Discurso durante a 154ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Defesa da Embraer de acusações sofridas em decorrência de acidente com um avião E-190 da Empresa, ocorrido na China, no último dia 24.

Autor
Roberto Cavalcanti (PRB - REPUBLICANOS/PB)
Nome completo: Roberto Cavalcanti Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE TRANSPORTES. COMERCIO EXTERIOR.:
  • Defesa da Embraer de acusações sofridas em decorrência de acidente com um avião E-190 da Empresa, ocorrido na China, no último dia 24.
Aparteantes
Heráclito Fortes, Mozarildo Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 03/09/2010 - Página 44617
Assunto
Outros > POLITICA DE TRANSPORTES. COMERCIO EXTERIOR.
Indexação
  • DEPOIMENTO, RELACIONAMENTO, ORADOR, AVIAÇÃO, ACOMPANHAMENTO, SAUDAÇÃO, EVOLUÇÃO, EMPRESA BRASILEIRA DE AERONAUTICA (EMBRAER).
  • DEFESA, EMPRESA BRASILEIRA DE AERONAUTICA (EMBRAER), INJUSTIÇA, ANTECIPAÇÃO, ACUSAÇÃO, RESPONSABILIDADE, ACIDENTE AERONAUTICO, PAIS ESTRANGEIRO, CHINA, AUSENCIA, CONCLUSÃO, INVESTIGAÇÃO, REGISTRO, PRESTIGIO, EMPRESA, MUNDO, APRESENTAÇÃO, DADOS, PRODUÇÃO, QUALIDADE, SEGURANÇA, AERONAVE, CRESCIMENTO, VENDA, MERCADO EXTERNO.
  • CRITICA, IMPRENSA, BRASIL, REFORÇO, ACUSAÇÃO, ANALISE, TRECHO, NOTICIARIO, APREENSÃO, POSSIBILIDADE, DANOS, PRESTIGIO, EMPRESA BRASILEIRA DE AERONAUTICA (EMBRAER), PREJUIZO, REALIZAÇÃO, NEGOCIAÇÃO, VENDA, AERONAVE, PAIS ESTRANGEIRO, CHINA, LEITURA, NOTA OFICIAL, EMPRESA, APOIO, INVESTIGAÇÃO.
  • COMENTARIO, DECISÃO, EMPRESA DE TRANSPORTE AEREO, PAIS ESTRANGEIRO, CHINA, SUSPENSÃO, VIAGEM, PERIODO NOTURNO, REGIÃO, ACIDENTE AERONAUTICO, MOTIVO, PROBLEMA, CLIMA, FALTA, ILUMINAÇÃO, AEROPORTO, QUESTIONAMENTO, EMPRESA, RESPONSAVEL, VOO, AUSENCIA, ACOMPANHAMENTO, INICIATIVA, APRESENTAÇÃO, VOTO DE PESAR, FAMILIA, VITIMA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, caros telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, minhas senhoras, meus senhores, na vida normalmente você presta atenção ao que gosta.

            Sempre gostei de aviação. Quando criança - e tenho fotos guardadas - minha fantasia de carnaval era sempre de piloto à moda antiga, com óculos de proteção e capacete de couro. Sou da geração do pós-guerra, nasci em 1946, quando os pilotos eram os grandes heróis: Batalha da Inglaterra e tantas outras vitórias. Na Segunda Guerra Mundial, minha época de criança, os pilotos eram os grandes heróis. Havia também uma razão: a fantasia de piloto tinha um óculos de plástico antigo, que me protegia da grande brincadeira do carnaval, também à minha época, que era o lança-perfume. Então, todos os meninos em volta de mim choravam, e eu estava imune ao lança-perfume. Lança-perfume para mim sempre teve o prazer do cheiro gostoso e do friozinho que batia. Pena que o lança-perfume depois tenha sido desvirtuado no seu uso e posteriormente proibido.

            Na adolescência tirei brevet no Aeroclube de Pernambuco, à época chamado “encanta-moça”. Lamentavelmente não funcionou, não encantei. E ter brevet não significa ser piloto de carreira.

            Fiz outros vôos. Desenvolvi outras atividades na vida, mas guardei sempre, no fundo do coração da minha memória, aquele prazer, aquele gosto pela aviação.

            Como cidadão brasileiro, ligado aos assuntos econômicos, sempre - e digo “sempre” - estive atento às melhores empresas brasileiras. Portanto, imaginem com que prazer acompanhei e acompanho toda trajetória de sucesso da Embraer.

