Discurso durante a 123ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Reflexão sobre a aprovação da PEC 17, de 2008, que prevê a prorrogação do prazo de vigência dos benefícios para a Zona Franca de Manaus.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Reflexão sobre a aprovação da PEC 17, de 2008, que prevê a prorrogação do prazo de vigência dos benefícios para a Zona Franca de Manaus.
Aparteantes
José Nery.
Publicação
Publicação no DSF de 08/07/2010 - Página 34856
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, APROVAÇÃO, PROPOSTA, EMENDA CONSTITUCIONAL, PRORROGAÇÃO, BENEFICIO, ZONA FRANCA, ESTADO DO AMAZONAS (AM), ELOGIO, CONDUTA, JOSE SARNEY, PRESIDENTE, SENADO, MARCONI PERILLO, ALFREDO NASCIMENTO, JEFFERSON PRAIA, SENADOR, BANCADA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), DEMOCRATAS (DEM), GOVERNO FEDERAL, IMPORTANCIA, GARANTIA, CONTINUAÇÃO, INVESTIMENTO, REGIÃO, INCENTIVO, DESENVOLVIMENTO TECNOLOGICO, CRESCIMENTO ECONOMICO, CONCILIAÇÃO, PRESERVAÇÃO, MEIO AMBIENTE, EXPECTATIVA, TRAMITAÇÃO, CAMARA DOS DEPUTADOS.

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, meu Prezado Presidente e já tão querido Senador por Mato Grosso. Obrigado, prezado amigo Senador Paulo Paim, amigo de tantas lutas, até algumas divergências, mas muitas convergências na fraternidade, no gostar um do outro, porque essa é uma realidade da qual não devemos e nem queremos, não podemos escapar. Meu querido Senador José Nery, que revela por mim um afeto que também brota de mim na sua direção, ainda há pouco falava-me de divergências que mantemos no campo ideológico e que não remetem, não se transpõem para o plano da convivência pessoal e política. Aqui temos tantos momentos também de encontros.

            Eu digo a todos que esperei este momento porque, apesar de como Líder de um Partido como o PSDB e, mais ainda, como alguém que estava pessoal e visceralmente ligado ao destino da PEC nº 17, que tive a honra de ser o primeiro signatário, que prorroga os incentivos da Zona Franca de Manaus por 10 anos, eu tive que falar muito, tentando ajudar na votação. Mas eu não poderia discursar porque isso atrasaria a votação. Sugeri aos Presidentes da Mesa que a palavra fosse concedida a qualquer Senador, a todos os Senadores que a solicitassem durante o período das votações para evitarmos que o quorum ficasse ainda mais rarefeito.

            Hoje aprovamos, além da PEC da Zona Franca de Manaus, a PEC da Juventude, tantas outras PECs, a PEC que prorroga o Fundo da Pobreza, que deu origem no Governo passado, no Governo do Presidente Fernando Henrique, aos recursos para o Bolsa Escola, que hoje virou o Bolsa Família, quando o Presidente Lula resolveu agregar os programas que recebeu do Governo passado e os ampliou.

            Então, o Senador Paim disse muito bem, foi um dia histórico. E eu disse: vou ficar, vou segurar esse cansaço. Estou realmente muito cansado. Muita adrenalina, porque eu imaginava: vai dar. Primeiro, a adrenalina de saber se nós chegaríamos aos tais cinquenta e tantos que permitiriam votações consensuais na Casa para as PECs. Para as pessoas de fora, esclareçamos que uma PEC precisa ser votada em dois turnos. No 1º turno, cinco sessões; no 2º turno, três sessões. São oito sessões no total, com duas votações: uma em cada turno, 49 votos, 3/5 da Casa em cada um desses turnos.

            Nós quebramos os interstícios, ou seja, os Líderes todos concordaram que as votações dessas PECs, a começar pela da Zona Franca, se fizessem, se possível, num dia só, com a quebra dos interstícios e se podendo queimar as etapas todas.

