Discurso durante a 72ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Posicionamento favorável a que o Senado Federal delibere, com urgência, sobre as propostas de extinção do voto secreto na Casa, bem assim sobre o projeto conhecido como "Ficha Limpa". Denúncias de irregularidades e outras críticas ao Governo do Estado do Pará.

Autor
Mário Couto (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Mário Couto Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
LEGISLAÇÃO ELEITORAL. CONGRESSO NACIONAL. ESTADO DO PARA (PA), GOVERNO ESTADUAL.:
  • Posicionamento favorável a que o Senado Federal delibere, com urgência, sobre as propostas de extinção do voto secreto na Casa, bem assim sobre o projeto conhecido como "Ficha Limpa". Denúncias de irregularidades e outras críticas ao Governo do Estado do Pará.
Aparteantes
Alvaro Dias, Augusto Botelho, Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 14/05/2010 - Página 20460
Assunto
Outros > LEGISLAÇÃO ELEITORAL. CONGRESSO NACIONAL. ESTADO DO PARA (PA), GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • DECLARAÇÃO DE VOTO, APOIO, PROJETO DE LEI, INELEGIBILIDADE, REU, CORRUPÇÃO, RECLAMAÇÃO, NEGLIGENCIA, PARTIDO POLITICO, RESTRIÇÃO, CANDIDATURA.
  • COBRANÇA, URGENCIA, VOTAÇÃO, EXTINÇÃO, VOTO SECRETO, MELHORIA, ETICA, REPRESENTAÇÃO, ELEITOR.
  • REGISTRO, PEDIDO, ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, RELATORIO, AUDITOR, ESTADO DO PARA (PA), OCORRENCIA, LOBBY, GOVERNO ESTADUAL, OCULTAÇÃO, DOCUMENTO, RETIRADA, PARTE, EFEITO, DEMISSÃO, SECRETARIO DE ESTADO.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, DEPUTADO ESTADUAL, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, ESTADO DO PARA (PA), ABANDONO, SAUDE, SEGURANÇA PUBLICA, EDUCAÇÃO, ECONOMIA, COMPROVAÇÃO, DESVIO, FUNDOS PUBLICOS.
  • LEITURA, MENSAGEM (MSG), INTERNET, ALUNO, ENSINO MEDIO, RECLAMAÇÃO, PRECARIEDADE, ENSINO, GREVE, PROFESSOR, PREJUIZO, EXAME VESTIBULAR.
  • DENUNCIA, SUPERFATURAMENTO, OBRAS, RODOVIA, LIGAÇÃO, VILA, PESCADOR, MUNICIPIO, SALINAS (MG), ESTADO DO PARA (PA), PROTESTO, ATUAÇÃO, GOVERNADOR.

                          SENADO FEDERAL SF -

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            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - V. Exª sabe a minha admiração por V. Exª. Muito obrigado pelo carinho.

            Nobre Senador Mão Santa, Srªs e Srs. Senadores, ia eu falar hoje, Senador Mão Santa... Eu tinha escolhido dois temas para falar: o Ficha Limpa, sobre o qual eu queria externar aqui o que penso, mas o farei em outra oportunidade - já disse que vou votar a favor do projeto -, e o voto secreto.

            Sabe, Senador Suplicy, nós não temos que nos glorificar por votarmos esse Projeto Ficha Limpa. Não traz nenhuma glória para o Senado nacional votarmos o Projeto Ficha Limpa. Acho que esse projeto já devia ter sido adotado há muito tempo, até pelos próprios partidos, até pelos próprios partidos. Acho que é uma obrigação nossa.

            Ora, calcule, Senador Suplicy, se no PSDB ou em qualquer partido haverá um candidato que é condenado pela Justiça! Esse é um projeto que já devia ter sido votado há muito tempo.

            Senador Alvaro Dias, o que nós temos que votar aqui, imediatamente também, é a queda do voto secreto. Isso é uma estupidez! Isso é uma vergonha! Isso é uma vergonha ao Senado, ao Congresso Nacional. Não é ao Senado, é ao Congresso Nacional.

