Discurso durante a 84ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações acerca da questão Israel-Palestina.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA EXTERNA.:
  • Considerações acerca da questão Israel-Palestina.
Publicação
Publicação no DSF de 27/05/2010 - Página 24377
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • LEITURA, CARTA, AUTORIA, ORADOR, ENCAMINHAMENTO, EMBAIXADOR, PRESIDENTE, PRIMEIRO-MINISTRO, PAIS ESTRANGEIRO, ISRAEL, PUBLICAÇÃO, JORNAL, JORNAL DO BRASIL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), SOLICITAÇÃO, AUTORIZAÇÃO, VIAGEM, NAVIO ESTRANGEIRO, FAIXA, CONFLITO, ORIENTE MEDIO, OBJETIVO, SOLIDARIEDADE, POPULAÇÃO, ENTREGA, ALIMENTOS, VESTUARIO, MATERIAL DE CONSTRUÇÃO, CONSCIENTIZAÇÃO, MUNDO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, REGIÃO, NECESSIDADE, EXTINÇÃO, POLITICA, SANÇÃO, REGISTRO, APOIO, INICIATIVA.
  • LEITURA, CARTA, AUTORIA, EMBAIXADOR, GOVERNO ESTRANGEIRO, ISRAEL, ENCAMINHAMENTO, ORADOR, PUBLICAÇÃO, JORNAL, JORNAL DO BRASIL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), SUGESTÃO, FORMA, ENTREGA, AUXILIO, POPULAÇÃO, HABITANTE, FAIXA, CONFLITO, PAIS ESTRANGEIRO, PALESTINA.
  • LEITURA, CARTA, AUTORIA, CIDADÃO, BRASIL, PARTICIPAÇÃO, VIAGEM, NAVIO ESTRANGEIRO, FAIXA, CONFLITO, ORIENTE MEDIO, ENCAMINHAMENTO, ORADOR, ESCLARECIMENTOS, IMPORTANCIA, INICIATIVA, CRITICA, ATUAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ISRAEL, REGIÃO, APREENSÃO, OPERAÇÃO MILITAR.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, CARTA, AUTORIA, PROFESSOR, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP), APREENSÃO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, FAIXA, CONFLITO, ORIENTE MEDIO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Senador Mão Santa, Srªs e Srs. Senadores, vou falar de um tema, Senador Renato Casagrande, bem diferente do que V. Exª... Ele me pede um aparte para uma brevíssima informação.

            O Sr. Renato Casagrande (Bloco/PSB - ES) - Para uma brevíssima comunicação, um registro. Trinta segundos, Senador Eduardo Suplicy. Pedi para falar dentro do tempo de V. Exª para não atrapalhar a ordem dos oradores. Não tenho como não o fazer agora. Protocolarei amanhã, pois tenho outro compromisso na abertura da Conferência de Ciência e Tecnologia agora e vou me deslocar para lá, representando a Comissão de Ciência e Tecnologia. Mas hoje eu farei um voto de pesar, que apresentarei amanhã. Faleceu hoje um capixaba importante, Roberto Kautsky, orquidófilo, pesquisador que identificou mais de mil espécies de orquídeas no Brasil e no Estado do Espírito Santo, que é riquíssimo em orquídeas. Empresário, dono dos refrigerantes Coroa, um refrigerante importante lá, regional. Então, eu faço aqui um registro simbólico, para, amanhã, fazer a apresentação do voto de pesar. Agradeço a V. Exª o espaço que me concede para este registro. Obrigado, Senador Eduardo Suplicy.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP.) - Sr. Presidente Mão Santa, meus sentimentos de pesar ao ilustre cidadão do Espírito Santo.

