Discurso durante a 102ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

A importância da São Paulo Fashion Week, que tornou a moda um fator de inclusão social e hoje é um dos maiores eventos de moda do mundo. (como Líder)

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ADMINISTRAÇÃO PUBLICA. REFORMA AGRARIA. POLITICA INDUSTRIAL.:
  • A importância da São Paulo Fashion Week, que tornou a moda um fator de inclusão social e hoje é um dos maiores eventos de moda do mundo. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 18/06/2010 - Página 29876
Assunto
Outros > ADMINISTRAÇÃO PUBLICA. REFORMA AGRARIA. POLITICA INDUSTRIAL.
Indexação
  • CONCLAMAÇÃO, PRESENÇA, SENADOR, PLENARIO, VOTAÇÃO, PROJETO DE LEI, INTERESSE, SERVIDOR, ADMINISTRAÇÃO FEDERAL, ENTENDIMENTO, LIDER.
  • PARTICIPAÇÃO, SOLENIDADE, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), CENTRO DE EXPOSIÇÕES, PRESENÇA, REPRESENTANTE, TRABALHADOR RURAL, SEM-TERRA, ENTIDADE, SENADOR, MINISTRO DE ESTADO.
  • REGISTRO, REALIZAÇÃO, SEMANA, EXPOSIÇÃO, MODA, VESTUARIO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ANALISE, PROCESSO, INCLUSÃO, NATUREZA SOCIAL, CONTRIBUIÇÃO, ECONOMIA NACIONAL, MOVIMENTAÇÃO, INDUSTRIA, COMERCIO, APRESENTAÇÃO, DADOS, HISTORIA, CRESCIMENTO, FATURAMENTO, CRIAÇÃO, EMPREGO, VALORIZAÇÃO, CULTURA, DIVERSIDADE, BRASIL, ENGAJAMENTO, CAMPANHA, COMBATE, FOME, CANCER, SINDROME DE IMUNODEFICIENCIA ADQUIRIDA (AIDS), RECICLAGEM, LIXO, APOIO, EDUCAÇÃO.
  • ELOGIO, DIVERSIDADE, PROGRAMAÇÃO, SEMANA, MODA, DEBATE, ECONOMIA, CRIATIVIDADE, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, INTEGRAÇÃO, INDUSTRIA, CULTURA, REGISTRO, BUSCA, COMPROMISSO, CANDIDATO, ELEIÇÕES, VIABILIDADE, CRESCIMENTO, IMPORTANCIA, APOIO, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), BANCO DO BRASIL, CAIXA ECONOMICA FEDERAL (CEF), BANCO DA AMAZONIA S/A (BASA), SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (SEBRAE), MINISTERIO DO TRABALHO E EMPREGO (MTE), INCENTIVO, CRIAÇÃO, COOPERATIVA, PRODUÇÃO, LEITURA, TRECHO, DOCUMENTO, AUTORIA, RESPONSAVEL, ORGANIZAÇÃO, DEFESA, REFORÇO, SETOR, INDUSTRIA TEXTIL, CONFECÇÃO, AMPLIAÇÃO, EXPORTAÇÃO, VALORIZAÇÃO, MICROEMPRESA, PEQUENA EMPRESA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Prezado Presidente José Nery, observo o Senador Cristovam Buarque dialogando com os servidores dos mais diversos Ministérios, que, hoje, fazem um apelo a nós. Eu queria aqui fazer um apelo a todos os Senadores que estejam presentes na Casa para virem ao plenário, se possível às dezesseis horas, na hora da Ordem do Dia, para que possamos apreciar e votar. Então, se os Senadores vierem ao plenário, teremos condições. Inclusive os Líderes que puderem estar presentes, já que houve a anuência dos diversos Srs. Líderes. De acordo até com a informação que obtive no gabinete da Liderança do Governo, há entendimento para votarmos o Projeto de Lei nº 88, de 2010, de iniciativa do Presidente da República, já apreciado e votado na Câmara dos Deputados.

            Então, se tivermos condições de votar com o quórum necessário, poderemos fazê-lo, já que, pelo que entendi, há consenso de todos os Srs. Líderes, que assinaram requerimento de urgência.

            Então, é o apelo que faço aos Srs. Senadores que estiverem presentes na Casa.

