Discurso durante a 103ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comemoração dos 15 anos da Redevida de Televisão.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. TELECOMUNICAÇÃO.:
  • Comemoração dos 15 anos da Redevida de Televisão.
Publicação
Publicação no DSF de 22/06/2010 - Página 29977
Assunto
Outros > HOMENAGEM. TELECOMUNICAÇÃO.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, AUTORIDADE, SENADOR, AUTORIDADE RELIGIOSA, PRESENÇA, HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, EMISSORA, TELEVISÃO, IGREJA CATOLICA, ELOGIO, PROGRAMAÇÃO, PROMOÇÃO, VALOR, CRISTÃO, ETICA, CONTRIBUIÇÃO, FORMAÇÃO, DIGNIDADE, EDUCAÇÃO, CIDADÃO, VALORIZAÇÃO, FAMILIA.
  • ANALISE, IMPORTANCIA, TELEVISÃO, FORMAÇÃO, SOCIEDADE, CRITICA, INVERSÃO, VALOR, AUSENCIA, DIVULGAÇÃO, IMPRENSA, MOVIMENTAÇÃO, IGREJA CATOLICA, ESPECIFICAÇÃO, REALIZAÇÃO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), PERIODO, CARNAVAL.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - O companheiro Presidente Mão Santa tem muitas qualidades, mas ninguém é perfeito: ele tem defeitos. E o defeito é que ele nem sabe o que é público e o que é privado. Então, nossa amizade o leva até essa intimidade; e termina ele falando de público e me deixando aqui numa posição muito sem graça pela gentileza. Agradeço muito a meu querido amigo Mão Santa.

            Senador Arthur Virgílio, nosso Líder, primeiro signatário na feliz oportunidade desta reunião; Sr. Presidente da RedeVida, Sr. João Monteiro de Barros Filho, acho que nós, depois de certo tempo, devíamos tirar o “Filho”, pois quando ficamos com os cabelos brancos, aquela coisa toda, o “Filho” já podia ficar fora; Presidente da Diretoria Executiva do Instituto Brasileiro de Comunicação Cristã, Imbrac, Sr. Marcelo Aparecido Coutinho da Silva; Sua Excelência Reverendíssima Arcebispo do Rio de Janeiro, D. Orani João Tempesta. Está aqui, mas não estou vendo o Secretário-Geral da CNBB, D. Dimas Lara... (Pausa.) Já foi. Eu me lembrei do senhor, D. Dimas, não sei se o senhor tem se lembrado de mim; Conselheira do Instituto Brasileiro de Comunicação Cristã, Imbrac, Srª Antônia Accarino Mucciolo; senhores representantes religiosos; senhoras e senhores, é evidente que não se pode imaginar hoje uma sociedade sem televisão, que não se pode imaginar hoje uma sociedade sem as imagens do noticiário, sem as novelas, sem a Copa do Mundo em tempo real, sem o mundo na nossa sala, ao vivo e em cores.

            O homem, de certa forma, parece sentir-se dono da história e poder, ao controlar o controle remoto, com um botão a distância dos seus dedos, mudar o mundo nas distâncias e nas atitudes que bem entender.

            Com a televisão, tudo parece acontecer debaixo da nossa janela. Cada vez mais, ela não apenas nos traz a notícia. Interativa, nos faz protagonista da cena. A televisão, agora, não apenas tem cor, tem gosto também. Mas também, muitas vezes, cada vez mais, esse processo tem tido muitas dúvidas e interrogações. É que a televisão, de uma maneira geral, transformou-se - perdoe-me a sinceridade - num mero instrumento de mercado. E o mercado nem sempre se rege por sentimentos de pudor. O mercado, por definição, não se move pelo ser, mas pelo ter. Referências externas no lugar dos valores internos.

            Eu, já velho, que também não posso falar nem em filho e quase que nem em neto, fui do tempo em que a formação de uma pessoa - tenho repetido isso inúmeras vezes, inclusive na RedeVida de Televisão - era construída por um tripé: a família, a escola e a igreja. Uma verdadeira santíssima trindade, dividida e complementada pelo pai, pelo professor e pelo padre ou pastor.

            Construíam-se, portanto, valores internos. Eu sou, agora, do tempo em que a trindade é substituída pela unidade: é que a família, a escola e a igreja foram substituídas pela televisão. A televisão faz às vezes o papel da família, faz às vezes o papel da escola e faz às vezes o papel da igreja.

