Discurso durante a 87ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reiteração da defesa do aumento para os aposentados, e também do fim do fator previdenciário.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. PREVIDENCIA SOCIAL.:
  • Reiteração da defesa do aumento para os aposentados, e também do fim do fator previdenciário.
Aparteantes
Alvaro Dias.
Publicação
Publicação no DSF de 01/06/2010 - Página 24946
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. PREVIDENCIA SOCIAL.
Indexação
  • REGISTRO, ADIAMENTO, REUNIÃO, ORADOR, PARTIDO POLITICO, PARTIDO SOCIAL CRISTÃO (PSC), PARTIDO DA RENOVAÇÃO NACIONAL (PRN), PARTIDO REPUBLICANO (PRE), ASSUNTO, CAMPANHA ELEITORAL, SENADO, MOTIVO, PROBLEMA, SAUDE.
  • PARTICIPAÇÃO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), CENTRAL SINDICAL, REIVINDICAÇÃO, REAJUSTE, APOSENTADORIA, LOBBY, AUSENCIA, VETO (VET), EXTINÇÃO, FATOR, NATUREZA PREVIDENCIARIA, ANUNCIO, IGUALDADE, MOBILIZAÇÃO, TRABALHADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ELOGIO, LUTA, BRASILEIROS, JUSTIÇA, PREVIDENCIA SOCIAL, SANÇÃO PRESIDENCIAL, MATERIA, APROVEITAMENTO, CIRCUNSTANCIAS, CRESCIMENTO ECONOMICO, BRASIL, AMPLIAÇÃO, ARRECADAÇÃO.
  • AGRADECIMENTO, AUDIENCIA, DISCURSO, ORADOR, EMISSORA, TELEVISÃO, SENADO, COMENTARIO, DEPOIMENTO, INJUSTIÇA, VITIMA, APOSENTADO, CORTE, METADE, BENEFICIO PREVIDENCIARIO, LEITURA, TRECHO, CARTA, AUTORIA, ECONOMISTA, ENTIDADE, REPUDIO, FALTA, ETICA, ALEGAÇÕES, DEFICIT, PREVIDENCIA SOCIAL, INEXATIDÃO, COMPARAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, DIFERENÇA, ATENDIMENTO, SAUDE PUBLICA, MEDICAMENTOS, SUPERIORIDADE, EXPECTATIVA, VIDA, PROTESTO, ERRO, ESTIMATIVA, GASTOS PUBLICOS, EXTINÇÃO, FATOR.
  • REITERAÇÃO, IMPORTANCIA, REFORÇO, MERCADO INTERNO, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, BENEFICIO, ECONOMIA NACIONAL.
  • AGRADECIMENTO, RECEPÇÃO, POPULAÇÃO, VISITA, ORADOR, MUNICIPIOS, INTERIOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS).

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Mão Santa, Senador Alvaro Dias, demais Senadores e Senadoras que se encontram na Casa.

            Senador Mão Santa, nesse fim de semana, viajei na sexta-feira porque estava muito gripado. Até tentei pegar o avião na quinta, mas não consegui devido à gripe, ao estado em que me encontrava. E queria, em primeiro lugar, pedir desculpas, Senador Mão Santa, aos companheiros de partidos aliados, como o PSC, com quem eu teria um encontro na quinta-feira à tarde. Estamos dialogando, caminhando juntos nessa campanha de 2010, mais precisamente na questão do Senado da República.

            Infelizmente devido à gripe, eles entenderam e nós marcamos uma reunião para a próxima semana. Também tive de adiar, porque teria na mesma tarde, uma conversa com o PRN e também com o PR nesse mesmo sentido.

            Mesmo assim, Senador Mão Santa, eu viajei na sexta. E, para minha alegria, chegando a Porto Alegre, fui convidado a participar de um ato, na sexta-feira ainda, promovido pela Central Única dos Trabalhadores, em frente ao prédio do Ministério da Fazenda em Porto Alegre. Estavam naquele ato centenas de trabalhadores - metalúrgicos, bancários, comerciários, da construção civil, da área da alimentação, professores -, exigindo a aprovação dos 7,7% para os aposentados e o não veto ao fator previdenciário.

