, mais do nunca, para conferir cidadania às pessoas que lá vivem.

            E eu sou testemunha, Sr. Presidente, e falo com absoluta segurança - como diz o Senador Flexa, sou engenheiro de formação: eu vi o que foi feito ao longo dos anos seguintes para se aperfeiçoar e se qualificar o projeto de Belo Monte. Primeiro, acabaram com Babaquara e ficaram só com Belo Monte. E começaram a trabalhar intensamente, numa nova conceituação, para que Belo Monte gerasse a energia necessária para o País, trouxesse desenvolvimento econômico e social para a região e consolidasse, cada vez mais, a nossa matriz energética, como diz o Senador Flexa, calcada na energia renovável, na energia hídrica.

            E eu me lembro bem, Senador Flexa: primeiro - e isso já acontece no rio Madeira, Senador Acir, no Estado de V. Exª -, as usinas deixaram de constituir grandes barragens, grandes reservatórios, como foi o Reservatório de Tucuruí, por exemplo. É um reservatório de mais de 2.500 quilômetros quadrados. Ou seja, os reservatórios foram encolhendo e aí eles começaram a operar como? É o que a gente chama no setor elétrico, a fio d’água. Lá em Santo Antônio e Jirau é fio d’água. No fluxo do rio é que se gera energia. Não se acumula, não se têm grandes reservatórios, exatamente para evitar os impactos ambientais que esses grandes projetos trouxeram.

         Evidentemente que o fato de se terem usinas a fio d’água exige que haja uma complementação térmica. Por que isso? Quando os rios têm vazão reduzida, alguém tem que agir de tal maneira a complementar essa energia ou, eventualmente, otimizar as velhas usinas que têm grandes reservatórios.

         Mas o esforço foi imenso. As várias soluções adotadas, as soluções de engenharia adotadas para Belo Monte são soluções que, acima de tudo, mitigam os impactos ambientais, trazem menos transtornos à população. Hoje não se pensa mais, Senador Flexa, em se criar uma vila residencial em Belo Monte. Hoje, quem for trabalhar lá, e eu espero que a maioria dos trabalhadores seja de paraenses, devidamente qualificados, porque a qualificação de mão de obra hoje é um grande desafio do Brasil, vai viver ali. São pessoas que vão se integrar àquela sociedade e, evidentemente, com a contrapartida social, que é obrigação dos principais investidores daquela usina.

            Portanto, não tenho dúvida. Uma usina desse tamanho, Senador Flexa, traz transtornos, mas é importante a gente vivenciar esse contraditório, o exercício do contraditório. Lembro-me bem, Sr. Presidente, de que tive oportunidade de receber, em Tucuruí, missões chinesas, Senador Flexa, que preparavam, à época, os primeiros desenhos da usina de Três Gargantas, que será a usina de maior potência instalada no mundo, seguida de Itaipu e de Belo Monte; e provavelmente seguida de Tucuruí, que talvez dispute com alguma usina russa ou alguma usina americana.

            E eu me lembro bem, Senador Flexa, de que convivemos com o Movimento dos Atingidos por Barragens, um desdobramento da Comissão Regional de Atingidos por Barragens, que nasceu lá no Rio Grande do Sul, em Erexim para ser mais preciso, e quando discutíamos os projetos de Itá e de Machadinho, dentro daquela pressão legítima daquelas pessoas que ali viviam. À época, estávamos deslocando 11 mil pessoas na barragem de Itá e perguntamos para essa missão chinesa como eles gerenciavam esse remanejamento das pessoas. Na hora, não entenderam a pergunta. Depois, disseram que não. Eles criavam novas cidades e deslocavam todo mundo.

            Nós avançamos muito, e um exemplo desse avanço, onde os movimentos sociais são ouvidos, as pessoas diretamente atingidas pela barragem são ouvidas, é Belo Monte.

            Então, não vejo Belo Monte do jeito que colocam aí, como se fosse um terror, não. É do processo esse debate.

            O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Permita-me um aparte, Senador Delcídio?

            O SR. DELCÍDIO AMARAL (Bloco/PT - MS) - É do processo essa discussão. Eu não tenho dúvida nenhuma, como o Senador Flexa disse aqui, é fruto de um desenvolvimento extremamente acurado, que custou muito trabalho de muitas pessoas para que nós chegássemos a esse modelo de Belo Monte.

