Fala da Presidência durante a 84ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem à memória do Senador Jefferson Péres, pelo segundo ano de seu falecimento, ocorrido em 23 de maio de 2008.

Autor
Mão Santa (PSC - Partido Social Cristão/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do Senador Jefferson Péres, pelo segundo ano de seu falecimento, ocorrido em 23 de maio de 2008.
Publicação
Publicação no DSF de 27/05/2010 - Página 23466
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, JEFFERSON PERES, SENADOR, ELOGIO, VIDA PUBLICA, ETICA, DIGNIDADE, COMPETENCIA, ATUAÇÃO, DEFESA, INTERESSE, POPULAÇÃO, ESTADO DO AMAZONAS (AM).
  • REGISTRO, LANÇAMENTO, GRAFICA, SENADO, LIVRO, DISCURSO, JEFFERSON PERES, SENADOR.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - O tempo dos oradores do Período do Expediente da presente sessão será destinado a reverenciar a memória do Senador Jefferson Péres, pelo segundo ano de seu falecimento, ocorrido em 23 de maio de 2008, nos termos do Requerimento nº 109, de 2010, de autoria do Senador Jefferson Praia e outros Senadores e Senadoras.

            Convidamos, para compor a Mesa, o autor do requerimento, o signatário, que substitui o Senador Jefferson Péres com muita grandeza nesta Casa, Senador Jefferson Praia.

            Convidamos também, para compor a Mesa, o Senador Cristovam Buarque, que representa o PDT e foi seu companheiro na luta democrática pela Presidência da República.

            V. Exª está sendo convidado...

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Intimado.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - V. Exª reviveu com Jefferson Péres a luta de Rui Barbosa: não conseguiram chegar à Presidência, mas são uma página de ensino democrático ao Brasil.

            A Presidência comunica ao plenário que se encontra distribuída nas bancadas a publicação, editada pela Gráfica do Senado, em memória do Senador Jefferson Péres, contendo documentos que expressam o pensamento do Senador.

            Isso é de grande valia, tanto que já recolhi o meu e mandei-o para meu gabinete, porque todos nós temos muito a aprender revivendo Jefferson Péres.

            Srªs Senadoras, Srs. Senadores, encantadoras senhoras presentes, meus senhores aqui e que nos acompanham pelo sistema de comunicação do Senado, em observância aos termos do Requerimento nº 109, de 2010, de autoria do Senador Jefferson Praia e outros eminentes parlamentares, tem início a homenagem que esta Casa presta à memória de um dos seus mais ilustres membros, o Senador Jefferson Péres, por ocasião da passagem do segundo ano de seu falecimento.

            Advogado e bacharel em Administração de Empresas, professor universitário e Senador da República, Jefferson Péres foi um dos mais notáveis, respeitados e reverenciados parlamentares de sua geração. Embora tenha iniciado sua carreira política na maturidade, em 1988, aos 56 anos, como Vereador na Câmara Municipal de Manaus - portanto, teve praticamente só duas décadas de ações políticas -, nas duas décadas seguintes mostrou incontornável e modelar vocação para a vida pública.

            Ao longo de quase uma década e meia, durante a qual representou com inexcedível honradez seu querido Estado do Amazonas na Casa da Federação, Péres participou ativamente dos trabalhos de diversas Comissões parlamentares, sempre emprestando seu talento, inteligência, cultura e elevado padrão ético às nossas desafiadoras atividades cotidianas.

            Homem de princípios, aberto ao diálogo e ao livre debate de ideias, fazia política guiado estritamente pelo interesse público, e disso não abria mão. Jamais usou do elogio fácil, jamais afagou egos, fez vista grossa para malfeitorias ou capitulou em concessões menores, que ocasionalmente apequenam uma das mais nobres atividades humanas.

