Discurso durante a 79ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro da importância da aviação brasileira. Lamento pelo fim da empresa aérea Pan Air do Brasil e pelas dificuldades por que passa o Instituto Aerus de Seguridade Social.

Autor
Paulo Duque (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RJ)
Nome completo: Paulo Hermínio Duque Costa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE TRANSPORTES. POLITICA ENERGETICA.:
  • Registro da importância da aviação brasileira. Lamento pelo fim da empresa aérea Pan Air do Brasil e pelas dificuldades por que passa o Instituto Aerus de Seguridade Social.
Aparteantes
Alvaro Dias.
Publicação
Publicação no DSF de 21/05/2010 - Página 22469
Assunto
Outros > POLITICA DE TRANSPORTES. POLITICA ENERGETICA.
Indexação
  • IMPORTANCIA, AVIAÇÃO, PROGRESSO, BRASIL.
  • MANIFESTAÇÃO, FRUSTRAÇÃO, EXTINÇÃO, EMPRESA DE TRANSPORTE AEREO, SOLIDARIEDADE, APOSENTADO, PENSIONISTA, VIAÇÃO AEREA RIO GRANDENSE S/A (VARIG), DIFICULDADE, GOVERNO FEDERAL, CUMPRIMENTO, ACORDO, PAGAMENTO, APOSENTADORIA, ENTIDADE FECHADA, PREVIDENCIA COMPLEMENTAR, EMPRESA, TRANSPORTE AEREO.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, JORNAL DO BRASIL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), IMPORTANCIA, PRESERVAÇÃO, TECNOLOGIA, PRODUÇÃO, ENERGIA NUCLEAR, DEFESA, ORADOR, CONSTRUÇÃO, USINA NUCLEAR, INEXISTENCIA, RISCOS, POLUIÇÃO.

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            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, o nosso País, como qualquer outro país, tem um grande número de pessoas otimistas e um grande número de pessoas pessimistas. Eu me enquadro, sempre me enquadrei, na primeira classe, dos otimistas. Eu acredito muito no Brasil, acho que o País hoje mostrou a que veio realmente, que o gigante despertou e até entendo as preocupações, porque presto atenção ao que se diz aqui, do Senador Alvaro Dias.

            As preocupações dele em relação à Varig são legítimas. Foi uma grande empresa a Varig - Varig, Varig, Varig -, que todos nós nos orgulhamos dela.

            Mas antes da Varig, eu tive uma preocupação, que eu não sei se o Senador Alvaro Dias também embarcou nela: a extinção da Panair do Brasil. Ele, talvez, muito jovem ainda, nem tenha conhecido a Panair do Brasil, que foi a maior empresa que já se fundou neste País, pelo patriotismo, pela competência e, sobretudo, pelo brilhantismo daqueles que dirigiram os antigos aviões Constellation. Foi num avião da Panair que Getúlio Vargas saiu do Rio Grande do Sul para vir fazer o seu famoso comício às vésperas da Revolução de 30.

            A Varig teve o mesmo problema, Senador, apenas houve uma diferença: os funcionários da Panair do Brasil foram tão competentes, que os próprios Estados onde ela se ramificava aproveitaram os seus funcionários. Lembro-me bem - era Deputado àquela época - que Carlos Lacerda, Governador da Guanabara, aproveitou toda a equipe da Panair do Brasil. E foi uma pena que o mesmo não tivesse acontecido no Rio de Janeiro, no Paraná, no Rio Grande do Sul, que eram grandes empresas, com uma experiência enorme em toda parte: na tecnologia, na precisão, nos cálculos. Então, eram funcionários excepcionais que foram aproveitados nos Estados.

            O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Permite-me um aparte, Senador?

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Com todo o prazer.

            O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Quero cumprimentá-lo, Senador Paulo Duque. Nos últimos dias, nas últimas semanas, V. Exª tem feito pronunciamentos que revelam uma memória esplêndida e conhecimento histórico ímpar. Nós estamos aprendendo com V. Exª, conhecendo mais da nossa história por intermédio dos ensinamentos que traz à tribuna desta Casa. Em relação à Panair, por exemplo, realmente eu não tenho conhecimento, não foi do meu tempo ainda. Mas V. Exª traz, exatamente, as lições que a Panair ofereceu e que poderiam ser, certamente, aproveitadas hoje em relação aos funcionários que foram abandonados, da Varig, da Transbrasil, da Vasp; são funcionários que depositaram mensalmente, rigorosamente a sua contribuição num Fundo de Pensão, mas hoje estão vivendo ao léu, esperando um acordo com o Governo. E o nosso apelo, reiterado, é para que esse acordo aconteça. Agradeço a solidariedade de V. Exª a esses aposentados e pensionistas do Aerus.

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - E tem que acontecer logo, Presidente, tem que acontecer agora. Eles não podem esperar mais. A aviação tem uma história notável em nosso País. Notável. O 1º Grupo de Aviação de Caça que foi, na Segunda Guerra Mundial, para a Europa, deu um exemplo de classe, de coragem, de competência. Meu Deus do céu, o 1º Grupo de Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira até hoje é lembrado.

