Discurso durante a 103ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem pelo transcurso dos 139 anos da colonização italiana no Rio Grande do Sul.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. DISCRIMINAÇÃO RACIAL. PREVIDENCIA SOCIAL.:
  • Homenagem pelo transcurso dos 139 anos da colonização italiana no Rio Grande do Sul.
Publicação
Publicação no DSF de 22/06/2010 - Página 30458
Assunto
Outros > HOMENAGEM. DISCRIMINAÇÃO RACIAL. PREVIDENCIA SOCIAL.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, IMIGRAÇÃO, DESTINO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), CIDADÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ITALIA, COMENTARIO, HISTORIA, COLONIZAÇÃO, IMPORTANCIA, CONTRIBUIÇÃO, IMIGRANTE, PROMOÇÃO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, FORMAÇÃO, CULTURA.
  • ANUNCIO, POSSIBILIDADE, SANÇÃO PRESIDENCIAL, ESTATUTO, IGUALDADE, RAÇA, PROXIMIDADE, MES, IMPORTANCIA, PROPOSIÇÃO, COMBATE, DISCRIMINAÇÃO RACIAL, REGISTRO, CONTINUAÇÃO, LUTA, EXTINÇÃO, FATOR, NATUREZA PREVIDENCIARIA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Senador Mão Santa, hoje pela manhã, tivemos uma sessão do Congresso em homenagem aos 139 anos da imigração italiana no Brasil. Foi uma sessão solicitada por mim e pelo Vice-Presidente da Câmara, Deputado Marco Maia.

            Senador, como eu tive problema com o meu voo - era para estar aqui às 10 horas, mas só consegui chegar a uma hora da tarde -, o Deputado Marco Maia leu uma pequena mensagem que mandei em meu nome e também em nome dos outros dois Senadores do Rio Grande, ou seja, em meu nome e no nome do Senador Zambiasi e do também Senador, nosso inesquecível Pedro Simon.

            Permita-me, Senador Mão Santa, que eu faça parte, pelo menos, da leitura do pronunciamento previsto para hoje de manhã, Peço a V. Exª que o considere na íntegra.

            Sr. Presidente, há 139 anos o Brasil recebia em seus braços os imigrantes italianos. Todos somos testemunhas da contribuição dessa gente à construção do Brasil.

            Quero falar um pouco sobre a colonização italiana em meu Estado, o Rio Grande do Sul. Os primeiros italianos chegaram lá há 135 anos.

            O Estado do Rio Grande do Sul recebeu os imigrantes que aqui desembarcaram em 1835. Substituíram, naquele momento, os colonos alemães que, a cada ano, chegavam em menor quantidade. Quero dizer da importância também dos imigrantes alemães na formação do meu Estado. Os colonos italianos foram atraídos para a região para trabalharem como pequenos agricultores e foram-lhes reservadas terras selvagens na encosta da Serra Gaúcha.

            Na região, foram criadas as primeiras três colônias italianas: Conde D’Eu, Dona Isabel e Campo dos Bugres, atualmente as cidades de Garibaldi, Bento Gonçalves e Caxias do Sul, respectivamente. Com o tempo, os italianos passaram a subir as serras e a colonizá-las. Com o esgotamento de terras na região, esses colonos passaram a migrar para várias regiões do meu Rio Grande.

            A base da economia na região italiana, Senador Mão Santa, foi e continua a ser a vinicultura, quando extraem da terra a uva e o vinho. É claro que hoje a Região Sul é também um grande polo mecânico, metalúrgico, enfim, das mais variadas áreas, como a moveleira e a calçadista. Atualmente, essas áreas da colonização italiana produzem com certeza os melhores vinhos - tenho a ousadia de dizer - do continente americano.

            No centro do Estado, foi criada a Quarta Colônia de Imigração Italiana, o primeiro reduto de italianos fora da Serra Gaúcha, o que originou Municípios como Silveira Martins, Ivorá, Nova Palma, Faxinal do Soturno, Dona Francisca e São João do Polêsine. Neste último, está a localidade do Vale Vêneto, nome dado para homenagear a região italiana.

            Outras colônias italianas foram criadas e deram origem a cidades como Farroupilha, Flores da Cunha, Antônio Prado, Veranópolis, Nova Prata, Encantado, Nova Bréscia, Coqueiro Baixo, Guaporé, Lagoa Vermelha, Soledade, Cruz Alta, Jaguari, Santiago, São Sepé, Caçapava do Sul, Cachoeira do Sul e outras.

