Discurso durante a 84ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem à memória do Senador Jefferson Péres, pelo segundo ano de seu falecimento, ocorrido em 23 de maio de 2008.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do Senador Jefferson Péres, pelo segundo ano de seu falecimento, ocorrido em 23 de maio de 2008.
Publicação
Publicação no DSF de 27/05/2010 - Página 23479
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, JEFFERSON PERES, SENADOR, ELOGIO, VIDA PUBLICA, CONDUTA, COMPETENCIA, DIGNIDADE, ETICA.
  • DEFESA, EFETIVAÇÃO, PROPOSIÇÃO, EPITACIO CAFETEIRA, SENADOR, DENOMINAÇÃO, CONSELHO, ETICA, DECORO PARLAMENTAR, NOME, JEFFERSON PERES, CONGRESSISTA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Parlamentares, se eu tivesse, Sr. Presidente Mão Santa, a capacidade intelectual de Jefferson Péres, meu amigo, companheiro, eu falaria hoje não mais do que dois minutos. Não que eu tenha pouco a dizer desse pequeno grande homem que tanto honrou esta Casa, mas porque me falta a sua genial capacidade de síntese.

            Jefferson Péres foi a pessoa mais extraordinária na capacidade de expressar, em linhas, capítulos de filosofia que pessoas normais como eu levam horas para dizer, isso tudo na síntese da sua genialidade. Entretanto, cada uma das intervenções de Jefferson Péres, ainda que na parcimônia das palavras, valia mais que um longo e fundamentado discurso, um belo e comovente poema, uma peça muito bem formulada de defesa ou, o que de melhor ele fazia, um libelo acusatório sobre as nossas ações e, principalmente, sobre as nossas omissões. Chegava a ser, muitas vezes, mordaz, mas sem perder a ternura jamais.

            Já se foram dois anos da partida do companheiro Jefferson. E é interessante que nesse tempo a gente tenha sentido uma sensação contraditória em relação a ele: ao mesmo tempo em que ele nos faz muita falta, principalmente neste momento em que cresce a esperança de mudanças nos rumos da política brasileira, parece que ainda convive conosco neste plenário e que ainda está a nos orientar e a nos inspirar. Quem sabe foram deles as boas energias que tomaram conta deste plenário na votação do Projeto Ficha Limpa, um verdadeiro marco na história da política brasileira neste início de século.

            Parece que Deus, nessa travessia do amigo Jefferson, apenas nos pediu um aparte e que nós, obviamente e agora com maior segurança, continuaremos a incorporar as suas sínteses em todos os nossos discursos e na nossa prática legislativa. É que a lembrança de Jefferson vai permanecer entre nós ainda por muito tempo, mais do que se possa imaginar, através dos exemplos e dos ensinamentos. Eles continuam vivos aos nossos corações e mentes e nos orientam, qualquer que seja a nossa atividade enquanto legítimos representantes, que ele tão bem desempenhou, do povo brasileiro.

            Melhor seria, quem sabe, se a nossa melhor homenagem fosse deixá-lo descansar em paz no céu que agora lhe serve de moradia. É que eu tenho a certeza de que ele não terá descanso enquanto aqui na Terra - mais precisamente aqui no nosso Brasil -, que mais se parece uma síntese do paraíso, ainda persistir tanta barbárie, tanta corrupção, tanta impunidade e tantas perdas dos nossos melhores valores. Aliás, nem ele, nem muitos outros que partiram cedo demais para as nossas necessidades terrenas. Partidas precoces, não importa a idade.

            Fico imaginando, por exemplo, as conversas de Jefferson Péres com Darcy Ribeiro, quem sabe os dois lá em cima escrevendo, agora a quatro mãos, mais um capítulo sobre o povo brasileiro. Não sei, não! Acho que se nós não mudarmos a nossa maneira de fazer política, eles vão acabar fugindo do céu, raivosos com a nossa obra que nós, insistentemente, mantemos inacabada.

            Eu me lembro, logo depois da partida de Jefferson Péres, discutia-se, no Senado Federal, o melhor espaço para homenageá-lo, para imortalizá-lo e para melhor lembrá-lo. Tão vasto saber que ele poderia estar nas páginas de diferentes prateleiras através dos mais distintos assuntos. Porque ele era assim: discutia os mais diversos temas com a mesma profundidade de análise.