            Então, nós temos uma afinidade muito grande, o País inteiro com o Correio Aéreo Nacional, que foi, praticamente, fundado pelo Brigadeiro Eduardo Gomes e prestou relevantíssimos serviços. Quando um colega meu, aqui, me conta das dificuldades de se fazer campanha eleitoral no Amazonas, por exemplo, ou em Mato Grosso, ou no Piauí, onde necessariamente é preciso ter um avião, ter uma lancha, ou duas, senão não consegue fazer nem uma campanha eleitoral, dada as distâncias. O Brasil é um País de distâncias enormes. Logo, a aviação faz parte do nosso progresso.

            Ouvi, em seguida, o Senador Augusto Botelho. A sua preocupação de médico, aliada a sua responsabilidade de Parlamentar e representante do povo. Augusto Botelho deu uma aula muito significativa, muito preocupante.

            Mas veja, Senador Augusto Botelho, eu, quando era jovem, universitário, nunca havia ouvido falar de maconha, quanto mais de crack, cracolândia etc., que hoje, com a facilidade de comunicação, fez entrar um contágio muito grande entre os povos. Parece até um elemento de ligação entre os países.

            É incrível isso! E o dinheiro, os recursos que cada país que quer debelar esse câncer é obrigado a despender? Essa é uma preocupação também.

            E para mim, segurança, educação e saúde... Saúde vem em primeiro lugar, sem dúvida alguma. Na violência, é possível dar jeito. Na saúde, também é possível dar jeito. Na violência, é mais fácil dar jeito. Toda questão tem solução, mas essa que V. Exª focalizou hoje da tribuna, com categoria, com sapiência, com a experiência de médico, essa é a mais triste, porque dá vontade de derramar uma lágrima por ela, porque nós temos visto isso todos os dias.

            Temos conhecimento agora de um fenômeno que não é antigo, não é do meu tempo, minha mocidade jamais conheceu. Isso veio depois, e nos grandes centros. E olha, Senador, nós não cultivamos isso, como nós também não cultivamos o contrabando de armas; ele vem por outros meios. Por isso, quando preconizo Forças Armadas organizadas e fortes, às vezes dizem: “Esse camarada é de direita”. Que direita coisa nenhuma! Eu sou é brasileiro. Eu sou brasileiro como V. Exªs, apenas tenho a minha corrente de pensamento, talvez diferenciada, mas autêntica. Por isso é que disse no início do meu discurso que sou do grupo um, grupo dos otimistas, daqueles que acreditam muito na sorte e no Brasil.

            Falei sobre aviação hoje, sobre a Varig, a Panair, mas vou um pouco mais longe, Deputado, ou melhor, Senador Alvaro Dias.

(Interrupção no som.)

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Estou acostumado a falar “Deputado” porque fui Deputado muitas vezes. Mas, Senador Mão Santa, vou fazer um relato em homenagem a alguns Senadores que andam muito de avião - todos eles aqui, estou vendo os Senadores que, para conseguir a vitória eleitoral no mandato, andam muito de avião. Vou relatar um episódio para começar o meu discurso, porque ainda não comecei o meu discurso.

            Nós tivemos, na história do nosso País, um grande vulto. Há pouco tempo, em declaração, o Presidente da República disse que não é só o Tiradentes que é herói, que precisamos cultivar nossos heróis.

            Com certeza! Considero cada Senador aqui um herói, tranquilamente, ainda que não saiba o nome de alguns ainda. Digo isso por causa das dificuldades que eles enfrentam ao percorrer grandes distâncias, por causa dos perigos que correm nos grandes percursos.

            V. Exª, Senador Mão Santa, certamente, já ouviu falar, conhece mesmo, a figura de Siqueira Campos - Siqueira Campos, um dos 18 do Forte. O Senador Eduardo Suplicy seguramente o conhece, porque é paulista. Siqueira Campos está enterrado lá em São Paulo, um dos 18 do Forte.

            Pois bem, Siqueira Campos, naquela sua ânsia revolucionária permanente, com a Coluna de Miguel Costa, a Coluna Prestes, na fronteira do Rio Grande, Siqueira Campos tinha que vir para o Rio de Janeiro encontrar-se com Cordeiro de Farias e aquela geração revolucionária - estou citando aqui os Tenentes de 22, todos da Escola Militar do Realengo.

(Interrupção do som.)

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - E como se viajava naquela época? Não havia Varig, não havia praticamente nenhuma grande empresa de aviação...

(Interrupção do som.)

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Não havia Varig, não havia Panair, não havia nenhuma grande empresa. Havia, sim, nos voos internacionais, o Correio Aéreo Nacional. A empresa Latécoère de aviação, que vinha da Europa, passava por toda a América do Sul, era sediada em Buenos Aires. E os revolucionários brasileiros estavam sediados em Buenos Aires, muito perto do Brasil, na fronteira.

            Eis que Siqueira Campos, vindo de um encontro com Luís Carlos Prestes - isso nos idos de 1929 -, tinha um lugar reservado - ele e João Alberto - no avião da Latécoère que vinha do Chile, um avião monomotor do Correio Aéreo Nacional. O tempo não estava bom em Buenos Aires, estava chuvoso, nebuloso, mas o Correio Aéreo da Latécoère era obrigado a cumprir o horário...

