Discurso durante a 98ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Relato da participação de S.Exa. em algumas convenções partidárias durante o último fim de semana. Comentários a declarações do Presidente Lula. (como Líder)

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Relato da participação de S.Exa. em algumas convenções partidárias durante o último fim de semana. Comentários a declarações do Presidente Lula. (como Líder)
Aparteantes
Edison Lobão, Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 15/06/2010 - Página 28940
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, CONVENÇÃO ESTADUAL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CONVENÇÃO NACIONAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), COLIGAÇÃO PARTIDARIA, HOMOLOGAÇÃO, CANDIDATURA, GERALDO ALCKMIN, JOSE SERRA, CANDIDATO, GOVERNO ESTADUAL, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
  • REPUDIO, INEXATIDÃO, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DESCUMPRIMENTO, IMPRENSA, IGUALDADE, TEMPO, PROPAGANDA ELEITORAL, CRITICA, ORADOR, TENTATIVA, TRANSFERENCIA, AUTORIA, DOCUMENTO, DIFAMAÇÃO, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB).
  • CRITICA, CONDUTA, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DIFAMAÇÃO, ADVERSARIO, ELEIÇÕES, PERDA, NIVEL, CAMPANHA ELEITORAL, COMENTARIO, INVESTIGAÇÃO, ANTERIORIDADE, VINCULAÇÃO, EX MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, FORMAÇÃO, DOCUMENTO.
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, GESTÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, CONTRIBUIÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, ATUALIDADE, IMPLEMENTAÇÃO, PLANO, REAL, PROMOÇÃO, ESTABILIDADE, ECONOMIA, RESPONSABILIDADE, NATUREZA FISCAL.
  • DENUNCIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MANIPULAÇÃO, INFORMAÇÃO, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, INVESTIMENTO PUBLICO, PESQUISA CIENTIFICA E TECNOLOGICA, REGISTRO, DADOS, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE), PROGRESSO, NATUREZA SOCIAL, PERIODO, GESTÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMENTARIO, INFERIORIDADE, POSIÇÃO, BRASIL, COMPARAÇÃO, MUNDO, SITUAÇÃO, INOVAÇÃO, TECNOLOGIA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Senador Mão Santa.

            Srs. Senadores, o último final de semana foi marcado pela festa democrática das convenções. Eu tive a satisfação de participar da Convenção Nacional do meu partido, homologando a candidatura José Serra à Presidência da República, em Salvador, na Bahia. À beira-mar se realizou uma grande convenção com convencionais de todo o País, alimentando as suas esperanças de se oferecer ao Brasil um projeto alternativo de poder, com inteligência e com o talento do candidato José Serra, capaz de oferecer, sem dúvida, uma agenda de futuro para convencer a população brasileira de que é possível viver melhor.

            Depois participei, em São Paulo, de uma grande convenção. Vários partidos reunidos - PSDB, PMDB, DEM, PPS, PSC, do Senador Mão Santa, PHS - na convenção que homologou a candidatura de Geraldo Alckimin ao governo de São Paulo. Em Brasília, a convenção do PT homologando Dilma Rousseff.

            Creio que a campanha eleitoral deva se travar no nível mais elevado de respeito à sociedade brasileira. O contraditório é necessário que se estabeleça sempre com a indispensável elegância. Há receios de que a campanha eleitoral possa caminhar para os desvãos da ausência de elegância e de espírito democrático.

            Na convenção do PT, agressões à oposição vão se tornando rotineiras. Na convenção de Brasília, o egocentrismo se fez presente, a megalomania, as afirmações estapafúrdias como “somos capazes de realizar o impossível”, mas tudo isso já é rotina. Não creio seja necessário, Senador Mão Santa, deplorar esses fatos que estão residindo sempre no seio no Governo, comandado pelo Presidente Lula que, mais uma vez, tomou conta da Convenção, colocando num plano secundário a sua candidata à Presidência da República. Esse culto à própria personalidade vai se tornando também rotina nas atividades partidárias e de campanha eleitoral.

            O Presidente da República chegou a declarar que, pela primeira vez, o nome dele não estará na cédula e disse: “Vai haver um vazio naquela cédula. E, para que esse vazio seja preenchido, eu mudei de nome e vou colocar Dilma lá na cédula. E aí as pessoas vão votar”. Ou seja, o Presidente afirma que mudou de nome, seu nome é Dilma.