            Como é bom ver uma empresa brasileira competindo no mercado internacional ao lado de gigantes como Boeing e Airbus, sendo que esta última pertence a dois grandes países. Como é gratificante vê-la no ranking das melhores exportadoras do País, e não estou falando de commodities. Suas exportações têm valor agregado, diferentemente do minério de ferro e outros. Como é bom vê-la superando a crise mundial e tendo, a cada dia, mais encomendas. Como fico alegre, Sr. Presidente, ao viajar ao exterior e, nos quatro cantos do mundo, constatar a presença dos jatos comerciais brasileiros servindo a empresas internacionais. Com que alegria tenho visto, a cada dia, no Brasil, a presença de novas companhias aéreas voando com equipamentos brasileiros da Embraer. Ficava triste em vê-los no exterior e não no nosso País.

            De repente. o impacto de uma notícia triste! Que danos poderiam advir de tamanho acidente.

         Como “brevetado” e não como piloto, sabia que, para um acidente de tal dimensão acontecer, não se podia atribuir a um único fator. Historicamente, existem coincidências de fatores, várias causas que motivam um acidente aéreo.

            Risco de pouso. O momento do pouso é um dos momentos mais fáceis para uma aeronave. Tecnologicamente, diferentemente da decolagem, que é o ato de levantar uma massa mais pesada do que o ar para voar, o pouso é uma operação delicada na sua sensibilidade humana, mas é menos delicada na sua tecnologia, nos fatores mecânicos, técnicos. Isso é constatação. Para quebrar um avião num pouso, possivelmente ocorreu ou uma falha de clima, ou uma falha de pilotagem, ou uma deficiência de aeroporto. Porém, a falha técnica é muito difícil. Eu não estou eximindo a possibilidade, mas na verdade no percentual de ocorrências em acidente de pouso, dificilmente esse acidente ocorre em função de falhas técnicas.

            Diferentemente de outros acidentes que se tornaram famosos na nossa história do País e que proporcionaram até correções no procedimento de voo internacional, eu cito, por exemplo, dois casos. O primeiro, aquele voo da Varig num equipamento 707, que, ao se aproximar para pousar no Aeroporto de Orly, em Paris, a aeronave teve fogo a bordo. E isso motivou a proibição de se fumar a bordo no mundo todo até hoje.

            Cito também o acidente do Fokker 100 da TAM, no Aeroporto de Congonhas, em razão do qual, em função do acionamento inesperado, inapropriado, do reversor na decolagem, até hoje nós estamos proibidos de usar celulares convencionais a bordo. Só agora se permite usar algum tipo de celular, porém, em condições especiais, com antena própria do avião e outras atribuições, porque, supostamente, o celular poderia ter influenciado na queda daquela aeronave.

            O fato: 24 de agosto, dia fatídico. Estive aqui nesta tribuna para falar não da superstição, mas da marca que para o Brasil traz o 24 de agosto, com o suicídio de Getúlio Vargas. Vinte e quatro de agosto, na gíria popular, é o dia em que o diabo está solto. Eu não acredito nessas coisas, mas, lamentavelmente, coincidências são coincidências.

            Exatamente em 24 de agosto passado, um avião E-190, fabricado pela nossa Embraer, sofreu um sério acidente ao aterrissar, em meio a uma forte neblina - atentem, uma forte neblina -, no aeroporto da cidade de Yichun, no Nordeste da China, deixando 42 mortos e 52 feridos.

            Desejo lamentar que esse acidente tenha ocorrido e vitimado dezenas de pessoas, e apresentar condolências a essas famílias enlutadas.

            Acidentes acontecem, Sr. Presidente. Apesar de o avião ser o meio de transporte mais seguro que existe, infelizmente, acidentes acontecem, e a história da aviação registra inúmeros casos de acidentes aéreos.

            Culpa do piloto? Normalmente, em desastres como esses, até que se localize e se analise a caixa preta da aeronave para apurar o que de fato ocorreu, o primeiro impulso da mídia é atribuir o acidente à falha humana, ao piloto, que, na maioria das fezes, já está morto e não pode se defender.

            Na China, a primeira tendência foi culpar o avião da Embraer, o E-190, da nossa empresa brasileira, dizendo que havia ocorrido uma falha técnica da aeronave, o que teria provocado o acidente. Isso só poderia ser dito, de forma responsável e conseqüente, após concluídas as investigações resultantes da análise da caixa preta, como, aliás, é o procedimento de praxe.

