Discurso durante a 67ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa da suspensão do regime de urgência para apreciação dos quatro projetos de lei que tratam da exploração do petróleo na camada pré-sal. Defesa da instalação de Comissão Especial para estudo das referidas matérias.

Autor
João Tenório (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AL)
Nome completo: João Evangelista da Costa Tenório
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. POLITICA ENERGETICA.:
  • Defesa da suspensão do regime de urgência para apreciação dos quatro projetos de lei que tratam da exploração do petróleo na camada pré-sal. Defesa da instalação de Comissão Especial para estudo das referidas matérias.
Publicação
Publicação no DSF de 07/05/2010 - Página 18690
Assunto
Outros > SENADO. POLITICA ENERGETICA.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, POSSE, JORGE YANAI, SENADOR, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), DESCENDENTE, IMIGRANTE, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL, ESPECIFICAÇÃO, AGRICULTURA.
  • PROTESTO, REGIME DE URGENCIA, EXAME, SENADO, PROJETO, EXPLORAÇÃO, PETROLEO, RESERVATORIO, SAL, RESPONSABILIDADE, DEMOCRACIA, AMPLIAÇÃO, DEBATE, IMPARCIALIDADE, CRITERIOS, FAVORECIMENTO, ELEIÇÕES, ATENÇÃO, DESCONHECIMENTO, DIMENSÃO, RESERVA, CUSTO, DESENVOLVIMENTO TECNOLOGICO, COMENTARIO, LEITURA, TRECHO, ESTUDO, FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS (FGV), CONCLUSÃO, VANTAGENS, DIVERSIFICAÇÃO, EMPRESA, OPOSIÇÃO, EXCLUSIVIDADE, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), SUGESTÃO, ORADOR, TRABALHO, LIDER, GARANTIA, PRAZO, TRAMITAÇÃO, CRIAÇÃO, COMISSÃO ESPECIAL, SENADOR, REALIZAÇÃO, AUDIENCIA PUBLICA, CONSULTA, ESPECIALISTA, AUTORIDADE, ANTERIORIDADE, DISCUSSÃO, PLENARIO.

                          SENADO FEDERAL SF -

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            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. JOÃO TENÓRIO (PSDB - AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srs. Senadores e Srsª Senadoras, inicialmente, eu gostaria de fazer uma referência e um gesto de boas-vindas ao nobre Senador Jorge Yanai. E, em nome dele, fazer uma referência ao povo japonês, à contribuição que esse povo tem dado ao desenvolvimento brasileiro durante a história mais recente do nosso País. Todos nós sabemos - eu que conheço um pouco de agricultura e tenho andado pelo interior do País - que o povo que veio do Japão tem dado importante contribuição ao desenvolvimento do nosso País, sobretudo nesse campo. Então parabenizo-o, Senador Jorge Yanai, V. Exª vai trazer para esta Casa, sem sombra de dúvida, o conhecimento, a honradez e a dignidade que tanto marcam a personalidade desse povo. Parabéns.

            Srª Presidente, foi noticiada amplamente pela imprensa nacional, no fim da semana passada, a realização de uma reunião entre o Presidente Lula, alguns dos seus ministros e uma parcela expressiva de Senadores da base governista. Falou-se na presença de mais de 30 Senadores, entre Líderes e liderados. E, segundo relataram os principais veículos de comunicação do País, a motivação do encontro foi exclusivamente tentar tratar da votação dos projetos do pré-sal no Senado Federal.

            Supostamente, foi determinado pelo Presidente Lula aos seus aliados um cronograma de votação que concluiria a tramitação das quatro proposições relativas ao marco regulatório do pré-sal ainda neste mês de maio.

            É bem verdade que os quatro projetos, de forma absolutamente equivocada e até desrespeitosa para com o Senado Federal, já tramitam em regime de urgência constitucional e passarão a trancar a pauta desta Casa já na próxima semana.

            Mas é exatamente isto que devemos combater: esta pressa injustificável no trato de um assunto tão relevante. E não se trata aqui de uma questão menor entre Oposição e Governo, pois estamos diante de um tema extremamente importante e complexo, cuja decisão repercutirá no futuro de gerações da sociedade brasileira. Trata-se de agir com responsabilidade, sobretudo em se tratando de um ano eleitoral.

            O pré-sal não é deste ou daquele governo. Não foi criado por este ou aquele governo. É uma descoberta nacional, uma riqueza abundante do País e, portanto, sua forma e modelo de exploração deveriam resultar de convicções formadas por meio de aprofundado debate entre todos os Poderes da República, a sociedade civil, sobretudo com intensa participação de especialistas em cada matéria presente na atividade que envolve um tema complexo e, de certa forma, ainda pouco conhecido.

            Repito, trata-se de uma questão com alto grau de complexidade e com incertezas técnicas ainda consideráveis. Não se sabe exatamente o tamanho das reservas, não se sabe realmente o custo de exploração, uma vez que a tecnologia envolvida não é completamente dominada ou, pelo menos, testada na prática.

            Anteontem, por exemplo, foi divulgado um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas, encomendado pelo Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e  Biocombustíveis (IBP), que projetou o custo para extração e produção na região do pré-sal em aproximadamente 22 dólares o barril. É mais uma precificação de que se tem notícia sobre o assunto, o que corrobora nossas preocupações, pois, afinal, todos nós já tivemos notícias de números bem distantes do agora identificado.

            O fato, portanto, mostra a insegurança e a pobreza das informações disponíveis, visto que já se falou, há pouco tempo, em valores superiores a 50 dólares o barril para produzir a exploração na região.

