Discurso durante a 142ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Destaque para o início da campanha eleitoral no rádio e na televisão. Considerações sobre os quatro principais candidatos à presidência da República.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Destaque para o início da campanha eleitoral no rádio e na televisão. Considerações sobre os quatro principais candidatos à presidência da República.
Aparteantes
João Faustino.
Publicação
Publicação no DSF de 18/08/2010 - Página 42222
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • REGISTRO, INICIO, CAMPANHA ELEITORAL, RADIO, TELEVISÃO, IMPORTANCIA, DEBATE, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, QUESTIONAMENTO, LEGISLAÇÃO ELEITORAL, ATUAÇÃO, INSTITUIÇÃO DE PESQUISA, ABUSO, MANIPULAÇÃO, PROPAGANDA ELEITORAL.
  • ELOGIO, DILMA ROUSSEFF, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DESCRIÇÃO, BIOGRAFIA, LUTA, REJEIÇÃO, DITADURA, POSTERIORIDADE, INSERÇÃO, POLITICA, QUALIDADE, SECRETARIO, GOVERNO MUNICIPAL, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DE MINAS E ENERGIA (MME), CHEFE, CASA CIVIL, SAUDAÇÃO, CONDUTA, EXTINÇÃO, PROBLEMA, CORRUPÇÃO, RELAÇÃO, PAGAMENTO, GOVERNO FEDERAL, MESADA, CONGRESSISTA.
  • ELOGIO, JOSE SERRA, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), DESCRIÇÃO, BIOGRAFIA, LUTA, REJEIÇÃO, DITADURA, QUALIDADE, PRESIDENTE, UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES (UNE), POSTERIORIDADE, SENADOR, DEPUTADO FEDERAL, PREFEITO, GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
  • ELOGIO, MARINA SILVA, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO VERDE (PV), DESCRIÇÃO, BIOGRAFIA, ANALFABETISMO, SERINGUEIRO, FLORESTA AMAZONICA, SAUDAÇÃO, COMPROMISSO, PRESERVAÇÃO, MEIO AMBIENTE, JUSTIÇA SOCIAL.
  • ELOGIO, PLINIO ARRUDA SAMPAIO, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE (PSOL), SAUDAÇÃO, CONDUTA, ETICA, DIGNIDADE, COMPROMISSO, IDEOLOGIA, SOCIALISMO, CUMPRIMENTO, DISPOSIÇÃO, IDOSO, PARTICIPAÇÃO, DEBATE.
  • ELOGIO, JOSE FOGAÇA, CANDIDATO, GOVERNADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), IMPORTANCIA, TRABALHO, EX SENADOR, EX PREFEITO, CAPITAL DE ESTADO.
  • ANALISE, EVOLUÇÃO, DEMOCRACIA, RETROCESSÃO, ETICA, PARTIDO POLITICO, ENTIDADES SINDICAIS, MOVIMENTO ESTUDANTIL, IMPORTANCIA, MOBILIZAÇÃO, POPULAÇÃO, APROVAÇÃO, LEGISLAÇÃO, INELEGIBILIDADE, REU, CORRUPÇÃO, EXPECTATIVA, ATUAÇÃO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF).

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srs. Senadores, a senhora fica muito bem na Presidência: pela competência, pela capacidade. V. Exª se adaptou rapidamente. Até o ano passado, na Presidência, o Presidente só podia estar com a palavra, e tal... O Mão Santa mudou isso. O Mão Santa começou, da tribuna, a fazer os seus pronunciamentos, da tribuna e da Presidência, e todos nós fomos atrás. Agora, ninguém eu vi se adaptar tão rapidamente como V. Exª. No primeiro dia, já fala como se estivesse aqui há um bocado de tempo.

            Iniciou-se hoje o programa de rádio e televisão. A rigor, podemos dizer que hoje se inicia a campanha eleitoral. Até aqui, os candidatos, de certa forma, estavam à margem da imprensa. Os institutos de pesquisa, com todo respeito, eu acho uma desgraça. Daqui a algum tempo, não precisamos fazer mais eleição; bastam os institutos de pesquisa. Para que eleição?

