Discurso durante a 56ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Registro do transcurso do centenário da Comissão Rondon. Defesa da transferência para Rondônia dos acervos da "Comissão Rondon" e do "Museu do Índio", localizados no Rio de Janeiro.

Autor
Acir Gurgacz (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RO)
Nome completo: Acir Marcos Gurgacz
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA CULTURAL.:
  • Registro do transcurso do centenário da Comissão Rondon. Defesa da transferência para Rondônia dos acervos da "Comissão Rondon" e do "Museu do Índio", localizados no Rio de Janeiro.
Publicação
Publicação no DSF de 23/04/2010 - Página 15968
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA CULTURAL.
Indexação
  • HOMENAGEM, CINQUENTENARIO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), ELOGIO, PROCESSO, CONSOLIDAÇÃO, DEMOCRACIA, BRASIL.
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, COMISSÃO, CANDIDO MARIANO DA SILVA RONDON, GENERAL DE EXERCITO, REGISTRO, HISTORIA, EXTENSÃO, SERVIÇO, TELEGRAFIA, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), ESTADO DE MATO GROSSO (MT), REGIÃO AMAZONICA, LEITURA, TRECHO, LIVRO, CONFERENCIA, SUPERIORIDADE, CONTRIBUIÇÃO, INTEGRAÇÃO, ESTADO DE RONDONIA (RO), TERRITORIO NACIONAL.
  • IMPORTANCIA, EXTENSÃO, HOMENAGEM, AFONSO PENA, GETULIO VARGAS, JUSCELINO KUBITSCHEK, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, INICIATIVA, COMISSÃO, APOIO, COLONIZAÇÃO, ESTADO DE RONDONIA (RO).
  • IMPORTANCIA, FUNÇÃO, TELEGRAFIA, FORMAÇÃO, CIDADE, ESTADO DE RONDONIA (RO), REGISTRO, HISTORIA, PERIODO, INSTALAÇÃO, RECEBIMENTO, CRITICA, MOTIVO, CUSTO, PERSEGUIÇÃO, NATUREZA POLITICA, CANDIDO MARIANO DA SILVA RONDON, GENERAL DE EXERCITO, ESTADO NOVO, EXERCICIO, CHEFIA, SERVIÇO DE PROTEÇÃO AO INDIO (SPI), EVOLUÇÃO, POLITICA INDIGENISTA.
  • DEFESA, TRANSFERENCIA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ESTADO DE RONDONIA (RO), DOCUMENTAÇÃO, PATRIMONIO HISTORICO, ACERVO DOCUMENTAL, COMISSÃO, MUSEU, INDIO, EXPECTATIVA, INTERESSE, UNIVERSIDADE FEDERAL, APRESENTAÇÃO, DISPONIBILIDADE, ORADOR, AUXILIO, EFETIVAÇÃO, PROPOSTA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ACIR GURGACZ (PDT - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, 2010, um ano marcado pelo cinquentenário de Brasília, testemunha um processo de consolidação da democracia brasileira. Saúdo Brasília pela passagem dessa data, pela sua importância e por seu valor histórico.

            Aproveito aqui o momento e a oportunidade para fazer o resgate de uma data que passou praticamente despercebida pelo País. Essa data, Srªs e Srs. Senadores, foi o centenário da Comissão Rondon. Conforme publicada no jornal Alto Madeira, na edição de 19 de janeiro de 2010, numa série de artigos do Professor Abnael Machado de Lima, com o título “Cem anos da Comissão Rondon no espaço geográfico atualmente limitado pelo Estado de Rondônia”, a Comissão Rondon teve início em 31 de dezembro de 1909, quando, até então, o General Rondon havia construído linhas telegráficas do Triângulo Mineiro até Cuiabá, inicialmente como auxiliar do General Carneiro.

            Depois desse projeto de linha telegráfica, Rondon assumiu o lugar do General Carneiro, enfrentando inúmeros percalços para levar a linha telegráfica do Uruguai até Cuiabá. Com recursos limitados, Rondon enfrentava o lombo de burro como meio de transporte. De Cuiabá, foi levada a linha telegráfica até Corumbá, no Mato Grosso, cumprindo assim Rondon uma etapa do programa.

            O General voltou ao Rio de Janeiro para repousar, mas sua mente fervilhava de novos projetos. Nessa época, foi convidado pelo então Ministro da Agricultura, Lauro Müller, para construir o Porto de Corumbá, fato narrado por Rondon na obra de Esther de Viveiros denominada “Rondon conta sua vida”, que cita:

Quando me recolhi ao Rio de Janeiro, já encontrei a notícia de que seria eu encarregado de uma comissão ainda mais difícil. Desde 1892, vinha Francisco Behring clamando pela extensão das linhas telegráficas ao vale amazônico, como de vital importância.

