Discurso durante a 73ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações acerca do Projeto "Ficha Limpa".

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
LEGISLAÇÃO ELEITORAL.:
  • Considerações acerca do Projeto "Ficha Limpa".
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 15/05/2010 - Página 21513
Assunto
Outros > LEGISLAÇÃO ELEITORAL.
Indexação
  • ELOGIO, CAMARA DOS DEPUTADOS, UNANIMIDADE, APROVAÇÃO, PROJETO DE LEI, GARANTIA, INELEGIBILIDADE, CANDIDATO, CONDENAÇÃO, CORRUPÇÃO, QUESTIONAMENTO, ORADOR, AUSENCIA, AGILIZAÇÃO, VOTAÇÃO, SENADO, CRITICA, DECLARAÇÃO, LIDER, GOVERNO, DEFINIÇÃO, INTERESSE, PROJETO, INICIATIVA, AÇÃO POPULAR.
  • DEFESA, PRIORIDADE, VOTAÇÃO, PROPOSTA, RECUPERAÇÃO, REPUTAÇÃO, SENADO, RESPOSTA, LOBBY, IMPRENSA, POPULAÇÃO, ADIAMENTO, APERFEIÇOAMENTO, MATERIA, INELEGIBILIDADE.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, eu subo à tribuna encabulado. Nos meus quase sessenta anos de vida parlamentar, eu não me lembro de ter subido quatro ou cinco vezes seguidas à tribuna para falar sobre o mesmo assunto: ficha limpa.

            Eu pensei que o assunto estava encerrado. Eu achei até que essa matéria seria votada ontem. Diante da disposição do Presidente Sarney, dos líderes, do Presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Senador Demóstenes, eu achei até que essa matéria seria votada ontem. Não só não foi votada, como a imprensa traz manchetes e mais manchetes falando que haveria - eu não acredito - uma manobra contra a aprovação do Projeto Ficha Limpa. Isso está na capa de O Globo e na capa de vários outros jornais. E há uma frase aqui, muito infeliz, que pretendo analisar.

            A imprensa aponta como o momento mais bonito da Câmara dos Deputados nos últimos anos a ação feita por seus parlamentares, da qual participaram praticamente todos os partidos: o Presidente da Casa, Deputado Michel Temer, coordenou os debates, reuniu os líderes, e o relator, um excepcional parlamentar do PT de São Paulo - que, lamentavelmente, vai deixar a vida pública -, encontrou uma fórmula intermediária e, no último momento, terça-feira, na última votação, foi aprovado por unanimidade, com todos os líderes rejeitando todas as emendas que queriam deturpar o projeto.

            Aconteceu o inconcebível. Ninguém esperava que isso acontecesse, mas aconteceu. A Câmara, que, cá entre nós, ao longo do tempo dificilmente tem tomado medidas para modernizar a vida política, jurídica, partidária e eleitoral do nosso País, saiu-se muito bem.

            Eu repito aqui: não é o projeto que teve 1,5 milhão assinaturas quando foi entregue à Mesa da Câmara e que hoje conta com quatro milhões de assinaturas virtuais a seu favor. Não é esse o projeto que foi aprovado. Foram feitas limitações. Não é o projeto que eu aprovaria e que eu gostaria que fosse aprovado. Não é. Mas é um grande passo, é um início, é uma tomada de posição das mais importantes no sentido de que estamos rumando para terminar com a impunidade. É o primeiro gesto nesse sentido do Congresso brasileiro.

            Foi aprovado por unanimidade. Não é o projeto ideal, nós sabemos. Mas nós estamos pretendendo que o Senado vote-o sem nenhuma emenda. Por quê? Porque, se nós o votarmos sem nenhuma emenda, se o Presidente Lula sancioná-lo no início da semana, até o dia 10, ele pode entrar em exercício para esta eleição.

            Então, é claro, temos outras emendas, queremos mudá-lo, queremos modificá-lo, mas deixemos para depois. Aprovamos esse projeto, ele entra em vigor - é um passo importante na ética e na moralidade -, depois, vamos discutir outros passos. Emendá-lo agora é matar a questão; é morrer; é não acontecer nada.

