Discurso durante a 74ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Leitura de reportagem do jornal Valor Econômico de São Paulo, sobre a fusão entre a Citrosuco e a Citrovita.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA POPULAR.:
  • Leitura de reportagem do jornal Valor Econômico de São Paulo, sobre a fusão entre a Citrosuco e a Citrovita.
Publicação
Publicação no DSF de 18/05/2010 - Página 21593
Assunto
Outros > ECONOMIA POPULAR.
Indexação
  • LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, VALOR ECONOMICO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REFERENCIA, FUSÃO, EMPRESA, INDUSTRIALIZAÇÃO, SUCO NATURAL, LARANJA, APREENSÃO, ORADOR, CONCENTRAÇÃO, PRODUÇÃO, SETOR, POSSIBILIDADE, PREJUIZO, PRODUTOR, TRABALHADOR, COLHEITA, FRUTA, NECESSIDADE, CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONOMICA (CADE), ATENÇÃO, SITUAÇÃO.
  • ADVERTENCIA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), SECRETARIA NACIONAL DE DIREITO ECONOMICO (SNDE), CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONOMICA (CADE), NECESSIDADE, ATENÇÃO, ESCOLHA, CONSELHEIRO, GARANTIA, INDEPENDENCIA, ISENÇÃO, ANALISE, FUSÃO, AUSENCIA, LIGAÇÃO, SETOR, INDUSTRIALIZAÇÃO, SUCO NATURAL.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, gostaria de expressar a minha preocupação com a evolução das indústrias de suco no Brasil, pois hoje há, no Valor Econômico, a seguinte notícia:

Sobrevivência move fusão entre Citrosuco e Citrovita

O seleto grupo das "cinco Cs", que consolidou seu domínio sobre as exportações mundiais de suco de laranja na década de 90, foi reduzido a apenas três. A Cargill já havia saído desse mercado no Brasil em 2004, e na sexta-feira os grupos Votorantim e Fischer confirmaram as expectativas e anunciaram a fusão das operações no segmento, onde atuam por meio de Citrovita e Citrosuco, respectivamente.

Mais do que uma estratégia de ataque para eventuais expansões, o negócio pode ser encarado como um movimento defensivo, tendo em vista a tendência de concentração na distribuição e no varejo, a retração da demanda internacional pelo produto, o aumento dos custos de transporte e as dificuldades em garantir a expansão da oferta de matéria-prima de qualidade, seja através de investimentos em fazendas próprias ou com fornecedores terceirizados.

Juntas, Citrosuco e Citrovita terão faturamento total da ordem de R$2 bilhões e assumirão a liderança do segmento, posto há décadas ocupado pela Cutrale. Como a rival e a Louis Dreyfus - que no passado incorporou a Coinbra, que completava o time das "cinco Cs", e segue no mercado -, a joint venture resultante da união de Votorantim e Fischer, cujo controle será dividido em partes iguais, terá operações concentradas em São Paulo, que reúne o maior parque citrícola do planeta, e um braço operacional na Flórida, segundo maior polo global do segmento.

No total, são 64 mil hectares de pomares próprios de laranja, 2,5 mil fornecedores independentes, 6 mil colaboradores - número que pode chegar a 10 mil em período de safra -, sete unidades de processamento (uma das quais no Estado americano), oito terminais portuários (dois no Brasil e seis no exterior) e oito navios (cinco próprios e três afretados). A nova companhia será presidida por Tales Lemos Cubero, presidente da Citrosuco. O presidente da Citrovita, Mario Bavaresco Junior, será diretor-geral, e o conselho será dividido em número igual de cadeiras.

As explicações de Citrosuco e Citrovita param por aí, pela discrição que marca a estratégia de comunicação de ambas e porque o negócio, que deverá ser concluído em um prazo de nove meses, depende da aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Mas, no mercado, causas e efeitos da integração são mais ou menos conhecidos há tempos.

“Não é surpresa. O fenômeno da consolidação é universal e pode ser observado em vários setores", afirma Christian Lohbauer, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Sucos Cítricos (CitrusBR), criada em junho de 2009 por Cutrale, Citrosuco, Citrovita e Louis Dreyfus. O segmento de suco de laranja, lembra, é pioneiro em concentração, e o caminho é uma reação a fusões e aquisições que marcaram os elos posteriores da cadeia.

Lohbauer nota que, da mesma forma que o número de grandes indústrias exportadoras de suco agora cairá para três, ante as duas dezenas da virada dos anos 80 para os 90, o número de redes varejistas em mercados importantes como Alemanha, Inglaterra e França hoje também não passa de três por país. Na Europa, que absorve 70% das exportações brasileiras, também não há mais de 15 distribuidores que compram e engarrafam o produto oriundo do Brasil que chegará às gôndolas europeias. O Brasil domina mais de 80% da soma entre as exportações globais do suco congelado e concentrado (FCOJ) e não concentrado (NFC), que ganha espaço desde 2003.

A mesma linha de raciocínio justifica os temores dos produtores independentes de São Paulo e de parte de Minas Gerais que fornecem laranja para as empresas, reduzidos, em alguns cálculos, a menos de 10 mil. Por pressão de parte desses citricultores, as quatro grandes indústrias são investigadas pelas autoridades antitruste por uma suposta formação de cartel - ou oligopsônio, já que a acusação é de combinação de preços na aquisição da fruta dos fornecedores.

