Discurso durante a 67ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com o crescimento do comércio ilegal de remédios falsificados.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA. SAUDE.:
  • Preocupação com o crescimento do comércio ilegal de remédios falsificados.
Publicação
Publicação no DSF de 07/05/2010 - Página 18745
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA. SAUDE.
Indexação
  • GRAVIDADE, CRESCIMENTO, FALSIFICAÇÃO, MEDICAMENTOS, ESPECIFICAÇÃO, COMERCIALIZAÇÃO, INTERNET, PARTICIPAÇÃO, CRIME ORGANIZADO, RISCOS, POPULAÇÃO, COMENTARIO, DADOS, RELATORIO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), DIVULGAÇÃO, POLICIA, AMBITO INTERNACIONAL, CLANDESTINIDADE, LABORATORIO, PROXIMIDADE, FRONTEIRA, BRASIL, INVESTIGAÇÃO, POLICIA FEDERAL, ITINERARIO, CONTRABANDO, DISTRIBUIÇÃO, TRABALHADOR, APREENSÃO, ILEGALIDADE, MERCADORIA, FISCALIZAÇÃO, AGENCIA NACIONAL DE VIGILANCIA SANITARIA (ANVISA).
  • NECESSIDADE, ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAUDE (OMS), ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), MOBILIZAÇÃO, GOVERNO, INDUSTRIA FARMACEUTICA, COMBATE, TRAFICO, FALSIFICAÇÃO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não é novidade que há muito tempo remédios falsificados, de venda controlada ou não, circulam pelo mundo. O fato novo é que esse comércio disparou nos últimos anos, com o surgimento da Internet e a entrada do crime organizado nesse tipo de comércio.

            Pesquisas internacionais indicam que, desde 2005, a venda online de anabolizantes, medicamentos para emagrecer, provocar abortos e para tratar de disfunção erétil triplicou entre 2005 e 2009, em escala mundial. O pior é que no máximo 20 por cento dos remédios de uso controlado vendidos na Internet são verdadeiros. Os principais ingredientes empregados em sua fabricação são farinha de trigo e bicarbonato de sódio.

            Um relatório divulgado em 2007 pela Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes, que trabalha para a ONU, relaciona algumas das catástrofes provocadas pelos remédios falsificados. Durante a década de 1990, xaropes adulterados causaram a morte de centenas de crianças em Bangladesh, Nigéria e Índia. Em 1995, na África, vacinas falsificadas mataram 2.500 crianças em vários países. E na China, entre 2005 e 2006, centenas de pessoas morreram depois de ingerir medicamentos veterinários “adaptados” ilegalmente para uso humano. Dos 12 principais remédios contra a malária usados no mundo, 8 já são falsificados em laboratórios clandestinos.

            Imagens divulgadas pela Interpol no ano passado mostram como são essas fábricas. A agência de polícia internacional, em colaboração com policiais colombianos, descobriu laboratórios em Bogotá e em outras 3 cidades da Colômbia, todas próximas da fronteira com o Brasil. Neles, remédios de marcas famosas, alguns usados no tratamento de câncer e de hipertensão, além de estimulantes sexuais, eram produzidos em péssimas condições de higiene, com máquinas primitivas, em meio à sujeira. Além disso, eram todos ineficazes, feitos à base de farinhas de cereais. Fábricas semelhantes existem no Paraguai, na China e na Índia, entre outros países.

            A investigação permitiu à Polícia Federal descobrir uma nova rota de entrada de remédios falsificados em território brasileiro. Fabricados na Colômbia, os remédios são levados de avião para a Bolívia, e entram no Brasil em caminhões que os levam até Cuiabá, em Mato Grosso. De lá, são distribuídos para as grandes cidades.

            A nova rota junta-se a outra, mais antiga, que começa no Paraguai, com o transporte dos remédios feito em barcos que atravessam o Lago de Itaipu e o Rio Paraná, tendo como destino Foz do Iguaçu e Guaíra, no Paraná.

            Os medicamentos falsificados são vendidos em farmácias, camelôs, e cada vez mais pela Internet. Prova disso é que, no ano passado, um site noticioso conseguiu encomendar, por e-mail, o Cytotec, nome comercial do remédio que contém o princípio ativo misoprostol, substância abortiva. O misoprostol, que serve para induzir o parto em mulheres com dificuldades de dilatação e para expulsar fetos depois de abortos naturais, desde 1998 só está liberado no Brasil para uso hospitalar. Os repórteres do site compraram, por 370 reais, quatro comprimidos de Cytotec e um de mifepristone, outro abortivo - entregues pelos Correios, numa caixa de CD.

            Mais recentemente, a reportagem de uma revista também encomendou, usando o mesmo método, além do Cytotec, o Acomplia, remédio para emagrecer cujo princípio ativo é o rimonabanto. Proibido em 2007 nos Estados Unidos, e um ano depois no Brasil e na Europa, o Acomplia é responsabilizado por casos de suicídio, já que leva à depressão profunda. Entregues por um motoboy, dentro de uma caixa de telefone celular, os remédios eram fabricados no Paraguai e na Índia. A caixa continha também um “manual”, ensinando como provocar o aborto.

            O crescimento do comércio ilegal pela Internet pode ser comprovado pelos números da Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Três anos atrás, em 2007, foram apreendidas 2 toneladas de remédios de uso controlado que seriam vendidas na rede. Em 2009, a quantidade subiu para 28 toneladas. Não há estatísticas sobre o número de sites no Brasil que vendem remédios ilegalmente, mas são pelo menos centenas.

            E é para eles que, segundo a OMS, Organização Mundial da Saúde, o crime organizado está migrando. Não é à toa, já que cálculos da Organização mostram que 1 quilo de medicamento feito à base de farinha - ou de outras substâncias não tão inofensivas - rende até 75 mil dólares para o vendedor, enquanto 1 quilo de heroína proporciona um lucro de 3 mil dólares. Em 2008, a Polícia Federal encontrou medicamentos falsificados em pelo menos 10 por cento das apreensões de armas e drogas.

            As dimensões desse comércio ilegal também podem ser avaliadas pelos resultados da chamada “Operação Virtua”, realizada pela Polícia Federal em junho de 2009. Ela consumiu 6 meses de investigação, com o monitoramento de 40 sites, e tirou do mercado mais de 4.500 caixas de medicamentos, entre abortivos, anabolizantes, drogas para lipoaspiração e remédios para disfunção erétil, que eram vendidos ilegalmente pela Internet. Foram presas 11 pessoas em 9 Estados, do Ceará ao Rio Grande do Sul. Elas mantinham 36 sites que funcionavam como farmácias virtuais. Os clientes faziam os pedidos, recebiam as mercadorias pelos Correios e pagavam por boleto bancário.

            Ações da Polícia Federal, combinadas com a fiscalização da Anvisa, revelam apenas a ponta de um iceberg que cresce a cada dia. Em 2007, o relatório da ONU sobre o comércio ilegal de remédios recomendou um plano de ação global, que envolvesse organizações governamentais, funcionários da área de saúde, representantes da indústria farmacêutica, da sociedade civil e da Organização Mundial da Saúde. Mas pouco foi feito até agora para deter um tráfico que se tornou mais lucrativo que o de entorpecentes, e constitui uma grave ameaça à saúde da população. É preciso que a OMS, junto com outros organismos internacionais, mobilize governos e fabricantes de produtos legítimos para montar uma estratégia coordenada de combate a esse crime abominável.

            Muito obrigado.

            Era o que tinha a dizer.


Modelo1 5/7/246:02



Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/05/2010 - Página 18745