Discurso durante a 120ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro da passagem de mais um ano da implantação do Plano Real.

Autor
Marco Maciel (DEM - Democratas/PE)
Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Registro da passagem de mais um ano da implantação do Plano Real.
Aparteantes
Neuto de Conto, Roberto Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 08/07/2010 - Página 34523
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, IMPLANTAÇÃO, REAL, ELOGIO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), GRUPO, ESPECIALISTA, ELABORAÇÃO, PLANO, IMPORTANCIA, MOEDA, REESTRUTURAÇÃO, SISTEMA MONETARIO NACIONAL, COMBATE, SUPERIORIDADE, INFLAÇÃO, EFICACIA, PROGRAMA DE ESTIMULO A REESTRUTURAÇÃO E AO FORTALECIMENTO AO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL (PROER), PRIVATIZAÇÃO, CRIAÇÃO, AGENCIA, REGULAMENTAÇÃO, RENEGOCIAÇÃO, DIVIDA, ESTADOS, MUNICIPIOS, REDUÇÃO, ATUAÇÃO, BANCO ESTADUAL, DEFINIÇÃO, LEGISLAÇÃO, RESPONSABILIDADE, NATUREZA FISCAL, EFEITO, ESTABILIDADE, ECONOMIA, RECONHECIMENTO, AMBITO INTERNACIONAL.

            O SR. MARCO MACIEL (DEM - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Cumprimento o Sr. Presidente Senador Mão Santa, os Srs. Senadores Paulo Paim e Roberto Cavalcanti. Gostaria também de saudar o ilustre representante do Estado do Mato Grosso do Sul, aqui presente, o Senador Valter Pereira, as Srªs e os Srs. Senadores.

            Sr. Presidente, venho à tribuna na tarde de hoje para fazer um registro alusivo à passagem de mais um ano de existência do Plano Real. Na história do Brasil, já temos um lapso de tempo suficiente para afirmar que o ano de 1994, com o lançamento do Plano Real, ficará para sempre como o marco do aperfeiçoamento em nossas instituições políticas e econômicas, da transição de um País sem credibilidade no plano internacional para um parceiro confiável a investidores e governos das nações mais desenvolvidas.

            No período anterior, que se inicia no regime autoritário, quando o País foi duramente atingido pelo aumento brusco dos preços de petróleo, em 1973, e se estendeu até meados da década de 1990, o descontrole da moeda era a característica principal da nossa economia. A inflação era o grande problema macroeconômico do País. A estratégia de desenvolvimento então adotada, fundada no dirigismo estatal e na obtenção de empréstimos internacionais para a construção de infraestrutura com concentração na modalidade rodoviária para o transporte das regiões de produção até os portos, dava provas muito evidentes de sua fragilidade.

            A instabilidade mundial, causada pelo aumento nos custos da energia, levou à disparada dos juros dos empréstimos internacionais anteriormente contraídos. O Brasil precisou priorizar o ajuste externo para continuar a pagar os juros dessa dívida.

            Teve início, como sabemos, então, a sequência de planos de combate à inflação. Todos inicialmente bem-sucedidos e, em seguida, fracassados com estrépito, desde o Plano Cruzado, em 1986, até o Plano Collor, em 1990, passando pelo Plano Bresser, de 1987, e o Plano Verão, de 1989.

            Sr. Presidente Senador Mão Santa, no Plano Cruzado, o índice anual saltou de 65%, em 1986, para 1.477% em 1990. No Plano Collor, de 480%, em 1991, para 2.709%, em 1993. Por aí se vê a disparada que a inflação assumiu, inibindo o nosso processo de crescimento harmônico e sustentado.

            Nos meses finais de 1993 e nos meses iniciais de 1994, o País estava tecnicamente em hiperinflação, para usar uma expressão dos economistas e dos grandes especialistas em ajustes fiscais: cerca de 40% ao mês, equivalentes a mais de 5.500% anuais, uma inflação, consequentemente, que penalizava grandes segmentos da sociedade, sobretudo os mais carentes.

            Essa série de insucessos infundiu na sociedade brasileira um enorme ceticismo quanto à capacidade de o País estabelecer uma exitosa gestão monetária. Embora nos conscientizássemos cada vez mais da impossibilidade de viver e progredir política, social e economicamente com aquela inflação elevada, era generalizada a descrença em relação ao futuro e à retomada do desenvolvimento social e econômico.