            Senador Flexa, com muita honra.

            O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Senador Delcídio, quero até pedir desculpas por aparteá-lo em um assunto de que V. Exª tem competência para falar pelo tempo que quiser.

            O SR. DELCÍDIO AMARAL (Bloco/PT - MS) - É uma honra para mim, Senador Flexa.

            O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Mas eu queria fazer duas observações até, eu diria, importantes do ponto de vista histórico. O mundo, como eu disse, dá voltas, e a vida traz fatos que ninguém podia esperar. Quando se tentava construir Babaquara e Kararaô, o Presidente da Eletronorte era o Dr. José Antônio Muniz. Lembro-me de que ele foi a uma audiência pública - este é um fato que foi divulgado no mundo inteiro - e levou uma terçadada no rosto, dado por uma índia. Esqueço-me o nome da índia.

            O SR. DELCÍDIO AMARAL (Bloco/PT - MS) - Tuíra.

            O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Tuíra. Ele, até hoje, tem essa foto no gabinete dele.

            O SR. DELCÍDIO AMARAL (Bloco/PT - MS) - Isso mesmo.

            O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Até hoje! Quis Deus que, ao reformular o projeto, o Dr. José Antônio Muniz, que participou lá atrás, há vinte e tantos anos, daquela audiência, estivesse hoje presidindo a Eletrobrás. Tenho certeza absoluta de que ele, como profissional, deve sentir-se hoje recompensado de ver que aquilo que ele defendeu lá atrás pode tornar realidade. Hoje, Senador Delcídio, eu dizia há pouco, quando fui entrevistado - parece que o mundo vai acabar porque Belo Monte foi licitada - eu dizia: hoje, a sociedade evoluiu de tal forma que nenhum empreendimento, seja de que área for, de mineração, de geração de energia, de produção de laminado, qualquer coisa, você não pode mais fazer como se fazia décadas atrás, onde só a variável econômica definia a viabilidade ou não do empreendimento. Hoje você tem que ter a viabilidade econômica, a sustentabilidade ambiental e a inclusão social. Se não atender esses três requisitos, não será feito. Não é preciso que venha gente de fora dizer que é contra. Não precisa. É muito fácil morar em Hollywood, em Nova Iorque, com conforto, com tudo. Gostaria que essas pessoas passassem - não quero que passem semanas, porque não vão agüentar, vão morrer de malária, vão morrer de picadas de inseto, vão sair correndo - eu queria que eles ficassem um dia num casebre na beira de um rio: sem água, sem energia, sem saneamento, sem nada. Eu queria ver o que é que eles iam fazer tendo que tomar banho na água em que os dejetos são lançados; tendo que beber dessa mesma água. Então, isso é vida? É essa vida que nós queremos para os amazônidas? Não. Nós queremos preservar, sim, a nossa região. E ninguém mais do que nós queremos preservar a floresta, queremos preservar as nossas diferenças, mas queremos que os brasileiros que lá vivem tenham condições de vida de forma digna. Isso é possível com ciência, com tecnologia e com investimento. É possível fazer sem agredir o meio ambiente. E, complementando, eu disse isso lá na Comissão de Infraestrutura, eu me lembro como se fosse hoje. Eu me lembro como se fosse hoje: quando foram fechar as comportas de Tucuruí, para que o lago enchesse, o Pará inteiro entrou em clima de terror, principalmente Belém, porque diziam que, ao se fecharem as comportas de Tucuruí, iriam salinizar as águas do rio, inclusive as águas que abasteciam Belém. Por quê? Porque o oceano iria avançar e, com isso, nós não teríamos água potável, que é uma condição inerente à própria vida. Fecharam-se as comportas e não aconteceu nada. E uma das liminares era em função disso. Não queriam deixar porque ia salinizar. Está lá. Houve erro em Tucuruí? Houve. Ocorreram vários erros. Vários erros. Até hoje, até hoje, a população sofre por causa de Tucuruí. Mas tenho certeza absoluta, Senador Delcídio, de que nós vamos, como eu disse, acompanhar Belo Monte. E vamos cobrar todas as ações que estão incluídas no processo licitatório e outras que possam vir a ser necessárias, para que o povo de Altamira, o povo de Vitória do Xingu, que está hoje de parabéns... A maioria do povo é a favor. As minorias que são atuantes, que verbalizam, essas é que metem medo, porque a maioria silencia em vez de se colocar de forma adequada. Não vamos aceitar por aceitar. Vamos aceitar dentro de certas regras, como disse o Senador Delcídio. Vai afetar algo? Vai, mas vamos fazer ações mitigadoras que equilibrem o que for afetado. Então, Senador Delcídio, eu acho que hoje é um dia importante para o Brasil, porque nós vamos mostrar ao povo brasileiro, daqui a 4, 5, 6, 7 anos, quando estiver pronto, nós vamos mostrar que Belo Monte não trouxe nada catastrófico, como Tucuruí não salinizou as águas que abasteciam Belém. E mais: nós temos que fazer, acima de Itaituba, no rio Tapajós, São Luiz do Tapajós. Essa será a segunda maior hidrelétrica do mundo. Só vai perder lá para os chineses. Vai passar Itaipu e vai passar Belo Monte, fora os outros potenciais levantados pela Eletronorte. Então, quero parabenizá-lo. Sei que V. Exª lutou pela causa, não de hoje, como disse aqui, mas visitando, lá nos idos de 80, a área onde iria ser construída a barragem. Sei que V. Exª é paraense de coração. Sei que V. Exª defende o seu Estado, Mato Grosso do Sul, mas não deixa de defender os interesses do Pará, quando solicitado pela nossa Bancada. Parabéns a V. Exª.

