Discurso durante a 57ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexões acerca da atuação dos políticos brasileiros. Elogios ao programa exibido pelo SBT, na noite da última quinta-feira, dia 22, intitulado "Conexão Repórter", que mostrou a situação das crianças que vivem de esmolas nos semáforos na capital paulista.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL.:
  • Reflexões acerca da atuação dos políticos brasileiros. Elogios ao programa exibido pelo SBT, na noite da última quinta-feira, dia 22, intitulado "Conexão Repórter", que mostrou a situação das crianças que vivem de esmolas nos semáforos na capital paulista.
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 24/04/2010 - Página 16010
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • MANIFESTAÇÃO, FRUSTRAÇÃO, SITUAÇÃO, POLITICO, BRASIL, AUSENCIA, PROJETO, FUTURO.
  • ELOGIO, NOTICIARIO, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DENUNCIA, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, SUPERIORIDADE, NUMERO, CRIANÇA CARENTE, ABANDONO, CAPITAL DE ESTADO, MANIFESTAÇÃO, FRUSTRAÇÃO, PARALISAÇÃO, CAMARA DOS DEPUTADOS, PROJETO, APROVAÇÃO, SENADO, CRIAÇÃO, SECRETARIA, PROTEÇÃO, MENOR, SEMELHANÇA, EXPERIENCIA, GOVERNO, ORADOR, GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF), EXPECTATIVA, EMPENHO, GOVERNADOR, DISTRITO FEDERAL (DF), ASSISTENCIA, REDE ESCOLAR, NECESSIDADE, CONSCIENTIZAÇÃO, CLASSE POLITICA, IMPORTANCIA, INFANCIA, GARANTIA, MELHORIA, FUTURO, BRASIL.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Pedro Simon, quero, em primeiro lugar, dizer da minha honra de estar aqui falando sob sua presidência. Sob a presidência do Senador Mão Santa eu já estive muitas vezes, mas sob a sua presidência é a primeira vez. Fico muito feliz que o senhor possa dedicar esse tempo enquanto faço a minha fala, que não deve ser longa.

            Quero começar, Senador Pedro Simon, voltando um pouco ao que o senhor falou, para depois entrar exatamente no tema de que vim tratar aqui, pois ambos têm a ver, apesar de serem coisas bem diferentes. Essa ideia, graças ao seu discurso, pelo que a gente percebe, é que há maneiras diferentes como olhamos o futuro do nosso País. Há maneiras diferentes de mirar.

            Talvez essa ideia que o senhor colocou, de biruta de aeroporto, aquele equipamento que vai para aonde o vento sopra, talvez essa coisa da biruta seja a falta de princípios, que caracteriza tanto a maneira como a gente faz política. A gente faz política olhando o poder, em vez de olhar aonde quer chegar, da mesma maneira que a biruta do aeroporto olha para aonde vai o vento, não para onde ela, a biruta, quer olhar.

            Nós não estamos mais, hoje, no Brasil, e talvez até em muitas partes do mundo, Senador Mão Santa, olhando para onde a gente quer ir com base em princípios, mas apenas olhando como é que a gente quer ficar no poder. Aí parece uma biruta, mas não é uma biruta de aeroporto. Esse pessoal sabe exatamente o que quer: ficar no poder, independentemente de para aonde vamos levar o País.

            Acabaram-se os líderes, ficaram os políticos. E os políticos, sim, quando não são líderes, raciocinam apenas sobre como fazer para manterem-se no poder. Para manterem-se no poder, mudam de lado do ponto de vista dos seus princípios. E é isso que está fazendo difícil o debate entre algumas decisões que temos de tomar, como essa de Belo Monte, porque, se a gente olha apenas para continuar no rumo, não tenha dúvida, tem é que fazer dez Belo Montes, tem é que pegar o dinheiro todo que os aposentados colocam nos fundos, tirar todo ele e jogá-lo para fazer hidrelétricas, e depois se vê como pagar aos aposentados quando os fundos quebrarem.

            Há risco de quebra de fundo quando não se faz investimento certo. Não estou nem dizendo que Belo Monte é um investimento equivocado; digo que é um investimento que não se tem tanta certeza, senão, como V. Exª disse, Senador Pedro Simon, as empresas não teriam fugido, na última hora, para não fazer parte do consórcio que construiria a represa e que iria ser financiada com base nos ganhos futuros da venda dos quilowatts. Não é o Governo que vai pagar às empreiteiras com dinheiro pela construção. Elas iam ser sócias do empreendimento. Fugiram. Significa que não há tanta certeza da rentabilidade. Por isso, os que vão receber aposentadorias desses fundos não vão, hoje, ter tanta certeza de que terão esse dinheiro.