            Agora, não. Agora, cada candidato fala. Não é o ideal. Tenho um projeto de lei que diz que os programas gratuitos de televisão devem ser ao vivo - ao vivo na televisão! No Brasil é gravado. E é claro que, sendo gravado, é uma produção. E, muitas vezes, nesses espaços de televisão, principalmente, vale mais o produtor do que o candidato. O exemplo disso foi a campanha do “Lulinha Paz e Amor”, onde o candidato transformou o Lula. Aquele Lula que a gente conhecia, barbudo, mal vestido, meio metalúrgico, aquela coisa toda, o Duda Mendonça o mudou. Apareceu bem aparelhado, barba bonita, cabelo bem cortado, uma roupa padrão internacional, falando em amor e paz.

            E houve um momento naquela campanha, a primeira que o Lula ganhou, em que a figura do Duda era mais importante que a figura do Lula. As manchetes falavam mais do Duda Mendonça do que do Lula. As manchetes diziam: “O Duda estabeleceu que o Lula na próxima campanha vai falar o seguinte...”. E dizia o que era. E o mesmo vale para os outros candidatos.

            Mas a verdade é que um dia nós vamos chegar lá. Para mim, a coisa mais maravilhosa da democracia, no mundo inteiro, é o debate do final das eleições nos Estados Unidos entre os dois candidatos: um de frente para o outro; um fala, o outro responde. Não tem jornalista, não tem pergunta, não tem coisa nenhuma. O orientador está ali coordenando os debates. Cada um fala o que quer, o outro responde o que quer, e o povo analisa.

            Mas, de qualquer maneira, hoje se iniciou a campanha. Eu não tive oportunidade de assistir, mas me disseram que foram programas excepcionais. Que o da Dilma foi uma produção cinematográfica, excepcional; e que o do Serra foi no mesmo sentido.

            Eu faço questão de dizer, para quem está aqui há tão longo tempo, que eu me sinto muito feliz hoje, quando se inicia oficialmente a campanha, por viver o momento que o Brasil está vivendo. Que bom! Nós estamos numa plenitude democrática. Não há incidente, não há dúvida, não há interrogação, não há coisa nenhuma com relação a nada.

            A imprensa é livre, os candidatos são livres. Estão aí Marinha, Exército e Aeronáutica cumprindo as suas missões. Já há algum tempo, nós não temos Ministério nem do Exército, nem da Marinha, nem da Aeronáutica. Temos um Ministro da Defesa, que é um civil. Vai muito bem, obrigado. E o relacionamento com as Forças Armadas é ótimo.

            Eu acho que o Brasil, que está vivendo o maior espaço de democracia institucional desde que é país soberano, democrata e livre, vive - repito - um grande momento.

            Está lá: o Lula, fala; a Justiça multa o Lula - debate franco, debate aberto. A economia vai bem. O Brasil vive um grande momento em nível internacional. Fala-se num crescimento impressionante de quase 7% no ano que vem.

            Mas o que eu quero chamar a atenção, Sr. Presidente: é difícil, pelo mundo afora, encontrarmos um início de eleição que nem esta, com quatro candidatos - eu não falo nos outros, porque são também importantes, mas eu falo nos que estão em debate - tão excepcionalmente positivos como os que estão aí.

            Acho a Dilma uma grande candidata. Eu olho para o PT, para o Governo e não vejo ninguém que poderia ser candidato no lugar dela. Juro que não vejo. A sua dignidade, a sua correção... Eu era Deputado, Governador do Rio Grande do Sul, quando ela entrou na luta armada e, saindo da luta, entrou na democracia e fez política no Rio Grande do Sul. Sou obrigado a dizer: é uma mulher extraordinária. Filha de família rica, abastada, estudou em colégio de freira, seguiu um ritmo de luta numa época de ditadura. E foram muitos aqueles que, embora de famílias abastadas, deixaram tudo e entraram na luta pela democracia. E ela fez a sua missão, com o restabelecimento da democracia, como Secretária da Fazenda do Prefeito Collares; Secretária de Minas e Energia do Governador Collares e do Governador Olívio Dutra; como Ministra de Minas e Energia e, principalmente, como Chefe da Casa Civil. Acho que é um grande nome.