            Enfim, creio que cabe a análise, não à oposição, porque isto, para nós, é secundário. O que nós devemos responder é, sem dúvida nenhuma, determinadas afirmações que ignoram a realidade dos fatos. São coisas mais objetivas. A resposta deve ser pragmática, portanto.

            O Presidente insinuou que a imprensa não estaria dividindo o tempo entre os candidatos de forma razoável. Ele afirmou: “É importante a gente começar a ficar esperto, a olhar e começar a ver qual é o tratamento que vai ser dado”, referindo-se à imprensa, assim como se colocou como vítima da mídia na crise do mensalão. Agora, faz insinuações de que a mídia não reparte com equidade o tempo dedicado aos candidatos.

            E nós observamos exatamente o contrário do que afirma o Presidente. O que observamos, e esse é um fato extremamente positivo que deve ser ressaltado, é que houve um esforço da mídia em proporcionar tempo com equidade aos principais postulantes à Presidência da República. Portanto, não podemos acolher como verdadeiras as afirmações do Presidente da República, taxando a mídia nacional de tendenciosa em relação à campanha eleitoral.

            Poderíamos até dizer o contrário: que a tendência é favorável ao Governo. Mas não seria justo da nossa parte, porque os profissionais de imprensa demonstram oferecer o possível de equidade em matéria de divulgação das candidaturas. Talvez um candidato possa ter uma assessoria mais organizada e mais competente e que possa fazer com que as informações cheguem com maior eficácia do que o outro. Mas o que se observa, na verdade, é uma tentativa da mídia nacional em oferecer um espaço de equidade.

            O que mais me surpreendeu foi o Presidente tentar transferir a autoria de dossiês à Oposição. Ele disse: “Esperamos que nossos adversários estejam dispostos a fazer uma campanha de nível elevado, para discutir programas, e que não façam jogo rasteiro, inventando dossiês todo dia”. Mas, ora, Sr. Presidente, quem inventou o dossiê de há poucos dias? Aliás, o que se descobriu foi a montagem de uma central de dossiês. Houve uma denúncia à imprensa, que partiu do delegado Onésimo, que foi convidado a comandar esse processo, e recebeu uma oferta financeira para isso. Portanto, os indícios são tão visíveis, que é surpreendente ouvir do Presidente da República uma afirmação tão esdrúxula como essa, tentando transferir a responsabilidade do malfeito.

            E o País conhece sobejamente a existência de especialistas em dossiês. Vamos rememorar apenas dois ou três deles. Na eleição passada, o dossiê que custou R$1,7 milhão - aliás, o envolvimento de dinheiro sujo, sem origem, na formatação desses dossiês é ainda mais deplorável -... O Brasil viu, através das imagens da TV, uma mala com R$1,7 milhão, transportada por aloprados, num hotel de São Paulo, para que pagasse a confecção de um dossiê, também naquela oportunidade, contra o candidato ao Governo de São Paulo José Serra.

            Como pode o Presidente da República, em seu discurso, transferir à oposição a autoria dos dossiês? À época, ele próprio denominou de aloprados os responsáveis por aquela lambança, e nesses anos todos, os aloprados permaneceram impunes, estimulando a reincidência. Por essa razão, nós tivemos, entre aquele momento e este, um dossiê que foi confeccionado na Casa Civil do Governo - e isso ficou provado - durante os trabalhos da CPI dos Cartões Corporativos. Houve a abertura de um inquérito policial, e esse inquérito não foi concluído. Há poucos dias, noticiou-se o prosseguimento do inquérito. No decurso desse inquérito, o Ministério Público determinou que a Ministra Dilma, ex-Chefe da Casa Civil, fosse investigada. O Supremo Tribunal Federal não autorizou a investigação. Agora, noticia-se que o inquérito terá prosseguimento, mas não houve conclusão. Portanto, o fato estimula a reincidência, razão do surgimento desta anunciada central de dossiês. Essa central de dossiês foi desmontada em razão da denúncia que chegou à imprensa do País, e algumas providências foram adotadas.