            Nós estamos olhando como birutas de aeroporto, prisioneiros apenas do poder, e não submetidos a um imã que nos atraia, que seria um futuro de um Brasil melhor.

            Temos que substituir a biruta do aeroporto, de ficar no poder, pelo imã do futuro do Brasil a que queremos chegar. E aí, outra vez, vêm as divergências e as maneiras diferentes de olharmos os problemas. Queremos chegar a um País com um PIB altíssimo ou queremos chegar a um País com um povo feliz? Um povo feliz precisa de um PIB, mas às vezes não é o aumento do PIB, às vezes é o aumento da cultura, às vezes é a melhoria do meio ambiente, às vezes é mais a garantia do emprego do que até mesmo o salário que esse emprego vai dar.

            Nós não estamos querendo discutir qual é a quantidade de coisas de que precisa um povo para ter um grau de felicidade que o faça estar bem. Onde há renda, onde há produção, onde há consumo, é um dos itens, e a prova disso... Há um artigo na Veja desta semana que diz que, quando se pergunta se o povo é feliz, os países que têm menos sentimento de felicidade são os países ricos. Alguns países pobres, por incrível que pareça, sentem-se felizes. Por quê? Porque talvez nem saibam o que teriam a perder pelo fato de não terem o crescimento econômico.

            Nós estamos olhando como birutas de aeroporto, não como atraídos como agulha de imã. Nós deveríamos ser agulhas de imã, onde o Polo Norte seria o futuro desejado, e a gente apontar para ali. Aí, às vezes, na política, isso leva a perder cargos, a não ser eleito; leva, inclusive, a não ter legenda para se candidatar. Quem quer ser agulha de um imã apontando um determinado futuro às vezes nem legenda tem, Senador Mão Santa. Agora, quem é biruta, pensando apenas no poder, se adapta e consegue tudo isso.

            Mas toda essa fala, com base no que o senhor falou, é para entrar no tema que eu queria tocar aqui, de um programa que eu assisti, ontem, no SBT, chamado Conexão Repórter, que foi um dos programas, Senador Mão Santa, que mais me emocionaram. O programa me emocionou mesmo, de não ser estranho que as pessoas que assistissem ao longo do Brasil tenham chorado. Um programa sobre o que eles chamam de “meninos do farol”, sobre os meninos que, em São Paulo, ficam nos semáforos, sinais de trânsito, pedindo esmola.

            Eu fiquei profundamente tocado pela competência dos que fizeram aquele programa para passar uma emoção muito forte ao ver aqueles meninos e meninas pedindo esmola nos semáforos de São Paulo.

            Agora, aonde quero chegar? O que isso tem a ver com o que o senhor falou? O que tem a ver com essa maneira diferente de olhar? É que o mesmo número, dois mil, de meninos, que é o que eles calculam só na cidade de São Paulo, pode ser olhado de uma maneira ou de outra.

            Do ponto de vista ético, dois mil é um número assombroso. Do ponto de vista financeiro, para resolver, é um número pequeno. É isso que significa olhar de maneiras diferentes.