            O SR. PRESIDENTE (Acir Gurgacz. PDT - RO) - Se me permite, Senador Delcídio Amaral.

            O SR. DELCÍDIO AMARAL (Bloco/PT - MS) - Claro, Presidente!

            O SR. PRESIDENTE (Acir Gurgacz. PDT - RO) - A campanha internacional contra o desenvolvimento da Amazônia é muito forte. Talvez seja o medo que alguns países desenvolvidos têm, Senador Flexa Ribeiro, do potencial de riquezas que nós temos na Amazônia, seja no Pará, seja em Rondônia, Roraima, Amazonas, Mato Grosso. Mas nós sabemos do potencial que nós temos na nossa Amazônia, potencial de riquezas variadas. E o desenvolvimento bate à porta da Amazônia. E nós precisamos dar prosseguimento a essa história, até por que nós estamos lá, nós queremos viver da Amazônia, preservando as nossas florestas, mas sabemos hoje da preocupação que temos de ter com as nossas florestas. Mas não podemos deixar de desenvolver a nossa Amazônia, fazer com que ela possa contribuir muito para o desenvolvimento do Brasil também. Meus cumprimentos pelas suas colocações. E essa notícia importantíssima que eu ainda não estava sabendo, de que foi possível fazer esse leilão que todos esperavam. O Brasil inteiro esperava, principalmente nós da região amazônica, assim como também aconteceu em Rondônia com a Santo Antônio e Jirau, que está trazendo um desenvolvimento grande para o Estado, principalmente para Porto Velho, com as questões sociais. E esperamos que essas compensações aconteçam. Vamos ter que rever realmente esses royalties da produção de energia, para que a região que está recebendo essa obra também receba os benefícios que são gerados por obras importantes como essas. Então, é um momento importante para o nosso País o dia de hoje.

            O SR. DELCÍDIO AMARAL (Bloco/PT - MS) - Muito obrigado, Presidente. Concordo em gênero, número e grau com as observações de V. Exª.

            Queria também só fazer um registro ao Senador Flexa: foi com o próprio José Antônio, meu caro Senador Flexa, que fui pela primeira vez ao sítio de Belo Monte. Fui com José Antônio, não só visitando o futuro sítio de Belo Monte, mas também correndo o traçado da linha que propiciou a alimentação daqueles Municípios, como Santarém, Altamira, Itaituba, com a energia de Tucuruí.

