Discurso durante a 87ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários à interceptação, pela Marinha de Israel, da frota do Movimento pela Liberdade de Gaza, que estaria levando ajuda humanitária. (como Líder)

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA EXTERNA.:
  • Comentários à interceptação, pela Marinha de Israel, da frota do Movimento pela Liberdade de Gaza, que estaria levando ajuda humanitária. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 01/06/2010 - Página 24983
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • GRAVIDADE, INTERCEPTAÇÃO, GOVERNO ESTRANGEIRO, ISRAEL, FROTA MARITIMA, MOVIMENTAÇÃO, DEFESA, LIBERDADE, AREA, PAIS ESTRANGEIRO, PALESTINA.
  • REITERAÇÃO, LEITURA, TRECHO, CARTA, AUTORIA, EMBAIXADOR, PAIS ESTRANGEIRO, ISRAEL, RESPOSTA, EXPEDIENTE, ORADOR, SOLICITAÇÃO, RESPEITO, EXPEDIÇÃO, DIRETRIZ, PAZ, ALEGAÇÕES, JUSTIFICAÇÃO, ATUAÇÃO, GOVERNO ESTRANGEIRO, FRONTEIRA, REGIÃO, CONFLITO, FORNECIMENTO, ALIMENTOS, COMBUSTIVEL, VITIMA, TERRORISMO, DESMENTIDO, DECLARAÇÃO, TERRORISTA, CRISE, ABASTECIMENTO, RECUSA, FROTA, NEGOCIAÇÃO, INSPEÇÃO, TRANSFERENCIA, AUXILIO, MANIPULAÇÃO, NATUREZA POLITICA, ESCOLHA, CONTINUAÇÃO, VIOLENCIA.
  • INFORMAÇÃO, DIRETRIZ, PAZ, EXPEDIÇÃO, PARTICIPAÇÃO, GRUPO, ESTRANGEIRO, DIVERSIDADE, PAIS, BUSCA, CONSCIENTIZAÇÃO, MUNDO, SITUAÇÃO, FECHAMENTO, AREA, SUPERIORIDADE, POPULAÇÃO, CONFLITO, PAIS ESTRANGEIRO, PALESTINA, ISRAEL, LOBBY, REVISÃO, POLITICA, LONGO PRAZO, SANÇÃO, NECESSIDADE, ENTENDIMENTO, REGISTRO, RESOLUÇÃO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), OBJETIVO, EXTINÇÃO, BLOQUEIO, PACIFICAÇÃO, REGIÃO.
  • LEITURA, NOTA OFICIAL, GOVERNO BRASILEIRO, REPUDIO, VIOLENCIA, AGRESSÃO, FROTA, MORTE, CIDADÃO, CONDENAÇÃO, OPERAÇÃO MILITAR, GOVERNO ESTRANGEIRO, ISRAEL, NECESSIDADE, INVESTIGAÇÃO, INTERVENÇÃO, DIREITO INTERNACIONAL, COBRANÇA, SUSPENSÃO, BLOQUEIO, PAIS ESTRANGEIRO, PALESTINA, LIBERDADE, LOCOMOÇÃO, POPULAÇÃO, ACESSO, BENS, APREENSÃO, SITUAÇÃO, BRASILEIROS, APRESENTAÇÃO, SOLIDARIEDADE, ORADOR.
  • REGISTRO, AUSENCIA, APOIO, ORADOR, TERRORISMO, COMPROVAÇÃO, FISCALIZAÇÃO, FROTA, GARANTIA, DIRETRIZ, PAZ, DEFESA, IMPORTANCIA, INTERFERENCIA, BRASIL, NEGOCIAÇÃO, PACIFICAÇÃO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Senador Paulo Paim, ocorreu no dia de hoje, por parte da Marinha de Israel, a interceptação da frota Free Gaza Movement, ou Movimento pela Liberdade de Gaza, e de uma maneira que vem causando preocupação em todo o mundo.

            Ainda na semana passada, aqui da tribuna do Senado, encaminhei e li uma carta endereçada ao Presidente Shimon Peres, ao Primeiro-Ministro Netanyahu e ao Embaixador de Israel, na qual expressei que avaliava como muito importante que pudesse haver o respeito a essa expedição com caráter pacífico.

         Eu também li da tribuna do Senado a carta que, de maneira muito respeitosa e amiga, o Embaixador de Israel no Brasil, Giora Becher, escreveu a mim, na qual me disse:

Li a sua carta (JB, dia 24, pág. A11) dirigida ao meu presidente, ao primeiro-ministro e a mim pessoalmente com muito cuidado e com todo o respeito que esta merece, pois sei que o senhor é um verdadeiro amigo do meu país, amigo de Israel e do povo judeu [o que eu confirmo].