            Então, é normal. O Presidente Sarney deixou claro: “O Projeto Ficha Limpa é prioritário. Pretendo colocá-lo em votação imediatamente”. Falou isso à imprensa, falou isso à televisão, falou isso aos líderes, e está hoje na imprensa a sua posição muito clara nesse sentido.

            Os líderes também. O Senador Renan deixou claro: “Não tem nenhum problema, Senador, somos favoráveis, sem nenhuma emenda, a que ele seja votado imediatamente”. O Senador Mercadante, a mesmíssima coisa, em nome do PT. O Senador Arthur Virgílio, a mesmíssima coisa, em nome do PSDB. E assim os vários líderes.

            O Presidente da Comissão de Constituição e Justiça, o Senador Demóstenes, foi além: avocou para si ser o relator, para evitar delongas, dúvidas, interpretações, procurar relator, quem é, quem não é. “Eu sou o relator. Eu, o Presidente da Comissão.” E disse que, na quarta-feira, vai botar em votação.

            Eu não esperaria pela quarta-feira, eu imaginava que seria ontem. E só não foi por uma declaração infeliz do Líder do Governo, o Senador Jucá. Sobre o Projeto Ficha Limpa, disse o Líder do Governo: “Esse não é um projeto do Governo, é um projeto da sociedade”.

            Esse não é um projeto do Governo, é um projeto da sociedade! E diz que ele, Jucá, tem dúvidas e pretende apresentar emenda. Primeiro, apesar de ser Líder do Governo, o Senador Jucá não se deu conta da importância do alcance do que ele falou - e falou em nome do Governo! Ou falou, como é natural que ele fale, em nome do Governo, sem se dar conta da gravidade do que ele está afirmando.

            Primeiro, é uma frase fantástica: o projeto Ficha Limpa é do interesse da sociedade, não é do interesse do Governo. Quais são os interesses do Governo se não os da sociedade? Como é que um projeto pode ser do interesse da sociedade e não ser do interesse do Governo?

            Eu quero dar um crédito de confiança ao Senador Jucá. Nós estamos aí com os projetos - quatro - do pré-sal. A oposição está querendo extinguir a urgência, o Governo está exigindo a urgência, e essa matéria está obstruindo a pauta. Então, o Senador Jucá haveria de querer usar o Projeto Ficha Limpa para barganhar a questão do pré-sal. Mas está sendo muito infeliz o Senador Jucá. Em primeiro lugar, barganhar por quê? Dá a entender que o Projeto Ficha Limpa é do interesse da oposição e não do Governo: “Ora, se vocês da oposição querem aprovar o Projeto Ficha Limpa, aprovem a urgência do pré-sal”. Será? Será que o interesse é só da oposição no Projeto Ficha Limpa?

            A oposição tem uma situação muito tranquila. A oposição mantém a posição: luta a favor de votar com urgência, urgentíssima o Projeto Ficha Limpa e deixa o Governo arcar com a responsabilidade de não votá-lo. Como é que fica o Governo? Como é que fica o Governo?

            E há uma outra questão muito importante. Durante muito tempo, nós, aqui do Senado, debatemos uma tese. Voto distrital, já votamos aqui, está lá na gaveta da Câmara; fidelidade partidária, já votamos aqui, está lá na gaveta da Câmara; verba pública de campanha, já votamos aqui no Senado, está lá na gaveta da Câmara. Existe uma série de projetos da maior importância, do ponto de vista ético, moral, no avanço de questões como reforma partidária, reforma política, que já votamos e estão na gaveta da Câmara.

            Num debate na Universidade do Largo do São Francisco, falei isto: que tínhamos votado e estava na gaveta da Câmara. E um Deputado me deu uma resposta na frente dos estudantes. Foi uma gargalhada geral, e eu perdi a graça: “Olha, Senador, vocês votam tudo isso aí que estão votando, porque vocês confiam no patriotismo da Câmara. Vocês sabem que votam e fica em nossa gaveta, porque se imaginassem que, votando lá, seria aprovado aqui, vocês não votariam lá”. Eu passei a ter uma dúvida tremenda comigo mesmo. Será que é verdade? Será que esse espírito público do Senado, que eu acho que é um passo positivo, é um grau muito superior de elegância, de seriedade do Senado com relação à Câmara, será que é verdade? Será que nós votamos de mentirinha, só porque vai ficar na gaveta da Câmara?