            O circulo de quando eu fui deu lugar ao semicírculo de quando eu sou. Antes, quem ditava as regras era o pai, era o mestre, era o pastor, era o padre. Agora, é a televisão. Antes, as regras eram para o “ser”, para alguém ser; agora, é para o “ter”, para alguém ter.

            Daí a importância da televisão. Daí a preocupação com a televisão. Daí, também, a necessidade de uma televisão que forme, que eduque, que valorize o “ser”, não apenas o “ter”.

            Longe de mim marchar contra a corrente tecnológica, nem contra todos os “sinais dos tempos”, nem, obviamente, querer revogar as leis do mercado. Quem sou eu para isso? Os avanços tecnológicos e a chamada “globalização” são quase que irreversíveis. Mas eu temo que não sejamos mais nós que apertamos os botões do controles remotos. Nós é que, cada vez mais, nos movemos mais rapidamente por controles acionados pelos que querem, agora, que “tenhamos”, não importa que sejamos.

            Vem daí a grande importância de uma rede de televisão como a RedeVida. De certa forma, é a volta, em momentos heróicos, da trindade. É a tecnologia a serviço da família, da escola e da igreja. É a tecnologia a serviço do “ser”. É a tecnologia a serviço da formação dos melhores valores, dos maiores valores, do quanto melhor, melhor para o cidadão.

            Eu fico imaginando - e não fico só imaginando -, com alguns amigos que eu vejo daqui, eu tenho acompanhado as dificuldades dos idealizadores e dos construtores da RedeVida nesses 15 anos. De certa forma, é uma marcha contra a corrente. Quantas, Sr. Presidente, devem ter sido e quantas devem ser as tentações do mercado! Eu imagino que, quanto maior o número de telespectadores, ao longo desses 15 anos, mais frondosa tenta ser, mais frondosa tentou ser e mais frondosa tentou se mostrar a árvore proibida.

            Eu diria que a RedeVida não é, apenas, uma rede de “televisão da família”, tampouco uma “televisão da Igreja”.

            A REDEVIDA é uma televisão da Família, da Escola e da Igreja. Sendo assim, ela é uma televisão para a formação do ser verdadeiramente humano: com caráter, com personalidade, com dignidade, querendo ocupar o seu espaço e na vida que Deus lhe destinou, e, fruto da sua luta, ele vai conquistar.

            Tenho reiterado, quando analiso o papel da televisão na formação da sociedade - falo com a maior sinceridade -, que já não sei mais se é a arte que imita a vida ou o contrário, a vida que imita a arte, se é o noticiário que inspira a novela ou se é o personagem da vida real que se espelha na ficção.

            Temo quando ouço um dos nossos melhores novelistas dizer que há que se inverter os valores para se ganhar o público. Um dos melhores novelistas de televisão, dos mais aplaudidos, disse isto. Disse isto a mim numa pergunta que lhe fiz numa Comissão do Senado. Disse que há que se inverter os valores para se ganhar o público, que as pesquisas qualitativas dão conta de que as melhores referências nem são as que dão tanta audiência. A dignidade, a seriedade, a correção do personagem às vezes perde feio para a cretinice, para a imoralidade, para a safadeza do outro personagem.

            O que teria levado a essa situação? Que papel desempenhou a própria televisão nessa inversão de valores? Ela veio a reboque, e agora se aproveita dessa situação, ou ela contribuiu para que o público ache enfadonhos aqueles mesmos valores que aprendemos antes com nossos pais, com nossos mestres, com os padres, com os pastores?

            Eu não tenho dúvida. A televisão é muito mais agente ativo do que passivo nesse processo. As crianças ficam, hoje, mais tempo na frente da TV do que sentadas nas carteiras da escola ou sentadas à mesa na sala com os pais. O apelo ao consumo é tão convincente que o jovem faz tudo o que está e o que não está ao seu alcance para acompanhar a moda, a grife, nem que seja através da violência, do roubo.

            Cá entre nós, o noticiário, quando dá audiência, vira uma verdadeira novela da vida real. E só de crime. Não que a vida real não seja aceita e não esteja cheia de fatos dignos, corretos, decentes, respeitáveis. Mas isso não vai para o noticiário. Tem que ser o escândalo!