            Se eu olho eticamente, eu fico assombrado que uma cidade com a riqueza de São Paulo tenha dois mil meninos e meninas nas paradas de automóveis pedindo esmola, muitos cheirando cola. É um número imenso. Se fosse um único, já seria um crime que existisse isso, um crime social, não um crime de quem está dentro do carro e não dá esmola - não é aquele o culpado -, mas um crime de todos nós, sobretudo, nós, políticos. Seria um crime imenso se tivesse apenas um; e são dois mil. Do ponto de vista de querer resolver, dois mil não é nada. Fizessem como fez o Governo do Distrito Federal, no período de 1995 a 1998, e conseguiu acabar com esse problema. O que se fez aqui? Primeiro, é preciso ter alguém no Governo encarregado de olhar para essas crianças diariamente. E nós tivemos. Criamos uma Secretaria da Criança - o que aqui a gente não consegue criar, embora o Senado já tenha aprovado, está na Câmara, a criação de uma secretaria para a proteção da criança e do adolescente junto ao Presidente. Saiba o senhor que temos Secretaria da Juventude, temos Secretaria das Mulheres, temos Secretaria dos Negros, mas não temos uma secretaria das crianças. Não temos. Junto ao Presidente da República não há ninguém para se preocupar com a criança. Tem um Ministro para cuidar da educação, tem um para cuidar da saúde, tem um até para cuidar dos direitos humanos de todos, mas, da criança mesmo, não tem, salvo as crianças indígenas, que tem a Funai. Primeiro, criamos uma Secretaria, depois fazemos uma pesquisa: onde estão essas crianças? O SBT a fez - nem é preciso o Governo fazê-la novamente - e colocamos o nome dessas crianças no computador do Governador, que era eu, e ali, uma vez por semana ou, às vezes, mais de uma vez, eu me reunia com o Secretário e acompanhávamos uma por uma as crianças, e fomos atrás. O que fazíamos para tirá-las dali? Quase todas essas crianças têm pais e mães, quase todas, sobretudo mães - pais nem sempre; pais, eu diria, até raramente, porque eles abandonam as famílias. Então, íamos às famílias e dizíamos: “O senhor vai ter um salário-mínimo, mas essa criança vai ter de voltar para a escola. Não vai poder ficar em uma parada de ônibus; não vai poder ficar pedindo esmola”. Raras as mães que não aceitaram isso.

            Agora, aqui e ali havia crianças que não aceitavam, porque elas diziam que eram maltratadas pelos pais. Aí a gente procurava um tio, ou não procurava um tio, se não tivesse, mas procurava uma mãe de família que já tivesse filhos, e a dizíamos: “Nós vamos lhe dar uma bolsa-escola, um salário-mínimo, vamos lhe pagar, na condição de que essa criança não fique na rua”.

            Essas duas coisas e uma escola boa resolveram o problema. Ir atrás da criança, encontrar quem cuide dela, pagando, e fazer com que a escola seja atrativa. Bastou isso. Não se conseguiu resolver com as crianças com mais de 16 anos, porque estas já têm uma vontade própria, já não é fácil querer receber uma criança de 16 anos para cima e, além disso, tentamos encontrar um lugar para colocá-las, e o Juizado de Menores proibiu, dizendo que o Governador não tem, creio que o nome era pater poder, não tem o poder de tirar uma criança da rua, que a criança é livre para ficar na rua. Isso é um absurdo de se dizer, porque os filhos das camadas médias e altas não têm liberdade de ficar na rua, o pai não deixa, o pai não deixa. Por que o Governador, o Prefeito deixa as crianças, que não são seus filhos diretos, mas são filhos, sim, ou sobrinhos, todos que estiverem na cidade são sobrinhos do Prefeito... Lembro-me do que eu disse ao juiz, ao lhe perguntar: “E se for feito isso? Tirar esses jovens, de 16 anos, 17 anos, da rua e os colocar num lugar em que o senhor vai fiscalizar, que todo mundo vai ver?” Ele disse: “O senhor pode até ser preso”. Lembro-me que eu disse: “O senhor devia me prender porque já faz dois anos que eu sou Governador e ainda não os tirei da rua”.

            O dia que o senhor prender um Governador por que tem crianças na rua, prender um Prefeito por que tem crianças na rua, isso vai resolver os problemas dessas crianças no Brasil inteiro! Mas, tirando essas de 16 anos, as outras a gente conseguiu tirar, porque o número 2000 - e aqui não chegava a 2000, obviamente - é muito do ponto de vista da desmoralização ética de um povo que tolera esse abandono; mas o número 2000 é muito pequeno do ponto de vista financeiro do que é necessário para resolver o problema. E, tecnicamente, a gente sabe: paga uma família, põe na escola, gente! Isso não é difícil. O que falta é a maneira correta de ver.

            E aí eu volto, Senador Simon, ao que o senhor fala: falta é a maneira correta de ver. Uma coisa é dizer: “Vamos levar adiante o crescimento econômico porque, com o crescimento econômico, vai ter emprego e, com emprego, os pais desses meninos não vão precisar deixar que eles continuem na rua”. Esta é uma visão. Vai levar 100 anos e não vai resolver, porque os pais desses meninos não vão ter emprego no desenvolvimento econômico. Porque hoje, no desenvolvimento econômico, para ter emprego é preciso ter educação. Não vão ter emprego. Esses meninos não vão ter emprego porque eles, na rua, não estão estudando e, sem estudar, não vão ter emprego. Não vão ter emprego porque o desenvolvimento daqui para a frente, a produção industrial daqui para frente, cada vez vai precisar de menos gente para fazer as coisas. Não é esse o caminho. O caminho é ético. O caminho é dizer: “É imoral a gente ter gente menor de idade na rua sem vontade própria de ficar na rua”. Quando a gente assumir que o problema está na ética e não na economia a gente vai começar a resolver. Mas a gente continua olhando as coisas de uma maneira diferente.

