Discurso durante a 61ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Citação do poema "O Tempo", de Mário Quintana e considerações sobre o aumento da população de idosos e a mudança verificada no perfil da sociedade brasileira, o que demanda novas políticas governamentais para atender a essa faixa da população.

Autor
Marisa Serrano (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MS)
Nome completo: Marisa Joaquina Monteiro Serrano
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL.:
  • Citação do poema "O Tempo", de Mário Quintana e considerações sobre o aumento da população de idosos e a mudança verificada no perfil da sociedade brasileira, o que demanda novas políticas governamentais para atender a essa faixa da população.
Aparteantes
Mozarildo Cavalcanti, Mário Couto.
Publicação
Publicação no DSF de 29/04/2010 - Página 16692
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • LEITURA, TEXTO, POETA, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ESTADO DE GOIAS (GO), VALORIZAÇÃO, IDOSO.
  • COMENTARIO, DADOS, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE), INSTITUIÇÃO DE PESQUISA, AUMENTO, NUMERO, IDOSO, BRASIL, IMPORTANCIA, CONTRIBUIÇÃO, RENDA, FAMILIA, DEFESA, ORADOR, EFICACIA, POLITICA NACIONAL, ATENDIMENTO, NECESSIDADE, GARANTIA, DIREITOS, APOSENTADO, EXPECTATIVA, CAMARA DOS DEPUTADOS, APROVAÇÃO, PROJETO, MELHORIA, APOSENTADORIA.
  • CRITICA, INTERESSE, GRUPO, GOVERNO FEDERAL, DEFESA, IMPOSSIBILIDADE, VALORIZAÇÃO, RENDIMENTO, APOSENTADO, IMPEDIMENTO, DESEQUILIBRIO, RECEITA, PAIS.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Sr. Presidente.

            Quero começar lembrando Mário Quintana, nosso grande escritor e poeta gaúcho. Assim, passo a ler uma poesia dele:

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são seis horas!

Quando se vê, já é sexta-feira!

Quando se vê, já é Natal (...)

Quando se vê passaram 50 anos!

Agora é tarde demais para ser reprovado...

Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.

Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, começo com o poema O Tempo, de Mário Quintana, porque hoje quero falar daqueles que já viveram bastante, trabalharam muito e adquiriram experiência ao longo dos anos. Envelhecer significa acumular vivências, aprender que a vida é conhecimento e esse conhecimento deve ser ofertado de maneira generosa à sociedade como um gesto de amor ao próximo e à humanidade.

            Triste país que despreza seus homens vividos e experientes. Triste país que abandona aqueles que representam a memória acumulada dos tempo que passaram, pois só quem conhece o passado sabe avaliar os rumos do futuro.

            Sempre reclamamos da falta de tempo, e ele - o tempo - passa sem complacência, sem controle. Quando nos damos conta, ele já deixou suas marcas na nossa vivência, nas histórias que temos para contar, no nosso aprendizado como profissionais e como seres humanos e também, é claro, na nossa aparência.

            Estou falando de uma parcela da população que cresce cada vez mais. O País está envelhecendo. Hoje, 18 milhões de brasileiros estão acima dos 60 anos de idade, mais de 10% da população total. O IBGE estima que este número deve chegar a 64 milhões em 2050, cerca de 30% dos brasileiros.

            O aumento do número de idosos e a consequente mudança no perfil da população brasileira requer melhorias nas políticas públicas, com mais oferta de atendimento geriátrico e gerontológico, assim como medidas no âmbito da Previdência, que são impostergáveis.

            Só vamos considerar que o Brasil mudou quando tivermos programas que garantam efetivamente qualidade de vida aos homens e mulheres que estão na chamada fase da “terceira idade”.

            Outro aspecto interessante é que muitos idosos se mantêm ativos e, principalmente, produtivos. Com a vantagem de que, com a experiência que acumularam ao longo da vida, podem e devem ser aproveitados em prol do desenvolvimento econômico do País.

            Estamos na era do chamado bônus demográfico, que é quando a população economicamente ativa é sensivelmente maior que a inativa. Segundo o IBGE, estamos com o número de pessoas com idades potencialmente ativas em ascensão. Ou seja, há a diminuição da quantidade de crianças de 0 a 14 anos sobre a população de 15 a 64 anos de idade. É por isso que eu disse que o País está envelhecendo.

            Conciliar a Política Nacional do Idoso com esta nova realidade do bônus demográfico é apenas mais um desafio que temos pela frente.

            Já passou da hora de darmos mais atenção aos idosos. Até porque, num mundo que gira em torno da economia, as pessoas mais velhas têm desempenhado um importante papel na renda familiar.

            Uma pesquisa do Instituto Somatório, realizada em dez centros urbanos do País, destaca o potencial de consumo da terceira idade. Além da renda, foi levada em consideração a propriedade de bens, as condições de moradia e escolaridade.