            O SR. PRESIDENTE (José Nery. PSOL - PA) - Permita-me, Senador Eduardo Suplicy.

            Quero informar a V. Exª, aos Srs. Senadores e aos servidores de diversos órgãos públicos que se encontram na Casa, aguardando o projeto que diz respeito à regulamentação dos direitos fundamentais, que há um requerimento de urgência de todos os Líderes para ser aqui votado e há consenso, portanto, quanto à aprovação da matéria. Contando aqui com a presença dos Srs. Senadores que estão na Casa, e na Relatoria do projeto a Senadora Serys Slhessarenko.

            De modo que estamos aqui no esforço para que possamos, ainda no dia de hoje, na Ordem do Dia, votar projeto de interesse dos servidores públicos de vários órgãos federais.

            Muito obrigado a V. Exª, respondendo, então, ao apelo que V. Exª formulou.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Sr. Presidente, estive hoje presente na cerimônia realizada ali na Concha Acústica de Brasília, onde estiveram também presentes o Presidente Lula, o Ministro Guilherme Cassel e inúmeros representantes de movimentos sociais, do Movimento dos Trabalhadores Rurais, da Contag, da Via Campesina e tantos outros, a Senadora Serys Slhessarenko também esteve lá, inúmeros Ministros de Estado. E quero dizer que pretendo fazer uma apreciação do desenvolvimento dos planos do Ministério de Desenvolvimento Agrário, inclusive da evolução da reforma agrária realizada durante esses sete anos e meio, até o presente. Quero fazê-lo na próxima semana, inclusive com os dados que pretendo reunir para uma análise mais completa, porque reservei o dia de hoje para falar sobre um extraordinário fenômeno que acontece em São Paulo.

            Eu gostaria de falar, Sr. Presidente, como a São Paulo Fashion Week tornou a moda um fator de inclusão social.

            A moda, Senador Neuto de Conto, que já foi fator de exclusão, é hoje um fator de inclusão na avaliação de uma das pessoas que mais acompanham o que acontece com a moda no Brasil e no mundo, a Glorinha Kalil, pessoa com quem tenho afinidade desde os tempos em que fomos colegas na escola Nossa Senhora das Graças, o Gracinha, quando fizemos o curso primário. Era então na rua Maranhão, em São Paulo, em frente a Igreja Santa Teresinha, mas hoje está no Itaim Bibi, na rua Tabapuã, e continua sendo uma das melhores escolas de São Paulo.

            Há algum tempo venho acompanhando o que tem se constituído em um evento de extraordinária importância para a economia brasileira e, em especial, a paulista, o São Paulo Fashion Week - SPFW. Ao lado do campeonato mundial da Fórmula 1, da Parada do Orgulho LGBT, da Virada Cultural e de tantos outros, esse é um dos eventos que mais movimenta São Paulo e reúne pessoas de todos os cantos.

            Esse empreendimento se tornou um marco na história da moda no Brasil e no mundo. Além de contribuir para a economia, gerar empregos, valorizar a cultura brasileira, a beleza e a arte, se expandiu para além das fronteiras, se aprimora cada vez mais e, agora, se insere nas questões do mundo moderno.

            Até os anos 90, as influências da moda vinham para o Brasil por meio do mercado europeu. As revistas brasileiras de moda elaboravam seus editoriais com base em revistas internacionais, e todos os aspectos que envolvem esse setor e que nos levam a ver a moda como um grande negócio não eram considerados conjuntamente.

            A produção do mercado têxtil era ditada pelo mercado têxtil internacional, e o Brasil, de certa forma, importava a moda. O que se produzia aqui não tinha qualquer relação com o que era valorizado como moda.

            Paulo Borges, idealizador do São Paulo Fashion Week, que veio de São José do Rio Preto para São Paulo, nos anos 70, para estudar computação e comércio exterior, disse que a moda foi acaso em sua vida. Começou ajudando um amigo, proprietário de uma loja, a montar um desfile e, a partir daí, não parou mais de receber convites, até que foi ser assistente na direção da revista Vogue. Com o sucesso de seu trabalho, foi percebendo que havia um universo muito maior a ser explorado. E foi assim que começou a produzir desfiles, conheceu a “cooperativa de moda”, que era formada por vários estilistas, em um movimento geral de interesse pela moda.