            E aí, antes de passar para o Senador Mão Santa, eu volto ao seu discurso.

            A mesma coisa de Belo Monte. A gente pode olhar Belo Monte na ótica de aumentar a oferta de energia, ou a gente pode olhar Belo Monte do ponto de vista de aumentar o bem-estar da população, do ponto de vista de manter o equilíbrio ecológico, do ponto de vista de manter saudáveis os fundos de pensão. São maneiras diferentes. Se a gente vai olhar do ponto de vista da saúde dos fundos, talvez Belo Monte não seja boa alternativa; talvez seja. Se a gente for olhar do ponto de vista ecológico, Belo Monte pode não ser uma boa alternativa. Se a gente vai olhar do ponto de vista do bem-estar, talvez, em vez de aumentar aquela oferta de energia, a saída seja reduzir a necessidade de energia, conseguir conviver satisfatoriamente com um consumo menor de energia.

            O Brasil precisa discutir qual é a ótica sob a qual vai olhar o futuro. E ao discutir essa ótica, acho que em primeiro lugar devemos colocar a ética. A ótica da ética; olhar com os olhos éticos e não necessariamente com os olhos econômicos, como se esse rumo fosse o único e o perfeito.

            É por isso que o seu discurso sobre Belo Monte tem tudo a ver com o que eu queria falar desse programa de ontem, Conexão Repórter, do SBT, que tocou profundamente a quem o assistiu. E eu fiz contato, porque uso muito esse tal de twitter hoje, e fiz contato com dezenas, mas muitas dezenas de pessoas, que disseram que estavam vendo o programa, outras que queriam ver, e depois ficamos até uma hora da manhã debatendo o que tínhamos visto.

            E tocou muita gente.

            Belo Monte é uma outra face daqueles meninos nas ruas de São Paulo. Belo Monte é uma outra face de um mesmo problema. Que tipo de desenvolvimento queremos? Que tipo de futuro desejamos? Belo Monte e os meninos nas ruas são dois problemas que têm tudo a ver. Se nós, políticos, queremos ser birutas de aeroporto, olhando sempre ficar no poder, ou queremos ser agulhas de uma bússola, apontando o futuro onde a gente quer que o Brasil chegue.

            Está na hora de escolher: Biruta de aeroporto ou bússola do futuro? São duas alternativas que temos. Lamentavelmente, está prevalecendo a alternativa de biruta de aeroporto, no lugar da alternativa de bússola, agulha de bússola, indicando o futuro.

            Antes de concluir, porém, Senador Pedro Simon, quero passar a palavra ao Senador Mão Santa, que pediu para fazer um aparte.

