Discurso durante a 67ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comunicação de que não será candidato a governador da Paraíba nas próximas eleições. (como Líder)

Autor
Cícero Lucena (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PB)
Nome completo: Cícero de Lucena Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. ELEIÇÕES.:
  • Comunicação de que não será candidato a governador da Paraíba nas próximas eleições. (como Líder)
Aparteantes
Alvaro Dias, Jayme Campos, João Tenório.
Publicação
Publicação no DSF de 07/05/2010 - Página 18687
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. ELEIÇÕES.
Indexação
  • DEPOIMENTO, VIDA PUBLICA, ORADOR, QUALIDADE, VICE-GOVERNADOR, GOVERNADOR, MINISTRO DE ESTADO, PREFEITO DE CAPITAL, SENADOR, BUSCA, ATENDIMENTO, EXPANSÃO, BEM ESTAR SOCIAL, RECEBIMENTO, CONVITE, DISPUTA, ELEIÇÕES, GOVERNO ESTADUAL.
  • QUESTIONAMENTO, POLITICA PARTIDARIA, ESTADO DA PARAIBA (PB), POSSIBILIDADE, ERRO, ORADOR, PREVISÃO, ETICA, POLITICA, PERDA, INTERESSE PUBLICO, RETIRADA, DISPONIBILIDADE, CANDIDATURA, AGRADECIMENTO, SOLIDARIEDADE, SENADOR, ESPECIFICAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), ANUNCIO, APOIO, CAMPANHA ELEITORAL, JOSE SERRA, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CÍCERO LUCENA (PSDB - PB. Pela Liderança do PSDB. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente Serys Slhessarenko, minhas senhoras, meus senhores, “viver é acalentar sonhos e esperanças, fazendo da fé a nossa inspiração maior”. Mário Quintana.

            Permitam-me invocar um testemunho sincero antes de convidá-los a uma reflexão para mim muito importante. Desde que entrei na vida pública, há vinte anos, mantive a disposição de servir à Paraíba por meio de cada uma das funções e missões que Deus e o povo me concederam.

            Procurei ter a cada dia a exata dimensão de quanto todos esses cargos são passageiros. Por isso mantenho até hoje a compreensão de que, ao final, o que fica e vale são as práticas e as ações que resultam o bem comum. É assim que se percebe quando a política está sendo exercida como atividade nobre, a favor das pessoas, dos anônimos, dos que mais necessitam.

            Como Vice-Governador, Governador, Ministro de Estado e Prefeito de João Pessoa por duas vezes, compartilhei ideias e projetos que de sonhos à realidade resultaram na melhoria de vida de nossa gente. Hoje, no Senado, trabalho também para ampliar por todo o País alguns dos nossos avanços: a distribuição do fardamento na rede pública de ensino, a entrega domiciliar e também gratuita de medicamentos aos hipertensos e/ou diabéticos, a implantação de aterros sanitários para acabar com lixões a céu aberto, entre outros que procedemos em nosso Estado.

            Confio que essa dedicação à Paraíba, marcada por uma trajetória política de correção e lealdade, motivou originalmente a convocação de companheiros e aliados para disputar, como candidato a Governador, as eleições de outubro próximo. Motivado, novamente caminhei meses pelos Municípios paraibanos. Não para conhecê-los, porque, mais do que saber onde ficam, criei dezenas e para dezenas benefícios levei quando exerci o Governo do Estado e continuo levando como Senador paraibano.

            Hoje, ironicamente, peço que me ajudem a encontrar respostas para estar pagando por erros que sinceramente busco ainda identificar. Onde exatamente errei? Teria sido ao pautar toda uma trajetória política pela correção e lealdade? Pela renúncia? Pelo desprendimento pessoal em favor de uma causa?

            Mas, por que cultivar valores tão descartáveis nos tempos modernos? Estão certos eles, os profissionais. Nos ensinam que o sábio é compreender que amigos, amigos, política à parte.

            Teria cometido erro ao confiar na sinceridade de propósito de alguns amigos e correligionários? Ou quando acatei tão determinada orientação para trabalhar e viabilizar minha candidatura?

