Discurso durante a 142ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexão histórica por ocasião do transcurso dos 80 anos da Revolução de Princesa, ocorrida no sertão da Paraíba, em 1930. Proposta de construção do Museu da Memória da Revolução de Princesa.

Autor
Roberto Cavalcanti (PRB - REPUBLICANOS/PB)
Nome completo: Roberto Cavalcanti Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Reflexão histórica por ocasião do transcurso dos 80 anos da Revolução de Princesa, ocorrida no sertão da Paraíba, em 1930. Proposta de construção do Museu da Memória da Revolução de Princesa.
Publicação
Publicação no DSF de 18/08/2010 - Página 42201
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, REVOLTA, REGIÃO SEMI ARIDA, ESTADO DA PARAIBA (PB), DESCRIÇÃO, HISTORIA, CONFLITO, GOVERNO ESTADUAL, GRUPO, CORONEL, APOIO, WASHINGTON LUIZ, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, CONCLUSÃO, HOMICIDIO, JOÃO PESSOA (PB), EX GOVERNADOR, EFEITO, MOBILIZAÇÃO, PAIS, REJEIÇÃO, POLITICA, DOMINIO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), REESTRUTURAÇÃO, ESTADO, REVOLUÇÃO, LIDERANÇA, GETULIO VARGAS, EX PRESIDENTE.
  • DEFESA, CONSTRUÇÃO, MUSEU, HOMENAGEM, REVOLUÇÃO, REGIÃO SEMI ARIDA, ESTADO DA PARAIBA (PB), PARCERIA, PODER PUBLICO, INICIATIVA PRIVADA, IMPORTANCIA, PRESERVAÇÃO, MEMORIA NACIONAL.

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Agradeço, Sr. Presidente. É com muita satisfação que estou hoje, nesta Casa, que, mesmo num suposto recesso branco, conta com a presença de vários Srs. Senadores, a quem parabenizo, ao passo que reafirmo a compreensão que tenho da ausência dos demais, tendo em vista as campanhas eleitorais nos diversos Estados, num processo que se afunila, chegando à sua reta final.

            Sr. Presidente, gostaria de contar com a extrema compreensão até dos próprios paraibanos quanto ao espírito do nosso pronunciamento, uma vez que se trata de tema bastante polêmico no nosso Estado o que trago a esta tribuna na tarde de hoje. Há facções de um lado, facções do outro, que duram mais de 80 anos. Na verdade, o tema trata de uma revolução ou, como na Paraíba se chama, da Guerra de Princesa. Faço esta ressalva porque o assunto requer muito cuidado. Mas, lá no fundo, o objetivo do nosso pronunciamento é resgatar a memória dessa passagem histórica brasileira para que as gerações futuras possam se beneficiar desse resgate histórico.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, contar a história de nosso País é sempre um exercício não apenas fascinante, mas absolutamente relevante e necessário para a construção de nossa identidade e força como Nação.

            Alguns episódios, entretanto, por mais importantes que tenham sido para os rumos e acontecimentos que delinearam o nosso passado recente, não costumam ser lembrados e estudados, como deveriam e mereciam, nem pelas populações regionais que deles participaram ativamente.

            Exemplo marcante dessa situação, Sr. Presidente, dá-se no momento em que se celebram os 80 anos da chamada Revolução ou Guerra de Princesa, acontecida no sertão da Paraíba, no conturbado e decisivo ano de 1930, tão decisivo e paradigmático para a história do Brasil.

            A Guerra de Princesa, Srªs e Srs. Senadores, não foi apenas um caso isolado de conflito, de interesses políticos e econômicos entre oligarquias nordestinas, levado às últimas consequências.

            O episódio de violenta confrontação no sertão paraibano representou muito mais, materializando o choque entre o Brasil das oligarquias rurais e as elites urbanas em ascensão, entre as forças agrárias tradicionais e a burguesia ascendente das cidades.

            Tudo começou com a crescente mobilização do então Governador da Paraíba, João Pessoa, contra o poder dos coronéis do interior do Estado.

            Após anos de intensa animosidade e ameaças de parte a parte, movidas a cobrança de impostos e atuação de milícias particulares, a contenda bélica é deflagrada em 28 de fevereiro de 1930, quando a polícia paraibana invade a então Vila do Teixeira e aprisiona membros da família Dantas, ligada ao grande líder local, Coronel José Pereira.

            O conflito, a partir daí, ganha contornos cada vez maiores, chegando a ser proclamada por José Pereira a autonomia administrativa da região em relação ao Estado da Paraíba - o “Território Livre de Princesa”, com bandeira, hino e jornal, cunhando, inclusive, moeda própria, com curso forçado no território, para fazer funcionar a economia da região.