            Antes de conceder um aparte ao Senador Edison Lobão, eu gostaria de dizer que dossiê é arma da covardia. Eu já disse desta tribuna que, na política, nós temos a tribuna no Parlamento para a denúncia de forma transparente, aberta, democrática e necessária. Temos a Procuradoria-Geral da República para representações consequentes que possam permitir a instauração dos procedimentos judiciários, de investigação e, eventualmente, de responsabilização civil e criminal.

            Dossiê, não. Dossiê não é transparência; dossiê é formatado nos subterrâneos da política, onde vicejam os marginais, que são, talvez, “politicalhões”, mas que não podem ser denominados de políticos na verdadeira acepção do termo. Por essa razão, a nossa condenação a dossiê e, evidentemente, no mínimo, a nossa estranheza.

            Como eu quero ser elegante com o Presidente da República, como o cargo exige que a oposição seja elegante, quero dizer que a afirmação do Presidente causa, no mínimo, estranheza, porque, evidentemente, não há de se subestimar a inteligência do País, ignorando que esse fato existiu há poucos dias e que não foi no seio da oposição. A oposição foi a vítima. A tentativa foi de atingir a Oposição com a deformação de fatos para comprometer pessoas que tentam contribuir nesse processo eleitoral, de forma a oferecer ao Brasil um espetáculo cívico que só uma campanha eleitoral com decência e dignidade pode oferecer.

            Concedo, com prazer, um aparte ao Senador Edison Lobão.

            O Sr. Edison Lobão (PMDB - MA) - Senador Alvaro Dias, essa questão de dossiê não nasceu, no Brasil, hoje. Ela é de tempos pretéritos. V. Exª, seguramente, não era nascido ainda quando surgiu a famosa Carta Brandi. Era uma intriga, era um dossiê. Senador Alvaro Dias, se há um candidato em condições de ganhar a eleição hoje - embora todos tenham condições, todos -, se há um que tem todas as perspectivas de vitória, chama-se Dilma Rousseff. Será que alguém do lado dela tem interesse em tumultuar o processo, quando ela se apresenta como aquela detentora de vastas condições para ganhar as eleições? Tudo quanto um candidato de boas perspectivas não deseja é o tumulto em torno da eleição. V. Exª menciona o problema dos cartões corporativos. Eu me recordo que a Ministra se encontrava de férias, pela primeira vez durante a sua gestão, na Bahia, veio correndo para cá e, com a energia que lhe é própria, ela desfez, ela desmontou, destruiu as críticas que em torno dela se faziam quanto a ser o Gabinete Civil o viveiro de uma confusão dessa natureza. Mas eu não preciso desmentir isso, porque V. Exª já o fez, usando o Supremo Tribunal Federal. O Supremo negou que tais intrigas prosseguissem, e o fez porque não encontrou embasamento legal para que a Ministra prosseguisse no epicentro de uma confusão que, do ponto de vista da Presidência da República, não nasceu ali. Quanto ao episódio recente, ainda não está claro, e dificilmente ficará, onde nasceu a ideia do tal dossiê, se de um lado ou se do outro. Portanto, acho que é muito cedo para se procurar colocar esta questão do dossiê no bojo de uma campanha eleitoral. Seguramente, não servirá a nenhum dos candidatos, mas posso dizer a V. Exª que a candidata Dilma Rousseff, que é do PT e do meu partido, nada tem a ver com isso, e ela não será afetada por isso. Quem sabe, até em razão da intriga que se procura tecer em torno do assunto, ela se beneficie. Ela pode sair vítima dessa situação toda. V. Exª, que é um político de longo curso - fomos Deputados juntos -, sempre ardoroso nas posições que assume, inteligente, capaz, sabe que esse tipo de questão não ajuda a nenhum candidato e, seguramente, não ajudará ao candidato do seu partido, que é um bom candidato também. Eu tenho pelo Dr. Serra grande apreço e até admiração. Sou amigo dele, gosto dele, mas isso não ajudará o Serra. Nem sei se ele gostaria que essa questão prosseguisse, na fluidez dela própria e na fragilidade com que ela nasceu, procurando prejudicar o candidato adversário dele. Portanto, Senador Alvaro Dias, por mim, essa seria uma questão encerrada, mas, como parece que ela não está encerrada, tenho para mim, no meu íntimo, que, prosseguindo como ela está prosseguindo, vai acabar ajudando a candidata do meu partido.