            Mas, para chegar até aqui ao plenário, foi preciso essa PEC percorrer um longo caminho aqui na Casa. E eu dizia há pouco a uma jornalista do meu Estado que, se tem uma vitória deste mandato - eu reconheço vitórias dos mandatos dos meus colegas aqui, dos Senadores Paim, do Senador Nery -, se tem uma vitória, a vitória nem é sequer esta PEC. Esta PEC é consequência de uma luta que eu me determinei a fazer quando tomei posse, em 2003, no meu mandato de Senador e que já tentava fazer, Senador Paulo Paim, na Câmara dos Deputados quando era seu colega, para muita honra minha. Era tentar criar na Casa uma cultura de proteção à Zona Franca de Manaus e não de repulsa. Porque o primeiro ato de tanta gente no Brasil que ama a Amazônia, que respeita a Amazônia, que adora o verde, que quer aquela Amazônia preservada e que odeia a figura da devastação... eu via uma dicotomia estranha: amavam a Amazônia e odiavam a Zona Franca de Manaus, como se ali fosse um palco de privilégios, de maquiagem de produtos, como se ali não se agregasse o valor tecnológico, o valor industrial, o valor econômico, como se ali não se gerassem empregos, como se ali não se protegesse a segurança nacional, como se ali não se fizesse algo que o mundo de repente acordou para que se faz, sim, ali: a proteção à ecologia, a proteção ao meio ambiente, a proteção aos ecossistemas.

            Uma população faminta avança sobre a mata, sobre a floresta. Uma população que tem, a partir da Zona Franca de Manaus e do seu polo industrial, alternativas econômicas, o resultado é 98% da floresta estarem de pé e não devastados. Indústrias, por outro lado, sem chaminé, que não poluem.

            E nós é que travamos debates e mais debates, e percebi que com o tempo a compreensão dos colegas foi aumentando, a ponto de o Polo Industrial da Zona Franca de Manaus se tornar um patrimônio do Senado nesta legislatura, um patrimônio de todos.

            E este era um sonho, esta era uma aspiração, ver, por exemplo, um Parlamentar do Rio Grande do Sul, como V. Exª, muito mais longe até culturalmente do meu Estado, de repente compreender perfeitamente o que se passa ali. Porque eu sei que muito mais facilmente eu chegarei ao coração e ao cérebro do Senador José Nery, que é meu vizinho no Estado do Pará, embora as distâncias lá sejam amazônicas.

            Eu sou vizinho do Nery, mas é uma hora e cinqüenta de boeing ou de airbus de Manaus a Belém. São quase dois países o Pará e o Amazonas, em tamanho e em proporções geográficas.

            Então, essa foi a grande vitória. A prorrogação é consequência dessa cultura, Presidente, que nós conseguimos construir aqui.

            Eu estava preocupado com algumas coisas. Primeiro, vai ter quórum para começar a votar? Depois, vai ter quórum para se manterem as votações? E se conseguíssemos aprovar só o primeiro turno, não ficaria uma vitória amarga, incompleta, uma meia derrota, uma meia vitória, um copo meio cheio, um copo meio vazio?

            Eu agradeço muito a pertinácia dos Senadores Alfredo Nascimento e Jefferson Praia, que permaneceram aqui o tempo inteiro. Recebi, ainda há pouco, uma mensagem de congratulações do Governador do Estado, Dr. Omar Aziz. Está chovendo mensagens de empresários, de amigos, de pessoas que sabem o que isso representa para o nosso Estado, porque a Zona Franca de Manaus representa, com seu polo industrial e seus efeitos diretos e indiretos, 89% da economia do Amazonas.

            Então, a partir de agora, aprovada essa medida, que vai para a Câmara dos Deputados e a Câmara vai saber se desincumbir com a mesma competência com que nós aqui nos houvemos - tenho certeza disso, confio nos meus colegas Deputados -, renasce a esperança nos empresários e nos investidores, a tranquilidade dos trabalhadores de terem os seus empregos garantidos, a perspectiva de ICMS gordo para melhorar a vida do interior, a vida da capital.