            Na China, lamentavelmente, não existem nem equipamentos para fazer a decodificação da caixa preta. Necessário será que equipamentos dos Estados Unidos possam lá chegar, aliados aos equipamentos da própria Embraer, para que se possa decodificar a caixa preta e se fazer uma análise minuciosa do ocorrido.

             De acordo com o Sr. Guan Dong Yuan, representante da Embraer na China, a empresa nunca - eu digo “nunca” - recebeu qualquer comunicado oficial sobre supostos defeitos no E-190. Ao contrário, o avião recebeu a certificação das autoridades chinesas para voar no país. Se houvesse qualquer dúvida sobre sua segurança, isso, com toda a certeza, não teria ocorrido: a certificação.

            Gostaria de fazer comentários sobre as aeronaves fabricadas pela Embraer - empresa genuinamente brasileira de que tanto nos orgulhamos. Desde 1996, a Embraer produziu e entregou cerca de 900 jatos regionais da família ERJ 145, que antecedeu a família dos E-Jets, da qual o E-190 faz parte. Eu disse 900 jatos, voando só na família anterior a essa categoria de jatos!

            A família ERJ 145 tem um histórico de mais de 17 milhões de horas voadas em todo o mundo, com apenas três acidentes que resultaram em perdas de aeronaves - ocorridos no Brasil, na África do Sul e na Colômbia -, mas que não deixaram vítimas fatais, o que prova a eficiência e a resistência dessas aeronaves.

            Atualmente, 31 empresas aéreas de 19 países utilizam os jatos dessa família.

            No que se refere à China, o jato ERJ 145 está em operação desde 2000, quando a Embraer entregou o primeiro avião desse modelo para a Sichuan Airlines.

            Atualmente, mais de 40 jatos ERJ 145 estão em operação naquele país, em cinco companhias aéreas, em um total de mais de 350 mil horas voadas.

            Isso apenas com relação à família de aviões ERJ 145, que, como já disse, antecedeu à família dos E-Jets e, portanto, representa um imenso acúmulo de experiência tecnológica por parte da Embraer e que, com toda a certeza, está embutida nessa nova família de aeronaves.

            A família dos E-Jets, composta pelos jatos Embraer 170, Embraer 175, Embraer 190 e Embraer 195, foi projetada para o segmento de 70 a 120 assentos; possui mais de 650 aeronaves operando em 56 companhias aéreas de 39 países, além de um histórico de mais 4 milhões de horas voadas.

            A primeira entrega de um E-Jet, um Embraer 170, ocorreu em março de 2004.

            Em 30 de junho de 2010, a família dos E-Jets já tinha 879 pedidos firmes - fora os jatos que estão voando - e 672 opções de 56 clientes, em 39 países de todo o mundo. Isto é o que, na verdade, incomoda a concorrência internacional: essa pujança tecnológica e comercial brasileira é o que incomoda comercialmente o mundo.

            O E-190 entrou em operação em setembro de 2005, quando a companhia fez a primeira entrega à JetBlue Airways, dos Estados Unidos.

            Até o acidente ocorrido na China, em agosto último, apenas um único desastre com aviões da família E-Jets, um E-190, havia sido registrado, em julho de 2007, na Colômbia, sem vítimas fatais.

            Gostaria de trazer informações sobre o avião E-190, aeronave envolvida naquele acidente na China.

            O aparelho vitimado foi produzido no segundo semestre de 2008 - um avião extremamente novo -, e entregue à empresa chinesa em 4 de dezembro do mesmo ano - 2008.

            Até 31 de julho de 2010, o avião envolvido no acidente registrava 4.883 horas voadas, sem nenhuma ocorrência, sem nenhum problema.

            Foi o segundo jato do modelo recebido por aquela empresa aérea chinesa, dos cinco pedidos firmes junto à Embraer.

            Dados oficiais colhidos. Os números que estou relatando são dados oficiais da Embraer, repassados a mim em reunião que fiz aqui, no Senado Federal, com técnicos dessa empresa, nesta semana.

            A importância dos dados oficiais é saber da seriedade, da competência e da dedicação de todo o corpo técnico da Embraer. Procurei dados oficiais a respeito, para poder repercuti-los no plenário com exatidão.