            Hoje, nesse projeto, essa matéria está sendo colocada à prova. A imprensa está dizendo assim: “Finalmente, a Câmara votou um projeto primeiro que o Senado. E agora o Senado vai decidir”. Vai aprovar ou vai inventar, como quer o Jucá, coisas para não votar? O prestígio do Senado está em jogo. Todo nosso trabalho, no sentido da moral, da ética, das reformas política, tributária, partidária, eleitoral, tudo isso está em jogo agora, neste momento.

            Primeiro, não é um projetozinho daqui do Congresso. É uma iniciativa popular. Quatro milhões de assinaturas! Há uma pressão popular, no Brasil inteiro, cobrando. E essa pressão, justiça seja feita, impressionou a Câmara. Na Câmara, atingiu os seus objetivos. Vários líderes, várias pessoas contrárias se entregaram e votaram. “Não dá para resistir. É hora de votar”. E votaram. No final, terça-feira, as emendas mais duras, que queriam desvirtuar, praticamente anular o projeto, foram rejeitadas por acordo de líderes, por unanimidade. Não houve um líder, nem o Líder do Governo nem coisa alguma... Lá, o Líder do Governo não disse que o projeto contra os fichas sujas é do interesse da sociedade, e não do interesse do Governo. Por unanimidade, foi aprovado. E está aqui.

            Ontem, no Jornal da Globo; ontem, no Jornal das Dez do Globo News; ontem, no jornal da Bandeirantes, eu assisti, e fiquei envergonhado, à gozação em cima do Senado. Aquela repórter - brilhante, diga-se de passagem - Cristiana, que faz um debate, diariamente, sobre a Câmara e o Senado aqui, no Congresso, debochou da gente.

            Agora, eu quero ver o que vai acontecer. Ninguém vai sair bem se esse projeto não for aprovado. Ninguém! Nem eu, por mais que eu tenha falado aqui, menos ainda o Presidente Sarney, Presidente do Senado, que - a gente sabe - faz o que quer, não depende de líderes, faz o que quer. Muito menos os líderes de bancada. E o Senador Jucá, meu Deus do céu: “O Governo não tem interesse”! “O projeto é do interesse da sociedade, não é do Governo.” A gente já sabe que o Presidente Lula não é muito dado a bater na mesa com relação à ética. Ele vai deixando, vai levando: “tem que ver...”, “tem que provar...” E há várias acusações que se somam e se multiplicam com relação a essa matéria. O Presidente Lula não tem nada que ver com o presidente do sindicato, com o candidato de oposição que, olhe, Sr. Presidente, era de uma pureza e de uma exigência de dignidade que não tinha nada semelhante!

            Ninguém vai sair bem! E eu pretendo virar a mesa se acontecer isso! Eu pretendo virar a mesa se acontecer isso! Não vão nos fazer de bobos: “Ah, eu quis, mas não deu”; “Ah, pois é, mas havia duas medidas provisórias, tínhamos de votar primeiro a medida provisória”; “Ah, pois é, mas tinha prioridade sobre a questão a urgência do pré-sal”. Nós todos sabemos aqui que, quando os líderes querem, fazem o que querem.

            Nunca me esqueço de que houve uma época... Eu, hoje, até estou satisfeito, mas, há 20 anos, a empresa de aviação, a Embraer, estava no quebra não quebra, fecha não fecha, e entrou aqui um projeto no dia 15 de dezembro - último dia, ia fechar o Congresso. O presidente mandou votá-lo, e saiu. Votamos no plenário um mar de dinheiro para a empresa de aviação, sem Comissão, sem parecer, sem coisa nenhuma. Arbitrariamente, votamos. O argumento era de que, se até o dia tal não honrasse os seus compromissos, a empresa era fechada.

            Hoje, está provado até que estavam certos. Está aí a empresa, espetacular, uma das grandes empresas mundiais de construção de aviões, mas a turma quis, e, em 20 horas, entrou o projeto e saiu, com parecer de plenário.

