Discurso durante a 153ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Denúncia de manipulação de pesquisas eleitorais nos Estados da Região Norte do País.

Autor
Papaléo Paes (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AP)
Nome completo: João Bosco Papaléo Paes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Denúncia de manipulação de pesquisas eleitorais nos Estados da Região Norte do País.
Aparteantes
Mozarildo Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 02/09/2010 - Página 44261
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • REGISTRO, RISCOS, TERCEIRIZAÇÃO, ATIVIDADE, INSTITUIÇÃO DE PESQUISA, OPINIÃO PUBLICA, ELEIÇÕES, DENUNCIA, MANIPULAÇÃO, ESTATISTICA, REGIÃO NORTE, INTIMIDAÇÃO, CANDIDATO, COMENTARIO, INFLUENCIA, PESQUISA, RESULTADO, PROCESSO ELEITORAL, DEPOIMENTO, OCORRENCIA, ESTADO DO AMAPA (AP), TENTATIVA, PROPINA, APOIO, ORADOR.
  • CONCLAMAÇÃO, INSTITUIÇÃO DE PESQUISA, INTERRUPÇÃO, TRANSFERENCIA, COMPETENCIA, RECUPERAÇÃO, CONFIANÇA, AMPLIAÇÃO, IDONEIDADE, CAMPANHA ELEITORAL, REGIÃO NORTE.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Senadora Serys Slhessarenko, antes de iniciar minha comunicação, quero desejar a recuperação de V. Exª. A recomendação médica é a de não ficar falando muito.

            Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vou ocupar rapidamente a tribuna, porque é um assunto que vejo que é de interesse nacional, é de interesse principalmente do Norte do nosso País.

            Aqui, não quero desmerecer ou diminuir, de forma alguma, a importância dos institutos de pesquisa para o nosso País, mas, neste período eleitoral, ocorrem situações extremamente difíceis. Vejo que é muito mais importante a minha fala para chamar a atenção dos grandes institutos deste País, tradicionais institutos, que já deram muitas orientações nas diversas áreas da economia brasileira, orientações que favoreceram o bom investidor, que favoreceram algum Estado deste País no sentido de desenvolvimento.

            Quando chega o momento das campanhas eleitorais, o que acontece? Grandes institutos de pesquisa eleitoral são contratados para fazer pesquisas em pequenos Estados. Assim, eles consideram. Por exemplo, o Estado do Amapá é muito distante de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Belo horizonte, onde estão concentrados ou centrados os grandes institutos de pesquisa deste País. Então, eles terceirizam essa pesquisa, mas, de qualquer maneira, o carimbo da empresa de pesquisa é que chama a atenção do eleitor, principalmente. Então, se se vai dar o resultado de uma pesquisa com o selo de qualidade de uma grande empresa que esteja à frente disso - não quero, aqui, citar nomes -, no meu Estado ou em Roraima, todo mundo vai acreditar mais. E eles não terceirizam para os Estados próximos a esses grandes centros. O que é que acontece? Estou chamando a atenção para os grandes institutos de pesquisa deste País, para que não percam sua qualidade quando fizerem a terceirização.

            Senador Dornelles, no ano de 2000, fui candidato a Prefeito e, como sempre digo, “não tinha um pau para dar num gato”, ou seja, eu nem fazia campanha, só fazia andar pela cidade. E, uma semana antes da eleição - a TV retransmissora da Globo, que divulga, tem credibilidade lá -, o camarada que estava fazendo a pesquisa, o instituto que foi terceirizado me procurou para eu pagar a pesquisa, quando essa pesquisa já era paga. Ou seja, eles querem ganhar dinheiro em cima do grande nome que terceirizou. Na época, eram, com certeza, R$120 mil. Como é que eu ia pagar? Eu não tinha esse dinheiro! Mas o Governo do Estado tinha um candidato, ele bancava o candidato, e dizem que foi ele que pagou. Só sei dizer, Senador Mozarildo, que, no domingo, era a eleição, e, na sexta-feira, saiu a seguinte pesquisa: o candidato do governo estava com 42%, e eu, candidato do PTB junto com um prefeito à reeleição - era uma turma enorme -, com 20%. No dia da eleição, comecei a ganhar desde a primeira urna. A diferença era pequena, mas, quando faltavam 5% dos votos para terminar a apuração - eu estava sempre na frente -, faltou energia no Tribunal, houve uma confusão toda, e, quando voltou a energia, começou-se a tirar a diferença, e o candidato conseguiu me ganhar por 413 votos. Que é que estou dizendo? Uma pesquisa dessas derrota um candidato. Não derrota? Se o cara tem 42% da intenção de voto e se tenho 20%, quem é que vai... Pelo menos uns quinhentos ou mil votos saem daí.

            Então, digo isso, porque está acontecendo e já aconteceu um fato. Não quero ser leviano, mas houve a procura do terceirizado por um grande instituto de pesquisa no Amapá. Esse terceirizado procurou o nosso candidato a governador, o nosso Senador Alvaro, e fez uma proposta de R$1 milhão, para que ele fizesse a pesquisa, que já estava contratada. Ele queria ganhar em cima do grande instituto. E essa pesquisa passou ontem, haverá a próxima e a do segundo turno. Foi feita a proposta de R$1 milhão. E, para nossa sorte e para o azar deles, foi gravado isso. Inclusive, isso já está nas mãos do dono do instituto. Hoje, conversei com ele. Ele foi extremamente cordato comigo, entendeu o que estávamos falando.