            Eu fiquei satisfeito. Lá estava o meu amigo Milton Viário, presidente da Federação estadual dos Metalúrgicos, que me informou - e falarei mais amanhã sobre este tema - que amanhã, em São Paulo, no Pacaembu, teremos mais de 40 mil trabalhadores num ato nacional que unifica todas as centrais e confederações exigindo não ao veto ao fator previdenciário. O projeto original, de minha autoria, e do qual V. Exª foi o Relator, foi aprovado por duas vezes, em resumo, aqui no Senado da República, e está agora na mão do Presidente da República.

            Sinto, Senador Mão Santa, que esta questão do fim do fator e a garantia dos 7,72% aos aposentados está iluminando o nosso País como uma tocha olímpica a correr por todas as cidades, por todas as ruas, alertando que em todas as casas o povo brasileiro está de pé e exigindo o fim do fator, que confisca pela metade o salário dos mais pobres, daqueles que ganham - eu diria dez, mas ninguém ganha dez - de cinco salários mínimos para baixo. Nós não queremos que isso continue. Pelo contrário, nós gostaríamos que eles voltassem a receber o número de salários mínimos que recebiam.

            Senador Mão Santa, é um movimento muito forte. Veja bem, o PT do Rio Grande do Sul reuniu o seu Diretório Estadual e deliberou, por unanimidade, encaminhar um documento ao Presidente Lula pedindo o não veto aos 7,7% e também ao PL que aqui nós aprovamos, embutido na MP, da questão do fim do fator previdenciário.

            Senador Alvaro Dias, é um tema em que V. Exª também tem atuado e, logo no início da sua fala, eu fiz um aparte. Como eu vou falar mais deste tema, um aparte seu só enriquece o meu discurso.

            O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Obrigado, Senador Paulo Paim. Apenas para manifestar também o meu apoio. Tenho sido questionado pela Internet, por e-mails, pelo twitter : as pessoas perguntam o que nós podemos fazer.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Exatamente, eu ouvi muito isso no final de semana.

            O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Exatamente. Querem saber o que nós podemos fazer. Nós fizemos aquilo que nos cabia, ou seja, a aprovação aqui no Senado Federal, como fizemos com a Emenda 29, da saúde pública, que está...

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - A PEC Paralela.

            O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - ...lamentavelmente paralisada na Câmara dos Deputados, como fizemos com o fator previdenciário, projeto de V. Exª, com o reajuste. Agora, cabe-nos fazer apelo ao Presidente da República, num contraste com a posição dos ministros. Os ministros estão puxando de um lado, e nós puxamos de outro. O apelo que fazemos ao Presidente da República é que tenha sensibilidade, sobretudo porque, de 6,14% para 7,71% não há uma diferença exorbitante. O Governo não vai ter nenhum rombo em razão disso. Essa história de rombo nós já conhecemos. Quando nós rejeitamos aqui a CPMF, o mundo iria acabar. O Presidente da República dizia que seria impossível governar o País sem CPMF. No primeiro mês de receita, R$40 milhões a mais, sem CPMF. Portanto, esta alegação de que os cofres da Previdência não suportam esse reajuste não é honesta, perdoem-me. Suporta, tem suportado incompetência administrativa, sonegação, roubo, corrupção. O Governo tem a receber bilhões de reais, há uma inadimplência, portanto, significativa. O Governo tem de ir atrás disso, tem de receber, tem de cobrar, tem de tapar os buracos dessa forma e não sacrificar ainda mais os aposentados brasileiros. É preciso ter uma postura de sinceridade, sem mistificação, sem manipulação de número, porque nós sabemos que os recursos destinados à Previdência são suficientes. Ocorre que há desvio de finalidade. Desde a Constituinte de 1988 se estabeleceu que os recursos para pagamento de aposentadoria rural viriam do Orçamento da União e não dos cofres da Previdência. Isso não se cumpriu; os recursos saem dos cofres da Previdência e depois alega-se déficit. É uma alegação imprópria. V. Exª tem mostrado números aqui, tem se preocupado em trazer números, cifras, para justificar uma posição que é nossa, do Congresso Nacional, diante do Poder Executivo, porque aprovamos aqui por unanimidade e esperamos que o Presidente sancione aquilo que foi aprovado no Congresso Nacional.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Muito obrigado, Senador Alvaro Dias.