            Quando o eleitor nos manda para cá, ele nos manda para ver como é que votamos. E como é que eu vou esconder o meu voto para eles? Então, eu me sinto constrangido quando tenho a obrigação regimental - não posso fazer diferente, senão serei punido - de esconder o meu voto. Eu sou obrigado a esconder o meu voto! Mas eu quero mostrar à sociedade o meu voto, eu desejo mostrar, é obrigação minha mostrar!

            Será que no tempo de Rui, Senador Mão Santa, V. Exª que é um estudioso de Rui Barbosa, será que no tempo de Rui Barbosa nesta Casa havia voto secreto? O Rui escondia o voto dele? Será que o Rui escondia o voto dele, Mão Santa? Com certeza, não, Mão Santa! Isso é uma vergonha para nós! Lute por isso, vamos lutar por isso! Há um projeto. Ponha-o em pauta, ponha-o junto com o da Ficha Limpa. Apense o projeto do voto secreto, a quebra do voto secreto, apense ao Ficha Limpa. Ponha os dois para serem votados aqui!

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - O voto secreto surgiu de uma inspiração de Vargas, porque o voto também aberto era aquele de o coronel entrar na cabine e votar. Então, não tinha nada a ver com o Parlamento. Por isso é que surgiu essa inspiração no TSE, que foi de Getúlio Vargas, no período ditatorial.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Foi Getúlio Vargas que implantou o voto secreto?

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Foi, sim.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Que pena!

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Não, mas era para o eleitor. Ele não estendeu para o Parlamento.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Ah, para o eleitor. É diferente!

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Para o eleitor.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Eu já ia dizer que estava admirado.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Porque o voto era aberto e aí o coronel acompanhava até o....

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Ah, mas não tem por que trazer para o Parlamento, Sr. Presidente, meu querido Mão Santa.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Eu estou apenas relembrando a História.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Se nós queremos mostrar à sociedade que nós estamos começando a moralizar o Congresso Nacional, Senador Suplicy, que nós estamos querendo moralizar o Senado Federal, se nós queremos mostrar isso à sociedade, não é só votar o Ficha Limpa. Nós votamos o Ficha Limpa e deixamos o voto secreto? Isso é uma aberração, isso é uma estupidez, isso é vergonhoso! Vergonhoso a todos nós, que andamos na rua, que representamos o povo deste Brasil. Eu represento o povo do meu Estado do Pará.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite?

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Seja rápido, porque eu tenho aqui uma...

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Apenas para dizer que estou de acordo tanto no que diz respeito à votação do Projeto Ficha Limpa, como também com respeito ao voto aberto. Aliás, a iniciativa de proposta de emenda à Constituição do nosso Senador, do Partido dos Trabalhadores, Tião Viana, é no sentido de acabar com votos secretos no Congresso Nacional. E eu expresso a minha concordância, portanto, com o anseio de V. Exª.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Obrigado. Eu sabia que não poderia ser diferente partindo de V. Exª.

            Mas, meus amigos...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Eu só queria dizer a V. Exª que estamos na 53ª Legislatura, e isso já esteve em pauta, mas não foi votado, permaneceu o voto secreto. V. Exª não estava...

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Por que não se vota isso? Por que não se derruba isso?

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Já passou, ele permaneceu. Já foi...

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Está em pauta?

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Já esteve.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Pronto. Ponha junto com o Ficha Limpa para a gente votar, derrubar e acabar com isso. Ponha junto com o Ficha Limpa! Vai ser vergonhoso para o Senado Federal votar o Ficha Limpa e deixar em pauta o voto secreto. É uma vergonha para todos nós! Podemos fazer uma ação aqui a partir da próxima semana: só votaremos o Ficha Limpa se a ele for apenso o projeto da quebra do voto secreto. Não podemos mais votar secretamente neste Senado! Não podemos esconder o voto do povo! Não podemos esconder o nosso voto do povo! Isso é vergonhoso para cada um de nós!