            Pelo exemplo que brotava diuturnamente de sua conduta, seu legado mais substantivo ao Brasil terá sido o de inspirar novas gerações para a atividade política em seu mais alto nível e expressão. Contudo, é preciso lembrar, nos últimos anos de sua fecunda existência mostrava-se pessoalmente desapontado com os descaminhos da vida pública contemporânea em nosso País e pretendia abandonar a política e o Parlamento.

            A morte repentina de Jefferson Péres, em 2008, representou uma sensível perda para o País e para todos aqueles que acreditam na possibilidade do exercício da representação popular com independência e dignidade e elevado comprometimento social.

            A ausência de Jefferson Péres no Senado Federal e na vida política brasileira é sentida ainda hoje, passados 24 meses de sua morte. Aos seus eleitores amazonenses e aos dignos familiares de tão admirável parlamentar, nossa sincera homenagem.

            Eu, particularmente, confesso que tive o orgulho e a inspiração de Deus, seguindo um pedido de Elias do Prado Júnior, o Che Guevara nosso do Piauí, aluno de Cristovam Buarque, um menino jovem, de uma inteligência, de uma bravura, de uma coragem... Esse jovem era nosso aliado no PDT, quando eu governava o Piauí. Presidiu a Cohab e foi a maior inteligência no serviço de habitação. Graças a sua inspiração, fizemos quarenta mil casas, espalhadas pelo Estado do Piauí. Inteligência brilhante! Morreu cedo, mas ele me inspirou a que convidasse Jefferson Péres a receber a comenda maior do Piauí, a Grã-Cruz Renascença.

            Nós temos que aprender muito com ele. E a cara dele parecia com a de Rui Barbosa. É aquele jeitinho... Apesar de eu não ter convivido... Mas eu lhe perguntava, porque ele tinha uma oratória diferente, ímpar, invulgar, quase telegráfica, sintética. E esses são os grandes oradores. Cristo fez o seu melhor discurso em um minuto: o Pai-Nosso. O “Bem-aventurados...” também é rápido. Winston Churchill fez um dos melhores discursos quando convidado - V. Exª que se dedica à educação - para ser paraninfo em Londres. Começou a festa, e os céus da Inglaterra, bombardeados. Ele entrou e disse que não poderia faltar à juventude. E estavam bombardeando Londres. Então, ele subiu, pediu desculpas pelo atraso, mas ia dar a mensagem. Aí, ele disse: “Meus jovens, não desanimem, não desanimem, não desanimem nunca mais, e me desculpem porque agora eu tenho que sair, porque nós vamos vencer a guerra”.

            Então, esses discursos eram o feitio dele. Aí, eu perguntei, querendo aprender, ao Jefferson Péres, e ele disse que é porque ele lia muito Machado de Assis - então, quero dar esse ensinamento -, que é sintético.

            Mas eu me sinto realizado. O meu pronunciamento mais complicado, no plenário, foi quando eu citava aquele livro Mein Kampf, ou Minha Luta, de Hitler, e comparava o Governo aqui que vivemos ao governo nazista, em que Goebbels dizia que uma mentira repetida se torna verdade. Eu falei inspirado no livro Mein Kampf, Mein Kampf, em que ele dizia... Por isso, levaram-me até para o nosso Romeu Tuma, Corregedor. Então, ele explicando, o Hitler, que eles tinham, na brigada política deles... Ele havia vencido as eleições... E sempre vencia bem, na Alemanha. O Hitler teve mais popularidade do que o nosso Luiz Inácio hoje, ele teve 96% lá... Estou fazendo história. Aí, ele, contando, dizia que tinha uma brigada na frente, que seria, hoje, o que chamamos, Jefferson Praia, de cabos eleitorais, aqueles militantes; e ele chamava galinha cacarejadora. Aí, eu comparei que aqui havia umas galinhas cacarejadoras. Deu uma confusão! Mas fui absolvido antes de tudo, porque esse discurso, que ficou para a história, que foi polêmico - a minha intenção foi pura -, teve um aparte. Esse discurso foi enriquecido - e ficou para a história - com um aparte de Jefferson Péres, dando o nome completo do partido comunista dos trabalhadores, o partido nazista, fascista, da Alemanha. Ele fez um aparte ao discurso. Então, só aquilo... Porque, quando veio a confusão, Cristovam, eu tive até medo, porque eu não sabia o que tinha dito. Eu falo de improviso. Mas, quando eu vi... Ele estava bem ali, foi o único aparte, e, por isso aí, o Brasil me absolveu, porque eu estava fazendo história. Quer dizer, isso eu guardo. Outro dia, eu mandei tirar. O único aparte que o discurso teve foi dele, dando a sigla. Ele era homem de cultura e deu um aparte a esse discurso.