            Embora eu esteja sentindo aqui um pouquinho o efeito da gripe, eu faço questão de continuar falando hoje, amanhã, até o dia limite da decisão do Presidente: do veto ou da sanção.

            Senador Mão Santa, em pronunciamentos que fiz esse final de semana, nas cidades por onde passei - Passo Fundo, onde visitei o Prefeito, meu amigo Dipp, que foi um grande Deputado Federal; depois, em Erechim, onde estive também com o Prefeito Paulo -, deixei claro o meu ponto de vista. Tanto numa cidade como em outra, falei para milhares de pessoas, tanto em atos públicos como à imprensa.

            E eu dizia: que bom a gente poder olhar hoje as manchetes do mundo falando do crescimento do Brasil, com um PIB de 8%; do nosso Presidente, como grande estadista - seja no Time, seja no Le Monde, seja no El Pais -, recentemente, mediando essa crise com o Irã. E por que não lembrar também da questão dos palestinos, dos judeus, que ele também esteve mediando; ajudando aqui nos conflitos da nossa América Latina? Podemos ver que o Brasil se encontra num momento mágico da sua economia. No mês de abril, batemos todos os recordes de arrecadação. Por isso não acredito no veto, Senador Mão Santa. Faço todas essas considerações positivas, lembrando também os 12 milhões de empregos com carteira assinada - quase que o pleno emprego, isso é verdade. Eu dizia outro dia e repito: um empresário de Canoas me procurou e disse: “Me arruma 500 trabalhadores e eu coloco os 500. E meu escritório está lá à disposição. Quem estiver ouvindo em Canoas, vá ao meu escritório que vou indicar para essa empresa que precisa de 500”.

            Então, se vivemos um momento tão rico da economia é sinal de que a Previdência está arrecadando mais. A própria LDO mostra que a arrecadação prevista é 17% a mais em relação ao ano passado. Se tudo isso é verdadeiro, o momento é este: de olhar para aqueles que construíram este País e que não querem nada mais nada menos que um reajustezinho de 1,6%, porque já foi dado 6,14%, falta 1,6% para dar os 7,72% e naturalmente a queda do fator, porque se confisca metade do salário de cada um.

            Eu acredito na sensibilidade do Presidente. Por isso, quando me perguntam, como disse o Senador Alvaro Dias, o que fazer tenho dito: “Quem não chora não mama.” É preciso manter a mobilização. “Como manter a mobilização, se não tenho computador?”, alguém me disse; “Eu podia mandar um e-mail, mas não tenho.” Procure o vereador do seu Município, mande ele se posicionar lá na câmara de vereadores se é a favor ou contra; e aprovar na câmara de vereadores uma moção e mandar para o Executivo; ou mande para mim que entrego ao Executivo. Vá à assembléia legislativa, vá ao diretório do seu partido; peça a eles que se posicionem. É a hora de pagarmos para ver de que lado estão os homens públicos neste País. Homem público não é só o Senador ou o Deputado. Todos. Vá ao seu prefeito, peça-lhe que se posicione também. Como é uma grande injustiça, quero ver quem fica do lado de lá concordando que tirem a metade do salário daqueles que estão aposentados e que recebem cinco, seis no máximo, porque 95% ficam na faixa de até três salários-mínimos. É para esse povo que estamos olhando. Eles são do regime geral, onde dizem que o teto é de dez, mas aplicam o tal salário de referência, o que já baixa para sete. Aí, devido ao fator e ao arrocho imposto, a maioria está ganhando entre cinco e seis para baixo. Noventa e cinco por cento, para mim, ficam na faixa de até três, no máximo quatro salários. E olhem que, se não me engano, 82% ficam com até três salários-mínimos somente.