            Sr. Presidente, estima-se que imigraram para o Rio Grande do Sul 100 mil italianos, entre 1875 e 1910. Em 1900, já viviam no nosso Estado 300 mil italianos e descendentes.

            Atualmente, vivem no Rio Grande do Sul mais de três milhões de italianos e descendentes, representando cerca de 30% da população do Estado.

            Sr. Presidente, quero aqui falar um pouco das inúmeras contribuições dos italianos para o Brasil, para a nossa cultura e para o meu querido Rio Grande. Introdução de elementos tipicamente italianos no catolicismo de algumas regiões do Brasil (festas, santos de devoção, práticas religiosas).

            Destaco aqui e faço uma pausa para citar festas que todos os Srs. Senadores e o povo brasileiro deveriam conhecer. Temos, no Rio Grande, a Festa da Uva, a Festa do Vinho, a Festa da Polenta, a Festa do Queijo e tantas outras atividades.

            Diversos pratos foram incorporados à alimentação brasileira, como o hábito de comer panetone no Natal, de comer pizza, espaguete, tortei, sopa de agnolini, carne lesa, o frango, como falamos lá, a menarosto, além da popular polenta frita.

            O sotaque dos brasileiros (principalmente na cidade de São Paulo, o sotaque paulistano), na Serra Gaúcha, no sul catarinense e no interior do Espírito Santo tem a marca dos italianos.

           A introdução de novas técnicas agrícolas, que aconteceu em Minas Gerais, em São Paulo e em toda a região Sul.

            A imigração italiana no Brasil também serviu de inspiração para várias obras artísticas, televisivas e cinematográficas, como as telenovelas Terra Nostra e Esperança e o filme O Quatrilho, que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro, como a atual novela dita das oito.

            Acredito, Sr. Presidente, que todos saibam que sou natural de Caxias do Sul. Estudei em Caxias, trabalhei em Caxias, saí de lá com 30 anos de idade. Tenho grandes recordações, Sr. Presidente, muitas recordações da minha cidade natal.

            A colonização italiana é muito forte naquela região. Lembro dos melhores momentos da minha vida, da minha infância, da minha adolescência. Eram férias no colégio quando eu era convidado pelos jovens meninos italianos e meninas para passar as férias na colônia. Lá eu aprendi a mexer na terra, a colher a uva, a fazer o vinho de forma artesanal. Lá eu tomava o café com salame, queijo, polenta, coisas de que eu jamais vou esquecer. Havia uma afinidade muito grande entre esse hoje Senador negro e a meninada italiana.

            Como vou esquecer das pescarias nos rios, no Trinta, no Quarenta, no Sessenta, em Nova Bréscia, em Galópolis, no Desvio Rizzo, em Forqueta ou lá em Flores da Cunha. 

            Grande momento da minha vida. Aquele verão, Senador Mão Santa, correndo pelos campos, brincando com a meninada, onde não tinha essa história de negro ou de branco... Doce adolescência! Como foi bom viver naquela região.

            Quando volto lá hoje, ainda, o carinho do povo da serra, da minha cidade natal e das cidades próximas, é enorme. Só tenho agradecimentos a fazer a esse povo de coração quente, de fala amigável e festiva, de mãos calejadas pelo trabalho duro com a enxada, com a foice ou mesmo no trator. Sinto o maior orgulho, claro, Sr. Presidente, Senador Mão Santa, de ser gaúcho, de ser caxiense, terra de gente amiga, de boa comida e de vinhos espetaculares. Terra bonita de ser ver, é um cenário que encanta a todos.

            Tudo que posso dizer para concluir, Sr. Presidente, é muito, muito obrigado a toda a comunidade italiana, independentemente da região. Muito obrigado aos imigrantes italianos, que nos deram a honra de trabalhar a terra e de fazer do Brasil esta Nação gigante.

            Escrevi um livro, que foi, Sr. Presidente, na Praça Central distribuído - autografei todos, tanto na capital Porto Alegre, como em Caxias -, um livro chamado Pátria Somos Todos, onde falo de todos, dos italianos e de todas as etnias que formaram o povo do Rio Grande. Esse livro esgotou-se.

            Eu diria, mais uma vez, que, se puderem, leiam-no. Falo ali dos italianos, dos alemães, dos polacos, dos japoneses, falo dos franceses, falo dos africanos, enfim, falo de todas as etnias, e claro que dediquei um capítulo especial ao povo italiano.

            Meus vivas à imigração italiana no Brasil. Meus vivas a cada um de vocês, homens e mulheres de coração e mãos abertos para o novo. Vocês fazem história!