            Com o apoio do Presidente Afonso Pena, a linha telegráfica foi concluída de Porto Velho a Cuiabá pela comissão que ele criou e denominou Comissão Rondon.

            É preciso destacar que a Comissão Rondon foi uma obra criada pelo Presidente Afonso Pena e executada pelo General Rondon com sacrifício e muito sofrimento. Rondon, como executor da obra, foi merecidamente muito homenageado e lembrado; e Afonso Pena, totalmente esquecido.

            Sr. Presidente, a homenagem feita por Rondon e as lembranças devem ser estendidas ao Presidente Afonso Pena, que neste momento também homenageio. É preciso destacar e situar, no tempo em que a Comissão Rondon foi criada, a visão de estadista do grande mineiro Afonso Pena, que concebeu o esforço pela integração do País. Precisamos homenagear também um grande projeto incentivado pelo Governo Vargas por meio da meta denominada “Marcha para o Oeste”, que foi a Expedição Roncador-Xingu. A operação foi executada pelo então Ministro João Alberto Lins de Barros, através da Fundação Brasil Central.

            A expedição chefiada pelo Ministro passou a integrar os irmãos Villas Boas, Orlando e Cláudio, que fizeram um grande trabalho de pacificação indígena, principalmente dos índios xavantes.

            Essa expedição está bem relatada pelo sertanista Orlando Villas Boas, no livro Marcha para o Oeste, no qual descreve o trabalho de penetração na região do Xingu pelo rio Kuluene, e pelo ex-expedicionário Acary de Passos Oliveira no livro Roncador-Xingu: roteiro de uma expedição.

            Nessa história da “Marcha para o oeste” também se insere a construção de Goiânia, que foi muito apoiada pelo Presidente Getúlio Vargas, prestigiando o seu companheiro da Revolução de 30, Pedro Ludovico Teixeira, que fez um grande trabalho em Goiás, transformando e tirando Goiás do grande atraso em que vivia.

            Em Rondônia deveria haver monumentos homenageando todos os grandes brasileiros que apoiaram a colonização da região: Afonso Pena, Rondon, Getúlio Vargas e, mais recentemente, o Presidente Juscelino Kubitschek, que construiu a rodovia Brasília-Acre, a antiga BR-29, que beneficiou Rondônia de Vilhena a Abunã, com mais mil quilômetros de extensão.

            De grande importância foi também, na época, a linha telegráfica, que beneficiou a região do Guaporé. Rondon defendia as obras da linha telegráfica que sempre eram atacadas pela oposição e a imprensa do Rio de Janeiro, que bradava contra as despesas elevadas da iniciativa. Rondon, nacionalista e desenvolvimentista, pregava que a linha levaria à região, bruta e selvagem, progresso, desenvolvimento e povoamento.

            Visionário, Rondon previu que, em torno de cada estação telegráfica, surgiriam cidades. Foram os casos de Ji-Paraná, Vilhena, Pimenta Bueno, Jaru, Ariquemes. Exatamente por isso que considero que a Comissão Rondon é a certidão de nascimento do meu Estado de Rondônia.

            Havia setores no Rio de Janeiro que não acreditavam na epopéia da Comissão Rondon. Foi preciso que o General Rondon se deslocasse, fazendo conferências para divulgar o trabalho da comissão. Isso foi em 1910. Leio parte do texto:

As conferências de 1910 foram um ensaio para a elaboradíssima série de conferências proferidas por Rondon no Rio de Janeiro em 1915. Retornando à capital após a inauguração da linha tronco de Cuiabá ao rio Madeira, durante uma semana, Rondon falou para multidões, que o ouviram em pé no Teatro Fênix. A razão oficial para o evento foi a homenagem da Sociedade Geográfica do Rio de Janeiro a Rondon. O Jornal do Commércio de 6 de outubro de 1915 descreveu como deslumbrante as festividades da noite de abertura.

Os poderosos do Rio de Janeiro compareceram em massa. O presidente e o vice-presidente da República, importantes generais, o prefeito do Rio de Janeiro, senadores e deputados, vários embaixadores, entre eles o dos Estados Unidos, assistiram às três conferências. Foi-lhes apresentado um espetáculo multimídia ilustrando as palavras de Rondon com uma longa exibição de slides e um documentário filmado pela comissão.