            Por isso, Senador Mão Santa, como dizia meu amigo Gilmar, dos bancários de São Paulo, que deve estar me ouvindo, me assistindo, a palavra é “Orai e vigiai.” É claro que vamos, também, manter a nossa fé, muita fé na Justiça; porque, se prevalecer a Justiça, esse veto aí não vai vir. Não poderá vir.

            E, olha, eu falo com muita segurança para os senhores que eu sei que estão assistindo à TV Senado: não teve uma cidade do Rio Grande, por menor que eu fosse, que o cidadão não dissesse lá: “Eu não vou dormir sem que o senhor fale, na TV, sobre a nossa questão dos aposentados e dos nossos jovens e adultos que vão se aposentar um dia”; que levam ferro, ferro quente, que nem ferro, que eu, diria, no Rio Grande, de marcar gado. Porque a dor é muito grande! Sabe o que é ferro de marcar gado? Pega o ferro, bota ali a letra que identifica a família dona daquele número de rês, esquenta e marca o gado para dizer que é de propriedade X ou Y. E por que dói - eu conheço? Eu fui operário metalúrgico. Eu trabalhei na construção civil. Eu trabalhei de vendedor de quadro nas ruas.

            Calcule o cidadão que pagou a vida toda sobre R$2 mil, por exemplo, durante 35 anos. Chega um belo dia em casa: “Gurizada, meus filhos, me aposentei; agora vou poder ficar um pouco mais com vocês. Agora, no fim do mês, vem meu primeiro carnê da Previdência”. Chega o carnê, no fim do mês, o neto, ou o filho mostra para ele: “Ó pai, acho que lograram o senhor. O senhor esta recebendo a metade do salário que recebia!” Dá um desespero total, meus amigos! O cara já ganhava pouco, ganhava R$2 mil ou R$1 mil, passa a ganhar R$500,00 ou R$1 mil. Se ganhava mil, vai ver que passou a ganhar salário-mínimo; se ganhava R$2 mil, passa a ganhar R$1 mil. E aí, quem é que vai pagar as contas? Lá vai o cidadão sem as condições adequadas, porque neste País a partir dos 45 anos já há discriminação, todos sabem que há, no mercado de trabalho; e como ele vai retornar?

            Por isso que, por uma questão de justiça, essa dor eu não quero para ninguém, de se aposentar sob o ferro quente - eu diria-, o ferro em brasa do famoso fator previdenciário.

            Senador Mão Santa, quando eu falava em Santa Maria e explicava, eu vi que tinha gente chorando no plenário e dizendo o seguinte: “Senador, foi exatamente isso que aconteceu comigo. Eu não sabia desse tal de fator, completei meu tempo, encaminhei meu benefício e, quando eu vi, saí da empresa recebendo metade daquilo que eu teria por direito pelos cálculos que eu tinha feito, pegando a média das minhas contribuições”.

            Esse é o mundo real. Quem quiser contar historinha da carochinha que conte, mas esse é o mundo real. E aí eu vou me socorrer aqui, só para dar um exemplo, de uma carta que recebi do Movimento Dignidade aos Aposentados e Trabalhadores do Brasil, de autoria do Sr. Osvaldo Colombo Filho. Eu não vou ler toda a carta, nem vou entrar na linha do debate duro que ele faz com aqueles que faltam com a verdade. Ele cita dados belíssimos aqui. Quem quiser entre na minha própria página, que essa carta está lá. E esse senhor conhece, com certeza, o que ele está dizendo aqui. Ele diz o seguinte numa parte da carta: primeiro, o déficit da Previdência é cantilena, não existe; quem diz isso vem com uma discussão vazia, nula de qualquer crédito, transparecendo apenas uma inconsequência, conversa de botequim.

            O que ele está dizendo aqui? Não sou eu que estou dizendo. Diz que quem alega, com números que não existem, que a Previdência está falida está ofendendo até aqueles que, normalmente e infelizmente, se apresentam bêbados pelas ruas. Diz mais: quem fala isso falta com a ética e a moralidade mínima e esquece os interesses de 8,4 milhões de aposentados e pensionistas e de 48 milhões de brasileiros que são aqueles que, amanhã ou depois, vão ser atingidos pelo fator.

