Discurso durante a 123ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Lamento pelo fato de a Senadora Serys Slhessarenko não concorrer à reeleição. Importância da redução da maioridade penal no caso da prática de crimes hediondos.

Autor
Magno Malta (PR - Partido Liberal/ES)
Nome completo: Magno Pereira Malta
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. CODIGO CIVIL. POLITICA SOCIAL.:
  • Lamento pelo fato de a Senadora Serys Slhessarenko não concorrer à reeleição. Importância da redução da maioridade penal no caso da prática de crimes hediondos.
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 08/07/2010 - Página 34846
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. CODIGO CIVIL. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • FRUSTRAÇÃO, AUSENCIA, CANDIDATURA, REELEIÇÃO, SERYS SLHESSARENKO, SENADOR, ELOGIO, VIDA PUBLICA, DEFESA, DIREITOS, MULHER.
  • REPUDIO, PARTICIPAÇÃO, MENOR, HOMICIDIO, MULHER, VINCULAÇÃO, ATLETA PROFISSIONAL, FUTEBOL, DEFESA, REDUÇÃO, MAIORIDADE, IMPUTABILIDADE PENAL, ESPECIFICAÇÃO, CRIME HEDIONDO, CONSTRUÇÃO, ESTABELECIMENTO PENAL, CARACTERISTICA, RECUPERAÇÃO, NATUREZA SOCIAL, OFERECIMENTO, ESPORTE, CURSO TECNICO, IMPORTANCIA, ACOMPANHAMENTO, FAMILIA.
  • APOIO, LUTA, EDUARDO SUPLICY, SENADOR, DIGNIDADE, RENDA MINIMA, CIDADANIA, SUGESTÃO, UTILIZAÇÃO, RECURSOS, ROYALTIES, EXPLORAÇÃO, PETROLEO, RESERVATORIO, SAL.

            O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente Serys Slhessarenko, que fica muito bem como Presidente sempre, lamento, juntamente com os órfãos de Mato Grosso, que V. Exª não seja candidata à reeleição, para voltar para esta Casa e para continuar lutando corajosamente como fez - aliás, foi quando eu a conheci - quando presidiu a CPI do Narcotráfico do seu Estado. V. Exª era só uma Deputada Estadual e a recebi no meu gabinete - eu era Deputado Federal e Presidente da CPI da Narcotráfico -, junto com alguns outros Deputados. Uma mulher determinada, obstinada, substituindo dois outros Presidentes que haviam desistido dessa tal CPI, perigosa. Eu tive oportunidade de lhe passar a minha experiência, de lhe passar ânimo e de lhe dar uma palavra, dizendo que só morremos no dia e na hora de Deus e que morrer lutando é muito mais importante que passar a vida sentado na plateia, vendo o que acontece no palco, sem participar. Depois, tive o prazer de reencontrá-la aqui, como Senadora da República. Ao chegar ao seu Estado e ser informado de que V. Exª não seria candidata, vi a fala tão triste de adversários seus, que honram V. Exª, que reconhecem seu trabalho, do Governador em exercício, com a primeira dama, que tantos cortejos lhe faz, do motorista de táxi, das pessoas simples que me abraçavam na rua, com quem tive oportunidade de tirar fotografia num dia feliz em que o Governador deu um exemplo: entregou 148 carros a 148 Conselhos tutelares. E eu tive o prazer de estar lá, e ele lamentava, com o estafe de Governo, a ausência de V. Exª no processo eleitoral. E nós lamentamos. O Brasil lamenta, eu lamento, até porque sou seu companheiro, seu parceiro. Durante oito anos vi sua luta corajosa, obstinada, em favor dos menores, dos menos favorecidos, dos que precisam mais, a sua coragem. Desta tribuna, assisti V. Exª, três meses atrás, fazer um discurso corajoso com relação ao goleiro do Flamengo. O episódio dele com o Adriano, que envolveu a noiva do Adriano, e ele disse “quem nunca bateu numa mulher?” Essa frase levou V. Exª, com a sua valentia, com a sua adrenalina boa... Porque existem dois tipos de colesterol, o bom e o ruim; o colesterol bom é bom, a adrenalina ruim é ruim, é para o mal, mas a adrenalina boa faz bem. E a sua adrenalina boa é como a de Arthur Virgílio. Arthur Virgílio é adrenalina pura pela Amazônia. E V. Exª foi à tribuna e disse: “Um homem que faz uma afirmação dessas dizendo ‘quem nunca bateu numa mulher?’ é porque já bateu e, daqui a pouco, mata.” Olha!.

