Discurso durante a 84ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem à memória do Senador Jefferson Péres, pelo segundo ano de seu falecimento, ocorrido em 23 de maio de 2008.

Autor
Augusto Botelho (PT - Partido dos Trabalhadores/RR)
Nome completo: Augusto Affonso Botelho Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do Senador Jefferson Péres, pelo segundo ano de seu falecimento, ocorrido em 23 de maio de 2008.
Publicação
Publicação no DSF de 27/05/2010 - Página 23482
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, JEFFERSON PERES, SENADOR, ELOGIO, VIDA PUBLICA, POPULARIDADE, CONDUTA, COMPETENCIA, ATUAÇÃO, ETICA, ATIVIDADE POLITICA, DEFESA, MODERNIZAÇÃO, ECONOMIA, TRANSPARENCIA ADMINISTRATIVA, PROMOÇÃO, JUSTIÇA SOCIAL, LUTA, INTERESSE, DESENVOLVIMENTO, ESTADO DO AMAZONAS (AM), AUMENTO, EFICACIA, ESTADO, COMBATE, DESIGUALDADE REGIONAL, REFORÇO, DEMOCRACIA, EMPENHO, DEBATE, POLEMICA, APOIO, DISCRIMINAÇÃO, DROGA, NECESSIDADE, EXTENSÃO, PROPOSIÇÃO, AMBITO INTERNACIONAL, OBJETIVO, EXTINÇÃO, TRAFICO INTERNACIONAL.
  • COMENTARIO, FRUSTRAÇÃO, JEFFERSON PERES, SENADOR, ATIVIDADE POLITICA, MOTIVO, CORRUPÇÃO.

                          SENADO FEDERAL SF -

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            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. AUGUSTO BOTELHO (Bloco/PT - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmº Sr. Presidente Jefferson Praia, Srªs e Srs. Senadores, senhores convidados, estou aqui para homenagear o Senador Jefferson Péres, nosso companheiro, que nos deixou com uma importante missão: continuar lutando pela ética na política.

            Jefferson Péres nasceu em Manaus em 1932, formou-se em Direito e, em 1950, participou da campanha “O Petróleo é nosso”. Em 1988, teve seu primeiro mandato de Vereador por Manaus. Depois, foi reeleito para o segundo mandato, que completou em 1995, quando assumiu, no Senado, uma cadeira de Senador por dois mandatos. Pedetista, foi candidato à Vice-Presidência da República.

            Em conversas com a gente, ele já me havia comunicado que se afastaria da política, que esse era o último mandato que ele estava cumprindo e que, quando seu mandato se encerrasse em 2010, ele não iria concorrer novamente, porque ele estava decepcionado, ele achava que não tinha avançado muito, que não havia conseguido muitos avanços dentro da Casa. E falo de avanço de maneira geral, porque ele sempre batalhou, ele sempre foi um exemplo para nós, nesta Casa, ele sempre foi um modelo de Senador e de pessoa correta que sempre trilhou o caminho da ética.

            Sr. Presidente, o ilustre Senador Jefferson Péres conseguiu atingir seus objetivos aqui, em parte, pelo menos. Ele contribuiu para o desenvolvimento e crescimento não só da região amazônica, como de todo o Brasil. Realizou, como Senador, um trabalho sério e constante em defesa da ética na política brasileira.

            Quando entrei nesta Casa pelo PDT, junto com ele, conversei com ele muitas vezes. Eu já era admirador dele antes de me meter na política. Sou médico e, até entrar nessa disputa política, exercia apenas a Medicina em Roraima. Conversei bastante com ele, que me surpreendia com suas ideias, com o avanço de seus pensamentos. Uma das coisas a que ele era radicalmente contra eram as medidas provisórias. Perguntei por que ele era contra as medidas provisórias, e ele me disse que, nas medidas provisórias, “sempre havia um jabuti trepado na árvore”. Perguntei: “Como um jabuti trepado?”. Ele me disse: “É que, se um jabuti está trepado, ou houve uma cheia muito grande, ou alguém colocou o jabuti trepado no galho da árvore”. Ele dizia que, nas medidas provisórias, sempre havia um assunto que nada tinha a ver com elas e que passava no meio das medidas, tanto que, quando votavam os preceitos de urgência e de relevância, ele sempre votava contra na Casa. Ele sentava bem ali naquele cantinho e sempre era contra isso. Quando lhe perguntei sobre essa questão, ele me disse isso, e passei a analisar e vi que, realmente, é isso o que acontece.

            Outra coisa me surpreendeu no Senador Jefferson Péres: quando comecei a conversar sobre assuntos polêmicos, como aborto e drogas, ele me falou que era a favor da descriminalização da droga. Fiquei meio assustado, e ele me disse: “Calma aí! Não se assuste! Descriminalização, só se for feita uma ação conjunta em todos os países do mundo. Não adianta fazer isso só aqui, no Brasil. Quando descriminalizar a droga, acabará o grande negócio do tráfico. A droga vai ser uma coisa legal, que se compra na farmácia, e não vai haver mais o tráfico. Então, vai acabar o poder, acabando, por consequência, a criminalidade, a prostituição, a disseminação de doenças”. Ele falava dessa forma.

            Então, era um homem especial o Senador Jefferson Péres. Era tão especial, que todo mundo gostava dele em Roraima. Eu conversava com os eleitores, que diziam: “O Senador Jefferson Péres é o Senador do meu coração e da minha consciência. O meu voto nele é sempre nessa posição”.

            Estive presente no enterro de Jefferson Péres em Manaus. Fiquei emocionado ao ver que desfilavam, perante o corpo dele, pessoas de todas as classes sociais, intelectuais do Amazonas, políticos. Todos compareceram. Enquanto a gente acompanhava o féretro para o cemitério, via-se a fisionomia de tristeza das pessoas nas ruas, nas aglomerações, em todo o trajeto. O corpo dele ficou naquela casa da cultura perto do colégio estadual, o Palácio Rio Negro, um palácio antigo. Do Palácio até o cemitério, havia gente em todas as esquinas, em todas as casas, com expressão de tristeza em suas fisionomias.

            Era professor, advogado. Na sua vida pública, sempre hipotecou seu firme apoio às reformas necessárias à modernização da economia, à moralização das finanças públicas, à realização da justiça social, à construção de um Estado mais enxuto, eficaz e previdente, capaz de distribuir paz e justiça, de promover segurança pública, saúde, educação, saneamento, equilíbrio regional, na medida do bem-estar de todos os brasileiros. O Senador Jefferson Péres era uma pessoa especial. O Brasil perdeu, não só a nossa região amazônica. Também sou um amazônida. Estou falando um pouco atrasado, porque eu não estava aqui na hora, mas também faço parte do grupo dos Senadores da Amazônia. O meu Estado faz fronteira com o Amazonas e com o Pará.

            Foi uma perda grande para o Brasil. Era um grande homem público e sempre lutou em defesa da nossa democracia. Quando perdemos o Senador Jefferson Péres, esta Casa, tenho certeza, perdeu um dos sustentáculos que seguravam a coluna vertebral da ética e da moral aqui dentro.

            Era isso o que eu tinha a dizer, Sr. Senador. Sei que nossos Senadores amazonenses já fizeram descrição bem detalhada da biografia dele. Ele era um Senador com o qual eu me orgulhava de trabalhar, como me orgulho de trabalhar com o Senador Pedro Simon, com o Senador Cristovam Buarque e com os demais Senadores desta Casa.

            Muito obrigado. (Palmas.)


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