O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Mão Santa, agradeço a referência que V. Exª fez a mim. Quero externar meu respeito a V. Exª como representante eleito pelo povo do Piauí - V. Exª foi Prefeito de sua cidade natal, foi Governador. Aqui, muitas vezes, diverge de mim porque está nos quadros da oposição no Senado Federal, mas é importante nós, aqui, podermos construir a melhor maneira de atender aos objetivos maiores de nossa Nação.

            Gostaria, Senador Mão Santa, de hoje falar sobre este extraordinário fenômeno mundial, em especial porque nele o Brasil tem um papel extraordinário.

            Eu me refiro à Copa do Mundo, ao esporte e, em especial, ao futebol. Está acontecendo algo extraordinário: a Copa do Mundo, realizada pela primeira vez na África, na África do Sul, registra o maior número de pessoas no mundo acompanhando aquele evento. Essa forma de consagração dos povos é algo extraordinário!

            V.Exª, por acaso, assistiu ao filme Invictus? Eu o recomendo, Senador Mão Santa. O filme mostra o Presidente Nelson Mandela, da África do Sul, quando se deu conta de que, justamente através do esporte, no caso do rugby, ele teria a oportunidade de colocar os brancos e os negros interagindo melhor. Ele teve essa percepção e pensou em fazer alguma coisa, pois seria realizado na África do Sul o campeonato mundial de rugby, que era um esporte praticado sobretudo pelos brancos, mas que ali também era admirado pelos negros. Havia, na seleção da África do Sul, mais brancos do que negros, mas havia alguns jogadores negros que também eram excepcionais. Então, ele chegou à conclusão de que, através do esporte, do rugby, ele poderia realizar a aproximação de povos de diferentes raças na África do Sul. 

            E esse filme mostra, de uma maneira muito bonita, como é que, de fato, ele conseguiu fazer isso. Dentre as sugestões que ele formulou à Seleção de Rugby, estava a de que, uma vez por semana, ela realizasse seu treinamento nos bairros pobres, nas favelas das principais cidades da África do Sul. Isso promoveu uma integração formidável, porque os meninos e meninas passaram a admirar, a interagir com aqueles jogadores, e fez com que, durante a realização do campeonato de rugby, os estádios lotassem de uma maneira muito bela: ali, brancos e negros torciam por seu time, que, então, sagrou-se campeão mundial de rugby.

            Ora, todos sabemos do empenho de Nelson Mandela, inclusive quando Presidente, para que esta Copa do Mundo de 2010 fosse realizada na África do Sul. E V. Exª sabe que o Brasil, por intermédio do então Presidente da Confederação Brasileira de Futebol, João Havelange, apoiou essa vontade da África do Sul para que, pela primeira vez, ela fosse realizada na África. E por muitos anos, nestes anos recentes, houve diversos comentários nos países do Hemisfério Norte no sentido de que a África do Sul não poderia realizar um campeonato do mundo tão bem feito quanto os realizados naquele hemisfério.

             Muitos chegaram a duvidar que isso pudesse acontecer de uma maneira bem-sucedida. Pois eis que todos nós estamos acompanhando a beleza do espetáculo das multidões lotando aqueles estádios, como o estádio principal, que registrou a presença de oitenta mil pessoas. Ali foram apresentados espetáculos musicais e de dança que contaram com a presença do povo sul-africano e de pessoas dos cinco continentes que para lá foram para assistir aos jogos de seus respectivos países.

            Ora, nesta tarde quero desejar o maior sucesso para Dunga e os jogadores da seleção brasileira, que joguem muito bem, que possam representar o nosso time, o nosso Brasil, da melhor maneira possível; que possam, portanto, Daniel Alves, Doni, Elano, Felipe Melo, Gilberto, Gilberto Silva, Gomes, Grafite, Josué, Juan, Júlio Baptista, Júlio César, Kaká, Kleberson, Lúcio, Luís Fabiano, Luisão, Maicon, Michel Bastos, Neimar, Ramires, Robinho e Thiago Silva realizarem o melhor espetáculo, que possam dar o melhor de si para honrar a Seleção Brasileira, que é a que conquistou o maior número de campeonatos de futebol do mundo: em 1958, na Suécia; em 1962, no Chile; em 1970, no México; em 1994, nos Estados Unidos da América; e em 2002, na Coréia do Sul/Japão.

            Ora, é importante perceber que o futebol, para nós o esporte da verdadeira paixão nacional, tem uma característica formidável, comprovada na nossa história: a de aproximar pessoas, de aproximar os garotos das áreas mais pobres do Brasil, nas favelas, nos municípios mais distantes e de renda per capita menor. Por poder ser praticado apenas com a bola de futebol e uma área, que pode ser a praia, um gramado e até um terreno sem grama, onde se colocam algumas traves de madeira; por demandar poucos recursos, esse esporte pode ser praticado por todos.