            Diz ele: Quem paga, religiosamente, são os assalariados. Eles pagam porque descontam em folha; e os altos salários, esses se aposentam com salário integral. Agora, o celetista, descontado em folha, vai receber pela metade. Depois, ele diz: Alguns falam, mostrando um conhecimento nulo em Previdência, sobre a previdência em outros países do mundo. Diz ele que ouviu alguém comparando o Brasil à Inglaterra, à Dinamarca, à Noruega, à Itália, à França etc., países esses onde são fixadas idades mínimas para a concessão da aposentadoria. Diz ele: “De fato, é verdade, porém, lá, a idade é fixada em 60 anos, só que a média de vida do cidadão lá é de 81 anos. Aqui no Brasil é de 72 anos”.

            Então, onde a média de vida é de 81 anos, claro que é uma realidade! Aqui, no Brasil, é 72. E eles querem aplicar a mesma idade mínima que há em países como Inglaterra, França, Itália, onde a expectativa de vida é de 82 anos, enquanto aqui no Brasil é de 72 anos - ainda em algumas regiões. Ele é muito feliz em sua carta!

            Lá, a saúde pública, diz ele, é gratuita e de qualidade. Aí ele pergunta: acontece aqui? Aqui, se você não tiver um planinho de saúde, que Deus te salve, reze bastante. Lá, o atendimento médico, hospitalar, odontológico, medicamentos, onde pessoas com mais de 70 anos nem de coparticipação (que já é baixa) são cobradas. A título de exemplo: todos os franceses ao irem a uma consulta médica, todos os franceses - atendimento de saúde de primeiro mundo - pagam €1,00, €1,00! Uma mulher grávida paga só a primeira consulta: €1,00.

            Enfim, os dados que ele dá aqui, Senador Mão Santa: na Itália, a coparticipação na aquisição de medicamentos é limitada a €36,00 por mês. Ele tem direito a todos os remédios e só pode gastar €36,00 por mês. É direito dele.

            Ora, e querem comparar conosco aqui, como se o brasileiro tivesse isso. Brasileiro, se não tiver dinheiro para comprar remédio, morre, morre! Eu tomo remédios caríssimos, por exemplo, mas sou Senador da República. Eu quero ver receitarem os remédios que eu tomo para um brasileiro comum; comum eu digo em matéria de faixa de renda, aqueles que ficam onde estão os aposentados, que ganham 3, 4, 5 salários. Só um que eu tomo e vou dizer o nome aqui, porque é caríssimo mesmo, é o tal de Liptor, eu pago R$120,00 a caixinha. E vão querer que o cidadão que ganha 2, 3 salários-mínimos pague por ele os R$120,00 pois vai tomar os outros que eu não vou dizer, mas tomo mais três, são mais ou menos R$500,00 por mês - eu, com sessenta anos!

            E querem que esse cidadão, na verdade, ganhe um salário mínimo, porque, se não houver resposta para o que estamos fazendo aqui - dar um reajuste para ele e acabar com o fator -, no futuro, ele vai ganhar um salário mínimo. Quer dizer, ele vai ter de gastar com remédio um salário mínimo, no mínimo, e vai ter de comer, vai ter de se vestir, vai ter de viver, vai ter, enfim, de enfrentar o custo de vida. Por isso, é uma tremenda injustiça o que estão fazendo com os idosos no nosso País.

            Ele usa dados que uso muito também. Diz ele que ficou estarrecido quando, outro dia, ouviu alguém falar que o fim do fator previdenciário representará um gasto de R$40 bilhões. Não vou dizer o que ele diz aqui. Estou pulando trechos da carta, em respeito às pessoas que ele cita. Estou pulando alguns trechos, mas estou dando a fonte em homenagem a ele. Estou pulando coisas que não dá para dizer ao microfone.