As rusgas na cadeia produtiva também motivam um processo na Justiça, que ainda não foi a julgamento, para obrigar as indústrias a arcar com os custos da colheita mesmo em propriedades de fornecedores terceirizados. Há outras dezenas de processos judiciais que opõem, em casos individuais ou coletivos, citricultores e indústrias de suco. As empresas já cobrem pelo menos 30% da demanda pela fruta com a oferta de fazendas próprias - na Citrovita, o percentual chega a 60%, conforme fontes do segmento. Outros 30% são cobertos pelos fornecedores independentes, e o quinhão restante pode ser obtido no mercado spot.

Conforme especialistas, a união tem potencial, pelas sinergias visíveis, para tornar as operações da Citrovita lucrativas, coisa que não são, e para tranquilizar a Citrosuco no que se refere ao quadro sucessório, como adiantou o Valor em março ao noticiar que as conversações para a fusão entre ambas avançavam.

A Citrosuco foi fundada em 1963 por Carl Fischer, “inimigo íntimo” de José Cutrale, fundador da rival que faleceu no fim de 2004. Com a morte do pioneiro, os negócios passaram a ser conduzidos por seu filho Carlos Guilherme Eduardo Fischer, que também faleceu. Mulher forte da empresa desde então, Maria do Rosário Fischer, viúva de Carlos Guilherme, tem quatro filhas. E uma delas é casada com Ricardo Ermírio de Moraes, um dos herdeiros da Votorantin. Moraes já foi executivo da Citrosuco, mas se afastou, em parte, pelas questões concorrenciais.

Similares na superfície, as estratégias de Citrosuco e Citrovita guardam diferenças importantes que, ao emergirem, ajudam a explicar a lógica da fusão confirmada na sexta-feira.

Fundada em 1963, a Citrosuco, como a rival Cutrale, é conhecida pelas turbulências no relacionamento com seus fornecedores terceirizados de laranja e pelo esforço em economizar e/ou ganhar em todas as etapas da produção, incluindo um braço forte na logística de transporte e na distribuição dos produtos nos mercados de destino do suco.

Criada em 1989 pela Votorantim, a Citrovita aposta mais na produção própria e nas parcerias com grandes fornecedores independentes. Ao contrário da Citrosuco - e das concorrentes Cutrale e Louis Dreyfus -, não tem fábrica nos EUA e não produz o suco não concentrado (NFC), justamente a frente que preserva algum aumento de demanda no mercado internacional, já que o consumo do tradicional suco congelado e concentrado derrapa com o incremento de bebidas alternativas mais baratas, como néctares e refrescos.

Analistas têm dificuldades em afirmar se esses diferenciais são os responsáveis pelos sucessivos prejuízos da empresa, mas não têm dúvidas de que, integrados à Citrosuco, poderão conferir uma nova dinâmica à vice-líder que ficará com o cetro da Cutrale. Até porque a Citrovita tem unidades industriais novas e um corpo de executivos invejado, parte dele composto por ex-funcionários da americana Cargill, que, em 2004, vendeu seus ativos na área para Cutrale e Citrosuco e saiu da atividade no país.

O parque produtivo do segmento é concentrado em São Paulo. No total, são 14 fábricas no Estado. A Cutrale tem cinco, Citrosuco conta com três (Matão, Limeira e Bebedouro), três da Citrovita (Matão, Catanduva e Araras), e as três restantes são da Dreyfus. Para alguns analistas, são muitas unidades para pouca demanda.

Apesar de Citrosuco e Citrovita afirmarem que assumirão a liderança do segmento de suco de laranja no Brasil e no mundo com a fusão, a Cutrale ainda ocupou o topo do ranking das maiores exportadoras de suco do país em 2009. Segundo a Secex, os embarques totais da empresa, entre suco concentrado, não concentrado e subprodutos, renderam US$673,3 milhões no ano, 22% menos que em 2008. Puxados por suco e derivados, os embarques da Fischer Comércio, Indústria e Agricultura, dona da Citrosuco, renderam US$551,1 milhões, alta de 135,2%. No caso da Citrovita, foram US$125,2 milhões retração de 26,1%. Apesar da demanda estável, problemas climáticos em São Paulo e na Flórida em 2009 motivaram a reação das cotações do suco no mercado externo. Na bolsa de Nova York, os contratos futuros acumularam valorização de quase 50% nos últimos 12 meses.

            Ora, Sr. Presidente, é importante que haja da parte da Secretaria de Direito Econômico e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica atenção para esse passo em direção a maior concentração na produção de suco de laranja no Brasil.

            A Associação dos Produtores de laranja vem, há muitos anos, manifestando a sua preocupação com esse processo de concentração cada vez mais dinâmico, que muitas vezes causa prejuízos sérios aos produtores de laranja e aos trabalhadores na colheita da laranja - na produção e na colheita da laranja.

            Portanto, é importante que o Cade tenha atenção. Mas há outra preocupação, Sr. Presidente: verificou-se que diversos conselheiros do Cade presentemente - salvo engano, três - estão impedidos de debater e discutir o caso da concentração da área de suco de laranja, exatamente por terem tido algum relacionamento com essas empresas ou as suas instituições. Assim, é preciso que o Governo do Presidente Lula também esteja atento para essa questão. O Cade precisa funcionar com pessoas que sejam efetivamente independentes para exame de um dos principais setores da agricultura brasileira, que é justamente o da produção da laranja e, depois, na sua fase de industrialização, do suco de laranja.

            Então, é importante que os Ministros responsáveis pela Secretaria de Defesa Econômica, bem como, no caso, o Ministro Guido Mantega e o Ministro da Justiça, Luiz Carlos Barreto, estejam atentos, pois ambas as instituições - a Secretaria de Direito Econômico e o Cade - precisam, efetivamente, ser compostas por pessoas que tenham independência e isenção para analisar esse processo e suas consequências.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/05/2010 - Página 21593