            O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Mário Couto.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Pois não, Senador Alvaro.

            O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador, V. Exª lembra bem. Já fez aniversário, parece-me que mais de um aniversário. Estão na pauta da Ordem do Dia três propostas sobre o voto secreto: uma PEC de minha autoria, outra do Senador Antonio Carlos Valadares e outra do Senador Paulo Paim. Houve um acordo, em determinado momento - quando o Senado estava em crise em razão de um processo contra um Senador por quebra de decoro parlamentar -, de que essas propostas seriam prioridade e que estariam na pauta, na Ordem do Dia, para deliberação. Elas continuam na pauta, continuam na Ordem do Dia, mas não houve deliberação. V. Exª tem razão em cobrar, faz muito bem em cobrar.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Obrigado, Senador. Conheço o caráter de V. Exª.

            Senador Mão Santa, fica a sugestão para que, na próxima semana, votemos os dois projetos. Eu vou insistir, viu, Senador? Vou insistir, não vou parar até que se vote a derrubada do vergonhoso voto secreto. Isto é uma vergonha para o Congresso Nacional: nós, Senadores da República, termos a obrigação de esconder o voto da população!

            Senadores, eu ia fazer um amplo comentário a respeito do voto secreto.

            O Sr. Augusto Botelho Bloco/PT - RR) - Senador.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - V. Exª quer um aparte? Tenho a maior admiração por V. Exª. Nem que o meu tempo acabe agora, eu lhe dou o aparte.

            O Sr. Augusto Botelho Bloco/PT - RR) - Senador, gostaria apenas de cumprimentá-lo por sua veemência em dizer que vamos moralizar o Senado com o Ficha Limpa, Mas lembre-se de que essa medida vai moralizar as assembleias e as câmaras todas. Todo mundo vai ter que ter ficha limpa, em todos os níveis. Trata-se de um projeto realmente necessário neste País. Eu gosto de ver V. Exª bater firme e dizer que ele tem de ser aprovado logo. Vamos fazer tudo para aprová-lo na quarta-feira que vem.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - O Ficha limpa é obrigação nossa, o Ficha Limpa não é nenhum favor que estamos fazendo à sociedade.

            Ora, calculem, em qualquer partido, haver alguém condenado e disputando uma eleição! O Ficha Limpa é uma obrigação. Não tem nenhum favor a ninguém, não tem nenhum aspecto de moralização nisso.

            Agora, querem moralizar o Senado? Votem junto com o Ficha Limpa a quebra do voto secreto. Não esconda o seu voto do povo! Por que nós temos de esconder aqui? Por que nós temos de esconder o nosso voto da população? Isso é uma vergonha! Isso é uma maldade que se faz contra cada um de nós! Aliás, para uns é ótimo, para outros é maldade.

            Nós vamos voltar a esse assunto na próxima semana. Esta próxima semana vai ser uma semana muito movimentada.

            Srs. Senadores, esta tarde eu trago novamente um tema para que os paraenses façam uma reflexão.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Senador Mário Couto, a nossa Secretária Geral, Drª Cláudia Lyra, comunica que na Mesa não está; ela disse que vai averiguar se está nas Comissões. Nós vamos atendê-lo.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Eu vou lhe prometer uma coisa como seu amigo. V. Exª hoje é 3º Secretário desta Mesa, um atuante Senador que está aqui sempre presente comandando esta Mesa. Tenho profunda admiração por V. Exª. Quero lhe dizer que mandarei colocar no aeroporto do Estado do Pará, na capital paraense, a sua estátua, consagrada, custe o que me custar, se V. Exª colocar na pauta essa vergonha que é o voto secreto aqui, no Senado. E não é só no Piauí que eu farei isso, não. Eu farei no aeroporto do Piauí e do Pará, colocarei o seu busto lá, uma homenagem ao homem que colocou na pauta esse vergonhoso voto secreto.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Pois ela está averiguando em que Comissão está, e vamos buscá-lo para trazer para a Mesa.