            É inegável que o idoso de hoje pode viver com muito mais qualidade graças aos avanços da medicina, ao estímulo à prática de esportes, aos cuidados com alimentação e à própria mudança de paradigmas da nossa sociedade.

            Com tempo livre e autonomia para gastar o dinheiro, eles têm rendimento correspondente a 15% dos domicílios do País, ou renda mensal de R$7,5 bilhões. Respondem, em média, por 71% da renda familiar total.

            São números que contribuem para a quebra de estereótipos. O idoso de hoje não é mais aquele velhinho frágil de antigamente. Mudamos até os parâmetros para considerar alguém velho hoje em dia, pois 81% dos entrevistados se consideram prontos e aptos para todas as tarefas cotidianas. Muitos dizem estar vivendo o melhor momento de suas vidas.

            Uma descoberta interessante da pesquisa do Instituto Somatório é que os “sessentões” que moram sozinhos têm um padrão de consumo semelhante ao dos jovens, guardadas as devidas proporções, é claro. Com uma diferença significativa: têm liberdade para gastar o seu próprio dinheiro. Esses idosos usam bastante o telefone e consomem alimentos mais caros do que os que moram com familiares. Eles também gostam de ir ao shopping, fazer ginástica, viajar e ler revistas e jornais. Ou seja, a cada dia, o idoso busca mais opções para ser saudável, independente e feliz. Claro que alguns desses gastos são possíveis para aqueles que têm uma renda mais alta.

            Essa pesquisa também revela, Senador Mário Couto, que quanto menor o poder aquisitivo, maior é a participação nos recursos da família. Idosos da classe C respondem por 72%, e da classe D, por 88% da renda familiar. Quase a totalidade da renda familiar são os idosos, nas classes C e D, que estão abarcando. Isso significa que, em muitos casos, a aposentadoria deles paga aluguel, alimentação, medicamentos e até gastos com filhos e netos. Dezoito milhões de pessoas recebem um salário mínimo de aposentadoria, que, muitas vezes, é insuficiente para as necessidades da terceira idade e, agora, como se vê, da própria família.

            Com a palavra, o Senador Mário Couto e, depois, o Senador Mozarildo.

            O Sr. Mário Couto (PSDB - PA) - Primeiro, parabéns a V. Exª. Já é comum V. Exª trazer a essa tribuna, a este Senado, temas tão importantes. V. Exª, quando fala de idosos e diz que eles estão vivendo melhor hoje, no Brasil, logicamente, está referindo-se àqueles que têm poder aquisitivo relativamente alto, mas, quando se trata de idosos que dependem do INSS, a coisa é lastimável. Vou à tribuna daqui a pouco para falar sobre esse tema. Hoje se vota mais uma etapa do “libera o sofrimento dos idosos”, lá, na Câmara.

            A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS) - É verdade.

            O Sr. Mário Couto (PSDB - PA) - Eu tenho lutado muito por isso, Senadora, Tenho visto a vida do idoso comum. Eu, outro dia, estava meditando, Senadora, sobre aquele empréstimo, sobre aquela doação que o Presidente fez ao Haiti. Eu estava meditando: qual é a morte mais dolorosa? É aquela em que se recebe uma viga de concreto na cabeça e em que se morre imediatamente ou aquela em que se vai morrendo lentamente, sob o peso da fome, sob o peso de uma mente preocupada com as dívidas. Essa morte é terrível! O idoso acordar, diariamente...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O Sr. Mário Couto (PSDB - PA) - Esse tema merece uma discussão melhor, meu nobre Presidente. Esse tema que a nossa querida Senadora traz hoje à tribuna merece a meditação de todos nós, brasileiros. Por isso, tenha um pouquinho de paciência. O Presidente doa R$300 milhões ao Haiti - nada contra isso -, mas por que nosso Presidente mudou tanto em relação aos aposentados? Na história do Brasil, em toda a história do Brasil, nunca houve um carrasco pior do que esse que está aí! Nunca, Senadora, houve um carrasco pior! Sabe por que está a discussão, hoje, na Câmara - e poderia haver um acordo, participei das reuniões -, V. Exª sabe por quê? Porque ele não quer dar 0,71% só. É só o que falta para o acordo das classes. Todas as classes que representam os aposentados concordaram. Todas as Lideranças da Câmara - no Senado, integralmente - concordaram em 7,71%. Ele, no máximo, quer dar 7%. Por causa de 0,71%, não se chega a um acordo, que é o mínimo e que ainda acho que é uma migalha, é apenas o início de uma discussão. Sabe quanto os aposentados já perderam - desculpe-me alongar o aparte, mas o tema me empolga - no Governo do Lula, minha nobre e querida Senadora? Sessenta e três por cento! Olhe a situação dos aposentados brasileiros! Nunca ninguém maltratou tanto os aposentados deste País, minha nobre Senadora, nunca, na história! E foi esse homem que, nos palanques, disse que ia resolver a situação dos aposentados do País. Esses do INSS, nobre Senadora, estão morrendo à míngua! Estão morrendo de fome! Estão morrendo sem saúde! Estão morrendo abandonados! O Presidente sabe e massacra os aposentados deste País. Parabéns pelo tema que trouxe, hoje à tarde, a todos nós.

