Discurso durante a 103ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comemoração dos 15 anos da Redevida de Televisão.

Autor
Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Geraldo Gurgel de Mesquita Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos 15 anos da Redevida de Televisão.
Publicação
Publicação no DSF de 22/06/2010 - Página 29974
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • CUMPRIMENTO, AUTORIDADE, SENADOR, AUTORIDADE RELIGIOSA, PRESENÇA, HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, EMISSORA, TELEVISÃO, IGREJA CATOLICA, DEPOIMENTO, VIDA, PAI, ORADOR, MORTE, VELHICE, SUGESTÃO, PROGRAMAÇÃO, ATENDIMENTO, PUBLICO, IDOSO, CRIAÇÃO, PROGRAMA, DESTINAÇÃO, TRABALHADOR, DEBATE, PROBLEMAS BRASILEIROS.
  • CONGRATULAÇÕES, ARTHUR VIRGILIO, SENADOR, INICIATIVA, PROPOSIÇÃO, HOMENAGEM, EMISSORA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Senador Mão Santa, a quem cumprimento com muito respeito não só pela longa amizade, mas também pela extrema bondade com que se dirige a todos nós, seus colegas.

            Quero cumprimentar também os meus colegas aqui presentes, Parlamentares, em especial o Senador Arthur Virgílio, que, em boa hora, propôs esta homenagem à REDEVIDA. Concordo com ele: é devida.

            É uma sessão e uma solenidade muito singela, mas muito representativa. Portanto, meus parabéns ao Senador Arthur Virgílio pela lembrança para a realização desta sessão especial.

            Quero saudar aqui também, com muito carinho, nossos ilustres convidados, Sr. João Monteiro de Barros Filhos, Marcelo Aparecido Coutinho, D. Orani, D. Dimas, a Srª Antônia, os religiosos aqui presentes, os convidados.

            Enfim, é muito breve o que quero dizer. A REDEVIDA me remete a uma situação pessoal vivida nesses últimos anos, acompanhando meu pai. Acho que as pessoas que crêem em Deus, na proporção em que a idade vai chegando, que vai se tornando pesada, Senador Mão Santa, vão se dedicando por mais tempo àquilo que os religiosos entendem como “o grande encontro”.

            Isso ocorreu com o meu pai, que faleceu ano passado, em setembro, com 90 anos de idade. Ele sempre foi muito religioso, porém, pouco praticante - frequentava pouco a igreja. A vida, principalmente daqueles que estão envolvidos na atividade política, às vezes exige muito da gente, e o nosso tempo se torna muito curto para tudo o que a gente gostaria de fazer. Isso não foi diferente com meu pai: ele teve uma vida muito atribulada, muito difícil, muito dedicada a tudo aquilo em que acreditava. Mesmo com um sentimento religioso muito grande, ele nunca foi aquele praticante assíduo, dedicado a missas. Isso veio a acontecer no final da sua vida. Nos últimos anos - e isso é sintomático -, ele já estava velhinho, eu fiz a assinatura de um provedor de canais de televisão para ele. Mas eu pagava à toa; o canal que ele sintonizava em casa, Senador Papaléo, era a REDEVIDA.

            Nesses últimos anos, em qualquer oportunidade que eu tinha - ao final de sessão ou mesmo em sessões longas em que a gente poderia sair e voltar -, eu me habituei a visitá-lo em casa, sempre no final da tarde. E, chegando lá, o “Barão”, como a gente o chamava com muito carinho, estava sintonizado na REDEVIDA. Às vezes, eu brincava com ele, por ocasião daquele programa de venda de bijuterias, de jóias: “Barão, por que você não compra aquele brinco para a mamãe?” Ele me olhava com aquele olhar carinhoso, compreensivo, de pai.

            Aqui no prospecto distribuído por vocês nas bancadas existe uma provocação aqui: “Falem conosco, se vocês têm alguma sugestão, reclamação ou elogio”. Eu tenho. As programações ou os programas que eu acompanhava quando estava ali com meu pai, é claro que todos com uma carga de religiosidade muito grande... Mas, vejam, assim como o Barão, meu pai, quero crer que existem milhares de pessoas neste País que, até pelo peso da idade, por problemas de locomoção, seja lá por que razão for, têm um tempo maior dentro de casa. Uma das distrações, um dos lazeres é a televisão. O meu pai era aquele cidadão de um canal só. Ele só via a televisão dos senhores. Raramente mudava de canal, mesmo no horário de jornal e tal. Eu falava: “Barão, vamos ver o telejornal”. E ele não queria. Mas, olhem, digo isto com absoluta sinceridade, e espero que esteja oferecendo uma sugestão positiva: vendo todos os programas, eu observava que nenhum deles era dirigido especialmente a esse segmento de público. Quando eu digo especialmente, eu me refiro à pessoa que está nessa condição de vida, que seguramente espera que alguém lá daquela telinha, simpático ou simpática, esteja se dirigindo especialmente a ele ou a ela. São muitas as questões que envolvem a vida dessas pessoas quando elas chegam a essa fase, já no finalzinho, quando se avoluma a religiosidade, em que elas sentem a proximidade daquilo que eu disse, “o grande encontro”.