            Um projeto industrial leva dez anos para maturar, oito anos no mínimo. Ora, se vencesse mesmo o prazo para a duração dos incentivos em 2023, em 2015, ninguém investiria nada; em 2014, ninguém investiria nada; em 2013, já ninguém investiria nada; em 2012, esses investimentos já estariam rareando; em 2011 - estamos às portas de 2011 -, as preocupações só fariam se avolumar. Em 2010 mesmo, estamos dando uma tranquilidade grande ao Amazonas. As pessoas podem pensar, Senador Nery, em planejar suas vidas.

            Eu gostaria muito que a Zona Franca nos desse, com a sua consolidação, todo o tempo político e econômico para nós criarmos alternativas econômicas outras ao Estado. O seu Estado não dispõe de um instrumento tão poderoso, tão alavancador, num curto prazo de recursos, de empregos como a Zona Franca de Manaus, mas o seu Estado tem uma pauta de exportações invejável; seu Estado tem uma economia diversificada; seu Estado pode perfeitamente ver um dos produtos de sua pauta de exportações padecer de queda de preços internacional que os outros suprem. Meu Estado, não. Meu Estado depende - como dependeu da borracha, no passado - quase que exclusivamente do que se produz na Zona Franca de Manaus. E olhe que a biodiversidade precisa ser olhada pelos Governos, muitos recurso para o Impa, precisa de estimularmos investimentos naquela região, para colocarmos vários ovos em vários cestos, e não todos os ovos num cesto só, como acontece hoje.

            Daí até uma certa ansiedade, que hoje se reflete num cansaço, um cansaço alegre, um cansaço vitorioso, um cansaço feliz, mas um cansaço muito grande.

            Depois, assaltou-me outra preocupação. Sendo a minha PEC, a nossa PEC do Amazonas, a primeira a ser votada, eu me pergunto: “E se só houver quórum para a minha? E se, para as demais PECs, a da Juventude, por exemplo, e para outras tantas, não houver quórum? Com que cara fico eu? Com que espírito encararia eu os meus colegas, passando talvez a impressão de que cuidei de mim e não cuidei dos demais interesses, sequer os da juventude?”

            Então, a preocupação foi ficar aqui até o final mesmo, porque tínhamos que dar essa satisfação à sociedade. E acabou dando tudo muito certo.

            Votamos depois diversas autoridades; votamos depois diversas matérias importantes, até por acordo de Liderança. Trabalhamos bastante bem no dia de hoje e trabalhamos bastante bem no dia de ontem. Ontem foi um dia de muita adrenalina, de muita canseira, porque não chegamos nunca a ter mais do que 48 Senadores votantes, e precisávamos de mais de 50 e tantos, 54, 55, para haver a garantia de que, se alguns votassem contra ou se enganassem - pode alguém se enganar -, não se perdesse uma PEC e todo um trabalho em torno dela por causa disso, por uma mera dificuldade numérica, enfim.

            Mas o fato é que eu gostaria de ter feito este discurso na hora - não sei se teria a tranquilidade que estou tendo agora -, mas este pronunciamento teria atrapalhado a votação e, agora, ele é uma satisfação que dou, com alguns agradecimentos.

            Agradeço à Mesa. Foi impecável o comportamento do Presidente Sarney, com quem tenho tido divergências muito conhecidas do País, mas foi impecável o seu comportamento.

            Quanto aos que presidiram a sessão, quero homenagear todos na figura do Senador Marconi Perillo, que conduziu a Mesa com energia e muita tranquilidade, impondo um ritmo que determinou a celeridade das votações. Homenageio também minha Bancada de Senadores tucanos, que ficou aqui até o final - talvez, proporcionalmente, a mais numerosa presente -, a Bancada de Senadores do DEM, os Senadores de todos os Partidos, os Partidos da base governista e os Partidos independentes como o seu, todos.