            Aquele traçado da linha nós andamos a pé pela Transamazônica, pegando aquele traçado todo e imaginando naquela época, Senador Flexa... Hoje V. Exª citou tantos projetos importantes na Amazônia. V. Exª não pode acreditar - e o José Antônio sempre foi um grande planejador: quando falávamos isso no setor elétrico, todo o mundo achava que estávamos viajando na maionese, e hoje está aí a realidade.

            Quem é que poderia imaginar Belo Monte, as linhas chegando?

            Outro detalhe importante: Belo Monte está muito mais próximo do sistema interligado brasileiro, porque as linhas estão passando ali em Tucuruí e se interligam com Imperatriz; depois se interligam com a Norte/Sul e se interligam com o sistema brasileiro.

            É importante destacar também, aproveitando a oportunidade de a gente falar sobre essa vitória do Pará e a vitória do Brasil, num momento, Senador Flexa, que até a discussão daqueles grandes projetos desenvolvidos no Pará e no Maranhão - a Alumar, a Albrás - voltou novamente à tona. É a velha história: o discurso, a energia em pacotinho e não sei o quê... Pensei que isso já tinha sumido do mapa, porque, na nossa época - 1983, 1984 -, isso fervia. Voltou tudo, tamanha a semelhança com o que enfrentamos lá atrás, na implementação do projeto de Tucuruí.

            Hoje também vemos - e o Senador Flexa registrou aqui - que fizemos um leilão a R$77,00 o megawatt/hora, uma energia extremamente competitiva. E a turma vinha naquela conversa também, para desqualificar, como sempre, que o custo era muito elevado, que Belo Monte era inviável. E aí os discursos são os mais estapafúrdios possíveis. É bonito falar - o Senador Flexa foi muito mais enfático -, é muito bacana falar que nós temos de colocar energia eólica, que precisamos colocar energia solar, porque a insolação do nosso País é extraordinária, mas a que custo?

Quanto vai custar? Qual é o efeito de escala dessas energias? Daqui a alguns anos, nós vamos chegar lá, mas discurso fácil é só para puxar aplauso. A realidade é muito diferente.

            E nós não podemos perder a expertise e o conhecimento que foi desenvolvido, principalmente no que se refere a Belo Monte. Belo Monte é o resultado de uma larga experiência, como disse o Senador Flexa, de acertos - e penso que mais de acertos - e de erros também. Belo Monte considerou, mostrando que representa um grande processo de evolução, principalmente no que tange a barragens na Amazônia, como está sendo Santo Antônio e como está sendo Jirau também. Samuel, eu me lembro, era um banheirão. O que tinha de dique era uma barbaridade. Hoje não. Hoje é o rio Madeira. Lá no Xingu, boa parte do reservatório é a calha do rio, em um lugar chamado Volta Grande do Xingu. Ali, quando vêm aqueles períodos de grande hidrologia do Xingu ao longo do ano, a água se espraia. E é exatamente dentro dessa área que se procurou projetar a futura usina de Belo Monte.

            Eu não tenho dúvida, Senador Flexa, de que o Brasil entenderá isto; os brasileiros e as brasileiras entenderão isto, que a decisão foi acertada. Inegavelmente! E isso a pouco mais do que R$77,00 por megawatt/hora. Portanto, uma energia extremamente competitiva para os tempos atuais, e renovável também.

            Então, eu vejo esse processo todo, esse embate sobre Belo Monte, de uma forma muito saudável, porque nós já passamos por isso. O Senador Flexa e eu já vimos o que aconteceu lá atrás. Nós vimos o que aconteceu lá em Samuel, nós vimos o que aconteceu em Balbina, lá no Amazonas, e nós vimos também como um projeto desse traz em seu bojo uma série de atividades econômicas associadas: turismo, pesca, extração de madeira.

            V. Exª sabe como é que lá, no Pará, começaram a explorar comercialmente a madeira do reservatório? Descobriram que o que ficava fora d’água apodrecia e que a madeira que ficava dentro d’água ficava boa. Aí alguém bolou uma serra a ar comprimido. Ele mergulhava - não me lembro mais o nome -, ia no fundo, cortava a árvore, juntava aqueles troncos todos, porque eles subiam, e aí puxavam e exploravam comercialmente. Não estou dizendo que isso já tinha sido previsto, isso foi mais um ensinamento.