            O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Mão Santa, está na Mesa, está na pauta, está na Ordem do Dia há bastante tempo, aguardando votação.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - A Secretária Geral está informando que não está, a Drª Cláudia Lyra.

            O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Está. Posso assegurar a V. Exª que está na pauta.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Mais adiante eu darei todos os detalhes.

            O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - A menos que tenham retirado da pauta, mas vieram para a pauta as três propostas... Aliás, eu até me equivoquei: é de minha autoria, de Sérgio Cabral e de Paulo Paim. Antonio Carlos Valadares foi relator. Veio para a pauta, para a Ordem do Dia, por acordo de lideranças, quando estávamos apreciando a questão Renan Calheiros, ainda. Vejam que já há um bom tempo. Foi incluído na pauta, a menos que tenha sido retirado. Mas estava na pauta, pronto para deliberação.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Que moralidade é essa, Presidente? O que nós vamos moralizar aqui, no Senado, votando o Ficha Limpa, se nós estamos escondendo a votação do voto secreto? Vamos moralizar absolutamente nada! A sociedade está atenta aos nossos atos. O que a sociedade vai dizer de cada um de nós? “É, eles votaram o Ficha Limpa, que é obrigação deles, mas eles escondem lá o projeto do voto secreto para esconder o seu próprio voto na hora em que necessitam.” Deus do céu, isso é uma vergonha! Isso é uma vergonha, Senador Mão Santa! Vamos acabar com isso. Vamos debater esse tema a semana toda.

            Mas, paraenses, eu tenho o dever e a obrigação de mostrar à sociedade do meu Estado a crise por que passa o Estado do Pará.

            Ora, Senador Alvaro Dias, lançaram uma novela das oito horas no Estado do Pará. A Caixa da Pandora é o nome da novela.

            Meu querido Senador Alvaro Dias, no Pará, designada pela Governadora Ana Júlia Carepa, a Drª Teresa Cordovil assumiu o posto de Auditora Geral do Estado. A corajosa Deputada Simone Morgado pediu relatórios para a Auditora Teresa Cordovil. A princípio, o pedido foi negado. A corajosa e competente Deputada Simone Morgado insistiu e ameaçou ir ao Ministério Público, querendo as auditorias que foram feitas no Estado. Aí, Teresa Cordovil, auditora, começou a sofrer pressão para não encaminhar à Assembleia Legislativa as auditorias - eu já estou contando a novela, eu já estou falando da novela!

            Depois de tanta insistência da nobre Deputada, a auditora fez o seguinte. Sabendo que naquela caixa continham as auditagens que ela iria mandar para a Assembléia - ali estava todo o conteúdo de irregularidades no Estado do Pará -, o que é que ela fez? Mandou a caixa, mandou a caixa com as auditorias, mas pediu demissão.

            Abre-se ou não a caixa da Pandora? Uns Deputados puxavam a caixa e diziam: “Abram!”. Outros Deputados puxavam a caixa e diziam: “Não abram, porque aí está a desgraça do Pará”. Igual como a mitologia conta a história da caixa da Pandora. Abrir ou não a caixa era a grande indagação. Mas o que há dentro dessa caixa?

            A competente Deputada pediu para si a caixa da Pandora: “Vamos abrir a caixa da Pandora!”. E resolveram abrir, Deputado Alvaro Dias. Quanta surpresa! Ao se abrir a caixa da Pandora, estavam faltando 35 páginas!

            Ora, Senador Mão Santa, ora meu povo querido do meu Estado, já tinham levado as 35 primeiras páginas do relatório! Sumiram as 35 primeiras páginas do relatório! Mas a Deputada, corajosa, atuante e competente, insistiu.

            Parabéns, Simone Morgado! Parabéns por sua atuação! Eu, aqui, no Senado Federal, tenho a obrigação de parabenizar V. Exª pela conduta e pela coragem. Vá em frente! Mostre ao povo do Pará as maracutaias que hoje fazem contra a nossa população, o erário lesado, o dinheiro público usado em campanhas públicas, em campanhas políticas. Mostre à sociedade, Deputada, mostre com coragem, como V. Exª está fazendo neste momento!