            Houve a solidariedade do Senado. Isso me fez pensar que essa conquista jamais poderia ser transformada na vitória de uma pessoa só, porque eu precisei de Senadores assinando o encaminhamento da PEC à Mesa. Teria de haver um mínimo de 27 assinaturas - sei que a matéria chegou com muito mais à Mesa - e depois a tramitação; e depois a contribuição final de a Mesa permitir a votação da matéria com prioridade; e a aprovação pela Casa.

            Ainda vamos depender dos Deputados. E sei, com esse consenso que se estabeleceu, da unidade de Governo e de Oposição. Aliás, isso não é tema de Governo nem de Oposição; isso é tema de País, de Amazônia, de segurança nacional, de ecologia, de emprego, de vida. Mas tenho de agradecer a todos.

            O presidenciável do meu Partido esteve no Amazonas recentemente, em Parintins, mas, antes disso, havia concedido uma entrevista para um importante órgão televisivo do meu Estado e disse que pretende perenizar a Zona Franca de Manaus.

Sua principal adversária disse também que era essa a intenção dela. Disse após ele ter dito, mas disse. O importante para nós é a segurança. Não estava a meu alcance falar em perenização. Estava a meu alcance fazer essa proposta, talvez modesta, de mais dez anos, para termos tempo de planejar o que fazer, dando tranquilidade a quem lá já está.

            Mas eu quero agradecer, portanto, ao presidenciável do meu Partido, que assumiu uma posição muito clara a esse respeito.

            E quero agradecer ao Governo, agradecer ao Presidente da República, na figura do seu Ministro Alexandre Padilha, que, sem olhar a autoria, se era de oposição ou de governo, declarou que iria pura e simplesmente apoiar a votação da PEC. Isso foi coerente com o Governo, que já teve ocasião de prorrogar, pela primeira vez, quando se pôde fazer isso, quando se precisou fazer isso, a PEC, prorrogar a Zona Franca de Manaus até 2023. Sua validade anterior era até 2013. Estava vencendo o prazo, esse prazo que é o prazo que separa o fim dos incentivos do início da maturação do projeto. Oito anos, dez anos. A partir daí começa a complicar, realmente, a cabeça de quem veste e a cabeça de quem trabalha.

            Quero agradecer, portanto, ao Presidente da República pelo gesto. E lembrar que é assim que eu me porto em relação a ele.

            Eu entendo, Senador Nery, que governar, meu Presidente, se compõe de duas atitudes básicas. Há duas componentes básicas no ato de governar: o governar em si, que é quem está no poder e toca as coisas do país diretamente; e governar fazendo oposição, fazendo fiscalização, para que a balança não se desequilibre. E quem determina isso para um democrata, para quem tem caráter, é a urna. Quando o meu partido vence uma eleição, eu o ajudo a governar; quando ele perde, eu vou fiscalizar quem venceu. Eu não vou me pendurar na diretoria da Petrobras para trocar voto por benesses, não estou a fim da diretoria que fura poço da Petrobras, não estou a fim de diretoria de Caixa Econômica e de Banco do Brasil. Não estou a fim de nada disso! Eu não queria isso no outro Governo no qual eu fui líder e Ministro, como é que eu ia querer isso de um Governo que é de um adversário meu?

            Eu entendo, porém, que a oposição faz bem ao governante. Todo governante se cerca de dois tipos de pessoas: os que o auxiliam para o bem; e os que o bajulam. Ora, se eu sou de um partido, e o meu partido perde a eleição, e eu corro para me pendurar nas benesses do poder, eu passo a ser mais um bajulador. E não há Presidente da República, de Washington Luiz para cá, e de antes de Washington Luiz para lá, que não tenha estado cercado de bajuladores. Eu não sou mais um, até porque eu não sou simplesmente bajulador e ponto final. Não sou!

