Discurso durante a 68ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comemoração do centenário de nascimento do ex-Senador Rui Soares Palmeira.

Autor
João Tenório (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AL)
Nome completo: João Evangelista da Costa Tenório
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do centenário de nascimento do ex-Senador Rui Soares Palmeira.
Publicação
Publicação no DSF de 08/05/2010 - Página 18779
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, PRESENÇA, SENADO, AUTORIDADE, FAMILIA, HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, RUI PALMEIRA, EX SENADOR, ESTADO DE ALAGOAS (AL), LEITURA, DISCURSO, TEOTONIO VILELA (AL), EX-CONGRESSISTA, HOMENAGEM POSTUMA, ELOGIO, PATRIOTISMO, VIDA PUBLICA, DEFESA, LIBERDADE, PARTICIPAÇÃO, MINORIA, IMPORTANCIA, LIDERANÇA, AMBITO ESTADUAL, PARTIDO POLITICO, UNIÃO DEMOCRATICA NACIONAL (UDN), EPOCA, DIFICULDADE, RECONHECIMENTO, ORADOR, CARACTERISTICA, CONCILIAÇÃO, DIVERSIDADE, INTERESSE, BUSCA, PAZ.

                          SENADO FEDERAL SF -

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            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. JOÃO TENÓRIO (PSDB - AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Fernando Collor, senhores familiares do homenageado, eu os saúdo em nome desse grande alagoano, esse grande brasileiro, nosso amigo e conterrâneo Guilherme Palmeira. Senhores amigos da família, saúdo-os em nome desse grande julgador, Ministro Humberto Gomes de Barros.

            Minhas senhoras e meus senhores, confesso que tive alguma dificuldade em estar presente neste momento aqui. Primeiro, porque eu não poderia deixar de estar, em função do fato de que eu reconhecia, tinha informações, tinha lido a contribuição, o trabalho e o reflexo desse trabalho e dessa contribuição que o homenageado dá a Alagoas nos dias de hoje. Rui Palmeira viveu num momento de Alagoas muito difícil, muito complicado, onde as decisões, as composições políticas eram feitas muito na base da violência, o instrumento das negociações era muita violência, e a ferramenta, muitas das vezes, era a arma, que você tinha que usar. Então, Rui Palmeira foi naquele momento um conciliador, alguém que procurava trazer a paz, procurava trazer uma referência de equilíbrio, fazendo com que as pessoas conversassem, que as minorias tivessem oportunidade, enfim contribuía de uma maneira decisiva para que a paz reinasse naquele Estado tão conturbado.

            De outro lado, eu tinha uma dificuldade séria: não tinha conhecido o homenageado. Não o conheci, não convivi com ele, não foi da minha época, e isso me trazia uma dificuldade muito grande, porque eu precisava ser autêntico naquilo que eu gostaria de dizer aqui no momento e, sem conhecê-lo, isso poderia soar, para mim mesmo, não para ninguém, como algo que não correspondia exatamente à verdade. Então, eu tentei me acudir no escrito: onde é que eu vou conseguir informações que soem de uma maneira, digamos assim, autêntica, verdadeira, e que não trate de tudo aquilo que foi dito aqui, com muita propriedade, com muita competência pelo Senador Fernando Collor de Mello e pelo Senador Renan Calheiros, sobre a vida política, a vida profissional, a vida do comportamento de tudo aquilo que levou ao Senador Rui ser aquilo que foi para o Estado de Alagoas?

            Eu gostaria de algo que tratasse na alma do homenageado e consegui encontrar uma coisa que atendeu mais ou menos aos meus anseios. Foram palavras de um conterrâneo, amigo, correligionário e igualmente um grande alagoano - Teotônio Vilela. Teotônio Vilela fez um pronunciamento aqui exatamente um ano após a morte de Rui Palmeira, e eu me acudi de seu escrito para tentar trazer um pouco da alma de Rui, não apenas daquelas informações biográficas que foram tão precisamente e bem colocadas aqui. Dizia o velho Teotônio:

Introvertido e reflexivo, tinha horror ao ridículo e à ostentação. Todos sabemos que a política exige, como um dos adornos da arte, poder de envolvimento, pronta capacidade de comunicação. Isso possuía Rui, mas a seu modo, ou seja, de um modo sutil e refinado.