            E junto com Tucuruí, vêm as eclusas, que era uma coisa desprezada - o Senador Flexa tem batido muito nisso. Daqui a pouco eu tenho navegabilidade chegando até Belém e entrando pelo Brasil central, porque ali é o Tocantins, ali é o Araguaia e toda aquela bacia hidrográfica.

            Então, houve um avanço sensível, mas, lamentavelmente - não vou generalizar -, alguns comentários dos ditos intelectuais - vira e mexe eles aparecem - são do tipo: “Não li e não gostei”.

            É o que o Senador Flexa disse: é bom fazer uma visita ao Pará. O povo paraense é um povo hospitaleiro, é um povo querido, mas é bom visitar o interior do Pará, verificar in loco as dificuldades, o quanto aquele Estado pode crescer, pode se desenvolver.

            Hoje a gente vê mais uma vitória: a vitória de Belo Monte.

            Para concluir, respondo a uma preocupação completamente pertinente do Senador Flexa com relação à Eletronorte, que atende o Estado de V. Exª, que é Rondônia, que atende o Pará, o Maranhão, Tocantins, o Amapá, Roraima, o Amazonas, o Acre.

            Senador Flexa, sou oriundo da Eletronorte, fui criado na Eletronorte. Por isso, senti o fato de a Eletronorte não ter participado do consórcio. Eu ainda não compreendi o porquê disso. Então, acho que essa iniciativa do Senador Flexa é muito importante, porque vamos descobrir por que a Eletronorte não entrou. Agora, pelo menos, ela vai operar e manter o complexo de Belo Monte.

            Que me desculpem as outras concessionárias regionais do sistema Eletrobrás, mas ninguém conhece mais a Amazônia do que a Eletronorte. A Eletronorte, sim, conhece a Amazônia em profundidade. Através de seus técnicos, de seus engenheiros, de todo time que foi formado ao longo desses anos todos, a Eletronorte conhece a realidade da Amazônia e sabe a responsabilidade de se operar uma usina do tamanho de Belo Monte.

            Na Eletronorte, Senador Flexa, fomos os primeiros a colocar uma usina em operação digitalizada: Tucuruí. À época, era interessante: a memória das remotas, que comandavam automaticamente a usina, era de ferrite, não era memória estática. Hoje, se um chefe do despacho de carga em Belém quiser comandar uma turbina de Tucuruí, ele faz. Foi a primeira usina que usou fibra ótica, que depois virou essa moda toda nos sistemas de transmissão. Então, foi uma tremenda inovação.

            Nós temos, mais do que nunca, que trazer a Eletronorte para o projeto, porque ela tem muita vivência - de acertos e de erros, como disse o Senador Flexa. Todo esse aprendizado, sem dúvida nenhuma, vai ajudar não só o Pará, mas vai ajudar o Brasil.

            Portanto, Sr. Presidente, eu acho que nós hoje vencemos mais um desafio. Belo Monte é essencial para o suprimento de energia no Brasil. Está prevista a entrada em operação da primeira unidade de Belo Monte para 2015, num momento crucial. É uma usina que, interligada ao sistema brasileiro, vai propiciar uma otimização extraordinária sob o ponto de vista de energia e especialmente de hidroeletricidade.

            Portanto, mais do que nunca, quero parabenizar todos aqueles que trabalharam ao longo desses anos, porque foi um trabalho longo. Belo Monte passou por vários governos, e é preciso reconhecer esse fato. A gente tem de analisar essas questões com isenção e espírito público, entendendo o que Belo Monte representa para o Brasil. É uma usina que foi pensada durante muitos e muitos anos e, hoje, graças a Deus, foi implementada. É um vitória dos governos, que trabalharam intensamente nesse projeto; é uma vitória dos técnicos do setor elétrico brasileiro, da Eletrobrás e de suas subsidiárias especialmente; mas, acima de tudo, é uma vitória do povo do Pará.

            Muito obrigado, Sr. Presidente, pela oportunidade. Obrigado, Senador Flexa. É uma alegria muito grande ver um projeto que eu vi no greenfield, começando do zero, hoje se tornar, nos nossos corações e mentes, um projeto real, concreto e que vai ajudar o Brasil a construir um futuro cada vez melhor para seus filhos.

            Muito obrigado.


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