            Então qual é a minha forma de colaborar com o Brasil? É ver um projeto do Presidente da República, e, se o projeto é bom, eu aprovo. Não pode se queixar de ter faltado apoio deste Senado, nem deste Senador, nem da minha Bancada às medidas anticrise que o Presidente adotou. Contou com o nosso apoio em todas elas! Não precisa estar em jantarzinho, tapinha nas costas. Não precisa de nada disso!

            Quando entendíamos que a matéria era parcialmente correta, nós votávamos a favor, com as restrições e as mudanças que o próprio jogo de plenário impunha, aperfeiçoando as matérias. Quando entendíamos que a matéria era ruim para o País, votávamos contra. Algumas vezes éramos derrotados, outras vezes derrotamos o Governo. Nada mais saudável do que isso. Quero que a população entenda isso com toda clareza. Nada mais saudável, nada mais limpo do que isso. Porque, se todo mundo está de um lado, meu Deus, a balança fica desequilibrada, os erros se sucedem. Temos que ser governados por homens e não por quem, porventura, se suponha semideus. E quem não é criticado vira semideus, pelo menos na sua cabeça, na sua psique.

            Mas eu não tenho a consciência pesada, não, porque talvez 85%, 86% ou 87% das matérias que o Governo mandou para cá nós aprovamos. Melhoramos algumas e aprovamos por inteiro outras. É assim que ajo. Quando o Governo agiu da mesma maneira, com a mesma nobreza com relação a mim, obviamente que fiquei satisfeito e, por isso, faço este agradecimento de público, significando que este comportamento civilizado é o que desejo para a vida pública, é o que norteia a minha própria vida pública, é o que para mim justifica estarmos na vida pública.

            Fazer oposição ao País, eu não faria. Fazer oposição a erros de Governo, faço. Todo Governo erra, e erra mais se não apontarmos os seus erros. Se ninguém apontar erro nenhum, de Governo nenhum, ao fim de algum anos, o Governo só erra. Se apontarmos todos os seus erros, ele acaba acertando muito mais do que errando e acaba oferecendo um bom governo à Nação. Eu não saberia governar sem ter uma oposição forte.

            Eu era Prefeito de Manaus, da cidade de Manaus, e provocava a Oposição. Eu dizia: “Vocês estão muito fracos. Vocês não estão me combatendo como deviam; sejam mais duros comigo”. Os jornais registram isso muito bem. Dizia: “Sejam duros, não se preocupem comigo, não. Podem criticar, critiquem, porque o que eu entender que está errado eu mando consertar. O que eu sentir que é mera difamação, passo por cima, não estou aqui para perder tempo com bobagem”. Mas jamais tive medo de oposição a mim.

            Quando Líder do Governo do Presidente Fernando Henrique, eu contava inclusive com a solidariedade do PT. Muitas vezes eu tinha cinco minutos para defender o Presidente. O PT me concedia duas horas na tribuna. Depois de eles me criticarem quatro horas, eles me concediam duas horas na tribuna, eu ficava duas horas na tribuna, e eles ainda me aparteavam durante o meu discurso. E eu me divertia muito com aquilo. Era o meu dever, que estava sendo cumprindo com prazer. Eu não saberia fazer nada sem paixão nem sem prazer. E toquei a vida durante aqueles anos difíceis, muitas crises de fora para dentro, como Líder e como Ministro do Presidente Fernando Henrique.

            Agora, não mudou nada. Sempre digo aqui ao meu amigo Mercadante, sempre digo a todos eles: “Olha, trocamos de lado, momentaneamente”. A alternância de poder está aí. Quem está no poder hoje pode ficar na oposição amanhã. E democracia é isso. É assim que acontece em todos os países civilizados, em todos os países de corte democrático no mundo. Quem está no poder hoje pode não estar no poder amanhã. E pronto! Para mim não faz muita diferença. Porque, quando estou no poder, não me dedico a roubar; não sou ladrão. Quando estou fora do poder, eu continuo mantendo a minha independência e vivendo a mesma vida de sempre. Portanto, para mim, quem decide a minha vida é literalmente o povo do Amazonas. E quem decide a minha orientação política é o povo brasileiro, no conjunto da sua decisão.