            Então, não venham para cá, Presidente Sarney, Senadores e líderes, não venham para cá dizer: “Ah, mas é o Regimento”. Esse negócio de Regimento é uma piada.

            Já não olho mais para o Regimento, Senador Cristovam. O Regimento é feito para o Presidente do Senado. Para qualquer assunto que V. Exª levantar, o Regimento tem três decisões. Quer que vá? De acordo com o art. 127, a matéria vai para o arquivo. Quer rejeitar? De acordo com o art. 129, o projeto é rejeitado. Quer aprovar? De acordo com o...

(Interrupção do som.)

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - ... art. 132, o projeto é aprovado. Tem decisão (Fora do Microfone.) para o que o Presidente queira. O Regimento foi feito para o Presidente fazer o que quer. Todos nós sabemos disso. Então, vamos deixar isso claro aqui, que fique bem claro para a imprensa nesse sentido.

            Se nós quisermos... Na quarta-feira, o Presidente da Comissão de Constituição e Justiça já disse que vai dar parecer. Se o Senador Jucá pedir vista, eu vou pedir que seja dada vista a ele por duas horas. É uma matéria conhecida demais. Ele, principalmente, conhece demais a matéria. Mas vão votar na Comissão de Constituição e Justiça na quarta-feira. Se faltar quórum, vou ver e vou dizer à imprensa o nome dos que não estiverem lá na quarta-feira. Quem não comparecer, quem não der quórum na quarta-feira, vai responder por não ter estado lá na quarta-feira. Vamos pedir urgência urgentíssima para que, aprovado o parecer do Presidente Relator na Comissão de Constituição e Justiça, ele venha ao plenário, que é o que o Presidente Sarney diz que garante.

Vamos votar no plenário, que é o que os líderes estão dizendo, que vão votar no plenário, e quarta-feira vai para o Presidente da República sancionar. Esta é a saída, esta é a fórmula de fazer, e o Líder Jucá vai recuar. Eu vou fazer um voto de muito boa vontade com o Líder Jucá. Eu acho que ele está sendo um Líder competente e está aproveitando essa questão para impor a liderança do pré-sal, tirar o boicote do PSDB e do Partido Democratas, que exigem retirar a urgência do pré-sal. É um problema importante, e eu estou com o Governo nessa parte. Eu vou votar com o Governo. Eu vou votar com o Governo, mas deixem o projeto Ficha Limpa à parte, não misturem as coisas.

            Quarta-feira é um dia decisivo. Ou o Senado se consolida e mostra que essas votações que nós fizemos, nestes últimos 20 anos, tentando melhorar, tentando mudar, tentando aperfeiçoar e que não passaram na Câmara... Lamentavelmente, não passaram na Câmara, mas nós fizemos ou, segundo diziam alguns e a imprensa agora está gozando da nossa cara, era tudo de mentira, a gente votava aqui porque sabia que ficava na gaveta da Câmara. Agora não está na gaveta da Câmara, agora está aqui. Ou nós votamos ou deixamos na nossa gaveta.

            Com o maior prazer, dou um aparte a V. Exª, Senador.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Pedro Simon, eu fico feliz de ouvir uma voz como a sua na defesa desse projeto, que tem não só uma grande repercussão a partir dele, como tem um simbolismo muito grande pela origem, como chegou aqui o projeto, pela maneira como ele avançou, sensibilizando a opinião pública do Brasil inteiro. Eu não lembro de um projeto que tenha sensibilizado assim a opinião pública. Os projetos que sensibilizam, em geral sensibilizam corporações, grupos de interessados, grupos legítimos - grupo dos aposentados, grupo dos trabalhadores de uma estatal, os funcionários públicos de uma categoria, empresários de certos setores. Quase sempre, aqui chegam projetos que unificam os interesses de grupos. Esse unificou os da sociedade...

            (Interrupção do som.)