            Na resistência, o líder oligárquico contava com o beneplácito do Presidente Washington Luís, adversário de João Pessoa, e com um exército extremamente armado, de jagunços e homens leais, contra as volantes policiais enviadas pelo Governador do Estado.

            Foram quase cinco meses de duros e intensos combates, com um derramamento de sangue poucas vezes visto em conflitos internos.

            Nesse período, Princesa se tornou uma fortaleza praticamente inexpugnável às forças de João Pessoa, com mais de 1.800 homens defendendo os domínios do Coronel José Pereira.

            Batalhas sangrentas, como a do Casarão dos Patos, entraram para o imaginário popular e foram cantadas em prosa e verso pelos cordéis e divulgadores da história oral, enaltecendo a bravura dos combatentes envolvidos e construindo personagens que marcaram para sempre a história do povo sertanejo. Assim foi com o casal Xandu e Marcolino Diniz, imortalizados na letra genial do rei do Baião, Luiz Gonzaga.

            De fato, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a Revolução de Princesa foi o ensaio do que viria a ser deflagrado com a Revolução de 1930 e com a ascensão de Getúlio Vargas.

            O assassinato de João Pessoa, Governador da Paraíba que ordenou os ataques à região de Princesa, acabou consternando e mobilizando o País contra a famosa política do café com leite, precipitando a escalada revolucionária e a refundação de um novo Estado, crescentemente industrializado e urbano.

            Com o abatimento a tiros de João Pessoa, personagem central do conflito, a Guerra de Princesa teve seu fim.

            O País tomou novos rumos, assim como a política daquela região da Paraíba.

            Clãs familiares que lutaram unidos naquela revolta acabaram por dividir-se e tornaram-se adversários.

            O Brasil, por sua vez, trilhou os caminhos da modernização, industrializando-se de forma crescente e enfraquecendo o poder das tradicionais oligarquias rurais.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a Guerra ou Revolução de Princesa constitui um acontecimento histórico da maior relevância para a compreensão do processo de transição do Brasil agrário para a era industrial, para o entendimento da Revolução de 1930 e de toda a era Vargas.

            Nela estão consubstanciados todos os elementos formadores de nossa história, movida, sobretudo, pelos conflitos das classes dirigentes na conformação de seus interesses políticos e econômicos.

            Mas o aspecto que mais chama a nossa atenção e lhe dá cores e tons especiais é a afirmação da força mobilizadora e mítica do homem sertanejo, da resistência heroica do caboclo do interior.

            Tais características, tão próprias da gente nordestina e paraibana, acabaram por moldar a nossa cultura e a nossa arte, embasada, sobretudo, na história romanceada de episódios como a Guerra de Princesa.

            Hoje, entretanto, nos ressentimos da ausência de um espaço arquitetônico próprio, destinado à guarda e à preservação dessa memória tão rica, atualmente dependente, em grande parte, da tradição oral e de registros impressos em documentos esparsos espalhados por bibliotecas nos quatro cantos do Brasil.

            O Museu da Memória da Revolução de Princesa é uma justa homenagem e reivindicação do povo paraibano, com vistas ao resgate histórico de um dos momentos mais importantes da construção da sua cidadania.

            Acolhendo esta demanda histórica, o Poder Público atende o resgate de um patrimônio difuso que não pode ser desprezado nem servir para alimentar facciosismos ou sedimentar rivalidades adormecidas.

            Pelo contrário, oferecerá à sociedade paraibana e brasileira um precioso mosaico de fatos históricos que explicam as transformações sociais e políticas que desaguaram na primeira fase da industrialização do Brasil, enchendo de orgulho a brava gente da Paraíba.

            Quero aqui, desta tribuna, reafirmar a importância de nos debruçarmos sobre episódios tão relevantes para a história do Brasil, como a Revolução de Princesa.

            Seus desdobramentos atingiram o fundo da alma e os desígnios de nosso povo que permanecem vivos no imaginário coletivo.

            Encerrando, Sr. Presidente, conclamo os nossos governantes a se juntarem à justa aspiração do povo paraibano, que aqui represento, na costura de uma parceria com o empresariado e a sociedade para a construção do Museu da Memória da Revolução de Princesa.

            Era essa, Sr. Presidente, a nossa conclamação para que seja construído na Paraíba um museu que possa resgatar a memória da Revolução de Princesa.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/08/2010 - Página 42201