            O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR) - Senador Edison Lobão, agradeço o aparte de V. Exª e quero afirmar que, se dependesse da minha vontade também, esse assunto não estaria na ordem do dia. Eu não voltaria a ele, não fosse convocado pelo Presidente da República. Quem o trouxe de volta foi o Presidente, na convenção de ontem, quando tentou repassar à oposição a responsabilidade pela confecção de dossiês, e, ao contrário, os dossiês tentaram atingir a oposição.

            O Sr. Edison Lobão (PMDB - MA) - Mas ele o fez exatamente porque, no dia anterior, o assunto já havia sido levantado, não por ele nem por aliados dele. Ele estava apenas respondendo. Ele estava no direito da retorsão.

            O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR) - E nós estamos com a réplica, exatamente porque o Presidente, a nosso ver, de forma desonesta, intelectualmente, eu diria, tentou responsabilizar a oposição por dossiês. É incrível a oposição formatar dossiês contra ela própria. E V. Exª disse que a responsabilidade pode ter sido da oposição. Como? O que se sabe é que esse dossiê já tem nomes, a imprensa já divulgou nomes de responsáveis por esse dossiê. Há convocação, inclusive, para uma Comissão Mista do Congresso Nacional, de pessoas que se envolveram na confecção do dossiê ou na montagem de uma central de dossiês, que pretendia grampear telefones, ouvir adversários, levantar tudo sobre a vida deles, segundo denunciou o delegado da Polícia Federal.

            O que se destacou na imprensa foi o fato de que, provavelmente, uma disputa interna no comando da campanha do PT teria antecipado o vazamento das informações, já que se preparava para utilização posterior.

            Então, o fato é grave. É grave! É uma prática fascista, que tem de ser deplorada por todos.

            É claro que eu ficaria mais satisfeito se V. Exª pedisse um aparte...

            O Sr. Edison Lobão (PMDB - MA) - É o que farei.

            O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR) - Independentemente de se reconhecer ser daqui ou dali a responsabilidade pelo dossiê, é preciso condená-lo como prática fascista, criminosa, que tem de ser repudiada. E é o que estamos fazendo neste momento.

            Se esse dossiê procurasse atingir a candidata de V. Exª, eu estaria aqui, da mesma forma, repudiando-o.

            O Sr. Edison Lobão (PMDB - MA) - Se V. Exª me permitir, eu o farei.

            O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR) - Os verdadeiros democratas não podem aceitar esse tipo de procedimento.

            O Sr. Edison Lobão (PMDB - MA) - V. Exª me permite um aparte?

            O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR) - Vou ainda responder o primeiro aparte de V. Exª.

            V. Exª afirma que sua candidata é vitoriosa, que tem todas as possibilidades de vitória. Aliás, foi o que se disse na convenção. O Presidente disse que as possibilidades de ganhar as eleições são totais, quase absolutas. É um direito dele afirmar isso, como o é de V. Exª, mas isso não isenta o PT e o comando da campanha da Srª Dilma Rousseff de responsabilidade na confecção de um dossiê nos subterrâneos da campanha eleitoral. Não, não estão isentos de responsabilidade. Há responsabilidade, e as instituições públicas devem investigar o fato. Devem investigar o fato e procurar responsabilizar, civil e criminalmente, aqueles que, eventualmente, estiverem envolvidos nesse crime, porque isso é crime.

            Concedo a V. Exª um aparte novamente.

            O Sr. Edison Lobão (PMDB - MA) - Faço três pequenas observações. Primeiro, não atribuí à oposição isso. Eu disse que, do lado da Ministra Dilma, isso não ocorreu. Segundo, concordo com V. Exª. Essa é uma prática fascista, seja de que lado ela tenha nascido. É fascista e deve ser condenada por V. Exª, por mim e por todos. Nenhum de nós, conscientemente, pode aceitar uma coisa dessa natureza. Terceiro, também eu não disse que nossa candidata é vitoriosa. Eu disse que ela tem todas as condições de vitória. A vitória só surgirá depois de contabilizados os votos, mas, inegavelmente, ela tem condições disso. Então, tudo que um candidato que se encontra nessa situação não quer são confusões dessa natureza. Agradeço a V. Exª a oportunidade do esclarecimento.

            O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR) - Eu lhe agradeço.