            O Sr. Mão Santa (PSC - PI) - Senador e Professor Cristovam Buarque, o erro está aqui. Cadê o Governo aqui? A ignorância é audaciosa. Senador Pedro Simon, ontem, inspirado pelo Professor Cristovam Buarque, fiz uma retrospectiva sintética, desde o descobrimento aos dias de hoje. V. Exª tinha lembrado anteriormente que o dia 22 de abril era o Dia do Descobrimento do Brasil. E eu ensinava e ensinei muito bem ao Presidente Luiz Inácio. Eu cumpri minha parte. Que ele acabe com esse negócio de “nunca antes”, porque teve “os antes”. Eu vim, desde Portugal, estudando navegação, provando que não foi por acaso, não, que foi o estudo que os trouxeram aqui. Então, teve o antes, o antes, o antes. Mas Pedro II, ô Pedro Simon, era como V. Exª: preparado, culto, estudou muito. Ele deixava a coroa e o cetro e vinha ouvir os Senadores. Pedro II, atentai bem, Luiz Inácio, criou a melhor escola padrão, o Colégio Pedro II, do Rio de Janeiro. No tempo da minha geração, estudávamos com livros padronizados por lá. Lembro de Valdemiro Potti, esse negócio de Ecologia, Meio Ambiente, eu já sabia tudo. Tem um livro lindo: Biologia Geral, de Valdemiro Potti. Ele tratava disso tudo, de Ecologia, e a gente sabia, não é de agora, não. Teve o antes, Botânica e Zoologia, tão bom que eu pesquisava quando estudava Medicina. Mas Pedro II ia para o colégio e ficava assistindo as aulas. Pergunto aqui: quem é que está nesta porcaria de Governo aqui? Desde cedo estou aqui e já aprendi muito. V. Exª dissecou Belo Monte; Geraldo Mesquita - que beleza - mostrou que o Acre não produz nada, tudo vem de fora, mesmo com tanta terra; o nosso de Rondônia mostrou as dificuldades que vive o povo com esse problema de terra indígena, de ONG; e V. Exª é o professor, professor, professor. Quem está ouvindo V. Exª aqui do Governo? Eles ouvem? Nós estamos e este Senado é o melhor desta História. Não sei se este Governo acompanha e vai ter o julgamento da História. É vou dizer o seguinte: Eu sou o pai da Pátria. Eu sou preparado. Estudei muito. Tenho todos os cursos que você imagina, em Medicina, Gestão Pública, em estudo. Porque eu cheguei aqui e fui logo prático. Eu sou pragmático, eu sou cirurgião. Só tem dois tipos de Senador: um que se impõe pela cultura - Rui Barbosa, você, eu, Pedro Simon, que estamos aqui, e os que estiveram - ou por dinheiro. Você sabe disso. Isso é a realidade. Então, nós fomos Governo, fomos tudo e não aprendemos a roubar. Mas temos hoje o saber, que vale mais do que ouro e prata. Então, eu quero dizer que se resolve. Mas não estou dizendo que eles não vão aprender. O próprio Presidente da República disse que não gosta de estudar. Mas vou lhe dizer: isso se resolve. Eu sei resolver. E digo com toda a certeza: Nós três aqui seríamos melhores candidatos a Presidente do que esses todos aí. Quero lhe dizer o seguinte, porque eu resolvi. Pedro Simon, tem uma história: Foi lá no Rio Grande do sul, Governador, foi ele que inspirou esse negócio de Secretaria de Indústria e Comércio, o Mercosul. Mas eu quero lhe dizer que isso se resolve. Eu fui Prefeitinho. Eu sei, não é conversa, não. Eu sou o pai da Pátria. Eu desafiei aquela porcaria de CQC lá. Vai pra acolá, negócio de dizer que nós fomos reprovados. Que palhaçada é esta? Nunca fui reprovado em nada; ia ser reprovado no Senado!? Vou admitir um negócio deste? Mas eu fui Prefeitinho da minha cidade. Por isso que eu falo da Adalgisa com amor. E vou ensinar aqui - eu sei que ninguém vai ouvir, mas eu estou falando é para mim mesmo, Pedro Simon, está entendendo? Está me ouvindo? A minha cidade está me ouvindo, o meu Estado está me ouvindo. Eu estou cumprindo a minha parte. Eu sei que eles não vão ouvir, mas o que você está falando eu aprendi. Pedro Simon eu estava atento, ouvindo. A ignorância é audaciosa. Mas isso se revolve, porque eu fui Prefeitinho. Parnaíba tinha uns 160 mil habitantes, porque hoje deu dois filhotes, que foram cidades povoadas e desmembrados nessa fase. Mas Pedro Simon, eu fui Prefeito e bom. Eu fui um dos melhores Prefeitos da História deste País. Tanto é que depois, contra o Prefeito que eu elegi e me traiu, contra o Governador e contra o Presidente da República, eu tive 93,84% dos