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - ...brasileira. Obrigado, Senador Mão Santa. Esse chegou aqui com o apoio da sociedade inteira, por isso avançou. Aí, me surpreende a frase do Senador Jucá, porque se existe projeto da sociedade que não é do Governo, existe Senador que é do Governo e não é da sociedade. E é muito ruim um Senador que não é da sociedade. Quando o Governo traz uma proposta que não é da sociedade, é porque o Governo deve estar errado, salvo em situações muito especiais, em que o País precisa de um sacrifício muito duro, numa guerra, e, aí, tem de convencer o povo de que está do lado certo. Nós não temos o direito de frustrar a população brasileira nesse projeto, pelo seu simbolismo. Além disso, é claro que essa lei vai trazer profundas mudanças na política brasileira. Não tantas quanto se espera, porque a gente sabe como é possível postergar, postergar, postergar e terminar adiando. A pessoa termina seu tempo de vida e, aí, a ficha suja vai estar no atestado de óbito. Aí, não adianta muito para o que a gente quer. Mesmo assim, ela vai trazer uma força muito grande. Além disso, tem problemas, sim, a lei. Eu acho que a lei não deixa muito clara a diferença entre três coisas: o desvio para o bolso, que é o roubo da corrupção; o desvio de prioridade - como, hoje, eu vi o Deputado Gerardo sendo cassado, sendo condenado pelo STF, o primeiro Parlamentar desde 1988. É claro que ele cometeu um erro, mas fico pensando se esse deveria ser o primeiro ou o último. Ele foi punido porque, com o dinheiro que vinha para uma obra, ele fez outra que, pelo que vi nos jornais, era igualmente necessária. Então, ele descumpriu uma legalidade. Muito bem, tem de ser condenado, mas não é o mesmo...

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Mas, cá entre nós, para primeira cassação na história do Supremo podiam pegar mil casos mais graves.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Muito, muito mais graves. Então, a gente tem a diferença entre o desvio para o bolso e o desvio de uma prioridade, que, aliás, não foi para fazer um prédio, não foi para fazer a prefeitura, foi para fazer uma série de pontes em rios que sofrem cheias. E esse está condenado. E tem a terceira: equívoco, erro. Eu acho que foi o caso, por exemplo, da Deputada Erundina. Ela não se apropriou de dinheiro, não se desviou de prioridade, apenas ela publicou uma carta nos jornais, num momento de greve, e botou o nome dela, em vez de colocar o nome do Governo de São Paulo. A lei não permite que se coloque o nome do governante. Isso foi um erro, um erro da assessoria jurídica e, obviamente, a gente...

            (Interrupção do som.)

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Fora do microfone) - Eu também fui condenado com a Erundina, porque eu ajudei.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Sim, nós ajudamos a pagar, mas ela foi condenada.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Mas ela foi condenada.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Então, foi condenada por um erro da assessoria jurídica e, claro, cada um de nós tem de assumir a responsabilidade pelo assessor jurídico que a gente contratou. Se ele deixa passar besteira é porque a gente deixou passar a contratação dele. São três tipos diferentes de sujeira na ficha. Tem três tipos diferentes de ficha suja, mas não vai dar tempo de consertar isso. Isso, o processo, depois, conserta. Alguns dizem: “Mas então vai cometer injustiça”. Uma ou duas injustiças, nesse caso, ou três, ou quatro, ou cinco são o preço que a gente deve pagar para limpar não a ficha, mas limpar a política. Ficha suja é das pessoas, mas, na verdade, a gente está procurando uma ficha limpa da política - na política, melhor. Então, por isso eu estou de acordo com o senhor que nós temos de aprovar isso o mais rapidamente e eu espero que por unanimidade, que não haja dúvida nenhuma. Até qualquer um que tenha risco de, amanhã, por um equívoco que tenha cometido, vir a ser punido não tem de ter dúvida em votar a favor disso. Não vai matá-lo, não vai ser preso, talvez. Se for preso, é pela condenação, não pela ficha limpa. A ficha limpa não vai prender ninguém. A ficha limpa vai apenas impedir que seja candidato. Então, se for preso é porque a lei mandou. Eu só quero chamar a atenção, porque eu gostaria de ver a experiência da ficha limpa ser usada para outras coisas. Nós nos preocupamos muito com a corrupção de quem rouba dinheiro para si e não nos preocupamos com quem rouba dinheiro ao aprovar um projeto para prédios de luxo em vez de saneamento, quando tem gente morando sem água ao lado do prédio de luxo. É o que chamo de corrupção nas prioridades. Este País sofre de corrupção do comportamento de políticos, mas sofre, também, de corrupção nas prioridades equivocadas da política. Eu gostaria de ver um movimento como o da ficha limpa, e aí eu concluo, Senador Mão Santa - peço um minuto mais, porque estou terminando em segundos -, eu gostaria de ver também esse movimento maravilhoso, que fez com que nós todos fôssemos positivamente atropelados - atropelados por um caminhão ético - ao aprovarmos a ficha limpa.