            Estou acostumado a dizer que divido o Governo Lula em dois períodos: antes e depois de a Dilma ser Chefe da Casa Civil. Antes, no tempo do José Dirceu, por pouco, Presidente, não houve o impeachment do Lula nesta Casa.

            Na época do mensalão, do José Dirceu, não se avançou porque se achou que o Lula estava tão esvaziado que o desgaste político de o Senado, que já tinha cassado um Presidente, cassar outro, um líder sindical, seria muito pesado. E, como ele já estava num desgaste, que ele chegasse ao final do seu Governo. E deu volta. E, se analisarmos, o grande responsável pela volta foi a Dilma na Casa Civil. Toda a corrupção do mensalão estava na Casa Civil. E, desde que ela entrou, mesmo que se fale muita coisa do PT e do Governo, nada se diz da Dilma na Casa Civil. Então, penso que ela é uma grande candidata.

            Mas, cá entre nós, o PSDB tem um grande candidato. Somos obrigados a reconhecer isso com toda a franqueza. O Serra é uma dessas pessoas retilíneas ao longo de toda a sua vida, desde jovem. A Dilma nasceu em berço de classe média alta e se atirou na clandestinidade e na luta pela democracia, o que foi um momento magnífico. O Serra nasceu num lar humilde. Seu pai era um vendedor de frutas no mercado de São Paulo. E ele, ajudando o pai a carregar as frutas para lá e para cá, estudou em escola pública, cresceu, foi Presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). No momento mais dramático, na hora da ditadura, da violência, estava lá ele na presidência da UNE. No célebre discurso da Central do Brasil, lá estava ele falando, em nome dos jovens, em defesa da democracia. Vindo o golpe, teve de se exilar no Chile. Lutou, resistiu. Vindo a democracia, foi Senador, Deputado Federal, Prefeito e Governador de São Paulo. Sua vida é uma linha reta na correção, na seriedade.

            Dentro do PSDB, houve grandes nomes: Covas, Montoro, Serra. Perguntaram-me: “E Fernando Henrique?”. Eu diria que Fernando Henrique vem depois. Para mim, Serra é muito melhor, muito melhor que Fernando Henrique. Equívocos do Governo Fernando Henrique, Serra jamais os cometeria. Não tenho dúvida alguma disso. Ele jamais os cometeria! A linha dele é uma linha reta. É duro? É duro. Não é muito de mostrar os dentes? Não é muito de mostrar os dentes. Manda? Manda. O pessoal até diz que ele manda demais. Não sei, mas ele manda, ele tem comando, ele tem chefia, não tenho dúvida, ao contrário do Governo do Fernando Henrique, em que não se sabia quem mandava, quem não mandava, quem fazia isso e quem fazia aquilo, porque ele era um genérico de dar razão para todos. O Serra não!

            O Serra manda. Ele tem comando e tem chefia - que eu acho que a Dilma tem mais do que o Lula. O Lula contemporiza. Contemporiza com o Sarney, contemporiza com o Renan, contemporiza com o Collor. Não sei se a Dilma contemporizará.

            Uma coisa é a Dilma hoje, candidata. Quem é o nome, quem é o rei, quem aponta o caminho é o Lula. Alguém tem dúvida? Será que ela vai fazer isso? Será que ela vai mandar? Será que ela vai ter poder?

            Cá entre nós, todo mundo diz que ela tem poder demais! No momento em que ela tiver a caneta e for ela a mandar, ela vai mandar. Claro que vai ouvir o Lula, claro que o Lula vai ser o líder, vai ser o orientador, vai ser o coordenador, mas quem vai assinar com a caneta é ela. Ela é isso, e o Serra...