votos da minha cidade para ser Governador. É a maior votação dada a um cidadão, ouviu Pedro? Mas sabe quantos meninos tinha de rua? Por isso é que eu falo com muito amor à Adalgisa, porque ela trabalhou mais do que Eva Perón. Está ouvindo, Pedro Simon? Eram 27. Aluguei uma casa na praça, boa, não é? O Sarney conhece Miguel Furtado, com sede em Parnaíba, e fizemos. Atentai bem! Só tinha 27. Então, matematicamente, em uma cidade de 150 mil habitantes... Em um cidade de hum milhão e meio de habitantes, tem 270. São Paulo, 15 milhões, tem dois mil e tantos. E eu resolvi. Olha para cá. Eu resolvi com a Adalgisa. Só tinha 27. O que são 27 meninos em uma cidade? Na matemática é a mesma proporção. O Prefeito resolve. É porque eles não querem. E o Presidente da República não tem nenhum aqui. Quem é que está aqui? Quem é que vem do Governo para cá? Nós estamos aqui discutindo os problemas e não vejo nenhum. Só querem estar nas boquinhas, mamando, se locupletando, mensalão, e vai continuar a malandragem, não é? Então, preste atenção: ela pegou e fez. Sabe como é o nome, ainda hoje encontrei: Bom Menino. Botamos, olha aí a dificuldade, melhor prédio, na Praça Santo Antônio, conheci a Adalgisa nessa praça, foi sede do Parnaíba, era a casa de Mel Furtado, o Sarney fazia política no Maranhão, se hospedava nesse senhor, era um homem de cera carnaúba, ia buscar até dinheiro nas campanhas dele, federal, casa boa. Aí pegamos um psicólogo, uma professora boa, isso, tal, tal, uma cozinha boa, e esses meninos tinham aula de manhã, boa, só 27... Por isso estou aqui, nunca fiz um tíquete, nunca comprei um voto e quero uma CPI para mim, na minha cidade e no Estado. Atentai bem, a inspiração da Adalgisa como Eva Perón, sempre tem um serviço social, é comum. Ela pegava de tarde, eles comiam lá, tomavam café, professor especializado, eu ia ver, era um prazer, eu era Prefeito, psicólogo. Pedro Simon, de tarde ela arrumava uma boquinha, trabalho é bom, trabalho ensina, aquele negócio de supermercado, vestia os meninos, bons meninos, eles eram orgulhosos. O que você é? Sou bom menino. Ainda hoje encontro, porque eu era bom menino, na minha cidade eu era bom menino. Está vendo? Aí tomava conta. Ela, como mãe, conhecia tudo, só tinha 27 e é fácil, não é, não é possível nos Municípios, os Prefeitos... E aí ela arrumou a boca e tal. Fomos para Teresina, fizemos o mesmo no Estado, não tinha menino de rua, não. É por isso que estou aqui, por isso que saí do PMDB, que tem história e que é glorioso e estou mais forte, um trabalho plantado. Ela fez isso. O primeiro restaurante popular no País fomos nós que fizemos. Havia um batalhão, ela chegou e disse: “Francisco, eu quero...” O que, minha filha? Você não precisa de soldado, não. Fez o restaurante Sopa na Mão. Mário Covas foi lá comer, esse Garotinho foi lá comer para aprender. Porque era feio pedir uma esmola: “Me dá um prato de comida, pelo amor de Deus!”, ao meio-dia, não é? Sim, mas ela fez a mesma coisa na capital. Aí, na capital, tem esses diabos de Ministério Público: “Nós é que somos os bons, nós é que somos julgados, nós é que somos Poder para ter moral”. Aí começou o negócio que não podia, porque ela tinha o cuidado de arrumar, em um supermercado, um serviço para ganhar uma bolsa, não é? Ah, não podia, aí eu fui. É menino, trabalho é trabalho, não é escravo. A sabedoria está aqui, nós estamos aqui para ensinar. Presta atenção, é o seguinte: eu fui lá defender a tese dele, porque já tinha feito como Prefeito, tinha que dar certo como Governador. Como Governador, vamos dizer que tinha, ao invés de 27, tinha 270. Ela resolveu. Aí teve essa pressão, aí eu fui. Pedro Simon, o Ministério do Trabalho disse: “Não dá certo menino trabalhar”. Trabalho é uma escola, trabalho dignifica. Voltaire já dizia que o trabalho pelo menos afasta três grandes males: o tédio, a preguiça e a pobreza. Aí eu fui lá, do mesmo jeito, viu, Pedro Simon? Esses bichinhos aí do Ministério Público não sabem nada, não. Aqui é a Casa da sabedoria, é para se seguir. Aí eu fui lá e eles começam dizendo: “Mas sua esposa aí...” Menino, esse papo de que vai preso, esses bestalhões da vida. Aí, Pedro Simon, eu disse: “Olha, eu quero dizer que vai continuar, o Ministério do Trabalho...”