Discurso durante a 71ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao pensador, escritor, diplomata, político e abolicionista pernambucano Joaquim Nabuco, em reverência ao centenário de sua morte.

Autor
Marconi Perillo (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Marconi Ferreira Perillo Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao pensador, escritor, diplomata, político e abolicionista pernambucano Joaquim Nabuco, em reverência ao centenário de sua morte.
Publicação
Publicação no DSF de 13/05/2010 - Página 20248
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, PRESENÇA, SESSÃO, SENADO, AUTORIDADE, DESCENDENTE, HOMENAGEM, CENTENARIO, MORTE, JOAQUIM NABUCO (PE), VULTO HISTORICO, DEPUTADO FEDERAL, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), ELOGIO, VIDA PUBLICA, PATRIOTISMO, FUNDAÇÃO, ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL), RECONHECIMENTO, AMBITO INTERNACIONAL, LUTA, ABOLIÇÃO, ESCRAVATURA, NECESSIDADE, OBEDIENCIA, ORIENTAÇÃO, PERSONAGEM ILUSTRE, GARANTIA, INCENTIVO, INVESTIMENTO, INICIATIVA PRIVADA, INFRAESTRUTURA, MELHORIA, ESCOAMENTO, PRODUÇÃO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MARCONI PERILLO (PSDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso.) - Obrigado, Presidente.

            Exmº Sr. Presidente, Senador Mão Santa; Exmº Sr. Ministro da Igualdade Racial; senhores bisnetos do homenageado: Sr. Pedro Nabuco, Srª Isabel Nabuco, demais familiares, convidados, senhoras e senhores; muito já se falou de Joaquim Nabuco, esse grande brasileiro, talvez um dos maiores ícones da intelectualidade brasileira, diplomata, escritor, pensador, abolicionista, político que, por iniciativa do ex-Vice-Presidente Marco Maciel, grande e ilustre Senador desta Casa, do ex-Governador e também não menos ilustre Senador Cristovam Buarque, temos a honra e a satisfação de homenagear na tarde de hoje.

            Reverenciar a memória de Joaquim Nabuco é reconhecer um dos maiores ícones da intelectualidade brasileira, que, juntamente com Rui Barbosa e Barão do Rio Branco, distinguiu-se no cenário nacional e internacional, angariando extremo prestígio diante do concerto das nações. Joaquim Nabuco, sem dúvida, trouxe uma positiva visibilidade para o Brasil e mostrou a força de nossa civilização, em particular na Europa e nos Estados Unidos.

            Percorrendo as páginas de alguns dos discursos elaborados pelo saudoso Joaquim Nabuco, percebe-se que as temáticas do Parlamento e da política não mudaram de forma substancial nem do Império para a República, nem do século XIX para o século XX, nem da era industrial para a era digital. A gerência do Estado sempre ensejou debates de questões polêmicas, como a corrupção, a dívida pública, os excessos dos gastos públicos correntes, a exclusão, as taxas de juros, o crescimento e o desenvolvimento econômico.

            Nabuco viveu um tempo de desafio ímpar no processo de discussão do escravismo, mas, como ele mesmo costumava dizer em preleções, era necessário não apenas abolir a escravidão, mas também erradicar os efeitos do sistema, sobretudo em relação às desigualdades. Naquela época, acabar com a escravidão significava romper com o sistema econômico baseado na exploração atroz do homem pelo homem, na separação entre a casa grande e a senzala.

            Mas, hoje, não nos parece menos difícil repensar o Brasil numa perspectiva de longo prazo, capaz de fazer o País romper com as estruturas arcaicas do século XX que emperram o empreendedorismo, obstruem a competitividade, prejudicam a gestão dos recursos do Estado; não nos parece menos desafiador superar os novos obstáculos para a sociedade brasileira transitar da condição de emergente para a de plenamente desenvolvida.

            O próximo Presidente do Brasil, que, sinceramente, desejo seja o nosso querido José Serra, precisará resgatar o espírito de Joaquim Nabuco, o sentido do rompimento com as raízes retrógradas da Administração Pública, se desejar oferecer mais a cada cidadão, por meio de gastos públicos voltados à oferta de saúde, educação, segurança de qualidade, capaz de retribuir ao cidadão o valor arrecadado em impostos.

            Romper com as raízes da Administração Pública retrógrada, numa retomada do pensamento de Nabuco, será fundamental também para o Estado estimular os investimentos privados, por meio de marcos regulatórios estáveis e respeitados e fazer os aportes para a infraestrutura necessária ao escoamento da produção.

            Em Joaquim Nabuco, Sr. Presidente, senhoras e senhores aqui presentes, encontramos um brasileiro apaixonado pela nossa terra, crente nas possibilidades do nosso povo e ferrenhamente contrário ao pessimismo ou a qualquer ideia capaz de abater a Nação.

            Valemo-nos aqui de um breve trecho do prefácio de Minha Formação, para dizer, nas palavras do próprio Joaquim Nabuco:

Se alguma coisa observei, no estudo do nosso passado, é quanto são fúteis as nossas tentativas para se deprimir, desvalorizar, e como sempre vinga a generosidade... Infeliz de quem entre nós não tem outro talento ou outro gosto senão o de se abater!

A nossa natureza está voltada à indulgência, à doçura, ao entusiasmo, à simpatia, e cada um pode contar com a benevolência ilimitada de todos. Em nossa história não haverá nunca Inferno, nem sequer Purgatório.

            Mas não é por acreditar nas possibilidades do Brasil de Joaquim Nabuco que ele próprio desestimularia as ações em favor do País e da Nação. Por isso é que, também no prefácio de Minha Formação, ele nos ensina:

Não dou, entretanto, o bon à tirer a este livro, senão porque estou convencido de que ele não enfraquecerá em ninguém o espírito de ação e de luta, a coragem e a resolução de combater por ideias que se reputem essenciais, mas somente indicará algumas das condições para que o triunfo possa ser considerado uma vitória nacional, ou uma vitória humana, e para que a vida, sem ser uma obra d’arte, o que é dado a muito poucas, realize ao menos uma parcela de beleza, e, quando não tenha o orgulho de ter refletido brilhante sobre o país, tenha o consolo de lhe haver sido carinhosamente inofensiva.

            Nabuco, Srªs e Srs. Senadores, reafirmava em seu pensamento a necessidade de não se limitar os governos, as ações, e os pensamentos dos estadistas aos interesses de uma ideologia ou corrente partidária. Nosso homenageado, como homem que buscava romper com o ranço da sociedade escravocrata, via a importância de o Brasil ser plural e se sintonizar com o mundo. Como ele mesmo dizia: “Politicamente, receio ter nascido cosmopolita. Não me seria possível reduzir as minhas faculdades ao serviço de uma religião local, renunciar à qualidade que elas têm de voltar-se espontaneamente para fora”.

        Joaquim Nabuco foi peça chave na fundação da Academia Brasileira de Letras e angariou como poucos brasileiros prestígio e reconhecimento no cenário internacional, em particular nos Estados Unidos. Foi um patriota, cujo espírito de ruptura com as amarras do passado deve ser fonte de inspiração dos governantes de hoje, dos estadistas que desejem fazer mais do Brasil, dar um salto maior em direção ao desenvolvimento duradouro e sustentável.

            Parabéns aos Senadores subscritores desta sessão de homenagem ao grande brasileiro Joaquim Nabuco. Esta sessão reverencia a memória de Joaquim Nabuco, um insigne brasileiro, pensador, escritor, diplomata, político e, acima de tudo, abolicionista, que ficará na história deste Plenário e deste Parlamento.

            Muito obrigado. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/05/2010 - Página 20248