            E esse esporte, tão presente em nossas vidas ao longo da história do Brasil - desde que, no século XIX os ingleses trouxeram o futebol para o Brasil - uniu os piauienses, aos paulistas, aos gaúchos, aos acreanos, aos cariocas etc.

            Todos nós aguardamos com verdadeira paixão, com emoção, a partida de amanhã. Estamos como que entrando em concentração para amanhã assistirmos a esse jogo, inclusive aqui no Congresso Nacional e no nosso Senado: a sessão de amanhã deverá começar às 10h e terminar às 14h, porque às 15h30min haverá o primeiro jogo da Seleção Brasileira, justamente contra a Coreia do Norte.

            A propósito, gostaria aqui de lembrar que, quando fui à Coreia do Sul, em 2007 e em janeiro deste ano, disse aos sul-coreanos, em inúmeras palestras que ali fiz, que gostaria de propor duas ações que poderiam contribuir para a unificação e a pacificação das duas Coreias. Leio nos jornais de hoje que a Coreia do Norte, por sua televisão, está mostrando jogos da Coreia do Norte e de outros países, mas não está transmitindo os jogos dos países que eles consideram inimigos da Coreia do Norte.

            Ora, será que não será justamente o futebol, o esporte, o instrumento que poderá unificar as nações?

            A minha proposta, que foi aplaudida lá, Presidente, Senador Mão Santa, foi no sentido de que possa a Seleção Brasileira realizar uma partida em Seul, capital da Coréia do Sul, e outra partida em Pyongyang, capital da Coréia do Norte, contra a seleção ou versus a seleção mista de ambas as Coréias.

            Ora, a Coréia conseguiu algo muito extraordinário nesta Copa do Mundo, porque ambas, a Coréia do Norte e a Coréia do Sul, foram classificadas para estarem neste campeonato.

            Então, nesta terça-feira, amanhã, o Brasil vai jogar contra a Coréia do Norte. Ora, quem sabe possa, não sabemos ainda qual o resultado desta Copa do Mundo, não sei exatamente qual será a posição final do Brasil - torço para que ganhe o hexacampeonato -, e das posições que, respectivamente, terão a Coréia do Norte - nossa adversária amanhã - e a Coréia do Sul, mas o que propus é que possa o Brasil, em algum momento, realizar a partida contra a seleção mista de ambos os países, como uma forma de congraçamento, de pacificação, de caminhar na direção da melhor relação entre estes dois países, no espírito do que aconteceu quando a Seleção Brasileira, em 2004 - e tive a felicidade de assistir pessoalmente -, na cidade de Porto Príncipe, jogou contra a seleção do Haiti. Foi algo extraordinário a maneira como o povo haitiano recebeu a seleção campeã do mundo, com tamanho carinho. Desde o aeroporto de Porto Príncipe até o estádio, havia uma verdadeira multidão, quase um milhão de pessoas, recepcionando os jogadores da Seleção Brasileira, Ronaldo, Ronaldinho e tantos outros, que jogaram naquele estádio lotado, mas modesto, onde cabiam 20 mil pessoas.

            E o Presidente Lula lá estava. E ainda que o Brasil tivesse goleado o Haiti, o povo haitiano, com grande alegria, aplaudia as boas jogadas de sua seleção quando aconteciam, mas aplaudiam os gols da Seleção Brasileira.

            Eu percebi naquela oportunidade como o futebol é um instrumento mágico de aproximação dos povos, pois o jogo aconteceu em agosto de 2004, ano em que o Haiti havia estado, em fevereiro, em verdadeira guerra civil. Mas no momento de recepcionar a Seleção Brasileira todos aplaudiram e se abraçaram.

            Eu me lembro quando os jogadores do Brasil receberam o Presidente Lula no vestiário do estádio. Os nossos jogadores Ronaldo, Ronaldinho e Romário transmitiram ao Presidente a disposição da Seleção Brasileira em colaborar com ações de paz como aquela que estavam realizando ali. Acho que foi neste mesmo espírito que o Presidente Lula transmitiu recentemente o propósito da realização de um jogo da Seleção Brasileira contra as seleções mistas de Israel e da Palestina: exatamente com o propósito de aproximação dos povos. Teria sido bom se esses países - Irã e Iraque - estivessem também participando desse campeonato mundial para que pudéssemos ver ações dessa natureza.