            Ele classifica de piada esse número, já que os próprios dados do Siafi - tenho dito isso aqui - e da Previdência dizem que houve uma economia de R$10 bilhões em dez anos, ou seja, R$1 bilhão por ano. Eles dizem que vai ser um gasto de R$40 bilhões, fazendo terrorismo. Então, esses dados não são citados apenas pelo Paim. Ele cita onde ele buscou os dados. E por aí vai.

            “Com a queda do fator, agora as pessoas poderiam...” Ah, esse dado que ele usou também uso. Quero dizer que comungo com a crítica que ele faz a quem diz que, com o fim do fator, o homem ou a mulher poderão se aposentar com 40 anos de idade. Diz ele: “Sinceramente, nem sei se houve resposta à indagação tão absurda, pois meu bom senso não me permite sequer ouvir ou responder isso”. É aquilo que eu disse outro dia: para o homem se aposentar com 40 anos, ele teria de ter começado a trabalhar com 5 anos. E dizem isso de boca cheia por aí, ouve-se isso nos meios de comunicação. Ele está citando aqui; estou preservando os meios de comunicação que ele cita aqui. Ele cita nominalmente onde viu esse tipo de citação, dá o nome de quem está dizendo isso.

            Dizer que alguém vai se aposentar com 40 anos com a queda do fator? Ele diz que uma afirmação dessa faz com que se tire o brasileiro como bobo, no mínimo. Se a Constituição diz que só se pode começar a trabalhar com 16 anos, quem souber fazer cálculos simples vai dizer que 16 anos mais 35 anos corridos - não se pode ficar um dia fora do trabalho - são 51 anos. E o camarada diz que ele pode se aposentar com 40 anos! Isso só seria possível se alguém tivesse assinado a carteira dele, como eu disse outro dia, com 5 anos de idade! E se se aposenta com 42 anos, a carteira foi assinada quando ele tinha 7 anos de idade. Não dá, não é?

            Quero valorizar o trabalho dele. Olhem o que ele diz depois. Vou ler esta outra parte:

O fator previdenciário, como se sabe, leva em conta a expectativa de vida, ou seja, em outras palavras a ampliação da expectativa de vida de um cidadão corresponde a um desembolso por maior tempo do Regime Previdenciário. Este ‘fenômeno’ acontece em todos os países, mas por aqui se tornou elemento trágico para usurpar os direitos dos trabalhadores de forma mais do que proporcional ao que se possa dar nexo causal ao dito ‘fenômeno’. Exemplificando [ele traduz aqui], atualmente nossa população de idosos acima de 60 anos pouco supera 10% do total. Nos países citados por V. Sª [ele comenta algo que viu em um jornal], tal participação situa-se entre 23% (Noruega) [no Brasil é 10%] a 31% (Alemanha e Itália). Nesses países, a possibilidade de um cidadão chegar a 60 anos de idade aumenta cada vez mais [aí ele dá todos os dados].

            No final, ele diz:

Nos países sugeridos [por aqueles que são contra a derrubada do fator] [...] os 20% da população mais rica: Alemanha, 23,7%; Itália, 36,3%; Suécia, 34,5%; França, 40,2% [ele quer dizer que a população mais rica nesses países fica nesses patamares]; Inglaterra, 43,2%; Noruega, 35,3%; Dinamarca, 32,6%; e, no Brasil, os 20% mais ricos detêm 64,1% da riqueza da nação, e os 10% mais pobres só têm 0,7%.

            Vejam: a riqueza maior nesses países foi de 23,7% a 43,2%. No Brasil, os 10% mais pobres só ficam com 0,7%. Então, há uma diferença, como a do dia para a noite, ninguém tenha dúvida em relação a isso. Ele repete que querer comparar Alemanha, Itália, Suécia, França, Inglaterra, Noruega e Dinamarca com o Brasil é uma piada em matéria de distribuição de renda. Enquanto lá - repito -, a riqueza maior é dividida por quase a metade da população, aqui a riqueza maior fica nas mãos de 10%. Os pobres não têm direito a praticamente nada e ainda ficam com o tacão do fator previdenciário em cima de suas cabeças.