            Sr. Presidente, recebi hoje do Exmo Embaixador...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Senador, pediria permissão a V. Exª para prorrogar a sessão por mais duas horas, para que todos os oradores inscritos possam usar da palavra.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Muito bem. O Embaixador de Israel no Brasil, Giora Becher, brindou-me hoje com uma carta respeitosa e amiga a respeito da carta que eu encaminhei e fiz publicar no Jornal do Brasil sobre A Expedição por Gaza Livre, uma carta aberta aos Exmos Srs. Presidente de Israel, Shimon Peres, Primeiro-Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o Embaixador de Israel no Brasil, Giora Becher.

            Primeiro vou ler a minha carta, que diz:

Como Senador do Brasil, representante do Estado de São Paulo e do Partido dos Trabalhadores, gostaria de aproveitar a oportunidade que me propicia o Jornal do Brasil para fazer um apelo a Vossas Excelências - semelhante ao que também estão fazendo senadores de outros países, a exemplo do Senador Mark Dearey, da Irlanda - para que o Governo de Israel permita a viagem dos oito navios, três de passageiros e cinco de carga, do Movimento Gaza Livre, desde Chipre até a Faixa de Gaza, que se inicia nesta segunda feira, 24 de maio. Fui convidado a participar desta expedição. Entretanto, como ela terá a duração de duas semanas, coincidentes com a época de votações importantes que ocorrerão no Senado Federal, não poderei acompanhar a viagem. Aqui, todavia, e no Senado, expresso a minha solidariedade a este movimento, que é inteiramente pacífico.

Gostaria de transmitir que me considero um amigo de Israel e solidário ao povo judeu. Tenho também apoiado os passos do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva para promover a paz no Oriente Médio. Imbuído da experiência brasileira de que aqui os povos de todas as origens - como os judeus, os árabes, os persas, os palestinos, os asiáticos, os africanos, os americanos, os europeus - temos sabido conviver tão bem para a promoção do progresso, avalio como muito importante os diálogos diretos que têm realizado com os chefes de Estado de todo o Oriente Médio, incluindo Vossas Excelências, com as autoridades palestinas e com o Presidente do Irã. Bem ressaltou o Presidente Lula, que, quando vai ao Hospital Albert Einstein, assim como quando vai ao Hospital Sírio-Libanês, vê médicos judeus e árabes colaborando uns com os outros.

Os oito barcos do Free Gaza Movement vão levar alimentos, agasalhos, material de construção e a solidariedade de povos de numerosas nações para que possam os palestinos reconstruir as suas habitações e criar um futuro novo, justo e solidário. São apenas produtos típicos do que se pode qualificar de ajuda humanitária, devidamente inspecionados por autoridades, tais como o próprio Senador Dearey. Ali estão italianos, irlandeses, canadenses, gregos, tunisianos, alemães, australianos, americanos, ingleses, escoceses, dinamarqueses, israelenses e palestinos. Todos têm anos de experiência de voluntariado em Gaza e na Cisjordânia, a convite dos palestinos.

O objetivo do Movimento é o de quebrar o cerco a Gaza, aumentar a consciência internacional sobre o fechamento da Faixa de Gaza e de indicar a Israel quão importante é rever a sua política de sanções ocorrida desde o início da ocupação daquele território, em 5 de junho de 1967. Faz-se necessário que os habitantes do mundo inteiro tenham acesso, sem quaisquer impedimentos, às águas e ao espaço internacional, em conformidade com as resoluções da ONU, com a lei internacional e com o direito de ir e vir.

Na minúscula Faixa de Gaza (360 km2), vive um milhão e meio de palestinos. Trata-se da faixa de terra mais densamente povoada do planeta e da mais antiga população de refugiados que o mundo moderno já conheceu.

O caminho para aliviar o sofrimento do povo palestino foi traçado nas principais resoluções da ONU e passa pelo fim do bloqueio a Gaza e à Cisjordânia. Mas a implementação das resoluções da ONU depende de uma palavra de confiança de todos os povos.