            Mas, então, Presidente Mão Santa, quero aqui registrar o quão importante é que possa o Brasil estar à altura das expectativas de toda população brasileira.

            No entanto, permito-me aqui fazer uma sugestão ao Dunga, Presidente Mão Santa, porque nós aqui sempre defendemos a transparência dos atos. Inclusive quero transmitir à Mesa Diretora que possa divulgar amanhã, antes da votação que está prevista para esta semana, o plano de ajuste de salários e carreiras da Mesa. Até recebi a proposta do 1º Secretário, Senador Heráclito Fortes, e estou examinando-a, mas gostaria de comentá-la e queria que essa proposta fosse aberta e transparente para todos.

            Estou respeitando a diretriz do Senador Heráclito Fortes de não divulgá-la porque ele me pediu, mas acho importante que todos nós possamos comentá-la e que ela seja transparente, pelo menos até amanhã, para que possamos votar na quarta-feira, na quinta-feira ou quando for.

            O Dunga, ontem, surpreendeu a imprensa mundial ao realizar os chamados treinos secretos e noturnos, cercando o estádio para que ninguém pudesse transmitir, ver, fotografar e conversar com os jogadores. Ora, Senador Renan Calheiros, a tradição da Seleção Brasileira nas Copas passadas - e eu estive lendo os jornais hoje - era a treinos abertos. Os jogadores da Seleção jogavam e, inclusive, no próprio relacionamento com a imprensa, conversavam amigavelmente e apareciam - seja o Sócrates tocando violão ou o Pelé conversando com quem quer que fosse, alem do Romário e do Ronaldinho. Então, para que esconder tanto? Nós vamos enfrentar a Coréia do Norte. Será que tudo tem que ser secreto? Ora, a Seleção Brasileira tem qualidades fantásticas. Será que os nossos adversários não podem conhecer um pouco dessas qualidades? Senador Mão Santa, estima-se que nunca houve uma Copa do Mundo sendo acompanhada pelos povos do mundo com tamanho público, espectadores do mundo inteiro, no planeta Terra, quanto essa Copa do Mundo.

            Então, a minha sugestão ao técnico Dunga é que o faça de forma transparente. Não precisa estar escondendo quais são os passes, os dribles, as grandes defesas que o Júlio César, o Gilberto Silva e o Gomes irão realizar, quais as jogadas fantásticas onde Robinho - que eu espero - vai poder dar as suas pedaladas. Não será mostrando ou escondendo no treino uma pedalada do Robinho que o jogador da Coréia do Norte vai poder evitar, se ele de fato conseguir repetir uma jogada tão brilhante assim.

            Portanto, hoje, gostaria de saudar a democracia brasileira, que já tem os nossos excepcionais candidatos de cada um dos partidos. Acho importante que o próprio Presidente Lula tenha saudado a qualidade dos candidatos à Presidência, como a nossa querida Dilma Rousseff, que ontem foi aclamada pela Convenção do PT, com a presença dos principais dirigentes do PMDB, de todos os Partidos aliados - o Senador Renan Calheiros estava presente.

            Ela fez um pronunciamento de excepcional qualidade, onde disse querer avançar, ter o compromisso de fazer o Brasil seguir. Ela quer, do fundo da sua alma, do seu coração, cumprir com coragem e determinação, inclusive com o candidato a vice, Michel Temer, somar esforços para conquistar, para aperfeiçoar a democracia, para alargar ainda mais o caminho aberto pelo Presidente Lula. Ela quer, sobretudo, aperfeiçoar os programas sociais, os programas de investimentos.

            Gostaria, Sr. Presidente, que fosse transcrito na íntegra de meu pronunciamento o discurso feito ontem pela nossa candidata Dilma Rousseff.

            E quero aqui assinalar o quão importante será que a campanha seja realizada pelos principais candidatos, sobretudo na discussão em nível mais alto possível dos temas de interesse da população brasileira, sobretudo com vistas a assegurar o crescimento com inclusão social, com melhor qualidade de educação possível, para erradicarmos a pobreza absoluta o quanto antes, para promovermos efetiva justiça em nosso País.

            Gostaria também, Sr. Presidente, porque relacionado ao meu tema e no mesmo espírito do meu tema, de anexar aqui um editorial que considerei de excepcional qualidade, “Paixão Nacional”, da Folha de S.Paulo: “Futebol brasileiro simboliza trajetória do País, desde a valorização da mestiçagem ao enfrentamento maduro de dificuldades e decepções”. A matéria foi publicada ontem na Folha.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO SUPLICY EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e § 2º do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

Paixão Nacional, publicado na Folha de S. Paulo de 13 de junho de 2010:

Discurso da ex-Ministra Dilma Rousseff.

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