            Mas foi um momento civilizado. Todos aqui cumpriram com a palavra. E um dia vitorioso que pode hoje ser muito bem comemorado pelo povo do Amazonas, mas eu transmitindo a ele também que o Amazonas não resolveu sozinho, nem pela sua valorosa Bancada, só ela. O Amazonas resolveu essa questão em torno da PEC nº 17, como ela já é muito conhecida no meu Estado, o Amazonas resolveu a partir da solidariedade que mereceu de todos os Estados da Federação, de todos os Estados. Nenhum tem uma Zona Franca, só o Amazonas. Isso não impediu que todos, sem exceção, fossem solidários a nós. O seu Pará, o Mato Grosso da Presidente, os adversários, os aliados; por aqui passaram vários Deputados, todos mandaram mensagens, todos revelaram sua preocupação. Alguns passaram por aqui, outros telefonaram querendo saber como estava, desejando sorte, procurando informações, telefonando para Senadores amigos. Agora a vez será dos Deputados. Estarei ao lado deles, torcendo por eles para que completemos essa que é uma obra que jamais seria de uma pessoa só, mas a obra que representa mais ainda do que o esforço de um povo, que é o meu, o esforço de um País, que compreende a Zona Franca de Manaus.

            Senador José Nery, com muita honra, eu lhe concedo um aparte.

            O Sr. José Nery (PSOL - PA) - Senador Arthur Virgílio, faço este aparte mesmo tendo feito um breve comentário antes de V. Exª assumir a tribuna para fazer o justo, adequado e necessário pronunciamento que, por justiça, V. Exª poderia ter feito durante o processo de votação, mas não o fez justamente para que pudéssemos, nestes dois dias de intensas discussões e votações neste plenário, não apenas votar e aprovar a PEC nº 17 - cujos efeitos positivos V. Exª aqui tão bem explanou para os empreendedores da Zona Franca de Manaus, para os trabalhadores, para a geração de renda, para a garantia de trabalho a milhares de amazonenses. O discurso que V. Exª faz agora, como eu disse, apesar do cansaço, traz em si a felicidade da conquista. Como V. Exª muito bem assinalou, não a conquista individual, pessoal, mas a conquista daqueles que se sentem parte e compartilham da necessária solidariedade e da possibilidade de fazer com que todos os Estados da Federação se desenvolvam, avancem, cresçam e, sobretudo, garantam a todos os seus filhos e filhas, a todos os seus moradores, sejam do campo, sejam da cidade, as condições mais adequadas e dignas de sobrevivência. Eu diria que a decisão, em especial relativa à prorrogação dos benefícios fiscais para a Zona Franca de Manaus, representa, do meu ponto de vista, uma conquista e um certo, eu diria, coroamento do trabalho de V. Exª no Senado Federal na defesa intransigente, permanente, cotidiana do seu Estado. Então V. Exª está de parabéns por ter, com muita pertinácia, com muita determinação, com muito empenho, convencido todos seus Pares, de todos os partidos e, ainda mais, ter obtido o apoio da Bancada do Governo na medida em que V. Exª, como tão bem disse aqui, exerce com coragem, com maestria, com denodo, o seu papel na Oposição, criticando o conteúdo das medidas com que V. Exª não concorda, mas também aperfeiçoando as iniciativas, sejam as que vêm do Governo e dos seus próprios Pares, quando submetidas à apreciação neste plenário ou nas comissões. Portanto, mesmo tendo feito um breve comentário antes de V. Exª assumir a tribuna, fiz questão de fazer este breve aparte para, no corpo do pronunciamento de V. Exª, poder testemunhar e dizer ao povo do Amazonas e ao País que V. Exª aqui atuou com o empenho que um representante de um Estado tão importante como o Amazonas, como são importantes os Estados brasileiros, teria que atuar para fazer valer essa conquista, que tem um sentido muito importante para o desenvolvimento do Estado do Amazonas, para a continuidade do seu processo de crescimento e, em especial, para, como V. Exª também disse, permitir um planejamento e a busca de alternativa de desenvolvimento econômico e social para que possa continuar oferecendo ao povo do Amazonas as condições adequadas de sobrevivência e de dignidade. Portanto, saúdo V. Exª e vejo a votação e a aprovação da PEC nº 17, bem como das outras medidas e emendas constitucionais que aqui votamos, como parte dessas conquistas que nós podemos oferecer ao povo brasileiro e, em especial, V. Exª pode oferecer, com o apoio de todos nós, ao Estado que V. Exª tão bem representa aqui no Senado Federal. Meus parabéns!