            (Interrupção do som.)

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Eu gostaria de ver outras iniciativas populares para outros projetos. Eu gostaria de ver a iniciativa popular para essa bandeira que eu tenho defendido de que nós, parlamentares, governantes, deveríamos, num prazo determinado, ter nossos filhos em escolas públicas, senão estaríamos ferindo o decoro. Eu acho que é falta de decoro, quando a gente tem um cargo público e zela pela qualidade da educação, a gente fechar os olhos. Eu até acho que se deve dar um prazo para que a gente melhore a educação pública e faça como nos outros países, em que todos estudam na escola pública. Eu gostaria de ver uma iniciativa popular pela carreira nacional do magistério, porque é o único caminho para permitir uma revolução educacional no Brasil. Eu faço, aqui, um apelo a esses que lideraram, de uma maneira tão brilhante, a campanha pela ficha limpa para que comecem ...

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - V. Exª só pode fazer o apelo se nós aprovarmos esse projeto.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Isso é verdade.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Senão, não pode fazer apelo nenhum.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - O senhor tem toda razão. Sem a aprovação, eu faço o apelo mas ele perde toda a validade. Eu vou fazer porque acho que vai ser aprovado, e por unanimidade. Eu gostaria de ver mais iniciativas populares trazendo novas leis para cá, não só na corrupção, no comportamento dos políticos, mas também querendo conduzir este País para caminhos melhores. Esse é um desejo que tenho e que deixo aqui, pedindo que a opinião pública comece a trazer mais projetos para cá. A opinião pública vai adquirir uma grande confiança quando nós, na quarta-feira, aprovarmos, como eu espero e o senhor também, a ficha limpa para limpar a política no Brasil. Com todos os erros -alguns -, é melhor aprová-lo já e depois ir melhorando, que frustrar a opinião pública e continuar no mesmo ritmo de fechar os olhos à sujeira das fichas que inundam a política brasileira..

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu fico me perguntando por que o PT deixou V. Exª, a Marina, ...

            (Interrupção do som.)

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - ... o Frei Beto e a nossa querida Senadora lá de Alagoas saírem do Partido, para se agarrar com alguns do PT e alguns do PMDB que eu não sei para quê. Eu não consigo entender. O seu raciocínio foi de uma perfeição absoluta. Eu concordo plenamente com V. Exª. Esse projeto também não é o meu. Não é o meu projeto, mas tem de ter um início.

            Esse projeto tem um símbolo. Qual é o símbolo? O início do fim da impunidade. É isso que nós estamos votando. É assim que a imprensa está publicando e é assim que a sociedade vai receber: “Começou. Começou!” O que temos de mudar depois? V. Exª tem razão. Nós vamos ter um tempo enorme para mudar, para modificar, mas a partir de alguma coisa que já existe. Não é a partir do zero, como até agora: zero, zero, multiplicado por zero. Não, já existe alguma coisa. Vamos melhorar isso que já existe. Aí, V. Exª tem toda razão.

            Não é um projeto da iniciativa popular? Por que não vem um projeto de iniciativa popular com relação à verba pública de campanha?

            O que está acontecendo na Imprensa hoje, a briga pelos dirigentes dos cargos que comandam os fundos de pensão é um escândalo. É uma guerra do PT com o PMDB, com os outros partidos, quem é que vai pegar o cargo que é do fundo de pensão, que tem a montanha de dinheiro! Fundo de pensão, hoje, é um cargo altamente político e de alto interesse esse cargo.