Que Israel possa lembrar do belo e veemente apelo do Presidente Barack Obama, quando ainda Senador, em 24 de julho de 2008, diante da Porta de Brandemburgo e de duzentas mil pessoas, ao recordar a construção e a demolição do Muro de Berlim. Proclamou ele que não era mais tempo de haver quaisquer muros que separem os que muito têm dos que pouco têm, os judeus dos islâmicos, dos cristãos, dos budistas e das pessoas de quaisquer origens, raças ou religiões. Precisamosque todos venhamos a nos dispor a ouvir uns aos outros, a aprender uns com os outros e, sobretudo, a confiar uns nos outros.

            Pois bem, Sr. Presidente. Recebi do Embaixador Giora Becher a seguinte resposta, também publicada no Jornal do Brasil de hoje:

Distinto Senador Suplicy,

Li a sua carta dirigida ao meu presidente, ao primeiro-ministro e a mim pessoalmente com muito cuidado e com todo o respeito que esta merece, pois sei que o senhor é um verdadeiro amigo do meu país, amigo de Israel e do povo judeu.

Posso assegurar-lhe que Israel acompanha de perto a situação humanitária na Faixa de Gaza e tem trabalhado de forma consistente para assegurar que todas as necessidades básicas dos residentes da Faixa de Gaza sejam atendidas.

Para isto, Israel mantém passagem em sua fronteira com a Faixa de Gaza através da qual são fornecidos alimentos, combustível e outros suprimentos. Estes pontos de transferência operam apesar de numerosos ataques terroristas palestinos nesta travessia, o que tem custado a vida de alguns israelenses.

Prezado Senador, posso lhe garantir que não existe crise humanitária em Gaza apesar das tentativas do regime ilegal e terrorista do Hamas em Gaza tentar retratar a situação desta forma. Uma grande quantidade de mantimentos e auxílio humanitário atravessa a Faixa de Gaza regularmente. Todos os dias, dezenas de caminhões carregados de suprimentos são transportados de Israel para a Faixa de Gaza.

Israel ofereceu aos organizadores da flotilha mencionada em sua carta transferir a ajuda ao povo de Gaza pelas passagens, mas, infelizmente, devido a razões políticas e de propaganda, nossa oferta foi recusada. É importante que o povo brasileiro entenda que a Faixa de Gaza está sendo controlada por uma organização terrorista que não reconhece o direito de Israel de existir e opta pela continuidade de uma luta armada e violenta contra Israel e seus cidadãos.

Infelizmente, a organização terrorista Hamas está tentando fazer uso de parte deste auxílio e suprimento contrabandeado para a Faixa de Gaza, reforçando a sua capacidade militar e se preparando para a próxima operação militar contra Israel e seus cidadãos.

Estimado Senador Suplicy, como um bom amigo de Israel e, tenho certeza também do povo palestino, apelo para que use sua influência sobre os organizadores do chamado “Free Gaza Movement” para que enviem a sua ajuda para Israel, para que possamos transferir esse auxílio, após inspeção apropriada, para os residentes da Faixa de Gaza. Se eles de fato se importam com essas pessoas e não com a propaganda anti-israelense, com certeza aceitarão a nossa oferta.

            Pois bem, Senador Mão Santa, encaminhei então, até atendendo a apelo do Embaixador de Israel, a minha carta para uma das pessoas que estão participando do Free Gaza Movement, justamente uma brasileira, Iara Lee, que do navio da expedição enviou-me a seguinte resposta:

Por que vou para Gaza. Por Iara Lee.

Em alguns dias eu serei a única brasileira a abordar um navio fazendo parte da flotilha GAZA FREEDOM FLOTILLA. A recente decisão do governo israelense de barrar a entrada do acadêmico internacionalmente reconhecido Noam Chomsky aos Territórios Ocupados da Palestina sugere que também seremos barrados. Não obstante, partiremos com a intenção de entregar comida, água, suprimentos médicos e material de construção às comunidades de Gaza.