            Em 1993, o atual diretor do SPFW, hoje associado a inúmeros outros profissionais, criou um evento de moda denominado Phytoervas Fashion. Segundo ele, a visão mais ou menos comum a todos era a de que um país de enorme variedade cultural deveria usar isso para alimentar e produzir a sua moda.

            Paulo Borges disse que tinha como objetivo criar uma cultura de moda no Brasil. Três anos depois, em 1996, aconteceu o Morumbi Fashion Week. Mais estruturado, foi quando surgiram os nomes das modelos de sucesso, como Gisele Bündchen, Ana Cláudia Michells, Isabelli Fontana e outros grandes nomes do mundo da moda brasileira, inclusive masculina, como Ricardo Almeida, Ronaldo Fraga e Reinaldo Lourenço, para citar alguns. 

            Em 2001, o evento passou a chamar-se São Paulo Fashion Week (SPFW) e é considerado hoje um dos maiores eventos de moda do mundo. Os R$600 mil movimentados no primeiro evento, em 1993, saltaram para cerca de R$6 a R$7 milhões nas suas últimas edições.

            As fronteiras da moda ampliaram-se, e, além de valorizar os aspectos culturais, a variedade de cores e o clima tropical, esse setor passou a compor a lista de pontos que contribuiu para o desenvolvimento econômico e social do País. Além de posicionar o Brasil no mundo da moda, o evento já foi marcado por campanhas contra a fome, pela prevenção do câncer e da Aids, reciclagem do lixo e educação.

           Há duas edições anuais: em janeiro e em junho. Em janeiro, se procura mostrar aqueles elementos da moda - os vestidos, as vestimentas, os termos - para as estações futuras do inverno e da primavera. A Fashion Week apresentada em junho é para mostrar os modelos para o verão e o outono próximos.

           O São Paulo Fashion Week envolve uma cadeia imensa de profissionais formada por estilistas, modelos, produtores, tecelagens, agências, jornalistas, cabeleireiros, músicos, costureiras e técnicos em geral, gerando mais de 5 mil empregos diretos. A indústria da moda reúne hoje 30 mil empresas, movimenta R$50 bilhões ao ano e emprega 1,7 milhão de brasileiros, sendo responsável por 17% do Produto Interno Bruto. A deste ano, encerrada na última segunda-feira, dia 14 de junho, foi a que teve mais investimentos, algo em torno de R$11 milhões de reais investidos em sua realização, no que se tornou o evento de moda mais famoso da América Latina. Realizada no Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera, mostrou o trabalho de estilistas famosos, de artistas plásticos de Salvador, que levaram seus blocos afro para decorar as paredes, das bordadeiras do agreste pernambucano, das rendeiras renascença da Paraíba, enfim, um verdadeiro movimento de valorização da cultura brasileira.

           Ademais, é importante ressaltar que os desfiles da Fashion Week têm estimulado que pessoas nos bairros mais humildes e carentes, como Heliópolis, Paraisópolis e outros em São Paulo, a também realizar ações de moda. Em Heliópolis, formou-se uma cooperativa de costureiras que passaram a apresentar vestidos, roupas para meninos, meninas, moças e rapazes e a promover desfiles ali em Heliópolis, que logo estarão também na São Paulo Fashion Week, acredito.

           Além dos 39 desfiles, a edição do evento deste ano realizou, no dia anterior ao seu início, 8 de junho, uma programação paralela no Museu de Arte Moderna, organizada por Graça Cabral, uma das organizadoras do Fashion Week, pela economista Lídia Goldenstein e por Lala Deheinzelin, especialista mundial em Economia Criativa & Desenvolvimento Sustentável, que criou e coordena o movimento internacional “Crie Futuros”. Nesse evento, discutiram o assunto “Economia Criativa” - uma estratégia da moda para o desenvolvimento econômico do Brasil, buscando o aprimoramento de todas as ideias iniciais, agora focadas na economia que não se produz com matérias perecíveis e sim sustentavelmente, com a valorização da beleza, da criatividade, da arte, da cultura.