            Parece que V. Exª estava anunciando esse episódio desgraçado. Mas não sabíamos que, há três meses, aquela moça já era mãe de um bebê de um mês e que já se havia submetido, segundo depoimento dela mesma nos vídeos que postou, a tomar substâncias abortivas.

            V. Exª, naquele episódio, fez a defesa das mulheres. Não a defesa; V. Exª chamou a atenção para a responsabilidade que nós, como cidadãos, e a Nação precisamos ter com as mulheres. Temos falado de crianças, de velhos, mas precisamos falar das mulheres deste País. A Lei Maria da Penha existe, mas para punir quem já agrediu. Nós precisamos evitar que haja agressão.

            E hoje, perplexo! Não tenho a felicidade, porque isso não é felicidade, mas, no dia em que aprovamos matérias tão importantes, como o aumento da licença-maternidade - respeito à mãe -, a PEC da Juventude - respeito à juventude -, uma jovem... Olhe, no dia da aprovação da PEC da Juventude, uma conquista da juventude, as televisões estão ao vivo mostrando, Senadora Serys... E essa juventude perde V. Exª aqui, perde o seu grito, a sua força. Que Mato Grosso saiba que a primeira denúncia foi sua, o primeiro grito foi seu. E eu vi, quando abri o Google, gente criticando, torcedores falando, e V. Exª nem se importou. Não é a crítica a um profissional, porque ele é um grande goleiro, mas ao seu caráter como homem.

            E lamento, porque guerreiros da vida, como Paulo Paim, José Nery e V. Exª - e já não teremos a senhora nas fileiras aqui -, neste dia em que celebramos essa vitória tremenda dos jovens e das mulheres, uma jovem mulher, mãe há quatro meses, é esquartejada, desossada, e os ossos, enterrados.

            Sou pai de três moças. Meu peito dói tanto, Senadora Serys. Imagino que quase a dor que dói no peito do pai dessa moça, que eu soube que foi internado, ao chegar a São Paulo, Senador Arthur Virgílio. Tenho duas filhas acima de 23 anos e uma de nove anos. Filhas. Quando você olha uma filha, fala: “É a filha!” Os ossos enterrados, cimento, e, segundo depoimento, deram aos cachorros as carnes, para comerem. Que mundo é esse? Que coisa macabra e tenebrosa!

            Eu queria que tudo isso fosse um pesadelo, até porque sou torcedor do Flamengo. Esse rapaz é um grande goleiro. Tenho uma foto em que estou abraçado a ele no Mineirão - ele com a camisa preta, em que está escrito “Todos contra a pedofilia”. Quando o Flamengo entrou no jogo contra o Cruzeiro com a camisa, fui ao vestiário, falei sobre pedofilia, com eles me olhando - ele, Leonardo Moura, essa grande figura, Toró, Marcelinho Paraíba. Ele vestiu a camisa e se abraçou comigo.

            Lamento. É um rapaz que teve uma infância difícil, que foi criado pela avó. Acompanhei a história que a Record fez, quando descobriu a mãe dele, que ele não conhecia. Ele tinha assinado contrato com o Corinthians e depois foi direto para o Flamengo. Fico vendo esse rapaz hoje. Eu estava vendo as fotos, Senador Arthur. Não tive condições de ver os jornais, mas certamente vou vê-los mais tarde - televisados -: a chegada e a prisão. Parece que não existe um troço desse.

            Graças a Deus, não estamos cauterizados pela barbárie, porque nossa alma não se banalizou.

            Há que ter prisão perpétua para crime hediondo neste País! Essa discussão tem que vir à tona. Nós não podemos abrir mão disso. Tenho falado em prisão perpétua para abusador de criança. Mas o crime hediondo, meu Deus do céu! Com o ordenamento jurídico que este País tem, amanhã a progressão de regime vai colocá-lo na rua muito rapidamente. Se não houver uma inversão, e a culpada for a moça que foi soterrada e cuja carne foi comida pelos cães. Eles são inocentes, e ela, culpada.