            Muito, muito obrigado, pela forma carinhosa como sempre me receberam, seja pelo empresariado, seja pelos trabalhadores, seja pelos agricultores, seja pelos produtores de uva, de vinho, seja pelas empresas, seja pelos sindicalistas, Sr. Presidente, das mais variadas áreas, seja pelos poetas da cidade, seja pelos escritores daquela região.

            Termino, Sr. Presidente, somente pedindo a V. Exª que considere na íntegra o meu pronunciamento hoje em homenagem aos 139 anos da imigração italiana no Brasil.

            Sr. Presidente, quero ainda dizer que, provavelmente no mês de julho, o Presidente Lula vai sancionar o Estatuto da Igualdade Racial, que combate todos os tipos de preconceitos, contra o negro, contra o branco, contra o índio, contra o cigano, não importando a etnia, raça ou procedência. Isto é o que demonstra o Estatuto da Igualdade Racial.

            Quero dizer também que, neste momento histórico, eu lembro do Estatuto do Idoso, também aqui aprovado. Lembro-me da PEC Paralela, aqui aprovada. Lembro-me dos 7,72%, aqui aprovados, em que trabalhamos, articulamos e V. Exª, Senador Mão Santa, ajudou, assim como o Senador Marco Maciel, e que hoje é lei. Eu poderia lembrar de tantas iniciativas que aprovamos ao longo desses oito anos. Mas quero dizer para os pessimistas, aqueles que sempre ficam querendo prever a derrota: parem de ser pessimistas!

            Nós conseguimos avançar muito, num trabalho permanente, insistente e com otimismo. Eu lia, na sua mesa, Senador Mão Santa, um livro que V. Exª tem e que fala do otimismo, e por isso resolvi terminar a minha fala. Então, àqueles que estão pessimistas e acham que a gente não vai, um dia, de uma forma ou de outra, acabar com esse fator previdenciário, quero dizer que eles verão que a gente vai escrever uma história diferente. Todos os alvos que perseguimos atingimos. Vamos atingir também uma mudança profunda, para que não haja mais o fator previdenciário.

            O otimismo, para mim, Senador Mão Santa, é o coração do sucesso; o pessimismo é o símbolo da derrota. V. Exª já falou da tribuna e eu repito: o otimista acaba sendo um vitorioso, porque aprende até chegar à batalha final e conseguir a vitória; o pessimista nem vai à luta porque ele acha que já está derrotado por antecipação. Por isso, vamos...

(Interrupção do som.)

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - ... no otimismo, não se joga a toalha, cada dia a gente avança um passo, até conseguir a vitória final. 

            Muito obrigado.

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, DISCURSO PROFERIDO PELO SENADOR PAULO PAIM.

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           O SR. PAULO PAIM (Bloco/ PT - RS. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é com muita alegria e muita honra que venho saudar nessa Sessão Solene os imigrantes italianos que ajudaram a construir o nosso país.

           Essa sessão foi solicitada por mim e pelo Deputado Marco Maia para comemorar os 139 anos da chegada dos imigrantes italianos no Brasil.

           De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foram muitas as nacionalidades de imigrantes que vieram para o Brasil desde as primeiras décadas do século XIX.

           A importância deste grupo no movimento migratório europeu que teve como destino o Brasil, é enorme por várias razões:

           Uma delas é de ordem quantitativa: entre 1870 e 1920, momento áureo do largo período denominado como da "grande imigração", os italianos corresponderam a 42% do total dos imigrantes entrados no Brasil, ou seja, em 3,3 milhões pessoas, os italianos eram cerca de 1,4 milhões.

           Os italianos, como todos os demais imigrantes, deixaram seu país basicamente por motivos econômicos e sócio-culturais. A emigração, que era muito praticada na Europa, aliviava os países de pressões sócio-econômicas, além de alimentá-los com um fluxo de renda vindo do exterior, em nada desprezível, pois era comum que imigrantes enviassem economias para os parentes que haviam ficado.

           No caso específico da Itália, depois de um longo período de mais de 20 anos de lutas para a unificação do país, sua população, particularmente a rural e mais pobre, tinha dificuldade de sobreviver seja nas pequenas propriedades que possuía ou onde simplesmente trabalhava, seja nas cidades, para onde se deslocava em busca de trabalho.

           Nessas condições, portanto, a emigração era não só estimulada pelo governo, como era, também, uma solução de sobrevivência para as famílias. Assim, é possível entender a saída de cerca de 7 milhões de italianos no período compreendido entre 1860 e 1920.