            Certamente eu me enganei. Quem mandou não entender bem? Por que não aprender logo com os sábios o que é certo? E o certo, ora, amigos, é lealdade, lealdade, política à parte.

            Onde exatamente errei? Teria sido por ter cometido o pecado capital ao defender o direito à candidatura própria de um agrupamento partidário vitorioso seguidamente vencedor? Para que defender uma história de tantas lutas? A conjuntura é outra e é preciso compreender: correção, correção, política à parte.

            Teria eu errado ao questionar que se estreitaram agora as opções do eleitor entre o atraso que combatemos e a falsa novidade que sempre nos combateu? Com o devido respeito, mas será que é somente isso que resta aos paraibanos como opção?

            O tempo permanecerá senhor da razão. Não faço julgamentos. E nem recomendações por nenhum dos candidatos. Caberá ao eleitor a reflexão sobre depositar confiança naqueles que oferecem todos os motivos para a conquista do voto, e depois, simplesmente, descumprem todos, um a um.

            Será erro grave questionar o que há por trás das aparências? Ou esta “opção” que se apresenta agora, não é a mesma que até recentemente era governo, convenientemente situação, e hoje, pela mesma conveniência, se apresenta tão recentemente como oposição?

            Onde exatamente eu errei? Teria sido ao insistir que os paraibanos têm direito a mais oportunidades de escolha? Ou em buscar qualificar mais o debate? Será crime ampliar o leque de propostas para o eleitor decidir o melhor caminho de acelerar o desenvolvimento e promover a justiça social?

            Onde exatamente errei? Ao não aceitar que está cada vez menor, na Paraíba, o espaço para o exercício da política como atividade nobre?

            Quando conseguiremos manter longe, bem distante, práticas e procedimentos que desacreditam e degradam as relações políticas com essa lamentável rapidez e forçada naturalidade?

            Deixaremos que a esperteza política e a falta de transparência sobreponham-se aos interesses das pessoas, dos anônimos, dos que mais necessitam?

            Concedo a palavra, com muita honra, ao Senador Alvaro Dias e ao Senador João.

            O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Cícero Lucena, a nossa solidariedade a V. Exª. Lamento que não tenha tido a oportunidade de oferecer ao seu Estado uma alternativa de poder competente, com a experiência adquirida ao longo de tantos anos de atividade pública que vem exercendo com muita dedicação e eficiência. A nossa solidariedade e a certeza de que tem muito a oferecer ao seu Estado ainda aqui no Senado Federal, e certamente oferecerá, cumprindo seu mandato e, especialmente, colaborando para que o nosso Partido possa ter uma campanha nacional à altura das expectativas do povo brasileiro, porque esta é a grande responsabilidade do PSDB, esta é a nossa prioridade. O nosso Partido não pode ignorar a enorme responsabilidade que tem de oferecer aos brasileiros uma alternativa de poder com segurança, que signifique uma agenda de futuro capaz de oferecer a melhoria da qualidade de vida sonhada por todas as pessoas. E gostaria também de tomar mais um pouco do tempo de seu discurso para fazer uma análise política. Por que esses fatos ocorrem? Eu imagino que um dos grandes equívocos do nosso modelo político seja exatamente a ausência da sociedade no momento de escolher candidatos majoritários no interior dos partidos políticos. E essa estrutura artificial, partidos que se constituem em siglas para registro de candidaturas - essa é uma crítica de modo geral, não é uma crítica ao nosso Partido, é uma crítica ao modelo político vigente no Brasil -, os partidos organizados cartorialmente, muitas vezes, dirigidos por alguns, por grupos que acabam se tornando proprietários da sigla do partido, ignorando programa, aspirações da população, impondo vontades, colocando em primeiro lugar ambições pessoais, ignorando aquilo que é mais sagrado para quem quer ser governante ou representante da população, que é entender as reais aspirações da população. Enfim, nós só vamos mudar essa realidade com uma reforma política de profundidade, e só acredito em reforma política se elegermos um Presidente da República talentoso, moderno, mudancista, capaz de liderar o processo de reforma, porque, com um presidencialismo forte como o nosso, nenhuma reforma de profundidade acontece sem a presença da liderança do Presidente da República. Parabéns a V. Exª por esse ato de grandeza, deixando de criar dificuldades para o seu Partido, para o nosso Partido, e contribuindo aqui com humildade, com serenidade para que o projeto maior, que é o projeto que busca a Presidência da República, não seja prejudicado.

