Discurso durante a 93ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a falta de infraestrutura de transportes para o escoamento da produção agrícola da Região Centro-Oeste.

Autor
Jorge Yanai (DEM - Democratas/MT)
Nome completo: Jorge Yoshiaki Yanai
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA. POLITICA DE TRANSPORTES.:
  • Considerações sobre a falta de infraestrutura de transportes para o escoamento da produção agrícola da Região Centro-Oeste.
Publicação
Publicação no DSF de 09/06/2010 - Página 27033
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA. POLITICA DE TRANSPORTES.
Indexação
  • ELOGIO, CRESCIMENTO, PRODUTIVIDADE, AGRICULTURA, CERRADO, REGIÃO CENTRO OESTE, REGISTRO, LIMITAÇÃO, PROCESSO, FALTA, INFRAESTRUTURA, TRANSPORTE, ACESSO, PORTO, DEPENDENCIA, MELHORIA, TRANSPORTE INTERMODAL.
  • APRESENTAÇÃO, DADOS, MINISTERIO DOS TRANSPORTES (MTR), DECENIO, REDUÇÃO, MEDIA, INVESTIMENTO PUBLICO, TRANSPORTE, IMPEDIMENTO, BAIXA, PREÇO, ALIMENTOS, COBRANÇA, ORADOR, REVERSÃO, SITUAÇÃO, EXPECTATIVA, RETOMADA, OBRAS, MELHORIA, HIDROVIA, FERROVIA, RECUPERAÇÃO, RODOVIA, DEFESA, FACILITAÇÃO, INVESTIMENTO, INICIATIVA PRIVADA, AMPLIAÇÃO, ATENÇÃO, MODERNIZAÇÃO, PORTO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. JORGE YANAI (DEM - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nessas últimas três décadas, o Centro-Oeste se tornou uma das mais produtivas áreas agrícolas do Brasil. A conquista do cerrado para a agricultura foi uma verdadeira revolução, por haver provado que este imenso território poderia tornar-se um celeiro para o Brasil e para o mundo.

            Temos a mais alta produtividade do mundo na cultura da soja, uma commodity demandada pelo mundo para a alimentação de rebanhos e também para o consumo humano. Poderíamos produzir ainda mais, se não estivéssemos limitados pelo gargalo da infraestrutura de transportes que não acompanhou a evolução da economia regional.

            De fato, o Centro-Oeste encontra-se afastado do litoral e depende, para o escoamento de sua produção, da existência de uma malha multimodal de transportes que ofereça opções para o transporte dos granéis agrícolas e dos produtos da agroindústria aos portos oceânicos via, por excelência, da exportação.

            Porém, a infraestrutura tem sido um dos setores do planejamento do Estado mais desprezados desde a entrada de 1990. Dados do Ministério dos Transportes mostram claramente que, de 1991 para esta data, os investimentos anuais em infraestrutura dos transportes nunca ultrapassaram o 0,3% do PIB, tendo mesmo ficado, na grande maioria dos anos, abaixo de 0,2%.

            Quando comparamos esses valores aos níveis de investimento da década de 1970, quando a média estava em torno de 1,6%, tendo sido observados valores acima de 1,8% do PIB, em 1975/1976, é que podemos avaliar o significado desse descaso como um dos principais fatores da competitividade internacional de um país.

            Mesmo nos anos da década de 1980, marcados pela crise da dívida, a média de investimentos em infraestrutura de transportes andou em torno de 0,8% do PIB. Desde então, conseguimos como Nação, com grande sacrifício, estabilizar nossa moeda, retomar o crescimento econômico, investir na produção e inserir o Brasil entre os maiores produtores de grãos do mundo.

            Criamos muitos milhares de novos postos de trabalho, melhorando a vida dos trabalhadores e das famílias brasileiras. Barateamos o custo dos alimentos básicos. Mas, infelizmente, ainda não podemos fazer essa produção chegar a preços melhores à mesa dos brasileiros nem aos mercados internacionais, porque as perdas no transporte, com o tempo dilatado de viagem e o risco de acidentes, encarecem muito os nossos produtos. Está mais do que na hora de inverter essa tendência de vinte anos de estagnação e investir em infraestrutura de transportes.

            Não se pode dizer que o País, e a Região Centro-Oeste em especial, não tem potencialidades inaproveitadas. A malha hidrográfica da Amazônia, que tem as suas cabeceiras em nossa região, poderia ser a porta de exportação para os produtos agroindustriais mato-grossenses a partir de investimentos em retificação, regularização dos nossos grandes rios, tornando-os hidrovias de grande capacidade. Não podemos nos esquecer de que o transporte hidroviário, quando disponível, é o de mais baixo custo por tonelada-quilômetro.

            Também temos casos extremos na modalidade ferroviária, abandonada nos anos de 1960 e quase esquecida. O pior exemplo é o da Ferrovia Norte-Sul, obra prometida, nunca terminada, que, pronta, serviria de mais um escoadouro para a produção da região do Centro-Oeste.

            Mas a modalidade em que o descaso se apresenta mais agudo é, sem dúvida, o das rodovias. O pior que um dia os dirigentes deste País decidiram que esta seria a principal modalidade de ligação interna. Fizeram uma malha até extensa, mas a abandonaram sem manutenção, resultado é a condição de miséria em que se encontra o pavimento da maior parte dos eixos rodoviários do nosso País. A buraqueira sacrifica veículos, motoristas, provoca acidentes, atrasa o transporte e, ao final, faz elevar o custo do produto no porto ou até a porta do consumidor.

            E, é evidente, não é somente no escoamento da produção que a infraestrutura de transportes reduz a competitividade da agricultura brasileira. Também no transporte dos insumos agrícolas às unidades de produção, a falta de uma boa rede de transportes prejudica os produtores, dificulta a inovação tecnológica pela introdução de novas máquinas e acaba por causar redução nos investimentos produtivos.

            Não penso, porém, que ao Governo caiba construir toda a infraestrutura de transportes nem administrá-la. Ao contrário. Sua obrigação é a de favorecer investimentos privados no setor, criando as condições para que grandes empreendedores decidam por construir essas vias em troca da concessão de longo prazo de sua exploração. O Governo tem, sim, de regular esse mercado, sem favorecimento nem extorsão tributária.

            O fato de os investimentos em infraestrutura de transportes seguirem nos níveis baixos é um indicativo de que o Governo não está facilitando a vida dos empresários interessados em explorar esse setor. É preciso oferecer mais trechos em licitações, com condições atraentes, ser mais ousado, porque a iniciativa privada saberá responder ao desafio se lhe for dada a oportunidade. Todos sabemos o quanto os produtores necessitam das vias de transportes e que estão dispostos a pagar pedágio, que, em vias de qualidade, é de custo muito inferior ao de rodar por estradas em más condições.

            Esperemos que o novo Governo que será eleito em outubro tenha a consciência da urgência de se voltar a investir em todas as modalidades de transporte de carga no País e também na modernização de nossos portos oceânicos.

            Sim, porque os portos, sempre congestionados, são outro fator de redução de competitividade da produção nacional de grãos e dos produtos do agronegócio.

            Para se tornar um país mais rico e justo, o Brasil precisa desatar o nó da infraestrutura de transporte.

            Considero, Sr. Presidente, que, em se tratando de modais de transporte, sem dúvida alguma, ainda é o hidroviário o modal a ser escolhido.

            Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/06/2010 - Página 27033