            Que injustiça! Culparam a empresa pelo ocorrido sem esperar a conclusão das investigações, sobretudo em se tratando de uma empresa brasileira que, neste momento, negocia um importante contrato para a fabricação desses aviões na China.

            Os veículos de comunicação do Brasil poderiam ter sido um pouco mais cuidadosos, Srªs e Srs. Senadores, antes de veicularem as notícias, atribuindo, precipitadamente, a responsabilidade à Embraer.

            Trago, aqui, Sr. Presidente, algumas matérias veiculadas na mídia nacional. Tenho o maior cuidado, o maior zelo para com a mídia, mas tenho de fazer esse apelo no tocante a esses registros.

            Antes de dar um aparte ao nobre Senador Mozarildo, eu gostaria só de ler essas matérias, para que se perceba como nós, brasileiros, não tivemos o senso de preservação dessa grande marca brasileira que é a Embraer.

            Determinado jornal de nível nacional diz: “Avião da Embraer bate e 42 morrem na China”. Até aí, mais ou menos; porém, lá na frente, no corpo do jornal, o artigo diz: “Acidente com Embraer mata 43 na China”. Dizer “com Embraer” significa generalizar a empresa. Parece que o acidente foi com a companhia; não se sabe se foi fogo que queimou a fábrica da Embraer na China, se foi um avião que caiu.

            E o jornal diz mais, pegando carona com a mídia chinesa, e não com a verdade, na segunda grande manchete: “Testemunhas dizem que fuselagem se dividiu em duas antes de colidir contra o solo; 43 dos 96 ocupantes morreram”.

            Ora, uma aeronave, no pouso, não pode partir-se ao meio, voando. Só se ela bater em alguma coisa. Isso é inconcebível! Esse avião é produzido com fibra de carbono, a mesma tecnologia usada na Fórmula 1: o carro bate contra um muro e fica inteiro. Como é que um avião parte? Não houve nenhuma ocorrência no trajeto do voo.

            Outro jornal, também de nível nacional: “Avião da Embraer cai na China e 42 morrem”. Só que, lá dentro, diz o artigo: “Acidente com avião da Embraer mata 43 na China”. “Aeronave parte-se em duas, pega fogo durante a aterragem”. Ela pode ter partido no impacto com o chão. Voando?! Vamos ver o resultado da caixa-preta. Porém, diz: “Com forte neblina, 53 pessoas são resgatadas com vida”. Mas sempre dando a tintura da mídia chinesa.

            Depois, outro jornal de grande circulação também diz - isso tudo no dia 25, um dia após o acidente: “Avião da Embraer se parte e mata 43”. Aí, escrevem aquela notinha que gera um dano maior: “Ações na Bovespa caem após jato sair da pista e explodir em cidade chinesa”.

            O que tem a ver o registro das ações da empresa, uma empresa do porte da Embraer, se, por acaso, alguma especulação aconteceu no dia seguinte ao acidente?

            No dia 26 de agosto, diz a manchete brasileira: “China afirma que avião da Embraer estava sob suspeita”. Isto não existe! Todos os certificados são positivos para a empresa e para o avião. E, lá adiante, ainda dizem pior, numa segunda manchete: “Acidente pode travar a venda de 45 jatos ao país”. Parece que torcem para que o Brasil não exporte; parece que torcem contra a Embraer.

            No dia 26, em seguida, um outro jornal mostra pelo menos uma versão: “Embraer nega falha em queda de avião. Empresa desmente mídia chinesa, segundo a qual ficam apontados problemas técnicos no avião que se acidentou”.

            Agora, vou mostrar como o governo chinês, como a China trata a mídia. Aqui, estamos fazendo um apelo. A mídia chinesa diz: “China prende quatro jornalistas em funeral do acidente”. O jornalista chinês não pode nem ir ao funeral de um acidente que matou chineses! Não é que a empresa era chinesa, não. A mídia chinesa afirma: “China prende quatro jornalistas em funeral do acidente”.

            Antes de conceder o aparte, Senador Mozarildo, eu queria só ler o comunicado oficial da Embraer, muito equilibrado, que diz o seguinte:

COMUNICADO-ACIDENTE EMBRAER 190 NA CHINA

São José dos Campos, 24 de agosto de 2010 - A Embraer expressa profundas condolências e desejo de pronta recuperação a familiares e amigos de pessoas que perderam a vida ou resultaram feridas no acidente de uma aeronave EMBRAER 190, no voo 8387, da Henan Airlines, quando do pouso no aeroporto de Yichun, na China, hoje, aproximadamente às 22h00 locais.