Posso assegurar-lhe que Israel acompanha de perto a situação humanitária na Faixa de Gaza e tem trabalhado de forma consistente para assegurar que todas as necessidades básicas dos residentes da Faixa de Gaza sejam atendidas. Para isto, Israel mantém passagem em sua fronteira com a Faixa de Gaza através da qual são fornecidos alimentos, combustível e outros suprimentos. Estes pontos de transferência operam apesar de numerosos ataques terroristas palestinos nesta travessia, o que tem custado a vida de alguns israelenses.

Prezado senador, posso lhe garantir que não existe crise humanitária em Gaza apesar das tentativas do regime ilegal e terrorista do Hamas em Gaza tentar retratar a situação desta forma. Uma grande quantidade de mantimentos e auxílio humanitário atravessa a Faixa de Gaza regularmente. Todos os dias, dezenas de caminhões carregados de suprimentos são transportados de Israel para a Faixa de Gaza.

Israel ofereceu aos organizadores da flotilha mencionada em sua carta transferir a ajuda ao povo de Gaza pelas passagens, mas infelizmente, devido a razões políticas e de propaganda, nossa oferta foi recusada. É importante que o povo brasileiro entenda que a Faixa de Gaza está sendo controlada por uma organização terrorista que não reconhece o direito de Israel de existir e opta pela continuidade de uma luta armada e violenta contra Israel e seus cidadãos.

Infelizmente, a organização terrorista Hamas está tentando fazer uso de parte deste auxílio e suprimento contrabandeado para a Faixa de Gaza, reforçando a sua capacidade militar e se preparando para a próxima operação militar contra Israel e seus cidadãos.

Estimado Senador Suplicy, como um bom amigo de Israel e, tenho certeza, também do povo palestino, apelo para que use sua influência sobre os organizadores do chamado Free Gaza Movement para que enviem a sua ajuda para Israel para que possamos transferir este auxílio, após inspeção apropriada, para os residentes da Faixa de Gaza.

Se eles de fato se importam com estas pessoas e não com a propaganda anti-israelense, com certeza aceitarão a nossa oferta.

Giora Becher, Embaixador de Israel no Brasil.

            Eu gostaria de dizer que hoje liguei algumas vezes para o Embaixador Giora Becher porque gostaria, conforme conversei com ele ao telefone depois que ele me enviou essa carta, de conversar pessoalmente com ele para esclarecer inteiramente esse episódio.

            Segundo todas as informações que chegaram ao meu conhecimento, o propósito da expedição Free Gaza Movement é inteiramente pacífico. Parlamentares de outros países, a exemplo do Senador Mark Dearey, da Irlanda, solicitaram que o Governo de Israel permitisse a viagem dos oito navios, três de passageiros e cinco de carga, desde Chipre até a Faixa de Gaza, na viagem que se iniciou dia 24, segunda-feira última. Eu até informei aqui que fui convidado a participar dessa expedição, mas, dadas as obrigações que temos nestas semanas, eu não poderia me ausentar responsavelmente do Senado. Mas, as informações que obtive dos organizadores dessa expedição é que estão com o propósito de levar alimentos, agasalhos, material de construção e a solidariedade de povos de numerosas nações, havendo, ali, pessoas dos mais diversos países - da Itália, da Irlanda, do Canadá, da Grécia, da Tunísia, da Alemanha, da Austrália, dos Estados Unidos, da Inglaterra, da Escócia, da Dinamarca, de Israel e da Palestina.

            O objetivo é, justamente, o de procurar aumentar a consciência internacional sobre o fechamento da Faixa de Gaza e indicar a Israel o quão é importante rever a sua política de sanções ocorrida desde 5 de junho de 1967 e mais nos anos recentes, pois será importante, sobretudo nessa minúscula Faixa de Gaza de 360 quilômetros quadrados onde vivem 1,5 milhões de palestinos, que corresponde à faixa da terra mais densamente povoada do planeta e a mais antiga população de refugiados que o mundo já conheceu, que possa haver um entendimento. Mas também é importante ressaltar que a própria Organização das Nações Unidas definiu resoluções para que haja o fim do bloqueio à Gaza e a Cisjordânia.

            Além disso é também importante que haja um movimento no sentido de haver o respeito. Infelizmente, hoje, aconteceu - acho que de madrugada ou pela manhã - o fato de a Marinha de Israel resolver descer de helicóptero sobre um dos navios dessa expedição, resultando na morte de 19 ou 20 pessoas, ficando diversas outras feridas. Gostaria de informar que o próprio Governo brasileiro expediu a seguinte nota, que aqui leio:

Ataque israelense à Flotilha da Liberdade.

Com choque e consternação, o Governo brasileiro recebeu a notícia do ataque israelense a um dos barcos da flotilha que levava ajuda humanitária internacional à Faixa de Gaza, do qual resultou a morte de mais de uma dezena de pessoas, além de ferimentos em outros integrantes.

O Brasil condena, em termos veementes, o ato israelense, uma vez que não há justificativa para a intervenção militar em comboio pacífico de caráter estritamente humanitário. O fato é agravado por ter ocorrido, segundo as informações disponíveis, em águas internacionais.