            Muitos analistas nos consideravam condenados à estagnação, isto é, ao crescimento zero, o que vale dizer, à inexistência de um processo de avanço do País no plano econômico e, consequentemente, no plano social. Isso porque a inflação alta, como sabemos, prejudica o crescimento econômico, por inibir investimentos produtivos, empurrando empresas para aplicações de curtíssimo prazo.

            A pior consequência socioeconômica da inflação elevada, porém, é o agravamento da concentração da renda, por apenar mais os pobres, desprovidos de mecanismos de proteção contra o rápido aumento dos preços dos artigos de consumo básico. Enquanto as camadas mais ricas recorriam a paliativos, como overnight e as contas-correntes remuneradas, os pobres viam o valor de seus salários desmanchar-se no bolso ao longo do mês, como areia na travessia de um rio.

         Entrementes, Sr. Presidente, amadurecia, entre economistas, o diagnóstico do problema e seu tratamento. Surgiu o chamado conceito de “inflação inercial”, segundo o qual a plena indexação dos contratos da economia, como preços, salários, juros, aluguel, taxa de câmbio, era o fator crucial que impedia a interrupção da marcha inflacionária.

             Foi-se consolidando, portanto, Sr. Presidente e Srs. Senadores, a ideia segundo a qual a inflação, a partir de certo patamar, passa a ser reproduzida de um período para o seguinte. É o que se chamou, repito, “inércia inflacionária”: os agentes econômicos desenvolvem mecanismos de proteção contra a corrida dos custos, com preços e salários sendo corrigidos pela inflação passada, o que apenas a repassa, mas não anula os efeitos nocivos desse grande problema, que era a questão inflacionária. 

            A inércia se combinava com os eventuais choques de demanda e de custos, na produção da espiral inflacionária. Aqueles pequenos choques, que, em condições normais, elevariam a inflação temporariamente, eram absorvidos pela indexação generalizada, e seus efeitos se tornavam permanentes. A partir de certo ponto, porém, a inflação subia apenas pelos mecanismos de indexação da economia; aliás, mecanismos que conseguimos expelir no conjunto do Plano Real sem choques relevantes.

            Uma política fiscal e monetária restritiva adiantava pouco, pois os custos da perda do produto e do emprego eram proibitivos pelos riscos de sublevação popular. Diagnostico feito, restava passar a terapêutica: como debelar a inflação inercial? O congelamento de preços e salários, já tentado, era um meio simples, porém, além de pressupor a ausência de choques, a escolha do dia a dia do congelamento sempre implicava o encontro dos agentes em situações diferentes, com alguns havendo reajustado recentemente os seus preços, enquanto outros estavam por fazê-lo. Congelar simplesmente significava gerar, portanto, desequilíbrios na economia, comprometendo a estabilidade buscada, o objetivo essencial do que se definiu através do Plano Real.

            O mérito dos elaboradores do Plano Real foi resolver o problema de maneira brilhante. Não nos podemos esquecer e anotar tão relevante fato.

            A introdução da Unidade Real de Valor (URV), pela MP nº 434, de fevereiro de 1994, transformada, mais tarde, na Lei nº 8.880, impôs a cotação em URV de todos os preços da economia, com valor diariamente corrigido de acordo com a inflação do cruzeiro real, a moeda da época. A engenhosa solução, como todos dela se lembram, consistiu em implantar a plena indexação diária da economia, o que resolveu aquele problema da escolha de um dia “D” para a adoção do plano.

            Depois dos 47%, em junho de 1994, a inflação do cruzeiro real cedeu lugar para a inflação de 5% do real em julho. É bom lembrar que o Plano Real foi implantado no dia 1º de julho de 1994. Em 1995, a inflação anual foi de 15%, caindo para 9% no ano seguinte.

            Tudo isso já demonstra o acerto do Plano Real e, por isso, podemos dizer, sem haver possibilidade de equívoco, que o Plano Real continua sendo o mais bem-sucedido plano de estabilidade fiscal que o País conhece, isso se compararmos com ajustes feitos na República Velha, sobretudo ao longo do início do século XX, e também se quisermos recuar ao tempo em que o Brasil ainda era uma monarquia, era um Estado unitário. Tivemos também planos não bem-sucedidos no período do Império, e o Plano Real segue, certamente, como o mais denso, o mais competente e o de maior duração econômica e que foi capaz de fazer com que o Brasil voltasse a crescer, de forma sustentada, através de providências muitas das quais adotadas ao longo do processo de implementação do Plano.

