Pronunciamento de Gerson Camata em 20/05/2010
Discurso durante a 79ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Considerações sobre o "Custo Brasil", que acaba de ser medido pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos.
- Autor
- Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
- Nome completo: Gerson Camata
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
POLITICA INDUSTRIAL.:
- Considerações sobre o "Custo Brasil", que acaba de ser medido pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos.
- Publicação
- Republicação no DSF de 22/05/2010 - Página 22861
- Assunto
- Outros > POLITICA INDUSTRIAL.
- Indexação
-
- ANALISE, ESTUDO, ASSOCIAÇÃO NACIONAL, INDUSTRIA, MAQUINARIA, EQUIPAMENTOS, AVALIAÇÃO, CUSTO DE PRODUÇÃO, BRASIL, COMPARAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ALEMANHA, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), SUPERIORIDADE, CUSTO, PRODUTO NACIONAL, EFEITO, JUROS, CAPITAL DE GIRO, PREÇO, FRETE, INSUMO, IMPOSTOS, ENCARGO SOCIAL, ENCARGO TRABALHISTA, LOGISTICA, TRANSPORTE, BUROCRACIA.
- APREENSÃO, REDUÇÃO, PARTICIPAÇÃO, INDUSTRIA NACIONAL, PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB), DIFICULDADE, MANUTENÇÃO, ATIVIDADE INDUSTRIAL, PREFERENCIA, PRODUTO IMPORTADO, NECESSIDADE, AUMENTO, INVESTIMENTO, INFRAESTRUTURA, TRANSPORTE, INCENTIVO, CRIAÇÃO, AREA, EXCLUSIVIDADE, PESQUISA, MODERNIZAÇÃO, PARQUE INDUSTRIAL, DESENVOLVIMENTO, POLITICA, FACILITAÇÃO, CREDITOS, INICIATIVA PRIVADA.
SENADO FEDERAL SF -
SECRETARIA-GERAL DA MESA SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA |
O SR GERSON CAMATA (PMDB - ES. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr Presidente, Srªs e Srs Senadores, é conhecido de todos nós o famoso “Custo Brasil”, a série de motivos que encarecem o que produzimos aqui, prejudicando a competitividade da indúotivos que encarecem o que produzimos aqui, prejudicando a competitivdade da indliro"as atrasadas, amordaçadas pela ineficii sastria. Fala-se muito nele, mas o fato é que ninguém até agora tinha desenvolvido uma metodologia para quantificá-lo, determinar em que medida ele faz com que o nosso custo de produção seja maior que em outros países.
Pois ele acaba de ser medido, finalmente, pela Abimaq, Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos. Não se trata de uma avaliação exata, pois incluiu só 8 itens, enquanto o Custo Brasil tem pelo menos outros 30 - só que transformar estes em números é tarefa praticamente impossível.
O resultado é uma comparação entre Brasil, Alemanha e Estados Unidos. Estes 2 últimos são países em que os custos de produção não podem ser considerados baixos - pelo contrário, são bastante altos. Mas nem essa escolha nos salva da constatação de que o Custo Brasil não só existe de fato, como é um problema de dimensões consideráveis.
Para se ter uma idéia, o mesmo produto, fabricado em nosso país, é 36,27 por cento mais caro que o produzido na Alemanha e nos Estados Unidos. Quer dizer, se uma fábrica fosse transferida de uma cidade americana para, por exemplo, São Paulo, o preço de sua mercadoria passaria a ter um acréscimo de 36,27 por cento.
O estudo da Abimaq mediu o impacto de fatores como o efeito dos juros sobre o capital de giro, os preços dos insumos básicos, os impostos que não são recuperáveis na cadeia produtiva, os encargos sociais e trabalhistas, logística, burocracia, custos de regulamentação, de investimento e de energia.
Não faria nem sentido comparar nossa desvantagem em relação à China, já que as estimativas apontam para um encarecimento de 100 por cento. O resultado é que estamos perdendo espaço no mercado mundial de máquinas e equipamentos.