O Brasil considera que o incidente deva ser objeto de investigação independente que esclareça plenamente os fatos à luz do Direito humanitário e do Direito internacional como um todo.

Os trágicos resultados da operação militar israelense denotam, uma vez mais, a necessidade de que seja levantado, imediatamente, o bloqueio imposto à Faixa de Gaza, com vistas a garantir a liberdade de locomoção de seus habitantes e o livre acesso de alimentos, remédios e bens de consumo àquela região.

Preocupa especialmente ao Governo brasileiro a notícia de que uma brasileira, Iara Lee, estava numa das embarcações que compunham a flotilha humanitária. O Ministro Celso Amorim, ao solidarizar-se com os familiares das vítimas do ataque, determinou que fossem tomadas providências imediatas para a localização da cidadã brasileira.

A representante do Brasil junto à ONU foi instruída a apoiar a convocação de reunião extraordinária do Conselho de Segurança das Nações Unidas para discutir a operação militar israelense.

O embaixador de Israel no Brasil está sendo chamado ao Itamaraty para que seja manifestada a indignação do Governo brasileiro com o incidente e a preocupação com a situação da cidadã brasileira.

            Eu gostaria, inclusive, como Vice-Líder e em nome da Liderança do Partido dos Trabalhadores, de informar que recebi, nós do PT recebemos a notícia do ataque praticado pelo Estado de Israel contra a chamada Frota da Liberdade - um conjunto de oito barcos que pretendia levar ajuda militar à Faixa de Gaza -, com tristeza e pesar, pois não está comprovado que esses participantes da Flotilha Movimento pela Liberdade de Gaza estivessem ali planejando qualquer ato de violência. Ao contrário, os seus organizadores informaram que a expedição tinha o propósito humanitário e pacífico de levar ali apenas mantimentos, alimentos, medicamentos e material de construção.

            Lamentamos os mortos e os feridos. É importante que haja uma investigação internacional para apurar o incidente e haver a responsabilização daqueles que agiram de forma violenta.

            Gostaria também de dizer que é importante a solução para que haja a pacificação em Gaza, que possa haver o livre movimento de pessoas em toda a área que compreende Israel, Gaza e Palestina. É necessário que caminhemos na direção de as pessoas poderem se entender.

            Aqui no Brasil, Senador Cristovam Buarque, ali no Bom Retido, na 25 de Março, na Universidade de São Paulo, no Hospital Albert Einstein, no Hospital Sírio-Libanês, ali na Universidade de Brasília, nas universidades, nas indústrias, nas empresas, nas ruas de Porto Alegre, de Manaus, de Belo Horizonte, do Rio de Janeiro, os árabes, os palestinos, os judeus, os israelitas, os persas, os iranianos, os africanos, os europeus, os brasileiros, a nossa Nação formada por mil povos, ali sabemos o quanto as pessoas sabem se entender.

            Senador Cristovam Buarque, à luz daquilo que eu tinha falado na semana passada, recebi uma comunicação do Sr. Raúl Héctor Urban, que ficou preocupado de eu aqui ter lido a minha carta pedindo respeito à expedição do movimento pela liberdade de Gaza. Ele como que me repreendeu porque eu estaria fazendo uma manifestação, segundo ele, simpática a terroristas do Hamas. Eu quero dizer que em nenhum momento da minha vida apoiei qualquer ação de força, qualquer ação que não fosse pacífica, e exatamente por causa disso que expressei apoio ao Free Gaza Movement.

            Na medida em que eu soube que esse senador da Irlanda fez a fiscalização, ou seja, foi inspecionar os navios para verificar se havia qualquer outra coisa que não fossem os alimentos, os medicamentos, o material de construção, e disse, portanto, que era uma manifestação pacífica, eu avaliei que era sério o apelo para que pudesse ser respeitado esse movimento pacífico. Portanto, é importante que haja esclarecimento. Avalio como próprio que o Governo Brasileiro tenha feito essa manifestação em que condena a ação de Israel sem que tivesse havido qualquer comprovação prévia de que os barcos iriam chegar a Gaza para uma ação que não fosse pacífica, de solidariedade aos palestinos.

            Quero transmitir que tenho a intenção de ouvir o Embaixador de Israel, mas, obviamente, com muita preocupação, precisamos caminhar na direção de construir a paz. Quando o Presidente Lula foi a Israel, ao Oriente Médio, conversou com o Presidente Shimon Perez, o Premier Netanyahu, foi à Palestina e conversou com as autoridades palestinas e também foi ao Irã e conversou com o Presidente Ahmadinejad, o propósito foi exatamente o de aproximar as pessoas para que os problemas possam ser resolvidos sem a utilização das armas, sejam rifles, revólveres, metralhadoras ou armas nucleares.

            Vamos nos empenhar para a construção da paz na Terra, o que só acontecerá na medida em que houver instituições que proporcionem efetiva justiça, boa oportunidade de educação, bom atendimento à saúde e o direito de todos de viver com dignidade.

            É essa a comunicação que avaliei importante fazer hoje, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/06/2010 - Página 24983