            A recepção ao Plano Real foi desigual. Enquanto a população em geral o apoiava, confiando que daquela vez a inflação seria finalmente debelada, setores da sociedade manifestavam desprezo, apostando em mais um fracasso de plano de estabilização da moeda.

         O tempo mostrou quem tinha razão, e o Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, responsável maior pela implantação do Plano, venceria as duas eleições presidenciais seguintes, mesmo tendo de enfrentar alguns problemas na economia mundial, que ameaçavam, indiretamente, o Plano Real.

            Com a economia estabilizada, ineficiências deixaram de ser compensadas por ganhos derivados da inflação. Logo, as fragilidades ameaçaram a estabilidade do sistema financeiro e, por consequência, o setor real da economia. Para sanear o sistema financeiro foi concebido o Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer). Aliás, poucos têm exato conhecimento do que consiste o Proer.

            Muitos pensam que o Proer foi um dos projetos do Plano Real e que se voltava para sanear o sistema bancário brasileiro. Na verdade, o Proer foi uma peça importante para que o Plano Real se consolidasse e, certamente, a mais polêmica providência adotada no curso de implementação do Plano Real. Constituiu-se na reestruturação dos ativos e passivos das instituições mais frágeis e na transferência de seu controle acionário para instituições mais sólidas, o que significou, trocando em miúdos, um grande êxito, porque os bancos que estavam saneados e em condições de competir no mercado permaneceram e aqueles que não demonstravam condições para a continuidade de sua operação foram, de alguma forma, assimilados por instituições mais sólidas, garantindo, assim, a continuidade do projeto de ajuste fiscal e financeiro do Plano Real.

            Convém, Sr. Presidente, lembrar também que os recursos para o programa eram do próprio sistema financeiro. O Governo não recorreu ao mercado para retirar recursos que estavam à disposição dos investidores e consumidores. Não foi alocado, é bom repetir, um centavo de recursos do Orçamento da União.

            Há cerca de cinco ou seis anos, eu fui a um programa de televisão e, quando fiz essa afirmação, os entrevistadores se surpreenderam, mas, na realidade, não ocorreu em todo o processo nenhum repasse de moeda do Proer para o setor bancário. Isso mostra, mais uma vez, a seriedade com que o Plano Real foi executado nesse campo e em outros que, a seguir, poderemos comentar.

         Os recursos, Sr. Presidente, para o programa eram do próprio sistema financeiro, não sendo alocado à medida um centavo de recursos do Orçamento da União, como já tive oportunidade de afirmar. Hoje, todos os compromissos têm sido resgatados na forma contratual, mantendo nosso sistema financeiro sólido.

            A estabilidade do sistema financeiro brasileiro nos anos seguintes, inclusive na crise de 2008, mostra a conveniência do Proer. Tivemos momentos de incertezas em 2008 e 2009, preocupados com a repercussão de dificuldades financeiras que os Estados Unidos enfrentaram e que isso fosse perpassar para países da Ásia, da Europa, e que poderia comprometer o Plano Real.

            Na realidade, nada disso aconteceu. O País, graças à tessitura do Plano Real em diferentes segmentos, inclusive com projetos de privatização, com o Proer, com o fim da indexação, etc.

            Tudo isso contribuiu para que pudéssemos partir para algo mais ousado, ou seja, câmbio flutuante, ajuste fiscal e metas de inflação, o que permitiu à economia brasileira resistir à desconfiança advinda das projeções que indicavam a vitória da candidatura oposicionista na eleição presidencial de 2002.

            Vitoriosa a candidatura da oposição, a normalidade foi conquistada à medida que ganhava credibilidade o compromisso do seu Governo com a manutenção da política macroeconômica - leia-se Plano Real - que criticara anteriormente, inclusive com a manutenção do controle da equipe econômica de Deputado Federal eleito pelo Partido que havia perdido o pleito presidencial, no caso, o PSDB.

            Em 2003, a ausência de ruptura e a política de altas taxas reais de juros fizeram baixar a taxa de câmbio e a inflação. De fato, do recorde da era do Real de 26,4%, em 2002, muito provocada pela iminência de a oposição vencer o pleito presidencial - e embora a oposição haja vencido o pleito -, a inflação caiu para 7,7% em 2003, o que mostra, consequentemente, a consistência do Plano Real em mais uma das suas importantes vertentes.

            A economia nacional pôde, portanto, resistir bem à crise de 2008, tendo sido o Brasil um dos primeiros países a retomar a trajetória de crescimento econômico anterior à quebra das hipotecas americanas, que tanto nos preocupou e, por que não dizer, o mundo.