            Na avaliação feita pela Fundação Getúlio Vargas, as reservas do pré-sal seriam de 40 bilhões de barris de óleo equivalentes (BOE), com produção estimada para o período de 40 anos. Multiplicada pelo valor da extração, 8 dólares o barril, mais investimentos na produção, 14 dólares o barril, totalizando 22 dólares, os investimentos e custos de extração e produção necessários seriam da ordem de 880 bilhões de dólares.

            No entanto, o que chamou a minha atenção de forma preocupante foi a conclusão do referido estudo que, divergindo totalmente do que prevê o texto aprovado na Câmara dos Deputados e no momento sob análise no Senado, afirma que o Brasil perderia se a Petrobras fosse aprovada como operadora única do pré-sal.

            Para a Fundação Getúlio Vargas, a existência de um operador único pode atrasar a exploração e produção na região e causar prejuízo da ordem de 53 bilhões por ano de atraso ao nosso País.

            Ora, Srªs e Srs. Senadores, não serei eu que ousarei afirmar que o estudo da Fundação Getúlio Vargas está absolutamente correto, mas também não serei eu que negarei os seus acertos. O que realmente importa é que existem pontos nesse debate cuja decisão certamente merece maior análise.

            Eu gostaria de ler aqui, rapidamente, o resultado, a síntese do estudo que a Fundação Getúlio Vargas realizou. Ela chama a atenção para alguns pontos que merecem ser destacados:

O Brasil ganha mais com múltiplos operadores de Pré-Sal; a competição encoraja investimentos, incentivos, inovação; aumenta a eficiência e reduz custos; para cada ano de atraso na produção de exploração de petróleo, o Governo brasileiro perde R$53 bilhões em arrecadação; cada R$1 bilhão de investimento no Pré-Sal gera mais de 33 mil empregos (diretos, indiretos e induzidos) na economia; um único operador vai diminuir o nível de investimento no Pré-Sal; toda a economia brasileira vai sofrer perdas equivalentes a 5,5% do PIB, como resultado de um atraso de três anos no Pré-Sal (isto ilustra os riscos econômicos associados com um modelo que centraliza os investimentos através de um único operador); ter um único operador no Pré-Sal “não parece atender aos interesses da sociedade”, concluiu o estudo.

            Srª Presidente, essa é uma informação dada pela Fundação Getúlio Vargas, entidade, que, até que se prove o contrário, merece, digamos assim, o respeito e a confiança de todos nós, brasileiros. Portanto, é um assunto que merece uma reflexão mais profunda, e é isso que estou a propor.

            Muito se fala que a única polêmica restante na discussão sobre o marco regulatório do pré-sal é a distribuição dos royalties.

            O interessante é que, segundo notícia da imprensa, em sua estratégia para a tramitação na matéria, o Governo teria optado por adiar a decisão sobre royalties para evitar qualquer contaminação político-eleitoral no processo decisório. Estou plenamente de acordo com essa avaliação. Somente não entendo porque os demais assuntos relativos ao pré-sal, tão importantes quanto, não devam receber o mesmo tratamento e blindagem contra qualquer contaminação eleitoral.

            Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, pontos como a conveniência de alteração do regime de exploração para partilha, a composição dos comitês operacionais com participação majoritária de membros da Petro-Sal, a determinação de que os presidentes dos comitês terão poder de veto e também serão membros da Petro-Sal, bem como a imposição de que a Petrobras será a operadora de todos os campos exploratórios são apenas alguns exemplos de assuntos cujo debate nesta Casa não foi satisfatório para sanar dúvidas e qualificar decisões.

            Se mantido o regime de urgência e o cronograma brevíssimo do Governo, o Senado estará abrindo mão de suas prerrogativas e dando um exemplo de negligência sobre algo tão relevante para o País e para as futuras gerações, principais beneficiadas com essa provável riqueza recém-descoberta.

            Para não ficar apenas nas críticas, eu gostaria de sugerir aos Líderes da Casa que trabalhem juntos para resguardar o Senado Federal por meio da suspensão imediata do regime de urgência em todos os quatro projetos relativos ao pré-sal. Sei que a Oposição já vem pressionando nesse sentido, mas é fundamental que todos os Senadores e, em especial, a Mesa Diretora tenham a noção exata do seu papel nesse processo. Até para continuarmos trilhando o caminho de resgate da credibilidade desta Instituição junto à opinião pública.

            Feita a retirada da urgência, sugeriria a criação de uma comissão ou grupo especial de trabalho, composto por um número suficiente de Senadores, para tratar exclusivamente das proposições do pré-sal, interagindo ao máximo com a sociedade brasileira, mediante a oitiva de técnicos do setor de petróleo e energia, juristas, ambientalistas, enfim, ouvindo todos que possam colaborar para a construção do melhor marco legal para o País.

            Por se tratar de um tema plural e de grande relevância, penso que a criação de uma comissão ou grupo especial poderia destinar toda sua atenção e tempo para apreciação exclusiva da matéria, diferentemente do que ocorre com as demais comissões da Casa cuja obrigação em relação a outros projetos é concorrente.

            Concluída essa etapa, sem que haja qualquer pressão de tempo ou calendário predeterminado, penso que o Plenário do Senado Federal estaria pronto para, aí sim, iniciar o debate qualificado do assunto.

            Sei que o período eleitoral norteará muitas das próximas decisões que tomaremos nesta Casa. Registro, inclusive, minha grande preocupação com esse fato. Porém, apelo a todas as Srªs e a todos os Srs. Senadores para o dever cívico que temos com o futuro da riqueza nacional e com várias gerações de brasileiros que estão por vir, e, sendo assim, que tratemos o marco regulatório do pré-sal com a responsabilidade que ele merece.

            Era o que eu tinha a dizer.

            Muito obrigado, Srª Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/05/2010 - Página 18690