            Então, nós vivemos isso e para nós significa muito. Quero dizer que todos nós temos muitas histórias dele para contar. Eu, muitas vezes, fazia aquele cooper de madrugada, e ele estava lá, lutando. Era aquela figura. Mas os acertos dele foram tão grandes, tão grandes, que ele soube escolher seu substituto. Olhem, não é mole substituir Jefferson Péres, mas Jefferson Praia tem correspondido às expectativas. É um homem de bom caráter, como era o patrono da cadeira. Jefferson Praia tem conquistado todos pela mesma firmeza, o mesmo bom caráter. E têm representado, eles - que são pequenos, como Rui Barbosa, que nos representou em Haia -, eles têm representado, aqui, a grandeza do povo da Amazônia.

            Então, estão aqui as publicações para quem quiser. Eu as acho tão importantes, porque às vezes nós nos esquecemos... Eu já mandei recolher o meu exemplar, porque eu vou querer ler os pronunciamentos de Jefferson Péres.

            Está aqui. É um trabalho extraordinário do Senado da República, esta instituição ímpar, que torna o Brasil grande. Não sei se vou voltar, não sei para onde vou, mas o importante é o Senado da República.

            Sei que somos o que somos pelo Senado da República. Somos os pais da Pátria. Fizeram uma campanha para fechar, porque o Chávez fechou o Senado da Venezuela, e os outros malandrinhos das repúblicas latino-americanas saíram fechando. Isso porque, fechando o Senado, teriam um terceiro mandato. Quem quiser três que pergunte ao Fidel Castro se não quer o quarto, o quinto e o sexto. E a democracia, nós entendemos, somente nós entendemos, tem divisão de poder e alternância de poder. Até os militares tiveram essa inteligência, à maneira deles, e fizeram a alternância de poder, não é verdade, Cristovam? À maneira deles. Eles não ousaram tanto. Porque aqui ousaram. Houve uma campanha enorme contra o Senado da República, tentaram fechá-lo. Mas nós somos o povo. Eu posso dizer, eu digo. Cícero dizia: “o Senado e o povo de Roma”. Eu digo: o Senado e o povo do Brasil. E qualquer um pode dizer que somos filhos do povo, do voto e da democracia.

            Reconhecemos o nosso Presidente, o maior líder. Ganhou as eleições. Mas aqui temos bem mais votos do que ele, somados. Eu já somei, e aqui dá quase 90 milhões de votos. Ele teve 58 milhões. Então, somos o povo.

            Estão aqui os quatro volumes. E quero me congratular com Jefferson Praia, porque esta é uma oportunidade também de o Senado entregar à Pátria o pensamento, a vida e a obra política de um dos maiores estadistas, Jefferson Péres.

            Então, passamos a palavra, agora, ao Senador Jefferson Praia, que foi o primeiro subscritor do requerimento, e que substitui aqui Jefferson Péres.

            Como estamos na Copa, e falo para o povo entender: não sei se Cristovam se lembra de quando Pelé se contundiu. Foi em 62. “Vamos perder, quebraram o Pelé. Estamos lascados.” Aí entrou Amarildo, Osmar Dias, e fez mais gols do que o Pelé. É a mesma coisa: Jefferson Péres, Deus o chamou, e veio Jefferson Praia. Como ele tem defendido o Amazonas e o Brasil!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/05/2010 - Página 23466