            Presidente, pode parecer estranho o meu pronunciamento. Mas é muito bacana nós termos essa posição, é muito bacana. Eu, com minha tranquilidade - 80 anos e estou aqui há trinta - poder dizer isso com o maior respeito. Eu não posso dizer nada a quem diz quem vai votar no Serra; “não vota no Serra por causa disso ou por causa daquilo.” Eu não estaria sendo sincero. E não posso dizer nada a alguém que vai votar na Dilma, “não voto por causa disso não posso votar naquilo.” Eu não estaria sendo sincero.

            Acho que os dois são maiores do que os seus Partidos. A Dilma está acima do PT de hoje. Não do PT tradicional, do velho e querido PT. Mas ao que o PT ficou reduzido hoje. PT e PMDB; é tudo mais ou menos a mesma coisa. A Dilma está muito superior a isso. E o Serra está muito superior ao PSDB de hoje. Não o PSDB que saiu do MDB, na base dos pulos, querendo mudar o Brasil; que não queria o Quércia, porque não queria... E está lá hoje, candidato a Senador, o Quércia, apoiado pelo... O candidato a Governador aqui, o ex-Governador, é apoiado pelo PSDB. O Serra é melhor do que o PSDB. Isso é muito importante.

            Eu acho que, por caminhos imprevisíveis de como chegarmos lá, nós chegamos a um momento realmente muito importante. Dá gosto de ver o debate entre o Serra e a Dilma! Dá gosto de ver a discussão entre os dois! E olha, cá entre nós, não dá para falar, porque não é fácil, mas, com dez pontos, a Senadora Marina... Se nós formos encontrar... Assim como eu digo que não há no PT ninguém melhor do que a Dilma, que não há no PSDB ninguém melhor do que o Serra, eu diria que na utopia, nos pulos, nos que buscam a perfeição, na beleza da sinceridade de alma, não há ninguém melhor do que a Marina. A Marina é uma santa. Nascer que nem ela nasceu, analfabeta até 16 anos, trabalhando com látex na baixa da Floresta Amazônica, uma doença atrás da outra, foi se plasmando uma personalidade: o contato com Chico Mendes, a convivência, a defesa da floresta, a causa do meio ambiente e da justiça social. Entrou no PT pela linha religiosa dos mais puros, dos que queriam transformar a humanidade. Não vejo, no Brasil, nada que se assemelhe à Senadora Marina. Eu quero muito bem à Marina. Acho a Senadora Marina uma pessoa fantástica. Quando eu a vejo na televisão, falando, eu tenho vontade de carregá-la no colo, porque ela é tão singela, tão simples, tão humilde, tão magrinha... A vozinha é tão fina, que a gente diz: “Mas será que ela vai chegar no final?”. Mas, como ela diz, às vezes: “Nos pequenos frascos é que estão os grandes perfumes”. E naquela timidez, naquele corpo miúdo, tem uma grande personalidade e tem uma mulher muito, muito acima do que se pode imaginar.