            Eu me lembro de quando eu falava, certa feita - e nem era para a televisão, era para um jornal -, com um amigo meu, diretor de jornal. Lá pelas tantas... É verdade que era a época dura da ditadura, quando havia uma pressão violentíssima nos jornais, mas eu, amigo, fui procurá-lo e indaguei por que só o lado negativo aparecia; perguntei por que eles não publicavam as coisas positivas que, apesar de tudo, existem.

            Olha... Lá se vão 40 anos, e a Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, modéstia à parte, naquela época, era uma Casa de dignidade, de seriedade, de atos de coragem contra o rigor da ditadura militar.

            Por que essas coisas boas não podem ser publicadas; só o lado negativo? E ele me respondeu: “Olha, meu filho, o jornal existe para publicar notícia importante. O povo quer saber de notícia importante. Tu és Deputado, faz o seu dia a dia, o feijão com arroz, cumpre a sua obrigação, é um cara sério. É a tua obrigação. Tu estás eleito para isso e foi pago para isso, recebe para isso. Não é notícia! Tu queres ser notícia? Faz um projeto realmente espetacular, monumental, que tenha manchete, que tenha novidade. Aí é importante. Ou, então, o lado negativo: uma vigarice, uma cachorrada é importante.”

            Aí, me deu um exemplo concreto: “Tu, agora, vais sair daqui e vais embora. Anda ali pela rua e um cachorro morde a tua perna. Nem vem me contar, porque não sai em lugar nenhum do jornal. Não é notícia. Qual é a notícia que vai sair? A de que um cachorro mordeu a perna do Simon? Quer ser capa de jornal? Capa? Eu te garanto: desce na rua e morde um cachorro. Aí, tu és capa de jornal.” Essa é a realidade. É difícil fazer televisão assim. Então, como é difícil um cidadão morder um cachorro, sai no jornal. Não sai no jornal quando o cidadão é mordido por um cachorro, porque mordida de cachorro todo dia acontece.

            Eu falava aqui - e já falei várias vezes - que fiquei emocionado quando participei, no Carnaval, aqui em Brasília, lá no estádio de esportes, com milhares e milhares de jovens, e - o que até me chamava a atenção - cantando, fazendo os festejos de Carnaval, num retiro espiritual.

            Eu vim aqui, na sexta-feira, e disse que não entendi por que não tinha saído uma notícia em jornal nenhum. E essa era uma notícia importante! Está certo que os jornais todos saíram com páginas e páginas e páginas do Carnaval, porque o Carnaval era a notícia, era a grande notícia. Mas aquele era um fato diferente. Lotado. Milhares de pessoas passaram três dias ali, fazendo um retiro, em plena quarta, quinta, sexta, sábado e domingo de Carnaval. Também era notícia. Nenhuma palavra. Absolutamente nenhuma palavra em nenhum jornal no Brasil inteiro.

            Uma série interminável de capítulos de novelas produzidos em ilhas de edição que, infelizmente, deixam no ar um gostinho de “quero mais”, mesmo que seja a reiteração da violência.

            Há um muro a nos dividir: de um lado, quem consome, ou quem tem dinheiro para consumir; do outro lado, aqueles que se convencionou chamar de “fora do mercado”.

            A televisão é a grande instigadora para que, do lado dos “incluídos”, cada vez mais, conjugue-se o verbo “comprar” - assistem à televisão pensando em comprar -, e, do outro lado, muito mais gente transponha esse mesmo muro. Não necessariamente para que esses “excluídos” se tornem cidadãos, mas para que se transformem, suficientemente, em “consumidores”. Para que “tenham”, não importa “quem” e “se” são.

            Que a REDEVIDA tenha energia para continuar remando contra a maré. Para a REDEVIDA, transpor esse muro da vergonha significa ser, verdadeiramente, cidadão. Ela instiga valores interiores do ser, e não exteriores do ter.

            Embora permaneça o semicírculo, a programação da REDEVIDA nos transporta para uma discussão de família, um aprendizado de escola e uma reflexão de Igreja.

            A programação da REDEVIDA não se preocupa em transportar o mundo para dentro da nossa casa, frio, calculista e aliciador, mas nos faz partícipes da notícia, através da reflexão, do debate e da contextualização.

            Que esse modo de ser da REDEVIDA contamine todas as nossas emissoras para que elas não se preocupem tão-somente com o modo de ter, mas com o modo de ser.

            Meus irmãos da REDEVIDA, continuem sendo vida!

            Muito obrigado. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/06/2010 - Página 29977