            Elogiar, por exemplo, era um adorno incômodo, às vezes insuportável. Costumava perguntar o que é que se estava fazendo com as palavras. A impropriedade da palavra, quer por ignorância, quer por, sobretudo, por degradação o afligia tanto quanto a vulgaridade deliberada das pessoas. Seu retraimento, nesses casos, custou-lhe críticas. Sem arrebatamentos, conduzia-se sempre, diante da realidade, possuído do julgamento de que valor é essencial para crédito e louvação.

            E Teotônio prossegue mais adiante:

Não foi homem de mando, de fortuna ou de planos miríficos - foi aquilo que ainda se pode chamar de homem de bem, em todo rigor da expressão, e servido de uma inteligência rara. Sua liderança, por isso mesmo, exercia-se com equilíbrio admirável. Ninguém jamais o ouviu elevar a voz para conquistar uma tese; a palavra não procurava abafar ninguém pelo estrondo da impetuosidade, impunha-se pela clareza singela do raciocínio... A arma com que convencia forjava-se da razão e da sensibilidade.

            Depois de lembrar que o homenageado integrava a escassa galeria de estadistas brasileiros e que falar de Rui Palmeira era viver e reviver um belo instante de louvor às lutas democráticas do País, o velho Teotônio salientou:

Se devotamento às lides parlamentares vale como engrandecimento do mandato -, Rui foi inigualável; se inteligência e cultura fazem parte do exercício da representação popular - Rui as possuía com eficiência notória; se amor à Pátria não se confunde com arroubos carismáticos - Rui foi um patriota; se pureza cívica exige isenção de ânimos, mesmo quando a pessoa tem que contrariar sentimentos de família - Rui foi um nobre exemplo; se ser revolucionário é ser fiel aos ditames da luta pregada em nome do País e não em nome de pessoas, Rui foi um grande brasileiro que morreu pensando na revolução.

            O espírito pacificador de Rui Palmeira também foi louvado por Teotônio:

Quando Alagoas se dividia e se subdividia em intermináveis fronts de acirradas contendas partidárias, Rui comandava a UDN. Se sangrentos lances mancharam nossa história, jamais se disse ou se dirá que sua orientação houvesse contribuído, de uma forma ou de outra, para o desfecho lamentável. Inabalável nos seus ideais de liberdade e de segurança, em nome mesmo da liberdade e da segurança para o nosso Estado, procurava entender-se e agir na obtenção de uma fórmula que permitisse à minoria um mínimo de trânsito dentro dos nossos direitos. Lutando contra dragões, sobrevivia pela proteção ou mesmo pela encarnação de Davi.

            Srªs e Srs. Senadores, as palavras do Senador Teotônio Vilela demonstram bem que a morte prematura de Rui Palmeira, aos 58 anos, foi uma perda sem par não apenas para seus familiares, amigos e admiradores. Ou mesmo para sua esposa e filhos, dois dos quais, Guilherme e Vladimir, herdaram a vocação política do pai. Hoje, Rui Palmeira, é nosso deputado estadual em Alagoas e tanto honra a vida política do Estado com sua postura, com sua posição. Herdaram, portanto, a vocação política do pai, e, no caso, do avô.

            Tive o prazer de desfrutar da convivência dos três. De Vladimir fomos colega de colégio no velho e inesquecível Colégio Diocesano, e com Guilherme Palmeira, juntamente com o Governador Divaldo Suruagy, convivemos um pouco num momento da história contemporânea do Estado de Alagoas. Portanto, tive esse prazer de desfrutar da convivência desses membros da família e de saber que eles também herdaram o espírito democrático e patriótico do velho líder alagoano.

            A morte de Rui Palmeira, repito, foi uma perda irreparável. Deixou Alagoas e o Brasil inteiro mais pobres. Ele nos deu a todos uma lição de dignidade, de perseverança e fé. Fé na democracia, no trabalho e na justiça social, num mundo melhor e mais justo.

            Esperamos aprender a cada dia melhor essa lição.

            Era isso, Sr. Presidente, que eu gostaria de dizer.

            Muito obrigado. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/05/2010 - Página 18779