Normalmente eu consideraria uma missão de bons ofícios como esta completamente inócua. Mas, neste caso, a crise que sofrem os cidadãos palestinos foi criada pela política internacional: é resultado da atitude de Israel de cercar Gaza em pleno afronte à lei internacional e do apoio dos Estados Unidos pelo bloqueio comercial. Embora o Presidente Lula tenha tomado algumas atitudes para promover a paz no Meio Oriente, mais ação civil é necessária para sensibilizar as pessoas sobre o grave abuso de direitos humanos em Gaza.

O cerco à Faixa de Gaza pelo governo israelense tem origem em 2005, e vem sendo rigorosamente impingido desde a ofensiva militar israelense de 2008-09, que deixou mais de 1.400 mortos, e 14.000 lares destruídos. Israel argumenta que suas ações militares intensificadas são em resposta ao disparo de foguetes ordenado pelo governo Hamas cuja legitimidade Israel não reconhece. Porém, segundo organizações internacionais de direitos humanos como Human Rights Watch, a reação militar israelense tem sido extremamente desproporcional.

O cerco contínuo de jeito nenhum visa militantes palestinos mas infringe normas internacionais por condenar todos pelas ações de alguns. Uma reportagem publicada por Amnesty International, Oxfam, Save the Children, e CARE relatou, “A crise humanitária [em Gaza] é resultado direto da contínua punição de homens, mulheres e crianças inocentes e é ilegal sob a lei internacional.”

Como resultado do cerco, civis em Gaza, inclusive crianças e outros inocentes que se encontram no meio do conflito, na têm água limpa para beber, já que as autoridades não podem consertar usinas de tratamento de água destruídas pelos ataques israelenses. Ataques aéreos que danaram infra-estruturas civis básicas, junto com a redução da importação, deixaram a população em Gaza sem comida e remédio de que precisam para uma sobrevivência saudável.

Nós que enfrentamos esta viagem estamos, é claro, preocupados com nossa segurança também. Anteriormente, alguns barcos que tentaram trazer abastecimento a Gaza foram violentamente assediados pelas forças israelenses. Dia 30 de dezembro de 2008, o navio Dignity carregava cirurgiões voluntários e três toneladas de suprimentos médicos quando foi atacado sem prévio por um navio israelense que o arietou três vezes a aproximadamente noventa milhas da costa de Gaza. Passageiros e tripulantes ficaram aterrorizados, enquanto seu navio se enchia de água e tropas israelenses ameaçavam disparar.

Todavia, eu me envolvo porque creio que ações resolutamente não violentas, que chamam atenção ao bloqueio, são indispensáveis à educação do público sobre o que está verdadeiramente ocorrendo. Simplesmente não há justificativa em prevenir cargas de ajuda humanitária de alcançar um povo em crise.

Com a partida dos nossos navios, o Senador Eduardo Matarazzo Suplicy mandou uma carta de apoio aos palestinos para o Governo de Israel.

            E cita a minha carta.

            Ela conclui:

Seguindo esse exemplo, funcionários públicos e outros civis devem exigir que sejam abertos canais humanitários a Gaza, que as pessoas recebam comida e suprimentos médicos, e que Israel faça um maior esforço para proteger inocentes. Enquanto eu estou comovida, a ponto de me integrar à viagem humanitária, reconheço que muitos não têm condições de fazer o mesmo. Felizmente, é possível colaborar sem ter que embarcar em um navio. Nós todos simplesmente temos que aumentar nossas vozes em protesto a essa violação dos direitos humanos.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Um minuto para concluir, Senador.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Essa é a carta da Srª Iara Lee.

            Eu ainda teria outra carta - mas peço que seja transcrita - da Sr.ª Arlene Clemesha, Professora da Universidade de São Paulo, muito preocupada com a paz no Oriente Médio, ela, que tem sempre promovido diálogos entre os palestinos e os judeus.

            Requeiro, para não me alongar no tempo, que esse outro documento seja anexado, Sr. Presidente.

            Agradeço a atenção.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO SUPLICY

EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso 1º e §2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

Carta da Srª Arlene Clemesha.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/05/2010 - Página 24377