            Não vou insistir tanto aqui com os números, quero só cumprimentar o economista, principalmente pela análise técnica que fez. Ele não fez uma análise política. Ele também se colocou totalmente à disposição para participar, conforme ele diz aqui, de qualquer desafio - Movimento Dignidade dos Aposentados e Trabalhadores do Brasil. Repito o nome do economista que assina a carta: Oswaldo Colombo Filho.

            É bom para mim apresentar este documento, porque só eu fico repetindo dados e números, que são semelhantes a esses, e as pessoas acham que só o Paim entende de previdência. Não! Entendo de previdência de forma razoável, não sou especialista, mas, por causa do monte de asneiras que tenho ouvido por aí, sou obrigado a vir aqui e a comentar o assunto. Acredito muito que é este o momento de fazer uma verdadeira cruzada nacional pelo fim do fator previdenciário e pelo reajuste de 7,7% para os aposentados.

            Quero cumprimentar aqui todas as centrais que foram paras as ruas. Agora mesmo, no meu Twitter, recebi informações do Celsinho, Presidente da CUT no Rio Grande do Sul, sobre um grande ato ocorrido agora em Porto Alegre com esse objetivo. E não é somente o Celsinho que me envia informações: vêm notícias de todas as centrais sindicais, do Fórum Sindical dos Trabalhadores. O Zé Augusto, o Janta, o Paulinho, o Patá, o Calixto, todos estão dizendo que a mobilização cresce.

            E, dentro das empresas, Senador Mão Santa, isso ocorre de forma impressionante. Ouvi o relato de um sindicalista que sempre defendeu a mesma posição que defendo em relação ao fim do fator e ao reajuste para os aposentados. Sabe o que ele me disse? Ele disse que, chegando à porta de uma fábrica ou de um comércio ou de um banco para defender o acordo da categoria, se o reajuste vai ser 1%, 2%, 3%, ouve mais ou menos o seguinte: “Meu velho, não vem com essa história aí, porque o que quero saber agora é o que vocês estão fazendo para derrubar o fator. Vamos ou não derrubar o fator? Vai haver o reajuste para os aposentados?”.

            Vejam bem - venho do Movimento Sindical e sei disso - que os trabalhadores tomaram consciência, nos seus locais de trabalho, de que, neste momento, o mais importante de tudo não é seu acordo coletivo ou dissídio coletivo. E olha que, normalmente, os associados dos sindicatos são corporativistas, incorporam os interesses da categoria. E, para nós, Senador Mão Santa, é uma alegria ouvi-los dizer que o Senado está certo mesmo, porque esse debate começou dentro do Senado. Parabenizam os nossos Senadores que levantaram esse debate. A peãozada está dizendo isso. Não somente a peãozada deveria se manifestar, porque qualquer profissional liberal também paga e vai levar ferro com o fator! Não pensem que não vão sofrer com isso! Vão sofrer também. Só quem não leva ferro são os dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Então, isso é geral.

            Por isso, mais uma vez, quero insistir. Quando alguém me diz - usei o termo e vou continuar usando-o - que um ou outro tecnocrata de plantão dá números absurdos, eu não estranho, porque esses mesmos tecnocratas sempre foram contra o aumento do salário mínimo. Eu os conheço. Ou, agora, vão me dizer que, quando eu dizia que o salário mínimo podia chegar a US$200, não me chamavam de louco ou de demagogo? Chamavam! Todos sabem de quem estou falando. Não vou citar nome de ninguém aqui. Quando fiz aquela luta pela PEC Paralela - não fui o único a fazê-lo naturalmente, mas o fizeram os Senadores e os Deputados -, disseram que aquilo era um absurdo. Quando aprovamos o Estatuto do Idoso, disseram: “Só faltava isso!”. E o Estatuto do Idosos possui mais de duzentos artigos.