            É evidente que o candidato Serra também tem condições de vencer as eleições, e é inegável seu favoritismo até este momento. Esse favoritismo pode mudar de lado, mas, até este momento, desde o início do processo eleitoral ou da fase preliminar do processo eleitoral, que denominam de pré-campanha eleitoral, sempre foi o candidato da oposição considerado favorito. Portanto, as chances podem ser iguais. Então, esse não é argumento para isentar ninguém de responsabilidade se o dossiê nasce exatamente na casa do PT e da campanha da Ministra Dilma.

            Em relação ao outro dossiê da Casa Civil, a história é um pouco diferente. A Ministra Dilma não conseguiu desfazer os indícios existentes e as provas recolhidas. Houve investigação técnica, e se comprovou a existência do dossiê que foi formatado também na Casa Civil. Isso se confirmou. Então, isso não se desfez. A Ministra não desmanchou a realidade dos fatos com afirmações feitas durante o episódio.

            E, quanto ao Supremo Tribunal Federal (STF), houve uma decisão monocrática que não autorizou a investigação. De qualquer forma, a investigação é relativa à Ministra, e o inquérito prossegue. O Ministério Público encontrou razões para pedir a investigação, e o juiz federal, da mesma forma, agiu. Uma decisão monocrática, que se respeita e não se discute, houve por bem impedir que a Ministra fosse investigada. Mas o fato existe, é real, o inquérito prossegue, e nós aguardamos.

            Fatos como esse devem ser conclusivos. Não podemos admitir que fatos dessa natureza sejam jogados para um plano secundário. As elucidações não ocorrem, as investigações não são concluídas, e a impunidade prevalece. E sabemos o mal que causa ao País a impunidade.

            O Sr. Edison Lobão (PMDB - MA) - Não desejo tomar o tempo de V. Exª. Costumo ser muito breve nos meus apartes, até porque fui Presidente da Casa, e o Regimento da Casa fala em dois minutos para o aparte. Os meus não vão além de um minuto.

            O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR) - É uma satisfação debater com V. Exª.

            O Sr. Edison Lobão (PMDB - MA) - Quero apenas dizer a V. Exª, voltando a esse caso dos cartões corporativos, que o Senado, no exercício de seu dever - achei que fez muito bem e que deve agir de forma semelhante em todas as ocasiões dessa natureza -, convocou a Ministra Dilma para se explicar numa das Comissões técnicas desta Casa. A Ministra veio aqui prazerosamente e até desejou vir mesmo. Aqui, durante horas e horas, submeteu-se a todas as perguntas de todos os Senadores que quiseram interpelá-la sobre o assunto. No dia seguinte, o comentário, até da imprensa, foi de que as explicações da Ministra, no Senado da República, foram convincentes, exatamente porque S. Exª era absolutamente inocente de tudo quanto a S. Exª se atribuía naquele episódio.

            O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR) - Senador Edison Lobão, não foi o que o Ministério Público julgou. O Ministério Público entendeu de forma diferente, o juiz federal também entendeu de forma diferente, e, certamente, por razões que não nos cabe analisar, monocraticamente, o Supremo Tribunal entendeu que não era oportuno investigar a Ministra. Mas, certamente, o fato não a isenta de responsabilidade, porque aqueles que formataram o dossiê estavam sob suas ordens na Casa Civil, eram subalternos da Ministra. E, portanto, cabe a ela, sim, responsabilidade por aquilo que é feito ao seu redor, sob o âmbito da sua responsabilidade.