A Embraer já disponibilizou equipe de técnicos que se dirige ao local, com o intuito de apoiar as autoridades aeronáuticas chinesas na investigação do acidente.

            A Embraer não diz “X” ou “Y”; Lamenta e diz que está investigando.

            Concedo um aparte ao grande colega Senador Mozarildo.

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Roberto Cavalcanti, eu gostaria de dizer a V. Exª que fiquei muito satisfeito com seu pronunciamento, porque é interessante: há alguns anos, vimos um sério acidente com um avião da empresa GOL. Não ouvi, em nenhum momento, dizerem qual era a fábrica do avião da GOL, mas se falou muito no avião Legacy, que era pilotado por americanos, em que ficou comprovado que operaram de maneira irregular o aparelho.

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB) - Exatamente.

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Depois, aconteceu o grande acidente com o avião da TAM, em São Paulo, em Congonhas, onde morreu todo mundo, inclusive quem estava fora do avião. Também se falou em acidente com avião da TAM. E não vi, em ambos os casos, exploração da mídia sobre o tipo de avião usado pela GOL ou pela TAM. Depois se falou sobre a questão do reverso etc., mas a ênfase foi dada às empresas TAM e GOL. No caso exatamente da GOL, eu já disse, salientou-se o avião fabricado pela Embraer, o Legacy. Ora, praticamente toda a produção da Embraer é exportada. Toda! O Brasil, infelizmente, não tem uma política de incentivo para as empresas de aviação regional comprarem aviões da Embraer aqui, de maneira financiada, como existe nos Estados Unidos, na Europa e até na China, para se adquirir aviões brasileiros. É um contrassenso, mas é verdade. Mas o importante do pronunciamento de V. Exª é mostrar como há pouca estima pelas coisas que são nossas. A Embraer é uma empresa de que todo mundo deveria se orgulhar. V. Exª mostrou, comprovou, com dados estatísticos, que os aviões da Embraer são seguros, tanto que são comprados por países desenvolvidos do mundo todo, para sua aviação regional. No Brasil, infelizmente, repito, não existe ainda estímulo para que a indústria nacional seja prestigiada com a aquisição. Então, quero aqui me solidarizar com o pronunciamento que V. Exª faz e também dizer que a Embraer é uma empresa que orgulha os brasileiros e que deveria merecer de todas as autoridades, de todos os brasileiros também, inclusive da mídia, um tratamento à altura. Ninguém está pedindo que se oculte nada, não; V. Exª também não fez isso, mas que se diga a verdade, que se procure, de maneira muito correta, valorizar uma coisa que é importante para o Brasil, que é a indústria aeronáutica, da qual a Embraer é representante exponencial no mundo todo.

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB) - Agradeço ao nobre colega, inclusive pela lembrança do acidente nos céus do Brasil, da colisão de dois aviões, o qual, no nosso imaginário, na nossa mente, fica guardada a imagem de que foi um Legacy que bateu em alguma coisa.

            Se pudessem ter atribuído ao Legacy a culpa, já teriam feito isso. Não assistimos à nossa mídia, a respeitada mídia brasileira, inicialmente fazer atribuição de que a culpa, supostamente, foi dos pilotos americanos, que desligaram o transponder, que é um equipamento que teria evitado tal acidente. Não; as grandes manchetes não eram: “pilotos americanos fazem isso e aquilo”, e, sim, “avião Legacy provoca ou motiva tal acidente.” É uma pena!

            Eu gostaria de dar sequência, Sr. Presidente...

            O Senador Heráclito Fortes deseja um aparte?

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Senador Roberto Cavalcanti, como brasileiro, tenho dever e obrigação de associar-me ao discurso de V. Exª, quando defende um dos maiores patrimônios que temos, a nossa Embraer. A Embraer é um orgulho deste País. A Embraer sobreviveu ao período da estatização, quando era uma empresa nanica e, acima de tudo, uma empresa completamente deficitária. Saiu dessa fase para ser, hoje, uma referência da indústria brasileira, competindo com as maiores do mundo. É, hoje, a terceira maior fabricante de aviões do mundo. Evidentemente, a falta de escrúpulos de concorrentes - e isso não vale só para a aviação, mas para outros setores da atividade, pois é um mundo cão aquele em que nós vivemos - faz com que, em acidentes como esse, se distorçam informações, se desviem os fatos e se tente desgastar uma marca que é consagrada pelo que vende e pelo que é aprovado nos mercados onde ela atua. Eu quero só tranquilizar V. Exª - eu vinha, no meu carro, prestando atenção, muito atento ao seu discurso -, porque a possibilidade de falha no avião está, por si só, afastada. Automaticamente, se tivesse sido colocada em dúvida uma falha técnica, uma falha mecânica, os órgãos mundiais de segurança, imediatamente, mandariam suspender todos os voos envolvendo aquela aeronave.