            Parece uma coisa ensaiada, de teatro. O menor de 17 anos, um homem. Dessa parte da discussão V. Exª não gosta, vou falar sozinho, sem me referir a V. Exª. Um homem de 17 anos de idade, Senador Delcídio Amaral, um homem de 17 anos de idade, Senador Arthur Virgílio, um macho de 17 anos, porque o cara, com 17 anos, está formado no que pensa, no seu raciocínio, nos seus reflexos. E é por isso que sou a favor da redução da maioridade penal. E assume que deu três coronhadas na cabeça dela, que ela já chegou morta.

            Agora, uns são indiciados por sequestro, o crime fica nas costas dele, três aninhos só. Impune, sai com 21 anos, monstrinho preparado para cometer delito de novo. Existe. O que raciocino é o seguinte sobre esse tipo de monstrinho: “Ah, mas vai mandar para uma penitenciária e vai ficar pior”. Não! O cara que está na penitenciária é que tem medo dele, tal a mente criminosa que ele tem.

            E digo o seguinte. Se fazemos redução de maioridade penal, existe elenco de crime. Vamos elencar os crimes hediondos. Redução da maioridade penal para crime hediondo, esse, esse e esse, porque há crime que não é hediondo. Não se vai dar redução da maioridade penal para um menino que roubou um toca-fita. Mas, com esse grau de crueldade, Senador Arthur Virgílio, a moda já pegou. Daqui a pouco, o crime está todo nas costas desse menor e pronto! É preciso que as pessoas que defendem a não redução reflitam, porque aquele que tem a redução da maioridade penal, que tem crime hediondo nas costas e mente criminosa, que pague pelo seu crime em estabelecimento separado. Que o Estado construa estabelecimento preparado, com psicólogos, com lugar para estudar, para praticar esporte, para realmente ser ressocializado. Não é dar redução da maioridade penal e depois jogar no bolsão de miséria das cadeias. Não é isso que eu prego, Senadora Serys! O que prego é que o Estado construa lugares separados para esse tipo de menor que comete crime hediondo premeditado, premeditado, pago.

            Dezessete anos, um homem, um macho! Ora, eu já tive 17 anos, todo mundo aqui já teve, e todo mundo sabe que, quando tinha 17 anos, já era homem. Que ele, então, tendo a redução da maioridade, a maioridade reduzida, que vá para um instituto especializado para ressocializar, em que a família possa estar com ele, em que possa estudar, em que tenha curso profissionalizante, em que ele possa praticar esporte, em que ele seja redescoberto, para ser reintegrado à sociedade.

            Quando falo isso, não estou falando em cadeia de bolsão de miséria. As pessoas que não defendem a redução falam: “Ah, mas vai jogar num presídio. Vai sair pior do que entrou”. Eles são piores do que os caras que estão lá. Os caras é que não os querem lá. Estou falando de ressocialização de fato. Colocar lá dentro professor de educação física, de jiu-jítsu, de esporte; fazer campeões de basquete; escola profissionalizante; local em que a família possa entrar na sexta-feira, ficar com ele até o domingo e sair na segunda-feira. Realmente, fazer virar gente para devolver à sociedade.

            Ora, um homem de 17 anos. E, com o ordenamento jurídico que este País tem, aposto - o telespectador está vendo-me em casa - que amanhã esse crime vai para as costas desse menor de 17 anos, que é um macho, um homem, e, depois, a culpada será até a menina, que o seduziu, que o encontrou na rave, que já teve outros caras, outros namorados. Não importa, era um ser humano, era uma jovem!

            Tentam desqualificar agora pela vida pregressa. Agora não interessa a vida pregressa, o que interessa é a vida humana. O ser humano que foi morto e que foi esquartejado. Não quero aqui crucificar ninguém, porque não quero fazer juízo antes da hora, mas a barbárie que a cada hora se publica, o que se está descobrindo a cada momento... Senador Paim, os direitos humanos têm que valer para a família dessa menina, têm que valer para essa criança. Como vai crescer? Espero que os Direitos Humanos vão visitar a mãe dela, o pai e que não procurem saber se o colchonete em que o Bruno vai dormir é bonzinho, é fininho demais, se o marmitex está quente ou está frio.