            A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS) - Quero agradecer, Senador Mário Couto, suas palavras e dizer que a valorização real da aposentadoria é algo que esta Casa, aqui, após muitos debates, por unanimidade, votou a favor dos aposentados. E esperamos que, hoje, a Câmara dos Deputados consiga reverter a situação e fazer aquilo pelo qual lutamos tanto. V. Exª, junto com outros tantos Senadores, aqui, foram capazes de levantar o tema e de colocá-lo na Ordem do Dia desta Casa.

            Ouço o Senador Mozarildo Cavalcanti.

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senadora Marisa, quero cumprimentá-la pela abordagem do tema. Pode até ser que eu, ao fazer este aparte, esteja advogando em causa própria, já que V. Exª lembrou em seu discurso os sessentões, que prefiro chamar de sexagenários, em que me incluo. Realmente, é lamentável que o Governo não tenha uma política boa nem para as crianças, nem para os idosos. O Senador Mário Couto salientou, com toda a propriedade, a questão dos aposentados. Dou o exemplo da minha mãe, que é pensionista. Meu pai era aposentado, e ela é pensionista agora. No início, o que ela recebia dava para pagar os remédios, o condomínio, o telefone. Agora, não dá. A cada dia que passa, não dá sequer para ela comprar os remédios, e o condomínio, o telefone etc. os filhos temos de pagar. Então, é lamentável que isso aconteça no Brasil todo. Preocupo-me mais ainda é com a questão... Há poucos dias, vi o Ministro da Saúde falando de um tema muito sério, a hipertensão, que atinge praticamente todos os idosos, em tom de brincadeira. Ele dizia que é importante medir a pressão, dançar, não sei o que... e fazer sexo cinco vezes por semana. Então, em vez de fazer brincadeira com uma coisa tão séria, o Ministro deveria preocupar-se em ter uma política de saúde adequada para as pessoas idosas. Parabéns e obrigado pela oportunidade.

            A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS) - Concordo e assino embaixo de suas palavras, Senador Mozarildo. É justamente o de que precisamos: políticas públicas mais efetivas, mais sérias, em que possamos realmente confiar.

            Que todos aqueles que já fizeram tanto pelo País, que já ofereceram tanto de sua vida, do seu trabalho, da sua dedicação a este País possam ter serviços públicos de qualidade, e não o descaso que estamos vendo acontecer em todo o País.

            Quero também colocar que, às vezes, o Governo lança mão de déficits contábeis para mostrar a impossibilidade, Senador Mário Couto, de valorizar o rendimento dos aposentados. Grupos de tecnocratas se mobilizam, para demonstrar a fragilidade das contas da Previdência Social. Há os famosos terroristas das finanças públicas...

(Interrupção do som.)

            A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS) - (...) que tentam colocar nas costas dos aposentados a ruína do equilíbrio fiscal brasileiro. O aposentado é o culpado de tudo que acontece na área fiscal deste País.

            Quero dizer que muito se gasta - e o Senador Mário Couto fez esta colocação aqui - com ONGs de fachada, com cartões corporativos, com contratações partidárias que estão inchando as repartições. Estamos vendo o gasto do dinheiro em todas as áreas, e quero deixar esse comentário aqui, para que possamos refletir sobre as contradições de alguns discursos oficiais que ganham muito espaço na mídia e que são pouco avaliados, às vezes. Essa é uma avaliação que temos de fazer.

            Termino minha fala, Sr. Presidente, também com uma poesia. Como comecei com Mário Quintana, quero terminar com a goiana Cora Coralina. Ela diz o seguinte:

NÃO SEI...

Não sei... se a vida é curta...

Não sei...

Não sei...

se a vida é curta

ou longa demais para nós.

Mas sei que nada do que vivemos

tem sentido,

se não tocarmos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:

colo que acolhe,

braço que envolve,

palavra que conforta,

silêncio que respeita,

alegria que contagia,

lágrima que corre,

olhar que sacia,

amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo:

é o que dá sentido à vida.

É o que faz com que ela

não seja nem curta,

nem longa demais,

mas que seja intensa,

verdadeira e pura...

enquanto durar.

            Muito obrigada, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/04/2010 - Página 16692