           No campo específico da moda, a economia criativa vem atraindo profissionais das mais diversas áreas, envolvendo analistas, acadêmicos, governos, com ênfase no desenvolvimento de atividades econômicas ligadas à produção cultural - uma incorporação de novos valores antenados com as necessidades do mundo moderno.

           Em documento elaborado por Paulo Borges e Graça Cabral, eles afirmam que é certo que os grupos que abrangem as artes têm maiores oportunidades de crescimento porque lidam com valores que não se esgotam, ao contrário, se multiplicam.

           Segundo os profissionais do setor e idealizadores, a geração de uma efetiva economia criativa está intimamente ligada à agregação de vários setores, formando uma cadeia muito bem conectada.

           Nesse espírito, no dia 12 de junho passado, sábado, dois dias antes do final do evento, Paulo Borges foi recebido pela candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, para apresentar as propostas da moda como contribuição para o desenvolvimento. Dilma explicou como será a atuação do ministério para médias e pequenas empresas que pretende criar e disse que esse será um segmento de muito importância em seu governo caso seja eleita.

           Paulo Borges também manteve encontros com os presidenciáveis Marina Silva e José Serra, os quais expressaram o seu apoio à Fashion Week e a vontade de estimular o desenvolvimento do setor.

           O Governador Alberto Goldman e o Prefeito Gilberto Kassab estiveram presentes na abertura do evento. Geraldo Alckmin, ex-Governador e candidato ao Governo do Estado, visitou o evento no segundo dia e expressou seu desagrado com a gravata - foi sem gravata.

           Para Paulo Borges, 2010 encerrou um ciclo de construção da moda brasileira e agora é hora de “virar a página e começar do zero”, olhando para o futuro e para novos desafios. O diálogo com os agentes políticos faz parte desse novo movimento porque podem viabilizar o potencial da moda, enfatizou. Esses novos desafios são impulsionados pelo bom momento vivido pela economia do País, com a redução da vulnerabilidade externa, controle da inflação, queda dos juros, elevação do crédito, aumento da renda e do consumo, criando um ambiente de muita positividade. O Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva procurou estimular a Fashion Week. Seus Ministros da Cultura, Gilberto Gil e Juca Ferreira, foram pessoalmente e reconheceram a relevância do desenvolvimento da moda como elemento chave de nossa cultura.

           Também a Prefeita Martha Suplicy, no período 2001/2004, sempre apoiou os desfiles dos principais expositores e dos modelos que ali se apresentaram. Da mesma forma, o Senador Aloizio Mercadante também deu o seu apoio e esteve presente na São Paulo Fashion Week em diversas ocasiões.

           No ano que vem, a edição de janeiro da São Paulo Fashion Week virá ampliada com base nesse novo projeto e ocupará, paralelamente, o espaço da OCA, ao lado da Bienal, com desfiles e exposição de 100 designers brasileiros, debates envolvendo, certamente, um número muito maior de pessoas e consolidando esse setor de maneira consciente e mais consistente.

           Segundo relato da crítica de moda Glória Kalil, na programação de abertura do último São Paulo Fashion Week, um caloroso debate reuniu nomes como os irmãos Campana, Waldick Jatobá e Kátia Avillez (co-fundadores do Design São Paulo) e Armand Hadida (dono e comprador de L’Éclaireur, uma das lojas conceito mais respeitadas de Paris) e terminou com o Sr. Hadida declarando assertivamente que a moda do Brasil, para ter algum interesse para compradores e consumidores internacionais, teria que “deixar de ser conservadora, atrasada, e se jogar para valer na criação, aceitando com isso correr riscos”.

           Quero cumprimentar os participantes da última edição na figura dos novos e já tão consagrados inúmeros estilistas, como Alexandre Herchcovith, Clô Orozco, Tufi Duek, André Lima, Fernanda Yamamoto, Glória Coelho, Fause Haten, Oscar Metsavaht, Priscilla Darolt e tantos outros. Também os que virão das cerca de 150 escolas de moda que hoje existem no País e todos os inúmeros profissionais que compõem esse universo primoroso. Quando era 1993, salienta Paulo Borges, havia apenas 4 escolas de moda; agora há 150.