            Olhe, desculpe-me, eu sou pai. V. Exª é nova, mas é avó. Pelo amor de Deus, não dá, não dá. Graças a Deus que minha alma não cauterizou, não se banalizou, sabe?

            Eu assisto aqui perplexo, Senadora Serys, por isso afirmo que V. Exª é uma perda muito grande aqui. Olhe como V. Exª vai-se despedindo desta Casa. Gritou o que ninguém gritou, quando ninguém sabia. Olhe como V. Exª vai-se despedindo: da forma mais bonita possível, com a alma de uma guerreira que enxerga além. 

            Disse que “quem bate hoje mata amanhã”. Foi sua frase. Poxa, que felicidade eu fazer este pronunciamento com V. Exª sentada aí. Que felicidade! Prestar homenagem a seu mandato, a seus filhos, a seus netos, à sua comunidade, aos seus adversários, que não aceitam V. Exª ter saído daqui. Falo para o Senador José Nery, meu companheiro, que não está com a alma calcificada, que não fez calo na alma com relação à dor dos que mais sofrem.

            Senadora Serys, à sociedade brasileira, quero pedir aos senhores que estão em casa que se manifestem, que as organizações o façam. Prestem atenção! Nós precisamos discutir a redução da maioridade penal.

            Um homem de 17 anos! Um dirigia, o de 17 anos disse que deu a coronhada, que ela sangrou. Três coronhadas na cabeça. Já chegou morta. É o que está aí nos jornais. E depois: “é só um menor, é uma criança”. “Ele não sabia o que estava fazendo”. “Ele deve ser protegido”. “É preciso ter cuidado”. “Tem de ver se come em marmitex quentinha?” “Tem que ver o colchonete dessa criancinha”. “Como é que ele está”.

            É muito difícil. É muito difícil.

            Senadora Serys, num ordenamento tão ruim, o Presidente Lula sancionou a lei do rastreamento eletrônico, que leva o nome do menino Caíto. No rastreamento eletrônico, a lei chama-se Caíto, criança barbaramente estuprada e assassinada no seu Estado. E, graças à luta de vocês, graças àquele pai tão choroso, sofrido, mas destemido, graças à classe política, que a sociedade tanto critica, que gritou, chiou. Não é? E o tanto que nós temos visto por este País afora, hein, Senador José Nery? Crianças abusadas, mutiladas, usadas, desrespeitadas por autoridades ricas, gente que deveria dar exemplo e não dá.

            Hoje mesmo fiz um discurso aqui, pedindo ao Dr. Sebastião desembargador do Piauí. O Ministério Público denunciou, Senador José Nery, fomos lá. O prefeito de Sebastião Rocha abusando da filhinha do presidente da Câmara, menininha de 8 anos com leucemia, fazendo quimioterapia. E desafiou. E fomos lá no Corrente tentar enxugar a lágrima do Gutão, da esposa e conviver com aquela criança tão dócil, de 8 anos, com leucemia, sendo abusada por esse prefeito, que é o melhor amigo dele. Vi na revista hoje, Senador José Nery, um dos prefeitos mais ricos do Piauí, o Município dele é deste tamanho. Sebastião Rocha é o mais rico.

            E pedi ao Sebastião que dê esse presente à sociedade, ele é pedófilo. Mandei hoje fazer um ofício para ele, em nome da CPI, Senador José Nery, em nosso nome, pedindo a ele celeridade. Meu Deus, onde vamos parar?

            É verdade que penas altas, leis duras... O que resolve é o resgate da família, o que resolve são princípios, é a volta da família, é pai e mãe. No primeiro livro que uma criança aprende a ler, o texto é a vida do pai e da mãe. Se o texto é ruim, a criança vai crescer ruim; se o texto é bom, cresce boa. A Bíblia diz isto: ensine a criança no caminho que deve andar que, quando for grande, não se desviará dele.