            Essas coisas estão acontecendo, essas coisas estão acontecendo.

            (Interrupção do som.)

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu já disse aqui e repito: numa reunião nossa, do nosso grupo católico, o Frei Beto estava lá e comunicou que estava saindo da Assessoria do Lula. Continuava muito amigo do Lula, mas chegou um determinado momento que ele achou que a melhor maneira de ajudar seria sair, porque ele estava atrapalhando.

            Na nossa missa, ele falou isso, e eu o interrompi, de uma maneira deselegante, depois eu morri de vergonha, e disse: “Desculpe-me, Frei Beto, mas se os bons saem, quem fica? O senhor tem que ficar lá, para cobrar, para falar e não sair”. E ele respondeu meio assim: “É meu filho, mas, às vezes, tu chegas num ponto que é um limite. Tu passas a ser visto de maneira negativa. Tu estás atrapalhando e não está conseguindo ajudar”. O Frei Beto foi obrigado a sair, porque os conselhos que ele dava eram considerados negativos.

            Quando vejo os nomes do PT que estão aí...Esse que, agora é candidato do PSOL, era um herói do PT, o Plínio de Arruda, era um grande nome. Eu olhava para ele, as teses e as bandeiras que ele defendia... Nunca vi V. Exª defendendo luta armada, ou defendendo romper definitivamente com o capitalismo, ou impor um regime comunista, nem o Plínio de Arruda Sampaio eu vi, nem o Frei Beto. O que caracteriza essas pessoas que saíram é a pureza, a fidelidade ao sentimento. V. Exª, o Frei Beto, o Plínio, essa nossa Senadora candidata a Presidente. Não vejo como ela ganhar porque ela é pura demais para o Brasil. O Brasil está muito aquém. Mas que baita candidata! Que biografia! A biografia do Lula é uma bela biografia; a biografia da Dilma é uma bela biografia; a biografia do Serra é uma bela biografia, mas a biografia dessa moça, analfabeta aos 16 anos, criada ali no meio da selva, no meio das pessoas que precisavam, e naquela pureza que ela foi indo, indo; ela não faz um discurso, ela faz uma pregação; ela é mística. Acho até que ela é boa demais para nós, nós ainda não estamos em condições de chegar lá, teve de sair do PT! Teve de sair do PT!

            E, agora, acho que é o momento, talvez, em que o próprio Lula não tenha se definido. Mas a frase do líder dele foi muito complicada: “O Projeto Ficha Limpa é de interesse da sociedade, não é do Governo!”.

            Eu quero dar uma interpretação simpática ao Líder do Governo. Ele achou que era hora de chantagear. Como todo mundo quer, todo mundo quer aprovar, então, vamos dizer: “Eu aprovo, desde que a Oposição não exija a retirada da urgência do Pré-Sal.” Mas ele foi infeliz. Ele misturou alhos com bugalhos. Ele misturou uma tese de debate nossa, que é interna, que é correta ele brigar, ele lutar. O Governo quer urgência, vamos lutar, vamos discutir, vamos debater! Vamos. Ele tem razão. Eu estou do lado dele. Mas não misturar com o Ficha Limpa. Querer chantagear com o Ficha Limpa? Até porque ele está atirando o Projeto Ficha Limpa no colo da Oposição. Quer dizer, o PSDB é que quer. É interesse da sociedade, do PSDB; o Governo não quer.

            Eu confio no Presidente Sarney. Ele está sendo muito claro. Tenho minhas restrições a muita gente, mas confio no Líder Renan, confio no Líder do PT, confio no Líder do PSDB e confio que o Líder do Governo vai ter a maturidade de recuar. Quarta-feira o Presidente da Comissão...

            (Interrupção do som.)

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - ...e Relator, Senador Demóstenes Torres, apresenta o parecer. Quarta-feira, se pedir vista, nós damos o prazo de duas horas e votamos na Comissão. Quarta-feira, na Comissão, nós pedimos urgência urgentíssima para vir para o Plenário. E quarta-feira o Plenário vota, e vai para o Presidente da República.

            É o que vai acontecer, Sr. Presidente, para honra do Senado e felicidade deste País.

            Muito obrigado a V. Exª.


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