            Estão me dizendo que está esgotado o tempo.

            V. Exª confirma isso? (Pausa.) Posso falar.

            Então, nesse dia, nessa noite, João Alberto, que foi Vereador do Rio, foi Chefe de Polícia no Rio, um dos grandes vultos da história republicana, e mais Siqueira Campos embarcam no avião. Embarcam, e o avião estava esperando um industrial famoso chamado Valentim Bolsas, que olhou para aquilo e falou: “Não, eu não vou neste avião; não vou nesta viagem não”. Fez muito bem, fez muito bem, porque, na costa uruguaia, o avião teve uma pane e foi obrigado a aterrissar a três milhas da costa. Foi afundando, e o piloto, o co-piloto e o proprietário da companhia, o diretor da companhia, também afundam, só se salvam na hora João Alberto e Siqueira Campos, que começam a nadar, porque tinha uma luz lá longe - era a luz da costa de Montevidéu. Começam a nadar...

(Interrupção do som.)

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Que história interessante! Começam a nadar e, dali a pouco, Siqueira Campos, grande herói nacional, que tem uma rua inteira no Rio de Janeiro com o nome dele, uma rua famosa, tem uma estátua de um soldado lutador na Avenida Atlântica, grita: João! E afunda. E nunca mais foi visto naquele dia, naquele momento, naquela hora. E só João Alberto conseguiu nadar. Ele tinha um porte atlético, pernambucano, militar aguerrido, conseguiu nadar, nadar, nadar e salvou-se. Assim morreu Siqueira Campos, um herói nacional, sem dúvida alguma, como também foi herói João Alberto.

            Sr. Presidente, pergunto a V. Exª de quanto tempo ainda disponho? (Pausa.) Muito tempo.

            Então, passo agora a dizer o seguinte: vim hoje à tribuna para falar sobre energia nuclear, do preconceito contra energia nuclear. Ai do país que não tiver condições de impor energia nuclear nos dias de hoje, seja grande, seja pequeno.

            Para implantar a energia nuclear, no Brasil, foram necessárias a coragem e a determinação do General Geisel, que, num acordo com a Alemanha, conseguiu implantar Angra I e Angra II no meu Estado. E funciona muito bem, jamais houve um acidente, e é responsável pelo fornecimento de 58% da energia consumida pelo Rio de Janeiro.

            Iniciou-se, agora, a construção de Angra III, para melhorar o fornecimento de energia, e sem problema de poluição, sem perigo. Jamais houve um acidente.

            E digo mais: a França tem 58 usinas nucleares; a Bélgica, 19. E só três países hoje, no mundo, dominam a tecnologia, que é mantida em sigilo, da transformação da energia nuclear: Estados Unidos, Rússia e Brasil. Isso, Sr. Presidente, é preciso ser dito pelos otimistas como eu, pelos otimistas como eu! Porque os pessimistas acham que não, acham que quem está certo é o Greenpeace, quem está certo é o ambientalista crônico, perigoso. Perigoso, sim, contra o êxito e o progresso do País.

            E é por isso que eu peço a V. Exª considerar como lido, na sua inteireza, este artigo que o Jornal do Brasil publicou, em nova fase, sob o comando do grande empresário Pedro Grossi, sobre a energia nuclear no Brasil, com o título: “O Brasil tem que preservar sua tecnologia”. O Brasil, a Rússia e os Estados Unidos são os três únicos que têm uma tecnologia sigilosa, no sentido de não haver - jamais! - poluição da energia nuclear. O Brasil tem isso.

            Quem nos revela alguma coisa é um cientista, um almirante, um dos maiores crânios do nosso País, atual Presidente da Eletronuclear, que é o Almirante Othon Pinheiro da Silva. Ele tem um perfil muito importante. Primeiro, ele veio do interior do meu Estado, nascido em Sumidouro. V. Exª já ouviu falar da cidade de Sumidouro? É uma cidade tranquila do norte fluminense. Ele nasceu lá. Mas formou-se, sabe em quê, Presidente? Na Universidade de São Paulo, em Engenharia, e no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o famoso MIT, dos Estados Unidos. Ele é quem comanda hoje este Programa de Energia Nuclear. Ele é quem tem planejada, desde o início, a implantação de uma energia limpa, não poluidora, que é a energia nuclear.

            Com todo o preconceito que possa haver dos ambientalistas, dos negativistas, seja de quem for, o Brasil, com isso, pelo seu tamanho, pela sua potencialidade, precisa ter, no mínimo, dez usinas nucleares. E os Estados já se compenetraram disso. E a programação já está sendo até organizada, para que não haja mais o chamado “apagão”, que é o atraso, o subdesenvolvimento, que não combina mais com os tempos modernos.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR PAULO DUQUE EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso 1º e o § 2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

“O Brasil tem que preservar sua tecnologia”, de Ubirajara Loureiro, publicada no Jornal do Brasil, edição de 16 de maio de 2010.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/05/2010 - Página 22469