            Mas digo que essas pessoas têm de considerar que o Norte do País deve ser tão respeitado quanto o Sul. Não é por que somos do Norte que esses institutos podem contratar, sublocar ou terceirizar muitos institutos vagabundos que existem por aí, que usam deste momento para forjar pesquisas, para publicá-las em jornal, para prejudicar as campanhas políticas.

            Digo que pesquisa influencia, sim. Alguns livros dizem que pesquisa não influencia ninguém. É claro que influencia, é claro e evidente que influencia. Então, não deveria ser permitida a pesquisa política pelo menos quinze dias antes da eleição. Isso só favorece aqueles que têm dinheiro para contratar pesquisa. Quem não tem dinheiro...

            Eu queria deixar esse registro para quê? Qual o motivo de eu estar aqui? Quero chamar a atenção dos grandes institutos de pesquisa existentes neste País - quero dizer que respeitamos as siglas de todos, a marca registrada de todos -, para que não subloquem para outros institutos de fundo de quintal que existem no Norte do Brasil. Há muitos institutos de fundo de quintal, e esse é de Belém. O que tentou vender para mim no ano de 2000 era de Fortaleza, mas este de agora é de Belém. Que não façam isso! Vocês perdem a credibilidade por conta de um instituto. Ele queria ganhar R$1 milhão à custa do nome, da sigla do grande instituto que existe neste País.

            Essa é uma denúncia que estou fazendo. Não estou citando o nome do instituto, em consideração até à forma como fui tratado pelo presidente do instituto. Ele me garantiu que, realmente, o resultado foi muito esquisito e que ele iria repetir essa pesquisa com pessoas contratadas por ele mesmo.

            Concedo um aparte ao Senador Mozarildo.

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Papaléo, peço a compreensão da Presidência, porque sei que, neste momento, não cabe aparte. Mas o assunto é muito sério. Realmente tenho uma preocupação forte - aliás, todo mundo tem essa forte preocupação - com a seriedade dessas pesquisas. A pesquisa, infelizmente, influencia o eleitor, até porque, evidentemente, aquele eleitor que está indeciso termina votando naquele que está na frente. E V. Exª citou dois exemplos no seu Estado, um ocorrido com V. Exª e, agora, um havido com outro candidato. Realmente, isso me preocupa, porque o Ibope não pode, digamos assim, deixar-se levar por terceirizados e muito menos deixar que manipulem, dentro daquela margem de erro, certos números. Aí aparece empate técnico, e, depois, de um jeito ou de outro, o instituto termina acertando. Houve um exemplo comigo. Não é que me ofereceram para vender resultado, não, mas os resultados na minha campanha de 2006 foram interessantíssimos. Comecei com 25% das intenções dos votos, e minha adversária tinha 62%. Depois, quando já havia o acompanhamento de um instituto que tínhamos contratado só para nos orientar, não para divulgar os dados, nós já tínhamos passado na frente, e o Ibope ainda insistia em dizer que eu estava atrás. E, quando faltavam quinze dias para eleição, o instituto colocou-nos num empate numérico: 41% a 41%. E, só na antevéspera da eleição, disse que eu estava com três pontos. E ganhei com 13% acima do adversário. Então, primeiro, é preciso que haja seriedade nessas pesquisas; segundo, é preciso regulamentar a utilização da pesquisa. Aí dizem: “Ah, mas aí vai interferir na liberdade de informação”. Temos de ver que, na liberdade, tem de haver responsabilidade; liberdade sem responsabilidade não é liberdade.

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP) - Para mim, isso não é liberdade de informação, não.

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Outra coisa é o seguinte: não nos podemos basear no fato de que, nos Estados Unidos, fazem pesquisa. Nos Estados Unidos, há outras questões, a sociologia é outra, nada tem a ver conosco. Temos de ver o que realmente é importante para nós, e, principalmente, o Congresso tem de legislar, sim, sobre a responsabilidade que têm de ter esses institutos que manipulam informações que, às vezes, são vitais, não só na parte política. Há pesquisas que falam da situação econômica, dos índices de mortalidade, enfim, de um monte de coisas às quais precisamos realmente dar seriedade. Portanto, quero parabenizar V. Exª por trazer para a tribuna do Senado essa informação, que, inclusive, obriga o Ibope a checar direitinho essas informações, já que lá havia uma terceirizada do Ibope.

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP) - Senador Mozarildo, fui até aconselhado: “Não toca nesse assunto, rapaz. Agora, só ferro vem em cima de ti. Tu vais sofrer as consequências”. Mas estou chamando a atenção deles, para não fazerem isso conosco, porque isso é muito ruim, isso não combina com a tradição que têm esses institutos, grandes institutos do Brasil. Isso não combina com eles. Não podemos, no Norte do País, ser tratados dessa maneira.

            O que acontece? A pessoa ou o instituto que foi terceirizado, esse instituto de fundo de quintal de Belém do Pará, foi querer ganhar dinheiro além do que já ganhava de quem o contratou.

            Então, quero agradecer ao presidente do instituto. Volto a dizer que não estou citando o instituto, pela forma como fui recebido e tratado pelo presidente, mas quero pedir, encarecidamente: não façam isso com o nosso Amapá, não façam isso com Roraima, não façam isso com os Estados do Norte, não façam isso! É um grande crime que vocês estão cometendo. Eu acho que, para vocês pagarem um dia, só Deus vai ter piedade de nós e fazer com que vocês levem a sério, principalmente no Norte do País, as consequências dos resultados de pesquisa.

            Muito obrigado, Srª Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/09/2010 - Página 44261