            O SR. CÍCERO LUCENA (PSDB - PB) - Eu é que agradeço, Senador Alvaro Dias, o aparte de V. Exª, como sempre com muita oportunidade e com muita sabedoria.

            Passo a palavra ao Senador João Tenório.

            O Sr. João Tenório (PSDB - AL) - Senador Cícero Lucena, não vou repetir completamente o que disse na semana passada, quando fiz um aparte a V. Exª, mas pelo menos vou fazer uma síntese daquilo que eu tentei dizer. V. Exª foi Prefeito de João Pessoa e deixou todos nós, vizinhos, que conheciam a perfomance do seu trabalho, absolutamente invejosos, porque o trabalho que V. Exª desenvolveu ali marcou e se espalhou pela região, influindo inclusive, como disse, naquele momento em algumas atitudes de pré-candidatos e mesmo candidatos, que foram buscar no seu cantinho lá de João Pessoa o trabalho que V. Exª fazia lá.

(Interrupção do som.)

            O Sr. João Tenório (PSDB - AL) - Então, eu gostaria de registrar o quanto a Paraíba perde por não poder dispor de um Governador da sua qualidade.

            O SR. CÍCERO LUCENA (PSDB - PB) - Muito obrigado.

            O Sr. João Tenório (PSDB - AL) - No que diz respeito à outra parte, que é a parte a que V. Exª se referiu com tanta angústia - eu diria assim -, que é a questão das relações humanas que envolve esse tema, eu também sou testemunha. Também sou testemunha do comportamento de V. Exª em alguns momentos aqui em Brasília, quando algumas pessoas do Partido, algumas pessoas da sua convivência, algumas pessoas da sua relação política e pessoal se envolveram em situações um tanto quanto difíceis, e a solidariedade, o compromisso, a angústia que V. Exª passou. Tivemos a oportunidade, por acaso, lá em casa, uma noite em que estava acontecendo aqui um evento de certa forma dramático, V. Exª viveu momentos absolutamente constrangedores, difíceis e de angústia. Eu sou testemunha disso. Então, queria ser testemunha desses dois fatos. Agora, só para tentar, digamos assim, explicar o que acontece. Tenho hoje, com a pouca experiência da convivência política - não da política, mas da convivência política -, chegado à conclusão sobre um ponto. Sou empresário e tenho passado pelo campo político assim rapidamente. Existe uma diferença fundamental entre as contabilidades de uma empresa e a contabilidade política. A contabilidade de uma empresa apura o resultado do dia e o joga contra o passado. O passado existe, precisa ser levado em consideração. A contabilidade política - não de todos os políticos, mas de uma pequena parte dos políticos - não é assim; ela apura o dia e acabou, é aquilo que vale. O resultado do dia é o que vale. O que aconteceu lá para atrás, quais foram os impactos, quais foram as influências, quais foram as relações, passa a não ter importância alguma. Queria, assim, trazer o meu abraço forte do amigo que V. Ex ª sabe que tem, a minha solidariedade, e dizer o seguinte: quem perde, infelizmente, é o grande Estado da Paraíba. Mas ganha o Brasil, porque temos certeza absoluta de que a sua participação, a sua contribuição, para que venhamos a ter um governo como aquele a que o nosso Líder Alvaro Dias se referiu, vai ser muito forte pela sua determinação, pelo seu conhecimento, pela sua experiência política e pela nitidez que V. Exª tem de como devem ser as relações humanas. Parabéns.

            O SR. CÍCERO LUCENA (PSDB - PB) - Obrigado, Senador João Tenório. O aparte de V. Exª, obviamente, vem recheado da generosidade, mas também somada à amizade que esta Casa nos proporcionou, ao nos aproximarmos e nos conhecermos, de nos respeitarmos e de termos a certeza de que é uma semente que está plantada, para que possamos caminhar pelos caminhos que Deus vai nos oferecer, daqui para frente cada vez mais próximos, mais juntos, mais unidos.

            Muito obrigado.

            Com a palavra, Senador Jayme Campos.

