Discurso durante a 98ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexão sobre a necessidade de uma imprensa livre para o funcionamento do sistema democrático, especialmente com a proximidade das eleições, uma excelente oportunidade para que os meios de comunicação exercitem a autocrítica e evitem os excessos que tanto prejudicam a relação de confiança que deve existir com seus leitores, ouvintes e telespectadores.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA.:
  • Reflexão sobre a necessidade de uma imprensa livre para o funcionamento do sistema democrático, especialmente com a proximidade das eleições, uma excelente oportunidade para que os meios de comunicação exercitem a autocrítica e evitem os excessos que tanto prejudicam a relação de confiança que deve existir com seus leitores, ouvintes e telespectadores.
Publicação
Publicação no DSF de 15/06/2010 - Página 28962
Assunto
Outros > IMPRENSA.
Indexação
  • ANALISE, IMPORTANCIA, LIBERDADE DE IMPRENSA, GARANTIA, DEMOCRACIA, COMBATE, CORRUPÇÃO, LEITURA, DIVERSIDADE, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, VALOR ECONOMICO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), NECESSIDADE, CONSCIENTIZAÇÃO, JORNALISTA, RESPONSABILIDADE, INVESTIGAÇÃO, DENUNCIA, COBRANÇA, ETICA, COBERTURA, CAMPANHA ELEITORAL, RESPEITO, POPULAÇÃO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, uma imprensa livre é fundamental para o funcionamento do sistema democrático, disse o presidente Lula, em dezembro, na abertura da 1ª Conferência Nacional de Comunicação, em Brasília. Como ele assinalou, o melhor meio de corrigir os excessos da imprensa “é mantê-la livre para apurar e publicar o que achar correto”.

            Nos países em que a democracia é exercida em sua plenitude, não há instrumentos que permitam o cerceamento da liberdade de imprensa. Sua função de controle social é considerada indispensável para o combate aos abusos, à corrupção e a tantos desvios que comprometem a ação do Estado em favor dos cidadãos.

            Mas há o outro lado da moeda, que mereceu uma análise lúcida do jornalista Pedro Cafardo, em artigo publicado na edição de quarta-feira, 3, do jornal Valor Econômico. Nele, o profissional reflete sobre os excessos cometidos pela imprensa durante o período da campanha presidencial de 2006, e enfatiza a necessidade de que os meios de comunicação submetam-se a um auto-exame a respeito de seu comportamento, para não repetir erros do passado.

            Para o jornalista, nossa imprensa precisa de uma reflexão séria sobre os limites da ética. Ele indaga em seu artigo: “Pode um colunista, por exemplo, bater sistematicamente na mesma tecla, fazendo acusações e críticas a um candidato, sem nenhuma comprovação e sem dar espaço à defesa do acusado? Pode uma manchete de página chamar um candidato de ladrão, sob o argumento de que a afirmação foi feita “on the record” (ou seja, foi feita para ser publicada), por um entrevistado do partido adversário? Repórteres podem acobertar uma fonte, mesmo sabendo que ela mente para esconder sua própria lambança?”

            Pedro Cafardo aponta o que chama de “um clássico escorregão da mídia, na campanha eleitoral ou fora dela”, que é o de divulgar denúncias que levam o leitor a identificar acusados como culpados. Cabe à imprensa, diz em seu artigo, cuidar para não fazer pré-julgamentos, ainda que isso às vezes signifique a perda de um “furo” de reportagem.

            E conclui: “A imprensa tem a obrigação de praticar a autocrítica e se submeter com mais humildade a avaliações externas sobre a qualidade e a imparcialidade de seu trabalho informativo” - desde que, é claro, sejam respeitadas a liberdade de informação e as diferenças de opinião.

            A facilidade com que reputações são destruídas ou sofrem danos permanentes em nosso país ocorre muitas vezes devido à causa apontada pelo jornalista: reportagens em que os dados são apurados às pressas, sem a conferência adequada e necessária, carentes de provas que as justifiquem e repletas de contradições, ganham as páginas de jornais e revistas, tudo em nome da pressa, da necessidade de noticiar algo “exclusivo” - mesmo que até uma análise superficial revele deficiências gritantes em seu conteúdo.

            Fontes pouco confiáveis, em busca de projeção ou movidas por vingança pessoal ou algum outro propósito escuso, conquistam destaque e uma suposta credibilidade, que não demora a desmoronar. Mas aí o estrago já está feito.

            Não se trata de propor limites à livre atuação da imprensa, o que seria absurdo, muito menos de criar mecanismos controladores que dificultem seu trabalho. Mas é necessário, principalmente agora que se aproxima a campanha eleitoral, respeitar os princípios básicos que devem nortear o bom jornalismo. Um deles manda desconfiar de toda fonte.

            O professor Felipe Pena, no livro “Teoria do Jornalismo”, diz: “A fonte de qualquer informação nada mais é do que a subjetiva interpretação de um fato. Sua visão sobre determinado acontecimento está mediada pelos “óculos” de sua cultura, sua linguagem, seus preconceitos. E, dependendo do grau de miopia, a lente de aumento pode ser direcionada para seus próprios interesses”.

            Logo, se uma fonte levanta acusações, com ou sem provas sólidas, é dever elementar de qualquer jornalista digno de exercer a profissão investigar tais denúncias a fundo. Ele deve sair em busca de documentos, confrontar dados, vasculhar passado e presente tanto do denunciante como do denunciado.

            O ceticismo, novamente segundo Felipe Pena, é o principal elemento na relação do jornalista com as fontes. Desconfiança, no exercício da atividade jornalística, não é pecado. É, como ele diz, uma norma de sobrevivência. É também o meio de garantir a credibilidade das reportagens publicadas. E, sem credibilidade, não há órgão de imprensa que sobreviva por muito tempo.

            A proximidade das eleições é uma excelente oportunidade para que os meios de comunicação exercitem a autocrítica e evitem os excessos que tanto prejudicam a relação de confiança que deve existir entre eles e seus leitores, ouvintes e telespectadores.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/06/2010 - Página 28962