. Olha, os dois maiores homens que eu conheço deste País: Mauá, que veio lá do seu Rio Grande do Sul. A mãe dele ficou viúva e arrumou um namorado que disse que só se casaria se se libertasse dos filhos. Aí uma mocinha foi para não sei onde, e um tio foi buscá-lo no Rio Grande do Sul. Não é verdade? Com nove anos, Mauá começou a trabalhar. Não tem ninguém maior do que Mauá. No Piauí, eu enfrentei... João Paulo dos Reis Velloso. Você já ouviu falar? João Paulo dos Reis Velloso abria a fábrica do meu avô com 10 anos de idade. E o primeiro não foi ele, não. Ele deixou o emprego para Francisco, irmão dele, que quase morreu... Depois, para Antônio Augusto e para esse Raul Velloso, que está aí. Abria a fábrica às 10 horas. Aquilo era como frequentar uma universidade. Está aí: mania de primeiro lugar. Harvard. O melhor Ministro do Planejamento que já houve neste País. Começou a trabalhar com 10 anos na fábrica de meu avô. Se não fizesse o I PND, o II PND, Plano Nacional, eu diria o exemplo que ele deu. E Pedro Simon conviveu com ele. João Paulo dos Reis Velloso. Por 20 anos, foi a luz, o farol do governo revolucionário, do progresso. Nenhuma indignidade, nenhuma imoralidade, nenhuma corrupção. Isso é exemplo para hoje. Começou a trabalhar na fábrica do meu avô. Então, isso se resolve, mas se resolve aqui. O Presidente, se chamasse tudo que é Prefeitinho, deveria dizer: “Vamos embora, Prefeitinho. Eu não admito mais nenhuma criança na rua”. Foi tirada na Parnaíba. E tanto é verdade que, depois, com quatro candidatos, eu saí dois anos depois. Elegi-me Prefeito e passei para o Governo do Estado. A Presidência da República. Eu tirei, Pedro Simon, na minha cidade, para ser Governador do Estado, 93,84% dos votos. Então, de 10, quase todo mundo votou em mim. Isso foi uma coisa. Tiram-se os meninos da rua. É uma barbárie o que está havendo no País. O que falta é responsabilidade. Mas o erro é sobretudo... Aqui, estávamos certos. Estamos repetindo. Somos o Rui Barbosa de hoje. Mas há alguém aqui de Governo? O Governo vai seguir? Vai nada. É uma terra de mensalão, de falcatruas, de roubalheira. Então, lamento. Estamos cumprindo as leis. Mas, se tira, é inadmissível. E V. Exª chamou atenção. E quero lhe dar um atestando. Estou falando, e minha cidade está ouvindo. Meu Estado está ouvindo. Tira-se como V. Exª. Há essas coisas de ensinar. V. Exª ensinou; e Fernando Henrique Cardoso, professor, teve a humildade de se curvar ao ensino de V. Exª. É a Bolsa Escola, não é? Então, foi mutilado em Bolsa Família e juntou. Mas V. Exª, do Executivo, deu essa luz. Estou dando essa luz se resolver, porque eu resolveria isso aqui. Esse negócio de menino de rua é falta de governo.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Muito bem. Quero concluir, aproveitando, Senador Mão Santa, o número de 27. São Paulo são dois mil. Bastam 70 Donas Adalgisas. Se se pegam 70, são 27 para cada um. Se o Prefeito chama 70 e diz “cada um de vocês vai cuidar de 27”, resolveria o problema. E colocava-se uma super Dona Adalgisa para coordenar os 70.

            Não é uma questão de dificuldade. É uma questão de ética, de chorar com aquilo, de querer parar. Nossos governantes não choram. Esta é a tragédia: eles não choram.

            Governante que não chora não resolve os problemas visíveis, resolve o problema de energia lá em Belo Monte. Mas não resolve o problema do menino próximo da casa. Está na hora de os nossos governantes chorarem. Que eles queiram sobretudo ser agulhas de bússolas olhando o futuro desejado, e não a biruta de aeroporto olhando para onde sopra o vento, como forma de continuar no poder.

            Um dia, eu acho, vamos ter mais agulhas aqui e menos birutas. Ou, talvez, biruta signifique duas coisas. Vai ver que os birutas somos nós. Mas é melhor ser um biruta coerente com o futuro, coerente com os princípios do que ser um biruta de aeroporto, sempre no poder.

            Era isso, Senador Pedro Simon, a quem agradeço a presidência e agradeço que o seu discurso tenha inspirado a maneira de apresentar algo que eu vinha já falar aqui.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/04/2010 - Página 16010