            Vou mostrar só uma que acredito estar lá na caixa da Pandora. Vou mostrar só uma, sociedade paraense. Uma eu tenho aqui em minha mão para ler aos paraenses, para mostrar aos paraenses que aquela em quem confiamos nos enganou. Eu não posso deixar de falar, paraenses. Parece perseguição eu estar aqui, quase todos os dias, mostrando as mazelas desse governo que desgraça o nosso Estado, mas saibam, paraenses, que essa é a minha obrigação, é o meu dever. Eu não estaria bem com a minha consciência, depois de vocês terem me mandado para aqui para fiscalizar os governos, se ficasse calado diante de tantas mazelas praticadas por esse governo. Vocês precisam saber! Vocês precisam tomar conhecimento. Vocês precisam tomar conhecimento de como está o nosso Estado, um Estado arrasado, um Estado falido, um Estado à beira do abismo, um Estado que agoniza, um Estado sem economia, um Estado sem segurança, um Estado sem saúde, sem educação, um Estado que tem os seus cofres públicos lesados - isso foi mostrado pela auditora que foi colocada no cargo pela própria Governadora do Estado do Pará.

            Paraenses, olhem esta vergonha! Eu aqui já mostrei, eu aqui já falei que o meu Estado, um Estado rico em minérios, um Estado rico em possibilidades para o turismo, é um Estado que não tem lei, um Estado onde não se cumprem as leis. Tenho aqui na minha mão algo que jamais pensei que pudesse acontecer no meu Estado. Tenho aqui na minha mão uma aberração, tenho aqui na minha mão que o erário paraense está sendo lesado, a confissão de uma senhora de que o erário está sendo lesado. E não é qualquer senhora. É uma Secretária de Estado do próprio Governo do Estado!

            Quantas coisas já mostrei aqui? Mostrei, ontem, como vive a nossa educação. Mostrei que o salário do professor é o menor do País. Mostrei que o salário do nosso militar é o menor do País.

            Olhem o que vou mostrar hoje. Qualquer tema que eu trouxesse aqui seria menos importante do que este que vou mostrar hoje. Por isso, paraenses, decidi, mais uma vez, vir a esta tribuna falar do Estado do Pará. Não sou candidato a nada, não sou candidato a absolutamente nada. Vocês votaram em mim, depositaram sua confiança em mim até 2014. Não estou fazendo politicagem, não estou perseguindo ninguém. Estou usando o direito que vocês me deram para falar por vocês aqui desta tribuna, e falarei por vocês até o último dia do meu mandato, defenderei até o fim o meu Estado. Faço acusações sem medo! Não adianta fazerem ameaças à minha pessoa, não adianta ficar aborrecido, não adianta mandar recado. Prefiro ficar ao lado do meu povo, prefiro lutar pelo meu povo, prefiro respeitar o meu povo.

            Há dois dias pediu demissão mais um Secretário do Governo do Estado do Pará: a Secretária de Educação Socorro Coelho. Senador Mão Santa, se V. Exª trouxer alguma coisa igual a esta aqui que vou ler ao Brasil e disser a mim que está acontecendo no Estado de V. Exª, eu posso dizer a V. Exª: “O seu Estado está perdido”.

            Tenho aqui a confissão de uma Secretária colocada pela própria Governadora no cargo - lógico, lógico, Senador Mão Santa. A Secretária pede demissão e sai dando as seguintes declarações. Olha, paraense, como é que eu vou deixar de falar sobre um assunto destes nesta tribuna? Vou ler, do blog da professora Edilza Fontes, as declarações da Secretária Socorro Coelho, que saiu há dois dias: “Encontrei muitos problemas [na Secretaria quando assumi], em torno de 88 escolas reformadas e não pagas porque foram feitas sem licitação”.

            Aos Poderes da minha terra, ao Ministério Público, à Assembleia Legislativa, à Justiça do meu Estado: isso é dinheiro público. Isso é dinheiro público sendo lesado, ou melhor, eu gosto de usar o português popular, é dinheiro público sendo roubado.