            Concedo o aparte ao Senador Suplicy, que já aguarda há algum tempo.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Prezado Senador Alvaro Dias, aqui, nós, Senadores - Edison Lobão, Augusto Botelho, Mão Santa -, observamos na imprensa, nestes dias, que agora V. Exª está sendo considerado como um dos possíveis candidatos, senão o candidato, a Vice-Presidente, juntamente com o candidato a Presidente José Serra. Isso, certamente, constitui um mérito de V. Exª, possivelmente por causa de sua contínua batalha pelas ideias e pelos anseios em que acredita e que aqui defende. Mas, com respeito a esse tema, eu gostaria de fazer uma recomendação a V. Exª: que, aqui, pudéssemos, sobretudo, dialogar e debater sobre os programas e as ideias que vão apresentar nossos candidatos - e, se V. Exª for candidato a Vice-Presidente, isso terá um maior peso -, como a ex-Ministra Dilma Rousseff, que é nossa candidata pelo PT; a Senadora Marina Silva; o ex-Governador José Serra; o Plínio de Arruda Sampaio e outros. A propósito do que V. Exª acaba de dizer, eu gostaria de mencionar aqui três frases de um pronunciamento sobre esse tema feito ontem pela ex-Ministra Dilma Rousseff, candidata à Presidência pelo PT, justamente na convenção que a aclamou candidata: “Nesta campanha, nós vamos debater em alto nível, vamos confrontar projetos e programas. Vamos esclarecer ao povo que somos diferentes dos outros candidatos. Mas, depois de eleitos, governaremos para todos, como fez Lula, o Presidente que mais uniu os brasileiros. Sei como buscar a união de forças e não a divisão estéril. Sei como estimular o debate político sério e não o envenenamento, que não serve a ninguém”. Gostaria também de citar a declaração do próprio Presidente José Eduardo Dutra, que foi nosso colega no Senado e que, em carta à Folha de S.Paulo, hoje - vou registrar duas de suas frases -, diz: “O PT reafirma que não fez, não faz, não fará e não admite que em seu nome se faça qualquer coisa semelhante ao que é narrado na reportagem de 12 de junho (‘Dossiê traz dados sigilosos na Receita contra tucano [...]’)”. E, ao final, diz: “Recordamos que o PT interpelou judicialmente o candidato do PSDB, por ter feito acusação leviana, infundada e irresponsável a este respeito. Solicitamos o restabelecimento da verdade”. Com respeito à informação de que o Vice-Presidente do PSDB teria suas contas conhecidas - de que, portanto, seria quebrado o sigilo bancário desse dirigente importante do PSDB -, ele ressalta aqui que a própria reportagem não mencionou quem, porventura, teria obtido essa informação e assegura que não foi qualquer pessoa relacionada ao Partido dos Trabalhadores. Portanto, é preciso esclarecer bem. Com respeito às declarações do delegado que V. Exª mencionou, pelo que observei e li nas diversas reportagens, ele teria se colocado à disposição para obter certas informações, e isso não teria sido de responsabilidade de qualquer pessoa da direção do Partido dos Trabalhadores e muito menos do Governo. Muito menos teria sido dada qualquer orientação nesse sentido por parte da candidata Dilma Rousseff, bem como por parte do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Então, eu gostaria de esclarecer bem esses pontos.

            O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR) - Senador Eduardo Suplicy, é sempre uma satisfação ouvi-lo, embora a discordância entre nós ultimamente tenha sido regra.

            Na verdade, quando se fala em quebrar sigilo, nós nos lembramos de que há especialistas no Governo já comprovados. Quando se quebra o sigilo bancário de um caseiro humilde e sofrido como o Francenildo, espera-se a possibilidade de quebrarem sigilo bancário também de pessoas mais abastadas na vida pública brasileira. Lamentavelmente, houve a quebra de sigilo do caseiro como houve a quebra do sigilo do Vice-Presidente do PSDB, e repudiamos tanto a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo quanto a do outro.

            Quanto às alegações de V. Exª de que o delegado teria sido procurado, o que ele afirma é que foi convocado por um jornalista da campanha do PT e que a ele se ofereceu um valor para realizar esse trabalho profissional.

            O que vale ressaltar, sobretudo, Senador Suplicy, é que a manifestação de boa intenção por meio do discurso não encontra correspondência nas ações que estamos presenciando durante a campanha eleitoral. Não basta o discurso, é preciso a prática. E estamos constatando que há uma diferença enorme entre discurso e prática, até porque o Governo se transformou também em especialista em utilizar o instrumento da mentira para mistificar a questão e, sobretudo, para proteger-se diante de equívocos cometidos. Sim, a mentira tem sido uma arma utilizada pelo Governo reiteradamente, e nós poderíamos enumerar.

            No entanto, não posso deixar de considerar, nesses termos, uma afirmação da candidata Dilma na convenção de ontem, quando ela disse: “Historicamente, quase todos os Presidentes que nos antecederam, que antecederam o Governo do Presidente Lula, governaram para um terço da população”. É a prática de sempre, Senador Mozarildo, a de atacar os antecessores, sobretudo porque há necessidade de reconhecer que os antecessores é que plantaram os pressupostos básicos indispensáveis para que o País alcançasse índices de desenvolvimento na atualidade e pudesse superar a crise, como superou.