            A solidez das contas públicas, das contas externas e do sistema financeiro nacional - este graças ao Proer, friso mais uma vez - permitiu a utilização anticíclica das políticas fiscal e monetária, minorando os efeitos recessivos da crise, sem prejuízo para o controle da inflação.

            Neste aniversário de 16 anos de sucesso do Plano Real, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, devemos refletir se, mais que um plano de estabilização, o Plano Real tratou-se do início de uma profunda reforma do Estado brasileiro, que perpassou, que reverberou para outros segmentos da atividade econômica.

            Com efeito, o Plano Real, implantado ainda sob o Governo Itamar Franco, foi a peça chave de um conjunto de amplas mudanças realizadas nos dois mandatos do Governo Fernando Henrique Cardoso, que o sucederia.

            Ouço, com prazer, o nobre Senador Roberto Cavalcanti.

            O Sr. Roberto Cavalcanti (Bloco/PRB - PB) - Agradeço-lhe a oportunidade de aparteá-lo, nobre Senador, grande amigo, histórico amigo, de família, de tradições pernambucanas.

            O SR. MARCO MACIEL (DEM - PE) - É verdade.

            O Sr. Roberto Cavalcanti (Bloco/PRB - PB) - Na verdade, em primeiro lugar, quero elogiar V. Exª e parabenizá-lo pela oportunidade do pronunciamento, pelo texto e pela propriedade do momento em que estamos comemorando, nesta semana, os 16 anos do Plano Real. Na semana passada, no dia 30, pegando uma carona nesse mesmo tema, comemorei por antecipação e fiz um pronunciamento da tribuna na qual V. Exª se encontra.

            O SR. MARCO MACIEL (DEM - PE) - Realmente, o Plano entrou em vigor em 30 de junho.

            O Sr. Roberto Cavalcanti (Bloco/PRB - PB) - Foi naquela virada do dia 30 de junho para o dia 1º de julho.

            O SR. MARCO MACIEL (DEM - PE) - Foi uma data muito estudada.

            O Sr. Roberto Cavalcanti (Bloco/PRB - PB) - Foi isso. Isso tinha de ser feito numa virada de mês e, fundamentalmente, na virada do semestre, porque muitas empresas, principalmente os bancos, fazem seus balanços e suas contabilidades no dia 30 de junho, razão pela qual exatamente foi escolhida essa data. Na verdade, eu o parabenizo, fundamentalmente, pela análise histórica, pelo conteúdo do pronunciamento de V. Exª. Posso fazer essa avaliação porque me detive sobre o tema, exatamente para fazer meu pronunciamento da semana passada. Eu faria um comparativo, em homenagem ao Senador Mão Santa, como médico. Atentai, Senador Mão Santa! Senador Mão Santa, atentai! Estou fazendo uma homenagem a V. Exª. Veja que o que acontece na microeconomia, o que acontece no micro acontece no macro. Digamos: quando se faz uma consulta médica a um cardiologista, as primeiras perguntas que o paciente vai ouvir serão sobre quais são seus antecedentes familiares e, por exemplo, se ele é fumante ou não fumante. Por que isso é feito? Nos antecedentes familiares, o médico procura buscar exatamente a história do paciente, para verificar a sua condição genética. Na posição de fumante e em outras perguntas similares, o médico observa o comportamento pessoal do paciente: se ele faz exercício, se ele não faz exercício, se ele teve doença, se ele não teve doença. É o paciente em si. O restante é sua conotação histórica. Permita-me aprofundar-me nessa análise, que, na verdade, é feita exatamente para calçar, alicerçar esse belo pronunciamento que V. Exª está fazendo. No macro, acontece exatamente a mesma coisa: um país é avaliado no sentido de sua história democrática e da sua estabilidade econômica. A história democrática do Brasil veio fundamentalmente com a Constituição de 1988 e com a consagrada estabilidade política que o Brasil alcançou ao longo de todos esses anos. Então, o mundo econômico, o mundo como um todo, dentro dessa globalização, olha o Brasil enfocando exatamente sua cultura democrática, que foi alcançada pelo grande marco da Constituição de 1988, e, ainda dentro do macro - trazendo à análise aquela segunda pergunta, referente ao paciente em si -, sua condição de estabilidade econômica. O Brasil apresenta duas respostas: uma delas foi dada há dezesseis anos, e a outra foi dada desde 1988. Então, a saúde brasileira se deve, fundamentalmente, a esses dois marcos, que são a Constituição, que criou a estabilidade política, e o Plano Real, que criou as condições para a estabilidade econômica. Em razão desses fatores, o Brasil, hoje, navega com relativa tranquilidade e é observado pelo mundo com muito respeito. Nós, que viajamos ao longo de várias décadas e que tivemos a oportunidade de conhecer o mundo que olhava para o Brasil com o maior desprezo, com o maior desrespeito, vemos que, hoje, o cidadão brasileiro viaja pelo mundo vaidoso do seu País, que tem uma economia da forma como V. Exª está externando, fruto exatamente do Plano Real. Parabenizo, mais uma vez, V. Exª!