            Sabe qual é o slogan da Governadora do meu Estado? “Terra de direitos”. “Terra de Direitos” é o slogan da Governadora do meu Estado. Que direito têm as empresas de participarem de licitações, se não tem licitação no Estado do Pará?

            Já li aqui a declaração de uma Procuradora da própria Secretaria, ordenando o pagamento de uma obra e dizendo que não foi feita a licitação, e a Secretária confirma hoje isso. Está em todos os jornais do Pará: 88 escolas em obras cujas licitações não foram feitas.

            E vamos mais.

            “Encontrei”, dizia a Secretária, “1.232 turmas sem professor, hoje não há problema de falta de professor em sala de aula, estas turmas ficaram sem professor até setembro de 2009”. Triste Pará.

            Agora, vou mostrar a vocês a maior obra dessa Secretária, o orgulho dessa Secretária, Senador Alvaro Dias. Olhe do que ela se orgulha. Ela não fala em obras que fez; ela não fala em nada do que fez. Olhe o orgulho dessa Secretária que saiu: “Em sete meses (...)”, o Estado deixou “prontas 32 escolas para serem entregues, todas elas feitas com licitação”.

            É um orgulho pra ela. Já que o outro não fazia licitação, ela vem e grita: “Olha, para as minhas obras, eu fiz licitação!” Grande orgulho da Secretária! E ela repete várias vezes. “Com certeza, o próximo gestor não encontrará obras na minha gestão sem licitação (...)”. Esse é o meu orgulho.

            Onde chegamos? Onde nós chegamos, paraenses? Fazer licitação é lei, é obrigação. Quem não faz vai pra cadeia. Aqui no Brasil, não. Aqui no Brasil, se é do PT, não. A Governadora do meu Estado é do PT. Ninguém vai preso. Não acontece nada.

            Eu volto a dizer e a bater no peito: eu renuncio! Eu desço desta tribuna e não subo mais!

            Qual foi, até hoje, o membro do PT punido neste País, que cometeu irregularidade? Digam-me! Digam-me um, desde o Waldomiro para cá, falem um! A coisa chegou à sem-vergonhice. Isto aqui é sem-vergonhice. A Secretária vai e diz: “Olha, eu encontrei 88 escolas feitas sem licitação”. E daí? E daí? Nada acontece.

            Aliás, acontece alguma coisa sim. Acontece. Onde reflete toda essa anarquia e irresponsabilidade? Onde reflete? No jovem estudante. Naquele que precisa de educação. Naquele que espera que o Estado cumpra com o seu dever de educá-lo. E eu recebi um e-mail, no meio de milhares que recebo, de centenas que recebo, de dezenas que recebo, e eu não costumo ler nesta tribuna, até porque acho que não compete estar lendo e-mail nesta tribuna. Mas este aqui eu vou ler. Este aqui, a ver tudo o que vi hoje, ao comentar nesta tribuna tudo o que comentei hoje, a patifaria, a falta de seriedade, o cinismo que tomou conta do Governo do Pará... Rouba-se e se declara. Sem medo de nada. Rouba-se e se declara.

            A própria Secretária do Governo que saiu dá declaração aos jornais e a blogs no Estado do Pará.

            Ô Ministério Público do meu Estado, você tem um chefe de um caráter excepcional! Tome providências, Dr. Geraldo! Tome providências! Justiça do meu Estado, tome providências! O Secretário atual está dizendo, hoje, que isso não é verdade. Chame a Secretária para dizer se é verdade ou não é. A Justiça, o Ministério Público tem que chamar a Secretária! No mínimo, ela vai ter que dizer que mentiu. No mínimo. Mas isso é uma vergonha para o povo do meu Estado.

            Vou ler o e-mail que recebi. Um jovem de 17 anos me escreveu esse e-mail hoje:

Sr. Senador, meu nome é Jadson Albuquerque, tenho 17 anos, moro em Santa Maria das Barreiras, que fica próximo a São Caetano de Odivelas. Estudo na Escola Estadual Osvaldo Brito de Farias e faço o 3º ano do ensino médio.