            Olha, Sr. Presidente, não há como ignorar um fato: como os antecessores governaram para um terço da população - ela insinuou que eles governaram para a elite - se o próprio Governo, por meio do IBGE, há poucos dias, revelou na Pesquisa Nacional por Amostra por Domicílio (Pnad) que, nos últimos quinze anos, o período em que o Pais alcançou os maiores avanços sociais foi exatamente o período de Fernando Henrique Cardoso? Ele não está em disputa, ele não é candidato. Mas por que essa reiterada tentativa de desconstrução da sua imagem por parte do atual Governo? Por que ignorar, por exemplo, que, se há avanços sociais hoje, não podemos deixar de, no mínimo, compartilhar esses avanços sociais com realizações do passado?

            O que foi o Plano Real? O Plano Real não foi apenas um plano econômico. Ele mudou o conceito nacional de economia. Que governo foi responsável pela estabilização da economia, pela sustentabilidade financeira, pela responsabilidade fiscal e pela recuperação da competitividade da nossa economia? Que governo foi responsável por isso? É evidente que se há de reconhecer que esse foi o governo de Fernando Henrique Cardoso.

            Então, não há razão para desdenhar dos feitos passados para enaltecer os feitos do presente. Que se enalteça o que se fez de bom na atualidade como forma de recomendar o futuro! Mas não vamos olhar para trás com as pedras nas mãos para tentar destruir aquilo que foi construído com competência, com responsabilidade política e com eficiência administrativa.

            Vou ser rápido agora, Sr. Presidente, não me vou prolongar excessivamente, em respeito aos demais. Mas quero destacar um ponto do discurso da Ministra Dilma, quando afirmou que o Governo Lula foi o que mais investiu em pesquisa e em inovação na história recente. Na linha daquilo que disse antes, da mentira, há a desfaçatez da mentira, a manipulação da informação, a deformação da realidade, na esperança de conquistar apoio. “O Governo Lula foi o que mais investiu em pesquisa e inovação, na história recente.”

            Ora, Sr. Presidente, este ano, o Brasil despencou dezoito posições, da 50ª para a 68ª posição, no ranking mundial de inovação de 2010, que classificou as economias da Islândia, da Suécia e de Hong Kong como as três mais inovadoras do mundo. Entre os países latino-americanos, o Brasil ficou apenas no sétimo posto, perdendo para nações como Costa Rica, Chile e Uruguai. No grupo do BRIC - Brasil, Rússia, Índia e China -, o Brasil foi o que registrou o pior resultado este ano.

            Portanto, cito esse item do discurso da candidata do PT à Presidência da República como um daqueles em que a verdade ficou distante. A candidata, na esteira do comportamento do Presidente Lula, demonstra não ser muito amiga da verdade na busca de seus objetivos.

            Para concluir, Sr. Presidente, quero dizer que esse debate é necessário. O candidato Serra, na convenção da Bahia, apresentou propostas de governo, elencou uma série de medidas que pretende empreender se eleito for Presidente da República. Mas, nesse debate, não basta proposta. Aqui, já se falou hoje, e o Senador Papaléo Paes repetiu: é fundamental a história de vida, a postura, o comportamento ético. Então, o debate vai além das propostas.

            E que não esperem nosso silêncio diante das aleivosias que possam presidir o comportamento, o discurso e as ações dos que disputam para continuarem no poder no Brasil! A responsabilidade da oposição, especialmente do PSDB, que tem um candidato, é a de oferecer um projeto alternativo de poder para o Brasil, com inteligência, com segurança, com maturidade política e com eficiência administrativa. Um candidato que tem talento pode oferecer tudo isso ao Brasil. E, sobretudo, toda eleição, toda campanha eleitoral é um ressuscitar de sonhos e de esperanças, mas que, desta feita, o ressuscitar dos sonhos e das esperanças do povo brasileiro não se transforme na grande frustração, na decepção com o descumprimento de todos os compromissos assumidos! É o que se deseja, é o que se espera, e é o que o Brasil merece.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Modelo1 5/3/245:57



Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/06/2010 - Página 28940