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB) - Lógico.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Isso não ocorreu. Já faz algum tempo, mas não sei se V. Exª se recorda de dois ou três acidentes que aconteceram com os famosos aviões DC-10, da Douglas. Esses aviões tiveram os voos suspensos no mundo inteiro, dando um grande prejuízo às companhias que utilizavam aquele equipamento. Esses aviões passaram no chão cerca de 30 dias - não estou sendo preciso, mas aproximadamente 30 dias -, exatamente até quando fossem constatadas as causas que estavam levando aquele aparelho a acidentes. Mas esse caso é completamente diferente. Um avião acidentou-se num momento de tempo adverso. Não se sabe se a torre recomendou o procedimento de descida ou se o piloto, conhecendo a região, ousou fazê-lo. A verdade é que uma coisa está provada: a estrutura do avião resistiu o quanto pôde ao impacto, naquelas circunstâncias, e a credibilidade da máquina não foi nem sequer arranhada. De forma que me congratulo com V. Exª por vir à tribuna, como Senador, defender um patrimônio brasileiro. É dever nosso, é dever do Senado. Aliás, a função do Senado, hoje, começa a ser muito desvirtuada. Começa-se a ver candidatos ao Senado julgarem-se salvadores da Pátria, isto porque não sabem, Senador Mozarildo, qual a função do Senador. O Senador é isto: é um fiscalizador, que fiscaliza os atos do Presidente da República, mas fiscaliza também e defende o patrimônio nacional, que é o que V. Exª faz agora. O Senado da República cumpre o seu papel neste momento, com este pronunciamento equilibrado e firme que V. Exª faz. Portanto, parabenizo V. Exª e quero me somar à corrente, na qual V. Exª se inclui, dos que creem, dos que acreditam, dos que estimulam e dos que torcem para o sucesso da Embraer, porque esse é um sucesso compartilhado por todos nós, brasileiros. Nada mais comovente, para nós, quando estamos nos mais distantes países da África, da Ásia, da Oceania, da América, da Europa, do que vermos um avião da Embraer, de qualquer uma das suas categorias, voando, carregando a nossa bandeira. V. Exª falou no sucesso das linhas 190, 170, 145, cujo modelo original foi o 135, mas se esqueceu de falar do sensacional Brasília, ou então do iniciante disso tudo, que foi o Bandeirante, que, ainda hoje, voa pelo mundo afora. O Xingu, avião executivo de alta qualidade, hoje, é disputado no mercado de aviões usados por pilotos que gostam da qualidade e da segurança de vôo daquele equipamento. E também há a linha de aviões executivos, que vai dos Legacys ao novo Lineage, cujo modelo alguns presidentes de república já adquiriram para uso como avião executivo. Eu não queria deixar de falar também da linha Phenom, que vem do Phenom 100, que hoje é um sucesso mundial, e o Phenom 300. De forma que a Embraer é uma empresa que nos orgulha. V. Exª cumpre, brilhantemente, o papel de defender o Brasil nesta tarde. Muito obrigado.

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB) - Caro Senador Heráclito Fortes, eu me emociono com o aparte de V. Exª, porque eu o acompanho há anos e anos. Eu represento a Paraíba e minha origem é pernambucana. V. Exª, na sua trajetória de vida, tem passagens pernambucanas. Eu digo que V. Exª é um ícone, neste Senado Federal, pela seriedade, pelo preparo, pela memória. Muitas vezes, fico surpreso com a memória do Senador Heráclito Fortes. Muitas vezes, penso que o mesmo consulta a Internet na hora de falar, mas sou testemunha de que, por exemplo, no depoimento da tarde de hoje, tudo foi feito exatamente graças ao seu preparo, à sua seriedade, à sua memória e à sua formação. É um dos baluartes do Congresso Nacional, do Senado Federal.