O maior perigo reside no início de um processo de desindustrialização. Já fomos o quinto maior produtor mundial de máquinas, e hoje caímos para a décima-quinta posição. A participação da indústria brasileira no PIB, o Produto Interno Bruto, vem decrescendo desde a década de 1980. Naquela época, o setor era responsável pela geração de 45 por cento das riquezas do País. Hoje, contribui com 28 por cento.
É cada vez maior o número de indústrias que abandonaram a produção e optaram por importar e vender aqui produtos vindos da Ásia, colocando neles a sua marca. Um fabricante de tornos, fresadoras e furadeiras de São Paulo, que deixou de fabricar a maioria de seus equipamentos e importa máquinas da China e de Taiwan, demonstra como o custo de uma máquina chinesa não é nem mesmo suficiente para pagar a matéria-prima no Brasil. Ele compra a máquina por 2 reais e 50 centavos a 3 reais o quilo. Aqui, o quilo de ferro fundido custa quase 3 dólares.
Não há dúvida de que o investimento no Brasil vem crescendo. O problema é que 90 por cento dele concentra-se em áreas ligadas a commodities, ou seja, matérias-primas, agrícolas e minerais. O Custo Brasil incentiva essa concentração de investimentos. Um exemplo é a produção de celulose, em que somos competitivos. Mas perdemos a competitividade na hora de transformar a celulose em papel.
Quando se fala em Custo Brasil, é impossível ignorar o peso das deficiências logísticas como um de seus componentes. Embora não seja tão grande quanto o dos insumos básicos, em que a diferença em relação a Alemanha e Estados Unidos chega a 18,57 por cento, é fato que a falta de investimentos em nossa infra-estrutura de transporte contribui de maneira significativa para aumentar o preço das mercadorias.
Basta citar o custo operacional do transporte de cargas em rodovias em mau estado de conservação. Segundo a Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística, ele pode até dobrar o valor final de um frete. As causas vão do maior consumo de combustível ao desgaste dos pneus e à exigência de manutenção mais freqüente. Além disso, rodovias deterioradas contribuem para degradar o ambiente, já que os caminhões, ao gastarem mais combustível devido às inevitáveis variações de velocidade, emitem mais poluentes.
Nas últimas semanas, importantes vias de transporte em várias regiões do País sofreram com a ação das chuvas. Na Rodovia Fernão Dias, que liga São Paulo a Minas Gerais, a terra deslizou, deslocando os pilares de um viaduto e fazendo o asfalto ceder. Durante meses, os caminhões que trafegam por ela terão que passar por um desvio que aumenta em 72 quilômetros o trajeto entre a capital paulista e Belo Horizonte. Na Via Dutra, principal ligação entre São Paulo e Rio, a queda de uma barreira interditou uma das pistas e o acostamento.
Não adianta culpar somente a natureza pelos problemas nas rodovias. Inspeções freqüentes permitem detectar problemas como os que ocorreram e antecipar-se às conseqüências com medidas preventivas, tanto em rodovias mantidas por concessionárias que cobram pedágio quanto em estradas sob responsabilidade do poder público.
Cito o caso de nossas estradas como um exemplo de que é possível reduzir o Custo Brasil, desde que adotemos um novo enfoque para a eliminação de suas causas. Só com investimentos em infra-estrutura, estímulos à modernização e à criação de áreas dedicadas a pesquisa e desenvolvimento em nossas empresas, além de uma política de crédito consistente, entre outras providências, conseguiremos reverter a ameaça da desindustrialização. Ela é concreta, como prova a pesquisa da Abimaq. Caso se amplie, estaremos jogando na lata de lixo nossas oportunidades de crescimento econômico sustentável, de incentivo à qualificação de mão-de-obra e de geração de empregos. Estaremos abrindo mão da construção de um futuro sólido.
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