            Pois eu conclamo o Brasil inteiro a que comecemos a discutir a redução da maioridade penal. Cadê os matadores de João Hélio? O menor entrou no sistema prisional como herói, porque ele mutilou e destruiu uma criança na rua. O crime é bárbaro e, no crime, quem comete o crime mais bárbaro vira herói. Esse menor aí, de 17 anos, vai entrar na instituição para onde ele vai ser mandado, porque só tem 17 e é uma “criancinha”, como um general, respeitado, porque o cara tem sangue no olho, o cara é bicho solto, o cara é bicho bravo, o cara matou essa menina que foi desossada e cuja carne foi jogada aos cães!

            E nós não estamos livres disso não. A desgraça que bate à porta dos outros hoje pode bater a nossa amanhã. Que Deus guarde as nossas famílias. Que Deus guarde os nossos filhos. Que Deus guarde este País. Que Deus guarde este País.

            Eu pedi à minha assessoria que fizesse um acompanhamento, na Internet, de todas essas matérias. É interessante que eu vi uma entrevista do goleiro Bruno, há uns quatro ou cinco dias, em que ele disse: “Não, eu não tenho nada com isso. Eu ainda vou rir muito desse episódio!” E treinando normalmente.

            Eu lamento pelo fato de um ser humano ter a mente tão ruim. Mas é um ser humano.

            Que a graça de Deus possa alcançá-lo. Que a graça de Deus possa alcançá-lo.

            Aqui eu quero registrar e parabenizar esse delegado de Minas Gerais, o delegado do caso, o Ministério Público.

            Por que não lembrar o promotor do caso da Isabella Nardoni? As autoridades públicas policiais, o Ministério Público têm sido ávidos, têm sido acordados para a defesa dos menores, dos menos favorecidos. Que não haja impunidade, mas que haja justiça e punibilidade na barbaridade desse crime terrível.

            Esse termo... Quando ouvi a gravação telefônica posta lá na Globo News, o cara que falou na rádio de Belo Horizonte diz assim: “a menina foi desossada”; “pagou R$3 mil ao traficante para enterrar a ossada”. Parece que estava falando de um bicho que morreu, das costelas de um boi, de um porco - “as ossadas”.

            Que Deus tenha misericórdia de nós. Senador Delcídio, os nossos filhos, que Deus guarde as nossas famílias. Aliás, a Bíblia diz que se o Senhor não guardar a casa, em vão trabalha a sentinela.

            É lamentável, doloroso, Senador Suplicy, refiro-me a V. Exª porque V. Exª também é um guardião da vida, está aqui, uma história feliz, da Renda Básica, sua grande luta para botar comida na mesa do brasileiro.

            Mas eu, que normalmente sei como terminar meus pronunciamentos, estou rodando feito um peru sem saber se eu encerro, se eu respiro, se eu lamento...

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Permita-me?

            O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES) - ...esse momento triste da vida brasileira. 

            Senador Suplicy.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Prezado, Senador Magno Malta, certamente como V. Exª, estamos todos entristecidos com o crime que aconteceu com aquela que foi namorada do jogador Bruno, do Flamengo, um grande craque - V. Exª mesmo mencionou que o cumprimentou certo dia no Mineirão. E o que terá levado esse grupo de pessoas a cometer uma tragédia com tanta violência? V. Exª aqui, hoje, expressa a indignação de todo o povo brasileiro, inclusive dos amantes do futebol, nós, brasileiros, que tanto torcemos pelo Brasil lá, na África do Sul, que pudemos acompanhar os esforços extraordinários de nossos 23 craques, do próprio Dunga e da sua equipe técnica, mas, a certa altura, infelizmente, não conseguimos chegar lá. A Holanda nos eliminou, mas isso é do esporte. E V. Exª, que é um fã do esporte, ainda há pouco registrava o quão importante é para aqueles jovens que, porventura, um dia tenham cometido crimes que possam ser ressocializados e mencionou que, dentre aquilo que mais pode contribuir para a ressocialização de quem, porventura, cometeu um delito, é a oportunidade de realizar esportes.