            Eu gostaria muito, Senador Heráclito, que V. Exª permanecesse conosco por muito tempo, para dar, exatamente, qualidade e credibilidade ao Senado Federal.

            Agradeço pelo aparte, principalmente pelo ponto em que V. Exª disse ter-me ouvido pelo rádio do carro. Se o assunto não fosse de seu interesse, V. Exª teria mudado de emissora, mas V. Exª começou a ouvir o meu pronunciamento no carro e, ao adentrar o Senado Federal, pediu a palavra, e, com muita honra, pude conceder-lhe esse aparte. Agradeço a V. Exª e o parabenizo por tudo.

            Para finalizar, Sr. Presidente, eu gostaria de tecer comentários sobre o mercado da China.

            A China é o segundo maior mercado da Embraer, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.

            A produção do E-190 naquele país seria uma forma de garantir a venda de 45 jatos para a Henan Airlines, que os encomendou em 2007. A entrega vem sendo adiada pelos chineses desde então.

            Qualquer fato, por menos que seja ele, verídico ou inverídico, que possa prejudicar a credibilidade, a imagem da Embraer, certamente, afetaria o andamento das negociações, com grave dano aos interesses nacionais brasileiros.

            Defeitos de fabricação podem ocorrer, sem dúvida, em qualquer empresa, em qualquer produto. A Embraer não está imune a isso, mas não podemos ser levianos e responsabilizar a empresa ou qualquer outro fator que possa estar envolvido sem uma prévia e criteriosa investigação.

            Voos noturnos, iluminação, condições climáticas e localização do Aeroporto de Lindu são temas também que eu gostaria de trazer à reflexão de V. Exªs.

            A China Southern Airlines, uma das maiores empresas de aviação daquele país, afirmou em comunicado on-line que não deveria haver voos noturnos naquele local, naquele aeroporto. Há relatos sobre problemas com iluminação e condições climáticas do Aeroporto de Lindu, de pequeno porte e localizado no meio de uma floresta. Por esses motivos, a China Southern Airlines anunciou a suspensão do pouso noturno de seus aviões no local, medida esta que entrou em vigor em 1º de setembro de 2009, um ano atrás, por razões de segurança.

            Vem a pergunta: por que a Henan Airlines não fez o mesmo que a sua colega, empresa também chinesa, Southern Airlines, suspendendo os voos daquele aeroporto nas condições de pouso noturno?

            Gostaria, na verdade, de reafirmar, Sr. Presidente, minha solidariedade à Embraer nesse triste episódio e alertar o Senado Federal para que permaneça sempre atento à defesa dos interesses nacionais.

            Faço hoje um apelo à mídia brasileira. Não quero nem poderia pautá-la. Não poderia, jamais, pautar a mídia brasileira. Tenho uma vida e uma família ligada ao setor de comunicação. Eu sei o que é o dia a dia de um jornal. Sei da importância da independência e da credibilidade da imprensa. Porém, faço um apelo hoje a uma reflexão, como brasileiro: lembrem-se do acidente do Airbus da Air France. Sabem, Srs. Senadores, como a mídia francesa tratou e trata o caso até hoje? “Voo 447”. Sabem por quê? Porque tanto o avião como a companhia eram francesas: um Airbus francês da Air France.

            Mostrei os jornais brasileiros dos dia 25 e 26 de agosto, após o acidente, e nós, brasileiros, não nos preocupamos em defender uma marca brasileira. Não se deseja nenhuma omissão por parte da mídia; porém, a Embraer tornou-se, pela sua grandeza, um símbolo nacional e, como todo símbolo, deve ser preservado, até porque não existe culpa formada.

            Para finalizar...

            O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti. PTB - RR) - Senador Roberto, antes de V. Exª finalizar, até aproveitando a importância de seu pronunciamento, eu gostaria de registrar a presença nas galerias dos alunos do Colégio Madre Teresa, de ensino fundamental e médio, de Taguatinga, Distrito Federal.

            Bem-vindos ao nosso plenário!

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB) - Acosto-me às congratulações para os jovens que estão nos assistindo no dia a dia.

            Para finalizar, Sr. Presidente, quero reiterar nossas condolências aos familiares das vítimas por tão lamentável acidente e também reiterar o meu apelo extremamente sensível, extremamente delicado aos que fazem a mídia nacional para que atentem para os símbolos nacionais, para que atentem para a preservação da imagem dessa grande empresa brasileira, orgulho nacional, que é a Embraer.

            Muito obrigado.


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