           A imigração subvencionada era a facilitação ou concessão de auxílio em dinheiro para a compra de passagens de imigrantes e para sua instalação inicial no país. Aprovada em 1871, logo após a Lei do Ventre Livre, foi, inicialmente, uma iniciativa de fazendeiros. No decorrer do tempo, entretanto, a participação destes foi sendo transferida cada vez mais para os governos, provinciais e imperial, até 1889, e posteriormente estaduais e federal.

           Pois bem, a imigração subvencionada se estendeu de 1870 a 1930 e visava a estimular a vinda de imigrantes: as passagens eram financiadas, bem como alojamento e o trabalho inicial no campo ou na lavoura. Os imigrantes se comprometiam com contratos que estabeleciam não só o local para onde se dirigiriam, como igualmente as condições de trabalho a que se submeteriam.

           Como a imigração subvencionada estimulava a vinda de famílias, e não de indivíduos isolados, nesse período chegavam famílias numerosas, de cerca de uma dúzia de pessoas, e integradas por homens, mulheres e crianças de mais de uma geração.

           Um dos destinos dos imigrantes italianos foram as cidades. Dentre elas, destacam-se São Paulo, que recebeu o maior contingente desta nacionalidade, e o Rio de Janeiro com seus arredores, por ser a capital do país e um dos portos mais importantes de chegada de imigrantes.

           Em São Paulo, que chegou a ser identificada como uma "cidade italiana" no início do século XX, os italianos se ocuparam principalmente na indústria nascente e nas atividades de serviços urbanos. Chegaram a representar 90% dos 50.000 trabalhadores ocupados nas fábricas paulistas, em 1901.

           No Rio de Janeiro, rivalizaram com portugueses, espanhóis e brasileiros. Em ambas as cidades os imigrantes italianos experimentaram condições de vida e de trabalho tão árduas quanto as encontradas no campo.

           Como operário industrial, o imigrante recebia baixos salários, cumpria longas jornadas de trabalho e não possuía qualquer tipo de proteção contra acidentes e doenças...

           ... Assim como no campo, era muito comum que todos na família tivessem que trabalhar, inclusive mulheres - muito usadas nas fábricas de tecidos e indústrias de vestuário - e crianças, mesmo menores de 12 anos.

           Na condição de operários, era muito difícil ao imigrante melhorar de vida, financeira e socialmente. Portanto, não era raro que italianos e estrangeiros em geral desejassem trabalhar por conta própria, realizando serviços e trabalhos tipicamente urbanos nas maiores cidades brasileiras.

           Eram os mascates, artesãos e pequenos comerciantes; motorneiros de bonde e motoristas de taxi; vendedores de frutas e verduras, tanto como ambulantes, como em mercados; garçons em restaurantes, bares e cafés; engraxates, vendedores de bilhetes de loteria e jornaleiros.

           Se as condições de trabalho eram insalubres, acontecia o mesmo com as moradias, já que com frequência os imigrantes se instalavam em habitações coletivas - os cortiços - ou nas "favelas", situadas nos morros. Por outro lado, em algumas cidades, podiam morar em determinados bairros étnicos - como o Brás e o Bexiga, em São Paulo - onde contavam com a cooperação e solidariedade dos vizinhos, o que em muito aliviavam seus trabalhos cotidianos.

           A luta por uma identidade italiana (italianitá) foi uma batalha que os imigrantes, e seus descendentes, tiveram que travar em terras brasileiras.

           Nesta luta tiveram papel importante muitas instituições, dentre as quais, a Igreja, a escola, as associações beneficentes, profissionais e recreativas e também a imprensa.

           A Igreja Católica, através de um clero italiano e de todo seu poderio no interior da sociedade brasileira, foi fundamental. Os laços entre catolicidade e italianitá são estreitos, desdobrando-se nos espaços de ensino e lazer, onde as escolas religiosas e as festas dos santos padroeiros das aldeias sempre foram o grande destaque.

           Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, há 139 anos o Brasil recebia em seus braços, os imigrantes italianos e todos somos testemunhas da contribuição dessa gente na construção do Brasil.

           Quero falar um pouco sobre a colonização italiana em meu estado, o Rio Grande do Sul. Os primeiros italianos chegaram lá há 135 anos.

           O Estado do Rio Grande do Sul recebeu os primeiros imigrantes que aqui desembarcaram em 1875, para substituírem os colonos alemães que, a cada ano, chegavam em menor quantidade. Os colonos italianos foram atraídos para a região para trabalharem como pequenos agricultores e lhes foram reservadas terras selvagens na encosta da Serra Gaúcha.