            Até V. Exª mesmo mencionou o judô, o jiu-jitsu, outras formas de luta, o boxe. Estou de acordo com V. Exª. É muito importante que todos os que tenham cometido delito tenham oportunidade, em nosso País, de ter condições adequadas de reencontrar-se, de percorrer novos caminhos. Aquelas pessoas que, porventura, nos seus primeiros dias de vida, na sua infância, tiveram condições muito inadequadas, isso possivelmente as leva a cometer crimes muito graves. Senador Magno Malta, V. Exª tem estudado esse tema com afinco e conhecido, porque V. Exª, como Presidente da CPI da Pedofilia, percorreu esse Brasil para verificar in loco e conhecer toda essa problemática tão grave. Fiquei pensando um pouco sobre essa sua motivação. Vou aqui dizer uma coisa. Quando surgiu aqui aquele crime, que V. Exª também comentou, hediondo, a sequência de crimes da pessoa que simplesmente matou seis adolescentes aqui em Luziânia, eu fiquei pensando que seria bom se alguém pudesse conhecer de perto e melhor a história desse rapaz. O que o teria levado a cometer aqueles seis crimes? Acho que talvez fosse interessante - e tivemos aqui uma comissão de Senadores que foi até lá, mas isso, que eu saiba, ainda não foi realizado. Mas quem sabe fosse o caso. Eu aqui faço essa sugestão. Eu até teria dificuldades em fazer isso, mas quem sabe possa alguém ir entrevistar a mãe e o pai dessa pessoa, se ainda estão vivos, assim como eventuais parentes. O que terá ocorrido na infância, na adolescência daquele rapaz para que ele chegasse a essa situação? E por que digo isso? Para o propósito que V. Exª mencionou, de como ressocializar e fazer com que as pessoas sejam diferentes e venham a ter caminhos diferentes, é importante até sabermos que razões levaram essas pessoas a cometerem esses crimes. V. Exª mencionou a história feliz do Ziraldo, referente à renda básica de cidadania. V. Exª sabe o quanto eu batalho por isso, e pode ter a certeza de que - tenho convicção -, no dia em que pudermos ter a realidade do que foi já aprovado pelo Senado, pela Câmara, e sancionado pelo Presidente, de todos, no Brasil, terem a possibilidade de receber pelo menos uma renda como um direito de todos participarmos da riqueza da Nação, até incondicional, mais e mais teremos as condições, e as pessoas, por exemplo, diante de uma única alternativa que às vezes lhe surge na vida para sustentar a si próprio e aos entes queridos... Vamos supor aqueles personagens do filme Cidade de Deus, que, por vezes, justamente por falta de alternativas na sua família, da sobrevivência digna, vêem-se se instados a se tornarem os aviõezinhos das quadrilhas de narcotraficantes; um tema a que V. Exª tem também se dedicado; houvesse a renda básica como um direito à cidadania, muito provavelmente essas pessoas poderiam dizer “Não, eu agora não preciso seguir esse caminho. Terei outra alternativa.” Nós vamos continuar a dialogar sobre esse tema, mas eu quero lhe dizer que as palavras de V. Exª fazem com que todos nós venhamos a pensar sobre o tema. E é muito importante o tema de como conseguir a ressocialização. Eu tenho assim uma preocupação. Por exemplo, quando li uma bonita entrevista do Jurista Evandro Lins e Silva, pouco antes de ele ter falecido, ele, por exemplo, avaliava que o sistema carcerário é algo que ficou para trás. Deveríamos agora ter outras formas. Mas, quando V. Exª menciona este ponto, como reconstruir a vida de pessoas, mesmo daquelas que tenham seguido pelo caminho dos crimes, eu aí quero colaborar muito com V. Exª, porque acho que nós precisamos pensar muito em como melhorar isto no Brasil. Meus cumprimentos a V. Exª, porque nos fez pensar bastante sobre a tragédia, a tristeza que infelizmente acabou acontecendo com o jogador Bruno, mas principalmente nos levou a pensar em como prevenir, como evitar que crimes dessa natureza ocorram em nosso País.

            O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES) - Agradeço o aparte de V.Exª e incorporo-o ao meu pronunciamento. Recebo-o com muito carinho. V. Exª é um militante da vida. Acompanho sua luta antes de chegar a esta Casa. Sei quem V. Exª é. E sei o respeito que o Brasil lhe tem, de forma muito especial o seu Estado de São Paulo., e sei da sua luta pela renda mínima.

