Discurso durante a 61ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro da visita do Presidente Hugo Chávez ao Brasil, tecendo críticas sobre as políticas adotadas pelo dirigente venezuelano. Comentários sobre a decisão do Brasil de aprovar o ingresso da Venezuela no Mercosul. Manifestação sobre a crescente violência e a banalização dos crimes em todo o Brasil.

Autor
Eduardo Azeredo (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MG)
Nome completo: Eduardo Brandão de Azeredo
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA. SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Registro da visita do Presidente Hugo Chávez ao Brasil, tecendo críticas sobre as políticas adotadas pelo dirigente venezuelano. Comentários sobre a decisão do Brasil de aprovar o ingresso da Venezuela no Mercosul. Manifestação sobre a crescente violência e a banalização dos crimes em todo o Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 29/04/2010 - Página 17085
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA. SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • QUESTIONAMENTO, VISITA, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, VENEZUELA, BRASIL, APREENSÃO, APROXIMAÇÃO, GOVERNO BRASILEIRO, POSSIBILIDADE, INTERFERENCIA, AMEAÇA, DEMOCRACIA, DESRESPEITO, LIBERDADE DE IMPRENSA, CRITICA, APROVAÇÃO, SENADO, INGRESSO, PAIS, DEFESA, AUMENTO, ARSENAL DE GUERRA, DISPUTA, GOVERNO ESTRANGEIRO, COLOMBIA, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL).
  • APREENSÃO, AUMENTO, VIOLENCIA, BRASIL, AGRAVAÇÃO, CRIME, ABUSO, MENOR, ESTADO DE GOIAS (GO), PRISÃO, CRIMINOSO, HOMICIDIO, MULHER, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), ORGANIZAÇÃO, GRUPO, HOMICIDIO QUALIFICADO, EMPRESARIO, ANALISE, RESPONSABILIDADE, SITUAÇÃO, NEGLIGENCIA, SOCIEDADE, NECESSIDADE, MOBILIZAÇÃO, POPULAÇÃO, PRIORIDADE, COMBATE, DROGA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Presidente.

            Quero abordar um assunto de relações internacionais. O Coronel Hugo Chávez, Presidente da Venezuela, esteve hoje aqui, em Brasília. Ele começou, dizendo que não ia dar opiniões sobre assuntos internos do Brasil, mas deu e mandou um beijo para a candidata Dilma. Tem um ditado que diz assim: “Diga-me com quem andas e lhe direi quem és”. Então, é perigoso. A Ministra Dilma tem que tomar cuidado, porque o Presidente Chávez é seguramente um dos governantes mais ultrapassados que a América do Sul já conheceu.

            É um governante populista, ele está levando o seu país para caminhos que são de sofrimento. O país vive numa inflação extremamente elevada, desabastecimento, não tem, realmente, uma credibilidade que merece um país como a Venezuela, um país grande, com uma grande população, com uma grande capacidade de recursos naturais. Lamentavelmente, por força da presidência de Hugo Chávez, o país vai enfrentando dificuldades crescentes, e tomando atitudes, volto a dizer, ultrapassadas. Nacionaliza um hotel quando não gosta do serviço do hotel, outra hora, vai e nacionaliza um banco, nacionaliza um supermercado.

            Essa tem sido a sequência de atos do Presidente Hugo Chávez. Fecha televisão, manda prender dirigentes de uma rede de televisão porque fala mal dele, ou faz alguma crítica, quando a crítica é democrática. Portanto, essa sequência não nos assusta. Nós, da Oposição, fizemos a nossa parte, alertamos, do ponto de vista de que uma coisa é a Venezuela, outra coisa é a Venezuela sob Chávez.

            Não dá, realmente, fazer a defesa da entrada da Venezuela no Mercosul, como nós nos colocamos contra à aprovação que foi apertada, por 35 a 27 votos, que mostra, com clareza, que não se trata de uma questão simples, uma questão pacificada. A Venezuela ainda não entrou no Mercosul porque o Paraguai sequer colocou em votação essa entrada. Eu continuo, e volto a dizer, que, passados quatro meses da decisão do Senado brasileiro aprovando a entrada da Venezuela, mantenho a mesma posição anterior de crítica. Acho que foi um erro o Brasil aprovar a entrada da Venezuela nas atuais circunstâncias. Nós deveríamos aguardar mais, aguardar que o País voltasse à normalidade democrática, à normalidade administrativa, para, aí sim, termos uma Venezuela integrada ao Mercosul. Sob o regime Chávez, a Venezuela seguramente será um complicador para o Mercosul no dia em que o Paraguai aprovar. Vejam que estamos agora dependendo de uma decisão do Paraguai.

            Portanto, o Presidente Chávez não traz nenhuma tranquilidade para a América do Sul. Ele lidera uma corrida armamentista, lidera uma disputa permanente com a Colômbia, e nós aqui do Brasil não podemos, seguramente, ficar dando mostras de simpatia para com o Chávez.