            O SR. MARCO MACIEL (DEM - PE) - Nobre Senador Roberto Cavalcanti, agradeço o denso aparte que V. Exª ofereceu a meu pronunciamento.

            E devo dizer, lembrando, mais uma vez o 1º de julho de 1994, que o Plano foi lançado sem nenhuma cerimônia, sem nenhum festejo. E isso deixa, claramente, como era sensível aos administradores de então que o Plano tivesse seu pleno êxito. Muitos sugeriram que fizéssemos cerimônias, solenidades, etc. Mas, ao final, o então Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, optou para que se fizesse de forma discreta, como se fosse um dia normal. Assim aconteceu. Foi notável também a resposta da população, posto que no dia 1º de julho de 1994, os bancos abriram, a moeda entrou em plena circulação e os resultados foram extremamente aplaudidos, não somente pelos especialistas, mas também pelo povo, que reagiu de forma - a meu ver - correta, madura, à necessidade de iniciarmos um novo ciclo do nosso processo de crescimento econômico e social.

            Foram eliminadas - vou lembrar algumas coisas aqui - as barreiras constitucionais à entrada do capital estrangeiro, o que limitava muito a nossa capacidade de investir; desestatizou-se a economia; lembro-me de que quando a Vale do Rio Doce chegou à Bolsa de Valores de Nova Iorque o Presidente Anieli fez uma declaração que ainda tenho presente. Ele disse: “Estamos aqui, na Bolsa de Valores de Nova Iorque, porque houve privatização no Brasil, não fora isso - o que aconteceu com o setor de telecomunicações etc. - estaríamos ainda numa posição muito desfavorável no Conselho Internacional das Nações”; criaram-se as agências reguladoras, seguindo modelo dos países que respeitam as leis de mercado; renegociaram-se as dívidas estaduais e municipais; reduziu-se o papel dos bancos estaduais e - muito importante -, aprovou-se a Lei de Responsabilidade Fiscal, que vem sendo cumprida religiosamente. Oxalá possamos trabalhar para que essa Lei se consolide cada vez mais e se enraíze na consciência do cidadão.

            Quando o cidadão se conscientiza da legitimidade de um processo, ele passa a apoiá-lo e a aderir à execução do programa. Foi o que sucedeu com o Plano Real. Tiveram início os programas de transferência de renda e implantação de políticas públicas, como as da Comunidade Solidária - este Programa, aliás, coordenado sob a direção da antropóloga Ruth Cardoso, cujo desaparecimento tanto lamentamos -, que mudaram a estratégia do Governo na assistência aos menos favorecidos.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a confiança que temos hoje na condição do País de sair da conjuntura global de crise econômica é graças à grande engenhosidade na concepção do Plano Real, com o qual conseguimos não só preservar os seus princípios básicos, mas também assegurar aos administradores a continuidade desse processo. Aliás, é uma saudável prova da maturidade política do País e da Nação, fato que não pode deixar de ser gizado, salientado, pelo fato de estarmos realizando ao mesmo tempo a alternância democrática. Digo sempre que a democracia não se caracteriza apenas pela rotatividade, mas, sobretudo, pela alternância. É isso o que se verifica no Brasil ao longo dos anos, a partir de 1994.

            Todo o sucesso interno do atual Governo - embora se deva reconhecer a sua prudência em preservar as conquistas do Plano Real e a sua liderança na condução das políticas de transferência de renda e combate às desigualdades - decorre da estabilidade obtida nos anos que precederam os seus mandatos. Estabilidade - insisto - fundada no Plano Real e nas medidas de ajuste e nas mudanças institucionais que a acompanharam.

            Até mesmo o protagonismo internacional, que tornou nosso País personagem de expressão global, também está fundado na credibilidade com que o País passou a contar desde o controle da inflação e a atribuição do grau de investimento obtido pela agências internacionais de avaliação.