            Quem sabe na sala da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania. Tenho certeza de que Josaphat Marinho não se incomodaria em dividir com ele a homenagem naquele espaço onde discutimos a constitucionalidade das nossas leis. Afinal, ambos - Josaphat e Jefferson - se destacaram como os mais profundos conhecedores do Direito Constitucional brasileiro. Também o mestre Josaphat Marinho, no seu engenho e arte da boa síntese, poderia ser incluído na tal conversa celestial sobre o povo brasileiro. Um debate que tem faltado, e muito, a este plenário, o que aumenta a nossa saudade.

            Quem sabe no Túnel do Tempo, por onde passa, diariamente, o Brasil de tantos contrastes e de tantos sotaques, ante as figuras mais importantes da nossa história.

            Quem sabe em nenhuma das nossas paredes, em nenhuma das nossas salas para respeitar a decepção pela política que ele demonstrava nos últimos dias de sua vida.

            Quem sabe em todos os lugares, porque o povo da Amazônia e do Brasil não permitiria que ele abandonasse a política, já que sempre foi uma das melhores referências políticas deste País.

            O Senador Epitácio Cafeteira propôs ao Senado Federal que o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado Federal passasse a denominar-se “Conselho de Ética e Decoro Parlamentar Jefferson Péres”. Na justificativa, diz o Senador, que ele “foi um sinônimo da ética para os seus colegas e para todos os brasileiros. Sua figura sempre nos inspirou e indicou os rumos a seguir na direção de fazer política de forma correta e honesta”.

            Continua o Senador Cafeteira:

Assim, nada mais justo do que homenagear esse grande homem público, dando seu nome ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado Federal, órgão desta Casa que, com certeza, mais se identifica com sua figura [não pelo que faz, mas pelo que deveria fazer]. Trata-se de providência que, sem dúvida, fortalecerá as atividades do colegiado e representará sempre um norte seguro para os seus membros, na busca de cumprir sua elevada missão [...] Com isso, estaremos honrando a memória do nosso ilustre colega e permitindo que a sua presença permaneça entre nós de forma perene.

            Feliz a iniciativa do Senador Cafeteira. E eu referendei, dizendo: “O Senador Jefferson Péres foi paradigma, entre nós, da observância desses preceitos, além de propugnar pela causa, nos diversos mandatos que lhe confiou o povo do Amazonas”. Conforme tive a oportunidade de afirmar da tribuna do Senado, logo após o seu falecimento, a falta de sua presença física e de seus ensinamentos nos dá a sensação de vazio, um vazio imenso nos corredores desta Casa. Afinal, foi ele quem tratou como ninguém, dentro do Senado, de todas as questões mais importantes para a construção de um Brasil soberano, democrático e justo.

            Continuo no meu relatório:

Ao ouvi-lo, éramos levados a olhar para cima, dada a grandeza do seu conhecimento, do seu espírito público, da honradez, da ética e do seu amor ao nosso País. Éramos nós que nos sentíamos diminutos diante desse pequeno grande homem, gigante nas suas qualidades. Jefferson, para mim, era mais do que um irmão, até diria um irmão mais velho, não na idade, mas na sabedoria, como um farol a nos guiar, no momento em que esta Casa e todo o Congresso Nacional atravessavam horas muito difíceis. Na sua vida, ele se esforçou, como poucos, para ajustar as consciências móveis aos seus devidos lugares.

            Disse ainda eu naquele documento:

Ele nunca se deixou cair em tentações e sempre nos livrou de muitos dos tantos males que ocupavam as prateleiras das mentes [nossas] empoeiradas pela corrupção e pela falta de ética. Para Jefferson, bastava a luz dos fatos. Ele se guiava tão-somente por ela e estendia essa mesma luz sobre todos nós. Jefferson partiu muito cedo, privando-nos do seu conselho e do seu exemplo para enfrentarmos as nossas necessidades, o que nos impõe fazer de tudo para que a sua figura continue a nos inspirar nessa caminhada em busca da justiça e da paz para o nosso País.