            Pois nós temos o luxo de ter a Marina como candidata. E, se nós formos analisar no outro lado, eu diria, no lado dos rebeldes, no lado daqueles que ainda têm a coragem de ser o que eram, o velho PT, o velho MDB, que lutava contra tudo, pela moral, pela ética, pela dignidade, pela seriedade, pela transformação da sociedade, pelo fim do imperialismo cruel e ingrato, o Plínio de Arruda Sampaio. Meu Deus do céu! Oitenta anos! A minha idade. Ele conserva... Parece um jovem! Eu vi no jornal de hoje um debate que ele teve com a mocidade do centro do País, e aqueles jovens, cerca de 300, 400, debateram com ele, se emocionaram com a expectativa, a orientação, as diretrizes, a garra dele. Com 1%! Com a coragem e com a firmeza de dizer aquilo que precisa ser dito e que deve ser dito. Às vezes até se pergunta: “Mas será que o Plínio ainda não está, ainda não viu que o mundo mudou? Que aquelas utopias da esquerda, aquelas expectativas de transformação da sociedade da forma que se imaginava está difícil?” Está lá a Rússia largando o comunismo de lado e reduzida a nada. Está lá a China com um comunismo burguês-econômico! Sei lá, o mundo não sabendo para onde vai e o que é. Está aí o PT com todo o seu passado e, no Governo, é igual ao PSDB. É o mesmo capitalismo e a mesma fórmula do antecessor. Pois o Plínio continua firme, defendendo as idéias, as idéias que tinha na origem, na luta pelas “Reformas Já”, quando a democracia caiu; lá na origem, quando veio a ditadura e um grupo permaneceu lutando, resistindo desde a primeira hora, quer no velho MDB, quer no início do PT, quer na democracia cristã. Esteja onde estiver, ele continua o mesmo: a mesma dignidade, a mesma seriedade, a mesma correção. E é importante salientar que, se nós olharmos a Dilma, o Serra, a Marina e o Plínio, na vida pessoal, na sua organização na família, na sociedade, na maneira como vivem, são ficha-limpa total. Não se tem uma vírgula contra os quatro.

            É muito interessante isto. Nós aprovamos aqui o Projeto Ficha Limpa, por imposição da sociedade. Nós não íamos votar nem na Câmara nem no Senado. Votamos de medo da sociedade. A sociedade se mobilizou. E a sociedade, na rua, lavando as escadas aqui do Senado e da Câmara, indo para a frente do Supremo e do Superior Tribunal, conseguiu a aprovação. Mesmo assim, eu não sei para onde estamos caminhando. São tantas interrogações que estão aí em relação ao Ficha Limpa que eu não sei. Se eu estivesse lá no Supremo Tribunal ou no Tribunal Superior Eleitoral, eu meditava muito sobre essas decisões que eles vão tomar nos próximos dias. Eu meditava muito!

            O Sr. João Faustino (PSDB - RN) - V. Exª me permite um aparte, Senador?

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Já lhe darei, já lhe darei.

            Com todo o respeito, eu acho que os nossos magistrados não podem ficar encastelados, como se fossem príncipes, sem ver o conjunto da sociedade.

            Nosso destino está muito na mão deles. Eu repito: há muito tempo esta Casa não tem poder de decidir a vida de nenhum Parlamentar; quem tem é o Supremo. E, desde que acontece isso, o Supremo não condenou ninguém, absolutamente ninguém. Ou está na gaveta... Não entendo como um Ministro fica 10, 12, 13 anos com um projeto na gaveta como Relator e não faz nada! Vivemos uma hora muito delicada.

            O ex-Presidente do Superior Tribunal Eleitoral tinha uma posição muito firme, muito enérgica nesse sentido. Eu não sei. Agora, nos próximos dias, o Governo dará uma orientação. Se o projeto que nós aprovamos, Ficha Limpa, é de mentirinha, e todo mundo vai ser candidato, ou se o tribunal vai ter coragem de fazer o que deve fazer.

            Com o maior prazer.

            O Sr. João Faustino (PSDB - RN) - Senador Pedro Simon, relembrando um pouco a história, eu diria a V. Exª que somente os imprudentes ousavam apartear Cícero no Sendo romano. Eu me sinto, neste momento, um pouco imprudente em apartear V. Exª pelo que V. Exª representa nesta Casa de história, de trajetória, de luta e pelo que V. Exª representa neste País: um ícone, uma referência, um homem que faz do seu dia a dia uma maneira de servir ao País, à sua terra, ao seu povo. Um homem que fez da sua vida lições de dignidade, de ética, de respeito ao povo e de respeito também ao seu País. Portanto, sinto-me um pouco imprudente em aparteá-lo nesta hora, quando V. Exª faz um primoroso discurso. V. Exª mostra para a Nação os caminhos da segurança, os caminhos da certeza, os caminhos da perseverança. Isso nos dá ânimo. Quando analisa o perfil da candidata Dilma, V. Exª transmite certeza. Da mesma forma, V. Exª, com muita ênfase, com muita propriedade, mostra o candidato José Serra com uma experiência inigualável, com um passado inquestionável, com uma firmeza sobre a qual não se pode pôr dúvida. De forma que V. Exª traz um ensinamento para todos nós - não para os que estão aqui somente, mas para a Nação brasileira - como se quisesse dizer: “Vamos caminhar. Vamos olhar o futuro. O futuro nos reserva com segurança, com tranquilidade e com progresso”. Parabenizo V. Exª pelo discurso.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço muito, muito mesmo, o aparte de V. Exª. Acho que V. Exª entendeu o espírito da questão.