Venho agradecer por tudo que o senhor falou no Senado ontem à noite, sobre o desrespeito que a Governadora está fazendo.

O senhor falou o que muitos queriam ouvir.

Bravo, doutor! Bravo!

Hoje é o último dia de aula na minha escola. Os professores vão grevar, e eu e muitos outros alunos ficaremos prejudicados. Neste ano tem vestibular, Senador, para mim e eu estou muito preocupado. Como eu posso passar, se eu não tenho conteúdo e nem apoio dos profissionais da educação?

Sabe, Senador, estou muito triste. Quero muito estudar, Senador. Meu sonho é ser um professor, mas o Governo do Estado do Pará me desanima totalmente. Mais uma vez, Senador, eu estou muito triste, muito triste mesmo.

            Esse é o e-mail de um garoto de 17 anos de idade da minha terra. E eles comem e eles roubam e eles trituram as verbas da educação, que seriam aplicadas exatamente para esses jovens não estarem tristes e decepcionados.

         E para terminar, meu Senador Mão Santa, quero mostrar ao Brasil estas fotos. Que a TV Senado possa mostrar estas fotos. Parece um vulcão, mas eu vou explicar o que é. Mostre a primeira, para terminar o meu pronunciamento.

            Mostre a segunda.(Pausa)

            Eu vou falar, agora, da terceira.

            Isto aqui é uma obra, Senador José Nery, V. Exª é que do nobre Estado do Pará.

            Esta estrada aqui, Senador Mão Santa, Senador Alvaro Dias, foi feita há seis meses - Senador José Nery, há seis meses -, em Salinas, cidade turística, uma cidade maravilhosa, uma das cidades mais belas do Brasil. Uma praia... Mostre, mais uma vez, TV Senado. Mostre ao Pará, TV Senado. Mostre, mais uma vez, ao Estado do Pará, esta foto dessa estrada que foi construída há seis meses.

            Salinas tem uma praia, meu nobre Senador, como poucas no Brasil. V. Exª conhece. Dá o direito a cada cidadão de entrar na praia de carro, ser servido no seu próprio carro, dentro da praia - poucas no mundo. E lá, próxima, existe uma vila de pescadores, a Vila de Cuiarana, precisando de asfalto para escoar o produto dos pescadores.

            Eis que, um dia, amanheceram com a feliz notícia, Senador Nery, de que a Governadora iria asfaltar a estrada dos pescadores da Vila de Cuiarana. Aplausos, então, para a nossa Governadora!

            Eu não acreditei, Senador Nery, e lá fizeram essa estrada. Sabe quanto custou essa estrada, Senador? Um milhão e novecentos mil reais. Oito quilômetros de estrada. Um milhão e novecentos mil reais. Oito quilômetros de estrada, Senador. Depois de seis meses, a estrada está intrafegável. Depois de seis meses, os pescadores e moradores daquela vila perceberam que foram enganados pela Governadora do nosso Estado.

            É preciso que o Prefeito de Salinas abra o olho! É preciso que o Prefeito de Salinas, que é do PT, exatamente o mesmo Partido da Governadora, vá à Governadora dizer que no Cuiarana mora gente, gente de bem, gente de moral, que ela precisa respeitar e não enganar! Ali não é terra de cachorro, Governadora! A senhora enganou, roubando o Estado. A senhora enganou, lesando o Estado. Aquilo é um roubo à luz do dia! E o direito do cidadão? E o direito dos pescadores? E o direito de quem mora na vila?

            É preciso, Prefeito, que V. Exª vá dizer a essa Governadora que o povo de Salinas merece respeito. É preciso dizer a essa Governadora que ela não engana o cidadão, fazendo a patifaria que fez lá. Dizer à Governadora que estamos à porta de uma eleição e ela vai ganhar o troco, para respeitar o cidadão paraense.

            Muito obrigado, Senador Mão Santa.


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