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Nery, meu querido amigo.

            Encerro, Sr. Presidente, lembrando que eu precisava mesmo fazer esta fala, porque, no segundo encaminhamento que, como Líder, fiz da PEC nº 17, no segundo turno de votação, eu simplesmente me limitei a dizer: “O PSDB vota ‘Sim’” e mais nada. Havia um entendimento na Casa e eu tinha pressa. E ficaria incompleta a minha participação se não fizesse o desabafo de agora

e as colocações que gostaria de ter posto à análise dos colegas e da Nação antes, mas existe a questão tática também, e a tática exigia a pressa. Eu me sinto, como amazonense, devedor do Senado como um todo.

            Essa é a mensagem final.

            Peço desculpas aos jornalistas. Hoje não... Costumo... É do meu hábito tratar todos com o máximo de delicadeza e atenção e hoje praticamente não falei com nenhum deles. Convidado para fazer gravações, simplesmente acenava que não podia porque não podia, não podia cochilar, não dava para perder qualquer minuto. Nada poderia desviar a atenção, tirar o foco de uma luta que tinha que ter o desfecho que teve. Esse seria o desfecho ideal.

            Então, fugi da minha característica habitual, que é a de explicar, de dialogar, de ouvir, de falar. Fiquei neste plenário o tempo inteiro por entender que a missão só se cumpriria com o ato final, e o ato final é precisamente esta fala, modesta, singela, que procurou resumir a luta.

            Hoje estive com o Senador José Agripino para apoiar, na Comissão de Desenvolvimento Regional, um projeto que beneficia o Rio Grande do Norte e o nordeste como um todo, porque significa incentivos fiscais para o sal, que é fundamental para a economia do Rio Grande do Norte e relevante para a economia da Bahia, tanto que o autor do projeto é o Senador César Borges, daquele Estado.

            Estavam lá a Senadora Rosalba Ciarlini, o Senador Garibaldi Alves. Eu estive lá e encontrei inclusive um gancho, porque vital para o Rio Grande do Norte, importante para o nordeste, importante para o Brasil, nós estaríamos, se cassássemos aqueles incentivos, gerando empregos para o Chile, desempregando no Rio Grande do Norte, desempregando no Brasil, empregando no Japão e, por outro lado, com os incentivos fiscais, barateando o custo do frete para o Amazonas e para os demais Estados do Brasil.

            Logo, eu tinha todas as razões, e se não tivesse as do Amazonas, teria a razão nacional, de estar ao lado de um Estado como o Rio Grande do Norte, de uma região como a Nordeste, mas eu ainda tinha o gancho de que servia em alguma coisa para o meu Estado, ou seja, nós temos nesta legislatura poucos meses até o fim dela. Temos as eleições que vêm por aí. Cada um disputará ou não o destino político, mas o fato é que o tempo que tenho na Casa será dedicado à defesa do meu Estado e, sem dúvida, a procurar retribuir a cada companheiro, a cada Estado da Federação pelo muito que fizeram pelo Amazonas hoje. Essa é uma obstinação que perseguirei como persegui hoje a vitória do meu povo.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/07/2010 - Página 34856