           Paulo Borges, em entrevista à Moda Spot, ao ser perguntado sobre a continuidade do seu trabalho disse: “Para mim, esse projeto é para sempre. Quando eu morrer, deverá continuar, porque essa é a instauração de um plano de cultura para a moda, de comportamento e indústria de moda para o País”.

           Que seja. O que é bom tem que vir pra ficar e ser cada vez melhor.

           Por tudo o que tem realizado, é muito importante que as instituições governamentais, como o BNDES, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o Banco do Nordeste do Brasil, o Banco da Amazônia, o Sebrae, a Secretaria de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e outras possam dar um apoio ainda mais significativo e bem planejado à economia da moda.

           Será muito importante para a indústria têxtil, para a de confecções, para as dezenas de milhares de costureiras de todas as regiões do Brasil que podem se organizar, cada vez mais, em formas cooperativas de produção. Daí por que eu aqui assinalo a Secretaria de Economia Solidária, que, nesta semana, promove em Brasília a Semana de Economia Solidária, onde inúmeras experiências de formas cooperativas de produção, algumas das quais de costureiras, estão sendo apoiadas.

           Portanto, será muito importante que mais e mais cooperativas de produção venham a ser desenvolvidas, inclusive, porque elas podem ter em seus quadros aqueles que sabem desenhar modelos cada vez mais bonitos e ousados.

           Sr. Presidente, Paulo Borges e Graça Cabral produziram um texto de treze páginas sobre a importância da São Paulo Fashion Week e da indústria têxtil e de confecções e relativamente à moda. Se V. Exª me permitir, vou ler alguns trechos selecionados e pedir que depois esse texto tão significativo seja transcrito na íntegra como parte de meu pronunciamento.

           O SR. PRESIDENTE (José Nery. PSOL - PA) - Com certeza, Senador Suplicy.

           O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Dizem Paulo Borges e Graça Cabral:

...Neste cenário, tem início a profissionalização da moda brasileira, com um processo de consolidação do mercado, que repete o processo vivido pelos mercados europeus e americano nas décadas de 80 e 90. O São Paulo Fashion Week teve enorme papel nesse processo. Durante anos, o calendário foi visto apenas como um evento restrito ao mundo da roupa, quase sempre associado ao consumo de luxo das elites. Só recentemente, fruto do esforço do Instituto Nacional de Moda e Design, para mostrar sua real dimensão, é que passou a ser visto em toda a sua amplitude e abrangência, em seu papel inovador e articulador de diversas redes criativas.

Ao inovar e integrar meios culturais e criativos da economia, o Calendário Oficial da Moda Brasileira é visto em vários lugares do mundo como uma referência da Economia Criativa. Com múltiplos encadeamentos positivos com os mais diferentes setores da economia, a moda pode ser um fator de liderança na competitividade e inovação da economia brasileira.

Como aproximar os Brasis, o do design, da inovação e da tecnologia e o da vocação, do talento e da diversidade? Como estabelecer novos vínculos e reunir inteligências para acelerar o s alto qualitativo necessário? Esses têm sido os principais objetivos do Instituto Nacional de Moda e Design, braço institucional do Calendário da Moda.

Nos últimos três anos, nos dedicamos a reunir e sensibilizar lideranças empresariais e governamentais para a importância desse setor estratégico, que, segundo a ONU, já é responsável por 10% do PIB mundial. A Unctad divulga que, entre 2000 e 2005, os produtos e serviços criativos mundiais cresceram a uma taxa média anual de 8,7%, o que significa duas vezes mais do que manufaturas e quatro vezes mais do que a indústria. Está claro que é preciso avançar mais rápido no desenvolvimento de políticas, infraestrutura e estratégias que permitam a criação de ambiente favorável ao desenvolvimento.

A importância dos intangíveis fica clara quando percebemos que, em média, 75% do valor de um produto é dado por ativos intangíveis, que hoje também representam a maior parte do valor das empresas. Hoje já vemos um consenso entre pesquisadores, empresários e estudiosos de que existe uma interdependência forte entre crescimento e inovação, entre produção e conhecimento.

Não à toa a economia criativa vem atraindo interesse crescente de analistas, acadêmicos e governos, enfatizando o desenvolvimento de atividades econômicas associadas à produção cultural, desde as artes, cinema, publicidade, design, moda, até as tecnologias de informação e pesquisa em ciência e tecnologia. Já é fato consolidado que países, regiões e cidades que concentram ou tenham capacidade de atrair essas atividades têm maiores oportunidades de crescimento, graças à forte expansão dessa economia mais intensiva em conhecimento, talento e tecnologia.