           Na região foram criadas as primeiras três colônias italianas: Conde D’Eu, Dona Isabel e Campo dos Bugres, atualmente as cidades de Garibaldi, Bento Gonçalves e Caxias do Sul, respectivamente. Com o tempo, os italianos passaram a subir as serras e a colonizá-las. Com o esgotamento de terras na região, esses colonos passaram a migrar para várias regiões do Rio Grande. A base da economia na região italiana do Rio Grande foi, e continua a ser, a vinicultura.

           Eu vou dizer uma coisa prá vocês, atualmente, essas áreas de colonização italiana produzem os melhores vinhos do Brasil.

           No centro do estado foi criada a Quarta Colônia de Imigração Italiana, o primeiro reduto de italianos fora da Serra Gaúcha e que originou municípios como Silveira Martins, Ivorá, Nova Palma,Faxinal do Soturno, Dona Francisca e São João do Polêsine. Nesse último, está a localidade de Vale Vêneto, nome dado para fazer homenagem a tal região italiana.

           Outras colônias italianas foram criadas e deram origens a cidades como Farroupilha, Flores da Cunha, Antônio Prado, Veranópolis, Nova Prata, Encantado, Nova Bréscia, Coqueiro Baixo, Guaporé, Lagoa Vermelha, Soledade, Cruz Alta, Jaguari, Santiago, São Sepé, Caçapava do Sul e Cachoeira do Sul.

           Estima-se que imigraram para o Rio Grande 100 mil italianos, entre 1875 e 1910. Em 1900, já viviam no estado 300 mil italianos e descendentes.

           Atualmente, vivem no Rio Grande do Sul mais de três milhões de italianos e descendentes, representando cerca de 30% da população do estado.

           Vamos falar um pouco das inúmeras contribuições dos italianos para o Brasil e à nossa cultura:

           Introdução de elementos tipicamente italianos no catolicismo de algumas regiões do Brasil (festas, santos de devoção, práticas religiosas).

           E aqui eu faço uma pausa para citar festas que todos os Senhores e também vocês que me escutam pela TV Senado deveriam participar, se pudessem. Nós temos no Rio Grande a festa da uva, festa do vinho, festa da polenta, festa do queijo e tantas outras.

           Diversos pratos foram incorporados à alimentação brasileira, como o hábito de comer panetone no Natal e comer pizza, espaguete, tortei, sopa de agnolini, carne lesa e frango a menarosto, além da popular polenta frita.

           O sotaque dos brasileiros (principalmente na cidade de São Paulo, o sotaque paulistano), na Serra gaúcha, no sul catarinense e no interior do Espírito Santo.

           A introdução de novas técnicas agrícolas, que aconteceu em Minas Gerais, São Paulo e no Sul.

           A imigração italiana no Brasil também serviu de inspiração para várias obras artísticas, televisivas e cinematográficas, como as telenovelas Terra Nostra e Esperança, e o filme O Quatrilho, que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

           Acredito que todos saibam que sou natural da cidade de Caxias do Sul. A colonização italiana é muito forte na região. Eu lembro que um dos melhores momentos da minha infância eram as férias no colégio, quando então eu era convidado para ir para a colônia. Ah, que férias eram aquelas! Havia coisas deliciosas para comer, salame, queijo, coisas que jamais esquecerei. Havia uma afinidade muito grande entre as crianças e adolescentes que lá brincavam. Nós tomávamos banho de rio naquele calor intenso do verão. Ah, era tudo de bom!

           Eu só tenho agradecimentos a fazer a esse povo de coração quente, de fala amigável e festiva, de mãos calejadas pelo trabalho duro.

           Sinto o maior orgulho de ser gaúcho, de ser caxiense, terra de gente amiga, de boa comida e de vinhos espetaculares. Terra bonita de se ver, é um cenário que encanta os olhos.

           Tudo o que eu posso dizer para finalizar esse pronunciamento é: muito obrigado aos imigrantes italianos que nos deram a honra de trabalhar a nossa terra e fazer do Brasil essa nação gigante.

           Escrevi um livro chamado “Pátria Somos Todos” onde falo de todos, dos italianos e de todas as outras etnias que formaram o povo do Rio Grande do Sul. Se puderem, leiam, é muito interessante.

           Meus vivas à imigração italiana no Brasil. Meus vivas a cada um de vocês, homens e mulheres de coração e mãos abertos para o novo. Vocês fazem história!

           Era o que tinha a dizer.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/06/2010 - Página 30458