            Terminei assim o meu relatório:

É o que faz a presente proposição, ao prestar mais uma homenagem ao grande colega, dando seu nome exatamente àquele órgão da Casa mais imbricado com a sua personalidade [...]. Confiamos que essa homenagem vá além da lembrança formal e oficial, levando-nos a, sob a sua inspiração, seguir os seus exemplos.

            Era 12 de agosto de 2008, dia em que encaminhei o meu relatório à Mesa do Senado Federal. Menos de três meses, portanto, após a partida de Jefferson, ou quase dois anos até aqui. Ainda bem que, como numa premonição, cuidei de registrar a minha fé no sentido de que a homenagem ao companheiro, amigo e irmão Jefferson fosse além da lembrança formal e oficial. A tal lembrança formal descansa nos escaninhos do Senado desde 25 de novembro de 2008.

            Para quem conheceu Jefferson como eu, é de se imaginar que é dele mesmo esse engenho e, principalmente, essa arte. Eu acho que o Senador Jefferson Péres só vai libertar a votação para gravar o seu nome na Comissão de Ética e Decoro Parlamentar, sem qualquer dúvida favorável, quando aquela Comissão fizer jus ao nome. Na verdade, a Comissão de Ética ainda não faz jus a se chamar Comissão de Ética Jefferson Péres.

            É por isso que a homenagem de hoje não se pode limitar a aspectos formais e oficiais de discursos e apartes, mais uma nas muitas que certamente virão. Poderá até ser uma homenagem nossa, mas o Senador Jefferson não se sentirá homenageado.

            Acho até que ele dispensaria tantas formalidades. Nem uma ala, nem uma sala. Nem uma Comissão, principalmente se ela prima pela falta, e não pela existência. Com certeza, ele se sentirá o maior de todos os homenageados, exatamente com a derrubada da parede que ainda separa a Constituição da justiça e da cidadania verdadeira. Ou a política da ética e do decoro parlamentar. Ou o Congresso do povo. Só assim terminará, ainda que tardiamente, o seu desencanto com a política. E ele descansará, enfim, em paz.

            V. Exª preside, neste momento, o Senado Federal, Senador Jefferson Praia. Eu me lembro da primeira homenagem que fizemos a Jefferson Péres em sua memória. Eu dizia que tinha as melhores referências de V. Exª, a começar pelas dadas pelo próprio Jefferson, mas que eu ia rezar por V. Exª, porque a sua missão era muito difícil, substituir Jefferson Péres.

            Digo, com toda a sinceridade, V. Exª é um homem à altura do seu antecessor. Sua dignidade, sua seriedade, sua integridade merecem o nosso respeito. E V. Exª faz por merecer o respeito desta Casa.

            Eu encerro.

            Era profunda a amizade que me ligava a Jefferson Péres. Nós dois, muitas vezes, éramos considerados duas pessoas estranhas, temperamentais, caminhando fora da realidade. Assinamos juntos muitos projetos e muitas propostas que pareciam utópicas, que pareciam impossíveis.

            Jefferson Péres deixou sua marca, deixou seu nome na história deste Senado, não tenho nenhuma dúvida. E, agora, vejo esta publicação, quatro volumes. Muitos dos discursos que estão nessa publicação têm duas páginas, uma página e meia, e vale a pena lê-los. Confesso, com muita humildade: teria que escrever vinte ou trinta páginas para tentar escrever o que Jefferson, com genialidade, fazia.

            Vou colocar esses quatro volumes na minha biblioteca no meu gabinete. Eles serão do meu exame, várias vezes, nas dúvidas que eu tiver. Já notei um equívoco neste livro - e digo aos que o fizeram: faltou o índice.

            E, diria mais, poderiam acrescer e fazer o índice, porque a gente tem que procurar. Eu vou fazer o índice do meu livro e vou colocar no final: paz, página tal, 1º volume; dignidade, página tal, 2º volume. Tenho certeza de que todos os temas que envolverem dignidade, ética, Congresso Nacional, liberdade, respeito, eu terei ali, em meia dúzia de linhas, a síntese de tudo aquilo que eu posso fazer.

            Muito obrigado, querido Presidente. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/05/2010 - Página 23479