Discurso durante a 87ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Indignação com ataque por forças israelenses a navios que estariam levando ajuda humanitária à população palestina de Gaza. Entendimento de que a paz na região poderia ser alcançada com a inclusão de países emergentes no processo de arbitragem, mas que a proliferação do poder político no mundo não interessa às grandes potências. (como Líder)

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Indignação com ataque por forças israelenses a navios que estariam levando ajuda humanitária à população palestina de Gaza. Entendimento de que a paz na região poderia ser alcançada com a inclusão de países emergentes no processo de arbitragem, mas que a proliferação do poder político no mundo não interessa às grandes potências. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 01/06/2010 - Página 24985
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • MANIFESTAÇÃO, REPUDIO, INDIGNIDADE, AGRESSÃO, GOVERNO ESTRANGEIRO, ISRAEL, FROTA MARITIMA, SOLIDARIEDADE, POVO, PAIS ESTRANGEIRO, PALESTINA, COMENTARIO, RECEBIMENTO, EDUARDO SUPLICY, SENADOR, CONVITE, PARTICIPAÇÃO, EXPEDIÇÃO, GRUPO, NACIONALIDADE ESTRANGEIRA, DIRETRIZ, PAZ, ANALISE, LONGO PRAZO, CONFLITO, REGIÃO, EXPECTATIVA, ORADOR, CONSCIENTIZAÇÃO, ALTERNATIVA, PACIFICAÇÃO.
  • APOIO, MOBILIZAÇÃO, BRASIL, PAIS EM DESENVOLVIMENTO, INTERFERENCIA, NEGOCIAÇÃO, PAZ, SUBSTITUIÇÃO, DOMINIO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), ARBITRAGEM, POSSIBILIDADE, AMPLIAÇÃO, TOLERANCIA, DIVERSIDADE, CULTURA, PAISES ARABES.
  • AVALIAÇÃO, REJEIÇÃO, PRIMEIRO MUNDO, ACORDO, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, TURQUIA, IRÃ, MOTIVO, DEMONSTRAÇÃO, POSSIBILIDADE, DIVISÃO, PODER, POLITICA INTERNACIONAL, AMPLIAÇÃO, PAUTA, DISCUSSÃO, EXPECTATIVA, ORADOR, RENOVAÇÃO, LIDERANÇA.

                          SENADO FEDERAL SF -

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            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Quero acrescentar à manifestação do Senador Suplicy, que falou em tristeza e pesar, a palavra indignação. Quando tomei conhecimento do fato, ouvindo pela rádio, senti uma forte indignação. Lembrei-me, imediatamente, de que o Senador Suplicy poderia estar nesse barco. Eram seus planos e era o convite que tinha. Vi a carta que o senhor fez, Senador Suplicy, dizendo por que não iria, ou seja, por causa da agenda que temos no Brasil neste momento. Neste instante, a gente poderia estar aqui sofrendo com a situação de um Senador brasileiro que, por solidariedade ao povo palestino, estaria nesse barco. Se não estava, felizmente para nós, o Senador e amigo que nós temos, lá estavam diversas personalidades do mundo inteiro, entre elas uma cineasta brasileira. Isso já justifica a indignação que senti.

            Mais do que isso, nós todos, tenho certeza, somos admiradores profundos do povo judeu e do povo árabe. Tudo o que penso - e sou professor - devo aos gregos, aos árabes e aos judeus. Lá atrás, mil e poucos anos antes do nosso tempo, é que formularam os pensamentos que nós temos, as visões de mundo que temos e explicaram o mundo onde vivemos. Foram eles. De repente, a gente vê essa guerra levando não apenas ao que se poderia chamar de insanidade, quando dois exércitos se encontram, mas a algo pior, que é o afundamento de navios com uma finalidade pacifista. Creio que é um momento de muita tristeza, de muito pesar, mas também de indignação com o que foi feito.

            Quem sabe não pode ser também um momento de esperança em função da tragédia? Quem sabe essa mobilização que hoje a gente ouve pelo rádio, vê na televisão, essa mobilização que está ocorrendo no mundo inteiro, pela indignação com que aconteceu, não se transforme na consciência de que é preciso encontrar um caminho alternativo?

            E, aí, Senador Suplicy, eu quero dizer que, talvez, esteja na hora de a gente procurar outros caminhos para encontrar a paz, não mais pelas grandes potências. Quem sabe não chegou a hora dos países emergentes, quando vemos o Brasil e a Turquia conseguirem arrancar do Irã um documento de intenção que deixa claro que quer tomar as medidas necessárias? E é corretíssimo que não se acredite no que o Irã ou qualquer outro país defenda, porque os países mudam conforme seus governos. Mas, pelo menos, está aí um documento em que o Irã aceita tudo o que for preciso para que fique claro que suas pesquisas nucleares serão para energia e saúde.

            Se esses dois países conseguiram, será que juntando mais países, como China, Rússia, Índia, África do Sul, mesmo alguns países europeus, será que juntando um grupo maior de países emergentes não seria possível encontrar um caminho para pôr juntos os palestinos e os israelenses, para encontrarmos uma saída para essa crise?

            Não dá para acreditar mais nos Estados Unidos como árbitro desse processo de paz. Já tentaram muito. Não dá para considerar as grandes potências como o caminho para procurar a paz. Está na hora de encontrar um outro caminho. E esse outro caminho pode ser dos países emergentes que são capazes de levar adiante a procura pela paz sem os preconceitos que esses países grandes carregam, alguns deles até por complexo de culpa pelo que fizeram com os judeus que moravam em seus territórios, pelo antissemitismo bárbaro que, nesses países, aconteceu. Talvez, nos países emergentes, a gente não encontre esse antissemitismo vergonhoso, indecente, anticivilizatório que se viu em países europeus. Talvez seja a hora de a gente mostrar que, a partir de novos atores da cena internacional, um caminho pode ser procurado.

            Para mim, o que realmente hoje faz com que os Estados Unidos e outros países rejeitem o acordo firmado pela Turquia, Irã e Brasil não é o medo de que o Irã não o cumpra, embora tenham o direito de achar isso. É medo de que novas potências surjam dividindo o poder do mundo inteiro. Não é porque esse acordo vai ser ineficaz na não proliferação de armas nucleares. É porque esse acordo, se der certo, vai fazer a proliferação do poder político no mundo, outras nações surgindo. E aí, é claro, quando essas nações descobrirem o poder que têm... Hoje foi para impedir a proliferação de armas nucleares no Irã; depois, vai ser para discutir patentes, para discutir a água, para discutir reserva de minérios, para criar moedas separadas do dólar e do euro. Este é o medo de que eles têm: novos atores tragam novas agendas.

            E eu creio que a gente poderia aproveitar esse sofrimento, esse pesar e essa indignação para cobrar dos dirigentes dos países emergentes - e o Presidente Lula tem sido um dos líderes - que eles busquem alguma alternativa para que isso não continue acontecendo, pois a cada tantos meses a gente vê na televisão coisas que nos dão pesar, tristeza e indignação.

            E quero aqui dizer que o Senador Suplicy tem todo o apoio, eu creio, de muitos de nós nesta luta que ele faz pela paz não contra Israel, não contra a Palestina ou a favor dela, não a favor de Israel e contra a Palestina, mas em busca de um diálogo de paz.

            Pelo menos comigo, Senador Suplicy, pode contar. E quero dizer aqui que foi pesar, indignação e um certo alívio de ter sabido, na semana passada, que o senhor não iria a esse evento e sua vontade de estar lá era muito grande - sei disso - e conversarmos.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/06/2010 - Página 24985