            O Sr. Jayme Campos (DEM - MT) - Senador Cícero Lucena, ouvindo aqui o seu pronunciamento na tarde de hoje, eu não poderia deixar de me manifestar na medida em que tenho convivido com V. Exª nesses últimos três anos, como Senador da República. Tenho visto a sua postura, a sua luta intransigente na defesa de políticas boas para o Brasil e, sobretudo, para o seu Estado da Paraíba. Todavia, quando V. Exª fala do processo político eleitoral, imagino que a democracia, até certo ponto, é saudável, é louvável, mas às vezes contraria os nossos objetivos, as nossas boas intenções. E eu não tenho dúvida alguma quando V. Exª abre mão, até porque poderia, de forma democrática, também disputar um processo de convenção, ou de pré-convenção, e vencer. Mas essa sua renúncia - posso dizer renúncia - vai valer a pena dentro de um projeto maior de nós elegermos José Serra nosso Presidente da República. Imagino que o próprio Presidente Serra está vendo o seu despojamento, o seu projeto, que defende o Brasil acima de qualquer coisa. E eu imagino que qualquer cidadão, para chegar ao topo, ou seja, ao cargo maior do seu Estado, de Governador, vai ter que ter a participação de V. Exª, vai ter que ter seu apoio obrigatoriamente, até porque V. Exª acabou de chegar a esta Casa com alguns milhares de voto do povo paraibano. Então, ninguém pode desconhecer o seu valor, o seu prestígio político naquele Estado. Imagino que os partidos coligados com o seu PSDB lá têm a obrigação de, num gesto de grandeza, vir às praças públicas, às rádios e à televisão e, de público, dizer que precisa do apoio do Senador Cícero Lucena - e certamente já o fizeram. Isso vai valer a pena na medida que, diante disso, temos certeza de que vamos eleger lá a nossa coligação partidária, vamos eleger o nosso governador, vamos dar uma grande vitória ao nosso Presidente José Serra, com isso fazendo a verdadeira consagração dessa união que fizemos no Brasil para vencermos o mal, ou seja, fazermos um Brasil melhor, um Brasil diferenciado, um Brasil que certamente tem muito para avançar no Governo José Serra. Parabéns a V. Exª e tenha a nossa solidariedade.

            O SR. CÍCERO LUCENA (PSDB - PB) - Muito obrigado, Senador Jayme Campos. V. Exª, como sempre, também amigo, nos alimenta neste momento em que é muito importante receber a solidariedade de todos vocês.

            Após muitas reflexões e orações ao lado de minha família, afasto-me de uma batalha, não da luta em defesa dos interesses dos paraibanos. Deixei claro, desde o início, na condição de pré-candidato, que minha intenção nunca foi a derrota pessoal de ninguém. Sempre quis - e quero - que a Paraíba ganhe.

            Além do trabalho como Senador, vou abraçar outras formas de continuar defendendo a Paraíba: uma Paraíba melhor e mais justa. Recebi e aceitei a convocação nacional de meu Partido, o PSDB, para participar da campanha do meu amigo pré-candidato à presidência da República, José Serra. Lutarei com empenho para inserir anseios e reivindicações da Paraíba no programa nacional de um governo que fará com que o Brasil possa muito mais. Quero agradecer a solidariedade da Executiva Nacional e do próprio PSDB, em nome do Presidente Sérgio Guerra, amigo de todos os momentos, de quem obtive o apoio incondicional e permanente para manter a minha pré-candidatura, de que agora, voluntariamente, declino.

            Gratidão é o que eu ofereço aos solidários, aos que me deram forças nas horas mais difíceis dessa caminhada. Compreensão é o que eu peço aos que torcem e entendem que eu deveria continuar na luta.

            Aprendi que, em dado momento da vida, nem sempre nossos projetos são os projetos de Deus. A Ele agradeço todas as oportunidades e missões que me permitiram chegar até aqui superando dificuldades e vencendo desafios.

            A todos, a reafirmação de que saio com toda a minha fé. Continuarei minha peregrinação com a certeza de que vou encontrar, sempre, forças de continuar servindo meu semelhante.

            Que Deus proteja a todos.

            Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/05/2010 - Página 18687