            Nós estamos vivendo hoje um momento em que a paixão vem para fora, porque agora começam os momentos praticamente decisivos. Quer dizer, a última expectativa de todos são os espaços de rádio e televisão. Pelo desempenho no rádio e na televisão é que o quadro pode ser alterado: alguém que está em primeiro baixa, alguém que está em segundo sobe.

            Mas eu fico feliz em ver que isso está começando num nível alto. Não vai acontecer o que aconteceu no passado. Naquela primeira campanha da democracia, em que o Presidente Collor ganhou, foram várias as vezes em que a Justiça Eleitoral teve que interferir porque as falas eram incompatíveis com o respeito que se deve ter numa eleição. Acho que não vai acontecer isso desta vez. Acho, sim, que nós temos pela frente um período muito importante.

            Se nós pegarmos o Itamar, que criou o Plano Real, se pegarmos o Fernando Henrique, que consolidou o Plano Real, alterou a economia e estabilizou a inflação, se pegarmos o Lula, que avançou na economia, avançou no social e deu ao Brasil indiscutivelmente uma projeção internacional que nós nunca tivemos. Que bom se fizermos uma campanha construindo a favor! É o que estou vendo no discurso dos candidatos. É o que estou vendo no discurso dos candidatos. Eu sei que ficou muito difícil. Por isso que volto a referir que gostaria que a campanha fosse como lá nos Estados Unidos. Fica muito difícil responder a perguntas.

            Então, o debate no seu Estado, em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul, os candidatos podem querer discutir. Vamos. Agora vamos discutir o problema da saúde. Os quatro podem dizer a mesma coisa e podem dizer diferente. “Agora vamos discutir como é que vai ser a educação”. Os quatro dizem a mesma coisa. “Agora vamos discutir como é questão da segurança”.

            Infelizmente, no debate não é possível. Na campanha, vai ser. Na campanha, cada um vai ter que dizer o que quer. Cada um vai ter que dizer o que quer. Eu volto a dizer: estamos caminhando para um grande período. Acho que estamos caminhando para um grande período.

            E me atreveria a dizer... A Marina falou isso. Claro, com 10%, muita dificuldade, muito pouca chance de ganhar, mas ela disse que se ganhar vai governar com os melhores no Brasil citando inclusive PSDB, PT e os outros partidos.

            O Itamar quis fazer isso quando foi candidato à Presidência. O PT não deixou. O PT fez a Erundina sair do partido porque a Erundina foi convidada e aceitou ser ministra do Itamar. O PT expulsou três que apoiaram o Plano Real. E o PT votou contra o Plano Real.

            Mas que bom se pudermos chegar a isto: um governo da busca dos melhores.

            Não há dúvida de que há coisas que temos que ser sinceros e dizer que têm que mudar. Os governos fizeram algo muito grave: politizaram a Petrobras, a Eletrobrás, os fundos de pensão.

            Se me perguntarem o que de mais grave aconteceu nos últimos anos foi isso. Qual é o interesse que um partido, que um Deputado tem de colocar alguém na direção de um fundo de pensão? Politicamente, zero. Por fora, movimenta bilhões! Bilhões! Cá entre nós, sem controle. Esse foi um grande mal. Essas brigas que estão aí... 