            O discurso de Rondon, Srªs e Srs. Senadores, foi reavivado depois pela própria história nos anos 70/80 do século passado, quando o Estado brasileiro estimulou o cultivo de pastagens, criação de animais e aumento da produção agrícola. Rondon diria, na sua época, que eram esses “atrativos aos novos colonos que se dedicassem a desenvolver o sertão, para que o noroeste brasileiro logo estivesse repleto de lavouras, fazendas de gado e outros centros dedicados à extração de recursos florestais”.

            Em parte anterior dessa conferência, Rondon citara nada menos do que a autoridade de Theodore Roosevelt, que, segundo ele, enaltecera as belezas naturais ao longo da linha telegráfica e, perspicaz como era, comentara satisfeito que a indústria humana moldaria aquela, deixando os brasileiros em condições de beneficiarem-se das facilidades proporcionadas por aquelas terras férteis, pelas comunicações fluviais e pelo uso da quase ilimitada força hidráulica, capaz de mover inúmeras fábricas e ferrovias elétricas.

            Essas são palavras de Theodore Roosevelt, que, vistas hoje, não perderam em nada a atualidade.

            Essas conferências no Rio de janeiro e São Paulo, vendo a linha telegráfica sendo concluída, foram o apogeu de Rondon. E houve centenas de homenagens a partir da Câmara Municipal de Santo Antônio no Rio Madeira, que outorgou a Rondon uma medalha de ouro comemorativa da conclusão dos trabalhos da linha telegráfica.

            Sendo Rondon oficial legalista, não aderiu ao movimento de 1930, que derrubou o Presidente Washington Luiz. Esse movimento prendeu o General Rondon e cogitou a extinção da Comissão Rondon, sob fortes argumentos contra a linha telegráfica. A crítica era contra a relação custo-benefício da linha, com alegações de que seu uso não compensaria seu preço.

            Srªs e Srs. Senadores, o grande trabalho da linha era o intenso desbravamento da região, levando a civilização para uma região isolada e totalmente esquecida, desintegrada do restante do País. É bem verdade que os avanços tecnológicos viriam a tornar obsoleto o sistema de telegrafia com cabo. Foi inevitável que a linha fosse abandonada, seu pessoal esquecido na mata, passando fome e não recebendo os seus salários.

            Rondon, perseguido pela Revolução de 30, foi ser chefe do SPI (Serviço de Proteção dos Índios), mas a semente do desenvolvimento da região com a linha telegráfica estava lançada.

            As obras da “Comissão Rondon” e o seu grande trabalho nunca foram divulgados em Porto Velho. Os acervos da “Comissão Rondon” encontram-se na Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. Ninguém em Rondônia tem acesso a essa obra, ou seja, ninguém de Rondônia procura a Casa de Rui Barbosa no Rio de Janeiro para pesquisa, e ninguém da Casa de Rui Barbosa vai a Porto Velho. Trata-se de uma falta de divulgação completa, caberia aos órgãos culturais de Rondônia solicitar as transferências desses acervos para o Estado de Rondônia. Do jeito que está, o acervo vai se deteriorar com o tempo e com a falta de interesse dos responsáveis pela obra de Rondon, relegando-a ao total abandono. Igualmente, o Museu do Índio, localizado também no Rio, deveria ser transferido para Rondônia. É uma medida, Sr. Presidente, à qual os órgãos culturais do Estado deveriam dedicar-se. Na medida do possível, dada a importância dessas ações, coloco-me à disposição das partes interessadas no meu Estado para podermos transferir esse acervo de Rondon que, para nós, rondonienses, tem uma importância muito grande.

            Entendo que a Universidade Federal de Rondônia, a Unir, deveria se interessar para transferir esse acervo do Rio de Janeiro para Porto Velho, e também o professor Abnael Machado de Lima, que muito se interessa pela obra de Rondon, para trabalhar pela transferência do acervo de Rondon da Casa de Rui Barbosa e do Museu do Índio do Rio.

            Por todos esses motivos, Srªs e Srs. Senadores, amigos que nos acompanham pela TV Senado e povo de Rondônia que me acompanha, neste exato momento, de suas casas em Porto Velho, Vilhena, Pimenta Bueno e tantas outras cidades rondonienses, assumo o compromisso de colocar-me à disposição - e também a esta Casa - para que seja possível essa transferência, e que ela se efetive em benefício do nosso Estado e da nossa juventude.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, era o que tinha para o momento.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/04/2010 - Página 15968