A cidade de São Paulo recebe mais de dois mil showrooms de moda que acontecem a cada edição do São Paulo Fashion Week. O São Paulo Fashion Week influenciou profundamente a consolidação de novas profissões e o fortalecimento de outras já existentes. [Há dez anos, aumentou significativamente, portanto, o número de cursos relacionados com a moda].

           Assim, Sr. Presidente, quero aqui assinalar um ponto importante relativo à indústria da moda:

A indústria da moda precisa de escala para sobreviver. Precisa de mercados internos dinâmicos e de competitividade externa. A cada dia é menos relevante aquilo que fabricamos. Cada vez mais, exportamos marca e conceito. O produto, se bem feito, pode ser feito em qualquer lugar. Nossa vantagem não é de custo. A diferenciação não está no produto, na fabricação, mas no que ele carrega como conceito.

Para se ter uma ideia do que isso representa em termos de números: o Brasil exporta 1 kg de algodão a US$1.00, em média; exporta 1 kg de vestuário a US$20.00 e exporta 1 kg de moda a US$120.00, US$150.00. Isso é resultado de agregar valor. Hoje, agregamos mais inovações, mais aspectos intangíveis que elementos tangíveis. O produto pode ser fabricado em qualquer lugar, mas as ideias, a inventividade, a capacidade de se diferenciar por algo que é agregado ao produto, isso tudo é o nosso diferencial.”

O Brasil ostenta uma das populações histórica e culturalmente mais diversificadas e mestiçadas do mundo: 220 povos indígenas, uma imensidão de descendentes de africanos, de imigrantes europeus e asiáticos, de árabes, de judeus; em suma, gentes das mais diferentes origens étnicas e culturais, habitando uma variedade de formações naturais - cerrado, pantanal, caatinga, campos e os mais de 3,5 milhões de quilômetros quadrados de florestas tropicais, na Amazônia e na Mata Atlântica - que, por sua vez, abrigam a mais rica biodiversidade do planeta.

Dizem que os italianos têm design, os franceses têm marcas, os americanos têm mercado interno, os chineses têm preços, e nós temos o quê? Parece que nós temos uma forma de ser e um estilo de vida que transparecem na nossa criatividade. Acho que o nosso diferencial está na capacidade de sintetizar e de embaralhar diversidades e influências. O Brasil tem várias caras, inúmeras identidades e muitas vocações. Para nós, moda brasileira é a moda que leva a marca dessa diversidade. O que ela tem de especial é que tem a chance de trazer algo novo para a moda no mundo, algo fresco, com outro olhar.

           Senador José Nery, assim como os artesãos de Abaetetuba trouxeram aqui para o Senado a tão especial beleza criativa do seu artesanato, por essas características formidáveis, assim como os jogadores da Seleção Brasileira encantam o mundo com sua criatividade, com as pedaladas de Robinho, com os passes mágicos de Kaká e de tantos outros jogadores, também na moda, se tivermos as principais formas de enfrentar os desafios da cadeia têxtil e da confecção, que podem estar identificados na política de desenvolvimento produtivo, que são: modernizar a estrutura produtiva; apoiar a consolidação empresarial; desenvolver produtos com maior valor agregado; expandir exportações; combater práticas desleais de comércio e fortalecer a cadeia produtiva, sobretudo as micro e as pequenas empresas. Daí a importância do Sebrae e do olhar do BNDES para as pequenas e as médias empresas também de confecção e têxteis, inclusive no interior do Pará e de todo o Brasil.

           Muito obrigado, Sr. Presidente. Só para assinalar, a meta traçada para 2010 é ampliar o faturamento dessa indústria para US$41,6 bilhões, tendo sido US$33 bilhões em 2006. Que possa a indústria têxtil e de confecções, com todos aqueles que trabalham na São Paulo Fashion Week, continuar com seu merecido sucesso.

           Obrigado.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO SUPLICY EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e o § 2 º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

Artigo de Paulo Borges e Graça Cabral.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/06/2010 - Página 29876