            Se o Brasil é hoje percebido internacionalmente como um dos países emergentes de maior potencial para influenciar decisões em fóruns globais e em organismos internacionais, como a ONU e o MERCOSUL - este, aliás, em crise -, essa credibilidade se deve à administração fiscal e monetária responsável, legado do Plano Real e das medidas acessórias da estabilização do Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso.

            A própria expressão, hoje comumente utilizada, de Brics, é uma demonstração do quanto avançamos. Não estamos mais em um limbo do mundo econômico como antes, mas integramos o conjunto das nações que se destacam por seu potencial de atingir, no futuro próximo, um novo patamar na divisão internacional de poder e de influência.

            Quando se fala, Sr. Presidente, em Brics é bom lembrar que o Brasil dele faz parte, mas entre seus membros, dois estão bem à nossa frente: a China e a Índia. Por isso, convém não descurar e continuar investindo na consolidação do Plano Real.

            Sr. Presidente, Senador Mão Santa, a estabilidade econômica, além de possibilitar a retomada do desenvolvimento sustentado, é fundamento também para a estabilidade política e para o próprio avanço nas conquistas democráticas. Mais do que uma conquista econômica, o Plano Real foi o ponto histórico da virada para o papel do Brasil no mundo e para a solução dos nossos crônicos problemas de desigualdade social e regional. Enfim, porque o Brasil ainda é um país que guarda grandes assimetrias regionais e ainda convive com muitas desigualdades de renda entre nossos próprios concidadãos.

            Encerro, Sr. Presidente, dizendo que, ao comemorarmos os 16 anos da implantação do Plano Real, o que celebramos também é o nascimento de um novo Brasil, com mais esperança de sua população e mais confiança com relação ao futuro.

            Muito obrigado, nobre Senador Mão Santa.

            O Sr. Neuto De Conto (PMDB - SC) - V. Exª me concede um aparte?

            O SR. MARCO MACIEL (DEM - PE) - Ouço, com prazer, o Senador Neuto De Conto.

            O Sr. Neuto De Conto (PMDB - SC) - Serei muito rápido, eminente Senador Marco Maciel. Eu estava acompanhando o pronunciamento de V. Exª no gabinete e fiz questão de vir aqui, porque foi um momento histórico também para este Parlamentar. Quando Deputado Federal, fui Relator do Plano de Estabilização da Economia do País. Houve aquelas negociações infindáveis, das quais todos queriam tirar proveito. Havia aqueles que não queriam o Plano, e muitos deles achavam que era melhor haver 80% ao mês de inflação, mais do que 2% ao dia, do que haver uma mudança drástica. Eles pensavam assim com base, é lógico, nos cinco planos anteriores, que não obtiveram sucesso: o Plano Bresser Pereira, o Plano Collor, o Collor I, o Collor II, o Plano Verão. Todos eles, com seu insucesso, fizeram com que todas as deficiências daqueles planos fossem colhidas e com que fosse produzido um plano com sustentabilidade e com muita precisão, trazendo a inflação, que era de mais de 2,5% por dia, para zero. Esse foi o grande achado e, entendemos ainda, foi o grande sustentáculo de toda a trajetória desse desenvolvimento do País. Para se ter uma ideia, Senador Maciel, nosso Produto Interno Bruto (PIB), em 1994, era de R$250 bilhões; quinze anos depois, no ano passado, ele passou a ser de R$2,3 trilhões. Houve um crescimento de 565%, graças à estabilidade, graças à ferramenta colocada para a sociedade brasileira, que deu a oportunidade do trabalho e do ganho. Antes disso, a inflação corroia não somente o salário, mas também o tecido social. Por isso, quero cumprimentá-lo e saudá-lo pela brilhante renovação daquele momento histórico, que, ainda hoje, está fazendo história no País. Muito obrigado.

            O SR. MARCO MACIEL (DEM - PE) - Muito obrigado, nobre Senador Neuto de Conto. Quero dizer a V. Exª que, em rápido aparte, V. Exª lembrou bem as agruras que tivemos no passado, das quais agora estamos livres por causa do Plano Real.

            Isso me faz lembrar um brocado latino que diz conscientia mille testes, quer dizer, a consciência vale por milhões de testemunhos. Foi graças a esses testemunhos que nós conseguimos vertebrar um programa de estabilidade econômica que ainda hoje produz efeitos muito positivos e está ajudando a fazer com que o País se insira na comunidade internacional.

            Muito obrigado, Sr, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/07/2010 - Página 34523