            Duvido até que esses tecnocratas, derrotistas de sempre, Senador Mão Santa, tenham sido, de fato, favoráveis às políticas de distribuição de renda. Os tecnocratas sempre pensam o seguinte: tem de acumular, acumular, acumular - é aquela velha teoria -, para, depois, distribuir. O Presidente Lula, felizmente, pensa de forma diferente e mudou a história deste País. Hoje, a nossa situação de mercado interno é muito, muito boa. Que bom a gente poder dizer isso! Só espero que, por uma questão de birra, eles não continuem insistindo com isso. Que digam: “Olhem, nós, enfim, entendemos que essas lutas são corretas, fortalecem o mercado interno, distribuem renda”. Inclusive, o Governo arrecada mais, porque, se as pessoas estão recebendo mais, estão comprando mais, estão gastando mais, tudo está embutido. O próprio Governo arrecada mais. Esse percentual mínimo para o aposentado acaba, de uma forma ou outra, entrando no mercado de consumo.

            Senador, vou terminar, mas eu tinha de fazer essa reflexão aqui. Quero agradecer muito às cidades que me receberam, Almirante Tamandaré, Passo Fundo, Erechim e Santa Maria. Enfim, passei por algo em torno de dez cidades, nessa correria de fim de semana, além de Porto Alegre e São Leopoldo. Por onde passei, o carinho foi muito grande.

            Quero dizer algo para uma senhora de Santa Maria. Fui à casa dela, Senador Mão Santa, e ela teve comigo o gesto de carinho mais bonito que recebi na minha vida. Eu fazia uma palestra em Santa Maria, numa cidade do interior, e eu tinha de dar uma coletiva em Santa Maria, que é um grande centro. E aí, Senador Eurípedes Camargo, na hora em que eu estava terminando, uma jovem de mais ou menos 20 anos disse que a avó dela queria muito me ver. Eu disse: “Olha, é difícil eu ir agora à casa da sua avó, porque tenho uma coletiva em Santa Maria”. E ela disse: “Senador, ela tem 78 anos e é cega. Ela quer vê-lo”. E eu disse: “Dançou a coletiva, estou indo à casa dela!”. No caminho, perguntei: “Mas como é que ela quer me ver?”. A jovem disse: “Ela assiste aos seus discursos pela TV Senado”. E perguntei: “Mas como?”. Ela respondeu: “Ela o ouve e não vai dormir sem que você termine”. Naturalmente, ela disse isso a mim, mas também outros Senadores falam sobre esse tema. Quando cheguei lá, o gesto mais bonito foi este: como é que ela me viu? Ela me tocava, tocava meu rosto, tocava em mim e me dizia: “Rezo por você todas as noites, meu filho. Você é meu filho”. E começou a chorar. Como perdi uma irmã que tinha o mesmo problema e que ficou cega, criou-se aquele momento, aquela energia que só o universo e aquela senhora, que deve estar me assistindo lá... A senhora, que, talvez, esteja nos assistindo, fez-me chorar, mas eu não me arrependo, foi uma coisa linda. Isso não tem preço! Aqueles que só jogam contra os que mais precisam não vão ter nunca isso, mas nós vamos ter esses momentos. Então, esse momento que a senhora me proporcionou, abraçando-me, tocando-me, dizendo que reza por mim todas as noites, é o que interessa. Isso faz com que eu acredite cada vez mais que vale a pena essa luta, essas pelejas, que vai ter de dar certo.

            Então, minha amiga, receba este abraço! Sei que você está me ouvindo neste momento, não está me vendo. Você perguntou para a neta como eu era, e a neta disse: “Olha, ele é um negro de altura média”. Daí brinquei, dizendo assim: “E tu disseste para ela que sou muito bonito!”. A menina disse: “Eu disse que você é simpático”. E daí elas deram risada. Então, foi um momento mágico.

            Enfim, para mim, é isso o que dá gosto na política, Senador Alvaro Dias. Isso é uma das coisas, para mim, mais carinhosas, mais fortes que vou levar sempre comigo por onde eu for.

            A senhora me deu o melhor presente que recebi na minha vida. Deu-me aquele abraço e aquele toque de mãos, dizendo-me: “Você é exatamente como eu imaginava”. As mãos dela fizeram a leitura do meu rosto. Um beijão para a senhora! Outro beijão! Foram lágrimas que se encontraram num rosto só: o meu e o seu!


Modelo1 6/30/245:25



Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/06/2010 - Página 24946