            Se eu pudesse fazer uma sugestão à REDEVIDA, eu pediria que vocês instituíssem na emissora de vocês um programa especial voltado para essas pessoas. Levem estudiosos, levem religiosos, levem quem vocês quiserem para discutir as questões, mas - isto é o mais importante de tudo - falem olhando para essas pessoas, dirigindo-se a elas com muito carinho, com muito afeto, porque, independentemente do carinho, do afeto que a família presta a essas pessoas, tudo o mais contribui, ajuda para que o final de vida delas seja mais ameno, menos sofrido. Essa é a primeira sugestão que eu faço, provocado por vocês, que pediram que oferecêssemos sugestões.

            Quanto à outra observação que eu ia fazer... Fiquei surpreso com o aparte do Senador Paulo Paim. Confesso, com absoluta sinceridade: dos programas que eu assistia na companhia do meu pai, eu não via, de forma assim tão vertical, essa extrema preocupação social, a não ser em seus aspectos gerais. E não quero que a REDEVIDA se transforme em um instrumento da política ou que se politize. Não se trata disso, não! A política é uma forma de nós repercutirmos os fatos da sociedade. Contudo, uma rede de televisão, para mim, é outro instrumento pelo qual a gente pode, independentemente de partido, de cor partidária, repercutir o que se passa na sociedade, principalmente com os menos favorecidos, com os pobres, com os miseráveis deste Pais, que, não tenham dúvida, são em uma quantidade assustadora. Foi em razão dos anseios deles que a Igreja sempre se colocou como aliada dessa parcela da sociedade. Este ainda continua sendo, apesar de alguns pequenos avanços, o País da extremíssima desigualdade, e um importante canal de televisão como o de vocês não pode deixar de repercutir esse fato; não pode deixar, independentemente de cor partidária, de eleger os mais humildes, os mais pobres, os miseráveis como seu público alvo e preferencial.

            Eu creio que a sociedade brasileira está envolvida em muitas questões, em muitas contradições, e elas precisam ser veiculadas. A mídia, no nosso País, ainda é...Ontem, eu assisti a um filme, com a minha mulher, sobre a ética na mídia. Achei muito interessante. No filme se chega a um ponto extremamente grave. Um repórter que preservava muito a ética e o compromisso da mídia, conversando com a esposa, se dizia traído, porque ele se comprometeu a fazer com que determinado cidadão fosse ouvido como testemunha pública num imbróglio envolvendo a indústria de tabaco nos Estados Unidos, e a indústria de tabaco dos Estados Unidos acabou comprando a consciência da emissora. E ela dizia: “Olhe, deixe isso para lá, procura outra empresa para trabalhar, onde você possa exercer, com total liberdade, o seu ofício”. Ele disse, claramente: “Imprensa livre no nosso País” - lá, não é? - “é apenas para os proprietários da imprensa”. A imprensa só é livre para os proprietários da imprensa.

            Eu acho que esse raciocínio se conforma muito bem também aqui, no nosso País. É por isso que, independentemente do que disse o Senador Paim - ele provavelmente deve assistir à TV em horários em que eu não assistia... Não estou aqui excluindo a possibilidade de isso ser uma realidade, mas, nos horários em que eu assistia junto com o meu pai, eu não presenciei essa opção de forma assim tão intensa, tão forte como descrita pelo Senador Paim.

            Esta, com todo o respeito, seria, por último, a segunda e última sugestão que eu faria aos senhores e às senhoras que têm responsabilidade dentro da REDEVIDA: exercitem e façam isso em programas de televisão; conversem com os trabalhadores brasileiros sobre questões que lhes dizem respeito, sobre o dia a dia da sua vida; reflitam com eles o quanto a sociedade brasileira é injusta, o quanto a concentração de capital no nosso País é assustadora; conversem com os trabalhadores; ofereçam programas a eles nesse tom, sem exacerbar, sem tomar partido, ou melhor, tomando o partido deles. Eu acho que isso seria de uma oportunidade incrível.

            Portanto, pedindo desculpas talvez até por me adentrar naquilo que não me diz respeito, faço sugestões, pois - repito - eu fui provocado por vocês, que pediram sugestões. Eu peço desculpas por cobrar aquilo que talvez eu não tenha o direito de cobrar. Aliás, não se trata de cobrança.

            Ficam aqui as sugestões, especialmente aquela que formulei no início, isto é, um programa voltado para essas pessoas que estão - digamos - se aproximando do grande encontro, que se mantêm dentro de casa, até pelas dificuldades de locomoção.

            Eu fico imaginando a felicidade que teria tido meu pai - e ele se sentia feliz todos os dias ao assistir à televisão de vocês, essa seria uma a mais - se alguém na televisão de vocês se dirigisse a ele: “Olhe, senhor velhinho que está aí sentado nos assistindo, o que o aflige? O que o incomoda? O que a gente pode fazer? Sobre o que a gente pode conversar com o senhor a partir desta emissora? Quais assuntos o senhor gostaria de ver encaminhados?” Eu tenho a impressão de que ele teria dado um pulo da cadeira de tanta alegria, de tanta satisfação.

            Portanto, ficam aqui as minhas sugestões. Renovo aqui o meu apreço, a minha admiração pelo simples fato de vocês existirem, de persistirem e de resistirem nesse mundo da mídia brasileira. Eu acho que é uma coisa difícil vocês estarem lá. Acredito que deve ser muito difícil, mas não desistam. Perseverem, porque milhões de brasileiros contam com isso, contam com vocês que fazem a TV REDEVIDA. Procurem fazê-la cada dia melhor, para que a interação entre vocês e o povo brasileiro seja também cada vez maior.

            Muito obrigado. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/06/2010 - Página 29974