            Eu já me mostro, Sr. Presidente, seguramente desanimado com alguma questão em relação a Chávez. O Ministro Celso Amorim e o próprio Presidente Lula chegaram a dizer que, na verdade, essa aproximação com o Presidente Chávez buscava poder influenciá-lo para o bem. Entretanto, passado tanto tempo, acho que a situação só tem piorado. O Presidente Lula não tem conseguido influenciá-lo para o bem; o Ministro Celso Amorim não tem conseguido. O fato é que a Venezuela caminha, cada vez, para uma situação mais difícil.

            Ele também disse hoje que não sabe quando sairá do poder. Ele já está lá, acho, há onze anos. Ele talvez queira ficar o mesmo tempo que Fidel Castro. Então, essa é uma situação que preocupa muito. É um vizinho importante, grande, e o Brasil precisa realmente ter essa relação com os vizinhos da América do Sul ampliada, mas sou muito cético. Enquanto a Venezuela tiver o Presidente Chávez à frente, a democracia corre riscos. Há a questão da liberdade: a liberdade de imprensa, a normalidade dos contratos. Tudo isso faz com que não tenhamos uma expectativa mais otimista.

            Portanto, no dia em que o Presidente Chávez volta ao Brasil e dá palpite sobre a política brasileira, acho que fica mais uma vez este alerta de que não devemos exatamente ceder a essa tentação. Apesar de poder estar bem intencionado o Governo Brasileiro, ele não conseguiu sucesso nessa proposta de influenciá-lo.

            Quero também, Presidente, abordar rapidamente outro assunto já de ordem interna. É a questão da crescente violência e da banalização dos crimes em todo o Brasil. Abordo especificamente a questão do meu Estado, Minas Gerais. Tivemos recentemente alguns crimes bárbaros no Estado. Houve crimes perpetuados por um maníaco, um serial killer, que matou em sequência várias mulheres. Felizmente, esse crime acabou sendo esclarecido, e o responsável foi preso. Mas logo depois tivemos outro crime realmente de uma gangue, um grupo que se organizou e cortou a cabeça de dois empresários numa linha que ainda não está devidamente esclarecida, embora já estejam presos os principais responsáveis.

            Vejam bem, portanto, a banalização do crime que vai acontecendo, esta sequência: um serial killer que mata cinco mulheres, depois um grupo que corta a cabeça de dois outros. Vemos em Brasília essa brutalidade recente em Goiás na questão dos adolescentes assassinados por um pedófilo. São crimes que assustam muito e vão ficando. Passa um, passa outro; e a tendência da sociedade é se acostumar depois que passa o primeiro impacto.

            O fato é que isso exige a atuação de todos. Não adianta. Seria muito fácil chegar aqui e falar assim: a culpa é da polícia, a culpa é do Governo Federal, é do Governo estadual, é do governo aqui. Não é. Eu acho que a questão do aumento da violência no País e no meu Estado de Minas Gerais, com essa situação de crimes bárbaros, exige reflexão de todos. Reflexão de professores, dos alunos, da Igreja, de todos que têm algum grau de liderança. Há que se ter uma mobilização, uma meditação sobre o que podemos fazer.

            Agora há pouco aqui estava o Senador Flávio Arns lembrando a importância dos escoteiros para a formação da juventude, das crianças. Se nós continuarmos nesse caminhar, se continuarmos nessa maneira tão materialista da vida no Brasil, nós vamos ter essa sequência continuada. Novos crimes acontecerão, bárbaros como esses, e nós estaremos sempre aqui, às vezes ocupando a tribuna, lamentando, pedindo providências.

            O fato é que não se pode esquecer o que acontece. E esse é um ponto que exige a atuação de todos nós. Cada um dando a sua participação. É muito fácil alguém chegar numa mesa de bar e dizer que a culpa é da autoridade, que a culpa é da autoridade do dia. Não é assim. A culpa é da sociedade brasileira como um todo, a culpa é de quem realmente permite que esse tipo de violência continue. Inclusive a própria divulgação desses crimes da forma que acontece.

            Alguns, por momentos, exageram. O respeito aos direitos humanos é fundamental, mas tudo tem um limite. Nós não podemos também, sob o manto dos direitos humanos, permitir que criminosos, bandidos continuados permaneçam fazendo o que fazem com a sociedade brasileira. 

            Há que se ter uma mobilização, Presidente. E esse é o ponto que eu queria trazer aqui também em relação ao aumento da violência no País, que é conjugado com o aumento do uso de drogas. Essa é, seguramente, uma das principais razões. Basta ver qual é o percentual de pessoas que estão presas devido à questão das drogas, para vermos que essa é seguramente a principal causa hoje do que acontece de mal na sociedade. Mas há que existir, eu volto a dizer, uma cooperação de todos para que, no dia a dia, nós possamos ir diminuindo isso que acontece hoje no Brasil.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/04/2010 - Página 17085