            Hoje, por exemplo, a CUT não é mais a CUT. A CUT está no Governo. Não se vê mais a CUT falando em greve, em aumento de salário, nem em coisa nenhuma; a CUT é Governo. A UNE é Governo. Uma das grandes bandeiras da UNE é a nova sede que ela vai construir, um prédio espetacular, do Niemeyer. E ela, então, luta a favor da liberdade sexual. Mas as grandes bandeiras da UNE, onde elas estão? Essa é uma realidade de algo que precisa mudar. O Serra, tenho certeza que muda. E me atrevo a dizer que a Dilma também muda.

            Sou testemunha aqui, quando a Dilma era Ministra de Minas e Energia, houve um grande debate - ela de um lado e o PMDB e o PT do outro - sobre a distribuição dos cargos da Petrobras e da Eletrobrás, desses cargos. Na época, falava-se que a Dilma tinha, que o grupo dela tinha - como se chama? - a panelinha dela e que o PMDB e o PT queriam gente do partido. O PMDB e o PT se uniram contra a Dilma, derrubaram a Dilma. O Sarney ganhou e colocou o Ministro de Minas e Energia que quis. E o PT e o PMDB se uniram com o PCdoB e companhia e politizaram todos os cargos da Petrobras, e todos os cargos da Eletrobrás, e todos os cargos dos fundos de pensão. À revelia da Dilma.

            Depois fomos ver - e eu acompanhei -, ela não tinha cupincha, ela não tinha ninguém. O que ela defendia é que quem tinha que ficar eram os técnicos da Petrobras, eram os técnicos da Eletrobrás. Os técnicos é que tinham que ficar lá! E não devia se entregar os cargos para os partidos políticos, como entregaram. E é a desgraça que está aí hoje. Os Correios são um exemplo clássico, os Correios são um exemplo clássico. Entregaram para um partido político. E deu no que deu.

            Então, digo que a Dilma é melhor que o PT, o Serra é melhor que o PSDB. Confio que essas modificações poderão ocorrer.

            Como eu gostaria que o PMDB tivesse seu candidato a Presidente. Lutamos muito para isso, muito. Maior partido, maior número de vereadores, maior número de deputados estaduais, maior número de deputados federais, maior número de prefeitos, maior número de vice-prefeitos, maior número de senadores. Na última eleição, tivemos seis ou sete milhões de votos a mais que o partido que veio em segundo lugar. E não temos candidato. Não há lógica nisso, ainda mais em uma eleição em dois turnos. Em uma eleição em dois turnos, o normal seria que os grandes partidos tivessem os seus candidatos. O PMDB poderia ter o candidato dele, a Dilma é candidata do PT, outros candidatos... Depois, para o segundo turno, estaríamos juntos. Lamentavelmente, não foi possível. Por isso estamos nesta posição.

            E venho aqui para dizer que nós do Rio Grande do Sul temos o nosso candidato do PMDB, que é o Fogaça. Um grande candidato. Prefeito reeleito de Porto Alegre, excepcional. Pega os sete anos do Fogaça e pega os dezesseis anos do partido antes dele e faz a comparação.

            Um grande prefeito. Dezesseis anos, um Senador excepcional nesta Casa, um grande Senador. Nas coisas mais difíceis, nas horas mais duras, quem era chamado para buscar o entendimento, desde a Constituinte que teve aqui, no Congresso, era o Fogaça. Temos bons adversários: a Yeda, a atual Governadora; o Tarso Genro, ex-Ministro da Justiça. Creio que o PMDB estará no segundo turno e, no segundo turno, ganhará a eleição.

            Mas que bom, minha querida Presidente, que iniciamos o dia primeiro do debate desta campanha assim: com tranquilidade, com serenidade e com expectativa de que faremos uma grande eleição. E, se Deus quiser - e Deus quer -, nós, brasileiros, daremos um passo muito importante rumo à grandeza do nosso destino.

            Muito obrigado pela honra que eu tive de tê-la presidindo os trabalhos no meu pronunciamento.

            Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/08/2010 - Página 42222