            Eu penso que a renda mínima...Tantos neste País já foram tão esfolados, tiraram tanto deles, arrancaram o couro de maneira tão vil dessas pessoas... A Bolsa Família, que muito chamam de esmola, alguns que chamam de esmola dizem que não temos que dar peixe na mão, temos que ensinar a pescar, mas esses já sofreram tanto que não saberão mais pescar. O peixe tem que ser dado na mão. E é uma espécie de um royalty. A renda mínima é uma espécie de royalty, porque aqueles que têm mais precisam pagar para aqueles que têm menos, que já sofreram tanto, porque a minoria, que tem muito, tem muito porque esfolou os que têm menos. São royalties que temos que pagar para eles para dar dignidade à família, aos filhos.

            O seu Projeto de Renda Mínima é um projeto de dignidade, restaurador de dignidade, implantador de dignidade, de honra, Senador Suplicy. Se o senhor não tivesse feito nada na sua trajetória política, o seu projeto de renda mínima, a sua insistência nele...

            E penso que esse pré-sal, tão decantado, tão falado precisava destinar parte para a renda mínima, deveria pagar royalties para aqueles que menos têm e que não aprenderão a pescar.

            A Bolsa Família hoje e essa inclusão social que é feita pelo Presidente Lula, de forma tão eficaz, os 300 Cefets, as quase 20 novas universidades em sete anos...

            Senador Suplicy, essa inclusão social, em que o pobre tem acesso ao banco e pode pintar sua casa e construir uma pequena casa, essa inclusão em que os miseráveis se engajaram no time dos pobres, porque não há demérito em ser pobre... Demérito é miséria. Daqui a 15, 20 anos, os filhos desses já não precisarão de Bolsa Família, porque a inclusão social já avançou de forma tamanha, e V. Exª é o grande colaborador. E penso que tirar dos mais ricos para os mais pobres ou usar parte da nossa riqueza para financiar essa felicidade que é a renda mínima, ou seja, o projeto da dignidade, é como pagar royalties para aqueles que esfolados já foram para construir um País rico, para que a riqueza ficasse na mão de uma minoria.

         Dessa maneira, incorporo, neste dia triste demais, mas que agradeço a Deus pelo que votamos aqui, entendendo eu que não é a lei que não vai mudar o quadro, mas são princípios, são resgates de família que vão mudar a sociedade brasileira.

         No dia em que a Senadora Serys preside a Mesa, e eu pude falar olhando todo o tempo, e tive no plenário exatamente estas pessoas: Serys Slhessarenko, José Nery, Suplicy, Paulo Paim, Arthur Virgílio, aqueles que gritam sempre, que chiam sempre, que falam sempre; Jorge Yanai - o Senador é novo aqui na Casa e o nome ainda é meio difícil para a minha língua -, Senador do Mato Grosso, que cumprimento. Eu o tenho ouvido muitas vezes, lá do meu gabinete, se pronunciando nesta tribuna e o cumprimento por estar atento e ávido ao nosso pronunciamento e imagino que no seu coração de pai também está sentindo dor e revolta pela barbaridade desse crime tão cruel.

            Senadora Serys, que Deus lhe guarde! Espero que V. Exª ainda seja muito útil a este País. Se Dilma virar Presidente, certamente eu vou pessoalmente procurá-la, sendo Senador ou não, para lhe dizer que V. Exª é uma voz importante, um cérebro importante, promove uma discussão importante, para lutar pelas causas da mulher do Brasil, em nome dela, em nome do governo dela. V. Exª terá... Acho que terá o apoio de toda esta Casa, de todos nós.

            O Senador José Nery, que não volta, resolveu ser Deputado Estadual, vai contribuir com o Estado dele. Penso que ele errou muito; deveria ter sido candidato a Senador. É uma peça nova em um processo lá, que fez um belo trabalho nesta Casa e está fazendo; é um homem que luta pela causa da família. E hoje não há nada mais importante por que se lutar do que a causa da família, a causa da vida. Sei que nós perdemos, mas o Pará ganha com a presença de V. Exª.

            Senadora Serys, desculpe ter tomado o tempo, desculpe a minha emoção neste dia, mas é o meu sentimento.

            Obrigado a V. Exª.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/07/2010 - Página 34846